
Na dire��o oposta de 2016 e 2018, quando as elei��es foram marcadas pela onda da antipol�tica, as disputas municipais de 2020 deram espa�o � vit�ria da pol�tica tradicional, em especial de candidatos de partidos do chamado "centr�o" e de centro-direita, afirmam analistas ouvidos pela BBC News Brasil.
O segundo turno realizado neste domingo em 57 cidades mostrou novamente o predom�nio de derrotas de candidatos apoiados por Bolsonaro e por partidos de esquerda, em especial o PT.
O Democratas saiu como grande vencedor, com a elei��o de Eduardo Paes no Rio de Janeiro, segunda maior cidade do pa�s, coroando o bom desempenho do partido no primeiro turno, quando a sigla j� tinha levado tr�s capitais (Salvador, Curitiba e Florian�polis) e outras 456 prefeituras.Paes, que j� governo o Rio de 2009 a 2017, derrotou o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que recebeu o apoio de Bolsonaro.
Os paulistanos, por sua vez, optaram pela continuidade, reelegendo o prefeito Bruno Covas (PSDB), que derrotou o candidato do Psol, Guilherme Boulos. O tucano buscou colar no psolista a pecha de radical e inexperiente, promovendo-se como op��o mais segura para um governo sem surpresas em S�o Paulo.
Enquanto Bolsonaro n�o conseguiu levar seu candidato nem ao segundo turno da elei��o na maior capital do pa�s (Celso Russomanno, do Republicanos, ficou em quarto lugar no primeiro turno), o presidente viu a maioria dos concorrentes que apoiou diretamente ou que carregavam suas bandeiras ideol�gicas ser derrotada neste domingo.

Sua �nica vit�ria em capitais foi a elei��o de Ti�o Bocalom (PP), em Rio Branco.
J� em Fortaleza, Bel�m e Cuiab�, os candidatos com proximidade ideol�gica com o bolsonarismo foram derrotados — Capit�o Wagner (Pros) perdeu para Jos� Sarto (PDT) na capital cearense, enquanto o Delegado Eguchi (Patriota) foi derrotado por Edmilson Rodrigues (PSOL) na capital paraense, e Emanuel Pinheiro (MDB) conquistou um novo mandato como prefeito cuiabano, vencendo Ab�lio J�nior (Podemos).
� a economia
No entanto, apesar de a maioria dos candidatos com colora��o bolsonarista n�o ter conquistado prefeituras importantes, analistas ouvidos pela reportagem consideram que isso n�o pode ser lido como um recado da popula��o de que o presidente Bolsonaro n�o tem chance de se reeleger em 2022.
Para o cientista pol�tico Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Pol�tica e Economia do Setor P�blico da FGV, a for�a de Bolsonaro para tentar um segundo mandato depender� muito mais do desempenho da economia nos pr�ximos dois anos.
Caso haja uma recupera��o da atividade, com queda do desemprego, isso provavelmente melhorar� a avalia��o do seu governo, favorecendo a reelei��o.
Nesse campo, por�m, o presidente ter� grandes desafios em 2021, com a continuidade da pandemia de coronav�rus e da crise fiscal (desequil�brio das contas p�blicas que dificulta o aumento de gastos).
Por enquanto, o governo n�o apresentou nenhum plano concreto para substituir o aux�lio emergencial (benef�cio hoje de R$ 300) que acaba em janeiro, o que significar� uma perda de renda para dezenas de milh�es de brasileiros.

"N�o � o saldo da elei��o municipal que vai definir o resultado de 2022. O que define mesmo s�o as condi��es da economia, quest�es relacionadas ao bem estar da popula��o", diz Pimentel, lembrando que o tucano Geraldo Alckmin, ex-governador de S�o Paulo, foi visto como grande vencedor da elei��o de 2016, quando conseguiu eleger seu candidato para prefeitura paulistana (Jo�o Doria, hoje governador de SP), e depois teve desempenho desastroso como candidato a presidente em 2018.
"No caso de uma tentativa de reelei��o presidencial, o eleitor vota para manter ou tirar o presidente de acordo com o n�vel de satisfa��o que possui. O voto vai ser muito mais pragm�tico em 2022 do que foi em 2018", disse ainda.
Embora os resultados da elei��o municipal n�o sejam determinantes para 2022, o pesquisador da FGV ressalta que o saldo das urnas deve trazer reflexos concretos para o atual governo Bolsonaro. Como a elei��o marcou o bom desempenho de siglas do centr�o, como PP, PSD, PL, a expectativa � que essas legendas agora cobrem uma fatura maior do presidente em troca de apoio a seu governo. Isso, diz Pimentel, deve intensificar a tens�o na base de apoio mais ideol�gica do governo, que n�o v� com bons olhos essa alian�a mais "fisiol�gica e pragm�tica".
"A rela��o do centr�o com Bolsonaro � puramente fisiol�gica, pragm�tica: os deputados desses partidos est�o interessados em emendas parlamentares (libera��o de recursos para suas bases), em mat�rias (legislativas) que favore�am seus rinc�es eleitorais, em troca do apoio que podem dar ao presidente para aprovar pautas dos seu interesse no Congresso", nota Pimentel.
"O poder de barganha do centr�o agora � maior. Isso � custoso para o presidente que muitas vezes tem que abrir m�o dos seus pr�prios interesses para atender os interesses desses outros partidos", acrescenta.
Efeito pandemia
Para o pesquisador da FGV, a pandemia foi um fator importante que favoreceu a continuidade nas elei��es de 2020. Enquanto em 2016, o �ndice de reelei��o de prefeitos ficou pouco abaixo de 50%, neste ano mais de 60% dos que tentaram um novo mandato conseguiram.
"A pandemia fez as pessoas verem o papel do poder p�blico. Os pol�ticos tradicionais se articulam de maneiras mais efetivas para lidar com a situa��o, isso fez diferen�a", analisa.

A cientista pol�tica Esther Solano, professora da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), tamb�m considera que a conjuntura de 2020 favoreceu a pol�tica tradicional. "O eleitores votaram nas elei��es municipais pela continuidade, pela estabilidade, pela antiga pol�tica", disse.
Mas, embora acredite que a pandemia continuar� sendo um tema que trar� mais pragmatismo � disputa presidencial, ela diz que o pleito nacional tem um espa�o maior para a disputa ideol�gica do que as elei��es municipais, o que poder� continuar sendo explorado por Bolsonaro por meio do discurso de "demoniza��o da esquerda".
"Bolsonaro como cabo eleitoral de fato sai com um saldo negativo desse elei��o, mas acho que temos que ser cautelosos em pensar que isso vai significar de fato uma derrota total para a figura do presidente", afirma Solano.
"A elei��o mostrou um grande n�mero de candidaturas que derivam das for�as de seguran�a, mostrou tamb�m a import�ncia ainda muito grande do voto religioso. Portanto, esse campo estrutural do bolsonarismo, mais central, mais nevr�lgico, continua vivo", acrescentou.
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