
Ros�ngela tamb�m fica devendo um mergulho mais realista e aprofundado no relacionamento do casal durante a passagem de Moro pelo Planalto. A publica��o faz poucas men��es aos impactos que o evento teve no casamento. Um dos poucos momentos de tens�o abordados � o epis�dio em que advogada apagou um post publicado em seu perfil no Instagram a pedido do marido. A mensagem, postada no in�cio da pandemia de COVID-19, manifestava apoio ao ent�o ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta, o que n�o agradou a Bolsonaro. O fato, contudo, � relatado sem muitos detalhes.
Mas h� revela��es que surpreendem o leitor. No livro, a autora conta que votou em Lula (PT) em 2002. J� em 2018, disse que n�o conseguiu votar em Haddad e ent�o optou por Bolsonaro, que ela define como "outsider que se propunha a mudar os rumos do pa�s”.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida virtualmente ao Estado de Minas.
Ao deixar o governo, o ex-ministro S�rgio Moro disse que o presidente havia prometido a ele autonomia e liberdade para desenvolver um trabalho t�cnico, mas n�o cumpriu essa promessa. Ocorre que Bolsonaro n�o � um pol�tico estreante. Ao longo de sua trajet�ria no Legislativo, ele demonstrou que n�o era exatamente afeito a quadros t�cnicos. Praticou at� mesmo nepotismo. A senhora chegou a antever que embarcar no atual governo poderia ser um equ�voco e alertou o seu marido sobre isso?
Veja: na candidatura de 2018, a Lava-Jato, com a chama muito acesa, foi uma bandeira que fez parte da campanha presidencial de maneira significativa. Eu n�o conhecia a fundo a trajet�ria de Bolsonaro, embora soubesse que ele tinha algumas falhas, algumas posturas inapropriadas e pol�micas. Mas, naquele cen�rio de 2018, tudo o que ele falou na campanha era, sim, uma bandeira que agradava. O combate � corrup��o, cercar-se de pessoas absolutamente t�cnicas… Ele iniciou o mandato cercado de pessoas t�cnicas. Eu n�o me recordo de, at� ent�o, ter visto um time de ministros com 100% de pessoas t�cnicas, com curr�culos t�o significativos. Acontece que, depois, o presidente n�o deu autonomia aos t�cnicos.
Quando o S�rgio recebeu esse convite, ele n�o pensou na carreira dele em nenhum momento. Aceitou justamente porque, naquele clima de mudan�a, na venda do pacote da campanha, com outros ministros de grande envergadura se juntando ao governo, ele achou que poderia, sim, sedimentar os avan�os da Lava-Jato. A Lava-Jato mostrou um esquema de corrup��o grav�ssimo, que n�o faz bem ao pa�s. Ent�o, ele entendeu que, fora do Judici�rio, dentro do Executivo, com o apoio do Planalto, poderia encampar a pauta anticorrup��o. Ele acreditou, sim, que poderia consolidar isso. Nem passou pela cabe�a dele que o cargo era uma esp�cie de promo��o. At� porque, se voc� compara o cargo de juiz com o cargo de ministro – e eu n�o estou dizendo que um � melhor ou pior do que outro –, do ponto de vista do conforto pessoal ou financeiro, da estabilidade, o cargo de magistrado � muito melhor. Magistrado passa no concurso e tem um emprego vital�cio, o ministro, n�o. Ent�o, em nenhum momento esse assunto veio � discuss�o. As reflex�es foram num outro sentido. No sentido de acreditar que seria poss�vel sedimentar (as conquistas da Lava-Jato).
Quando o S�rgio recebeu esse convite, ele n�o pensou na carreira dele em nenhum momento. Aceitou justamente porque, naquele clima de mudan�a, na venda do pacote da campanha, com outros ministros de grande envergadura se juntando ao governo, ele achou que poderia, sim, sedimentar os avan�os da Lava-Jato. A Lava-Jato mostrou um esquema de corrup��o grav�ssimo, que n�o faz bem ao pa�s. Ent�o, ele entendeu que, fora do Judici�rio, dentro do Executivo, com o apoio do Planalto, poderia encampar a pauta anticorrup��o. Ele acreditou, sim, que poderia consolidar isso. Nem passou pela cabe�a dele que o cargo era uma esp�cie de promo��o. At� porque, se voc� compara o cargo de juiz com o cargo de ministro – e eu n�o estou dizendo que um � melhor ou pior do que outro –, do ponto de vista do conforto pessoal ou financeiro, da estabilidade, o cargo de magistrado � muito melhor. Magistrado passa no concurso e tem um emprego vital�cio, o ministro, n�o. Ent�o, em nenhum momento esse assunto veio � discuss�o. As reflex�es foram num outro sentido. No sentido de acreditar que seria poss�vel sedimentar (as conquistas da Lava-Jato).
Foi uma decis�o dif�cil, porque ele rompeu com 22 anos de magistratura. Ele entrou querendo que desse certo, para cumprir os quatro anos deste governo na condi��o de ministro. Infelizmente, as pautas se distanciaram. E, quando ele entendeu que n�o poderia mais levar adiante a fun��o dele para dar o resultado que o presidente e os eleitores esperavam, a�, ele desembarcou do governo.
A senhora, ent�o, compartilhava das mesmas expectativas do seu marido com rela��o a este governo. � isso?
A minha vis�o, como esposa, � de que se trata da profiss�o dele. E eu n�o queria nem quero ser casada com uma pessoa frustrada no seu of�cio. Logo, n�o o influenciei em nada, n�o falei “v�”, nem “n�o v�”. A gente analisou o cen�rio e eu disse “meu querido, a decis�o � sua e, no que voc� decidir, � claro que eu vou te apoiar”. Ele tem de estar feliz, realizado fazendo seu trabalho. N�o quero ser a causa da frustra��o de ningu�m.
Agora, quando ele j� estava no governo, em agosto de 2019, quando eu vi as “frituras”, o modus operandi do “vou fritar um ministro” acontecer e percebi que isso ia acontecer com ele, aquilo magoou um pouco. Porque isso vinha de pessoas do pr�prio Planalto, do time que estava em campo para ganhar. Ent�o, esses ataques doeram mais que aqueles que vieram da oposi��o, de pessoas de outras vertentes. Ali, sim, me bateu uma intui��o. Ali eu intu� que n�o ia dar certo, porque o S�rgio n�o entrou no governo para ser subserviente, para fazer a vontade de ningu�m. Ele � uma pessoa que se dedica muito. O primeiro programa que ele lan�ou no minist�rio foi “Fa�a a coisa certa”. Se ele n�o tivesse esse perfil de fazer a coisa certa, do imp�rio da lei, do devido processo legal, a Lava-Jato n�o teria condenado as pessoas que condenou ou mostrado os crimes que mostrou.
Moro parece ter interesse em dar continuidade � carreira pol�tica. Nesse caso, a participa��o no governo Bolsonaro….
(Interrompe a pergunta). Isso � voc� quem est� falando.
A senhora n�o confirma esse interesse?
Veja, o S�rgio est� se reinserindo na iniciativa privada, � o que a gente tem para hoje.
Mas a possibilidade de dar continuidade � carreira pol�tica est� descartada?
Veja, a gente tem de trabalhar com o dia de hoje. E o dia de hoje �: ele n�o � mais juiz e n�o � mais ministro. E, assim, como todo mundo, tem contas a pagar. �gua, luz, telefone, escola, os boletos chegam aos montes aqui todo final do m�s. O S�rgio j� se inseriu na iniciativa privada e esse � o nosso foco hoje. N�o temos como viver confabulando, pensando no que vai acontecer no per�odo de um ano, dois, dez anos. Por enquanto, est� programado assim: trabalhar na iniciativa privada e pagar as contas no fim do m�s.
Bom, de todo modo, o que eu ia perguntar �...
(Interrompe novamente a pergunta) De novo, � voc� quem est� falando. Eu n�o falei isso para voc�. O S�rgio acabou de ser contratado por uma empresa privada. Portanto, nosso foco, no momento, � esse. E mais detalhes sobre o que vamos fazer no �mbito da nossa vida privada talvez nem caibam nessa entrevista porque o S�rgio n�o exerce mais uma fun��o p�blica. � merecido que a gente tenha um pouco mais de privacidade agora.
Mas na hip�tese de uma poss�vel candidatura � Presid�ncia do Moro, a senhora considera que ter passado pelo governo Bolsonaro possa manchar o curr�culo dele? Era isso o que eu ia perguntar.
Olha, eu nem tenho resposta para isso. Esses assuntos n�o est�o aqui na nossa pauta.
Sobre a reinser��o do seu marido na iniciativa privada: Moro foi contratado recentemente pela consultoria americana �lvarez & Marsal. Um dos principais clientes dessa empresa � a Odebrecht, uma das empreiteiras mais afetadas pela opera��o Lava-Jato. O ex-ministro recebeu cr�ticas at� mesmo de aliados por ter aceitado o cargo. A senhora chegou a ponderar com ele as quest�es �ticas relacionadas a essa oferta de emprego?
Sobre essa quest�o, que diz respeito �s escolhas profissionais do S�rgio, voc� deveria perguntar a ele. Quanto �s cr�ticas, se S�rgio decidir hoje fazer vestibular para medicina, v�o criticar. Se decidir comprar um caminh�o de frutas e vender na esquina, v�o criticar. Ele est� sempre no radar das pessoas. A gente espera que, agora, na iniciativa privada, isso baixe um pouco e a gente possa ter um pouco mais de privacidade. N�o posso entrar em detalhes sobre a contrata��o, at� porque ela tem cl�usula de confidencialidade. E eu n�o sou parte do contrato. Ent�o, n�o me sinto � vontade para falar. Mas as cr�ticas me parecem partir de pessoas que sequer sabem o que � uma empresa como a �lvarez & Marsal. N�o � um escrit�rio de advocacia, n�o vai fazer defesa de uma empresa ou de outra.
Em abril deste ano, a senhora deletou um post no Instagram em que elogiava a atua��o do ent�o ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta. A senhora j� disse publicamente que foi o Moro quem pediu que a mensagem fosse apagada. Esse pedido gerou algum conflito conjugal?

Essa mensagem parece que gerou um desconforto. O presidente cobrou do meu marido uma explica��o. Ningu�m pode discordar nesse governo. Eu n�o digo nem criticar, n�o pode nem discordar. Porque, se voc� discorda, vira inimigo n�mero um. Houve, ent�o, um constrangimento, o S�rgio tamb�m n�o tinha total liberdade para discordar – em que pese o fato de que ele nunca teve uma postura negacionista. O presidente cobrou dele e ele me pediu que apagasse o post.
O presidente mostrou para o S�rgio um print da sua mensagem e foi tirar satisfa��o? Como foi?
Deve ter mostrado, eu n�o me recordo desses detalhes menores. Sei que houve um desconforto. � claro que eu n�o fiquei feliz em apagar o post, mas, entre ser feliz e ter raz�o… da� eu disse “Ah, t� bom, n�o vou ficar criando confus�o. Vamos fluir a vida com outras coisas”. Mas continuo pensando que, entre ci�ncia e achismo, na quest�o da sa�de, deve prevalecer a ci�ncia.
No seu livro, a senhora cita que, em 2019, ap�s o F�rum Econ�mico Mundial de Davos, na Su��a, o tema que dominou a aten��o do presidente durante a viagem de volta foi a sa�da do Brasil do ex-deputado federal Jean Wyllys. A senhora, no entanto, n�o diz exatamente o que aconteceu. Por qual motivo? Poderia dar esses detalhes aos seus leitores agora?
� curioso que isso tenha acontecido num grande evento, de repercuss�o mundial, em que as pessoas est�o tratando sobre temas como abertura do com�rcio internacional, mercados, economia e meio-ambiente. O natural, para mim, seria que as pessoas comentassem o que aconteceu no f�rum, suas percep��es, os pain�is. Mas o que dominou as conversas, pelo jeito, foi esse outro assunto, o fato de um parlamentar ter sa�do do Brasil.
Mas o que foi dito em Davos sobre isso? Em quais termos? Com qual tom? N�o me diga que o seu marido tamb�m pediu para censurar essa parte!
Mas n�o tem mais detalhes. O que o livro mostra � isso, voc� sai de um f�rum econ�mico mundial, tem a chance de trocar com a sua equipe as suas percep��es, mas o assunto que domina � de menor import�ncia. Foi isso que eu quis mostrar.
Como ficou a conviv�ncia familiar durante a Lava-Jato e, posteriormente, ap�s a sa�da do S�rgio Moro do minist�rio, como desafeto do presidente? Como lidaram com os haters? Em algum momento, algu�m teve que recorrer a um antidepressivo?

O que voc� diria da sua conviv�ncia com o presidente Jair Bolsonaro?
Eu estive com o presidente pouqu�ssimas vezes. Eu o conheci pessoalmente – e rapidamente – na cerim�nia de diploma��o. Depois, estive com ele durante a assinatura de uma Medida Provis�ria, aquela que permite a venda de bens apreendidos, uma coisa assim. (MP 885/2019, editada em 9 de outubro de 2019, que facilita o repasse de recursos decorrentes da venda de bens apreendidos do tr�fico de drogas aos estados e ao Distrito Federal). Houve uma solenidade do Planalto e eu fui acompanhando o S�rgio. Eles conversaram rapidinho entre eles, eu ent�o cumprimentei o presidente. E uma outra vez que eu vi o Bolsonaro foi numa visita de cortesia dentro do hospital, logo ap�s uma daquelas cirurgias que ele fez. Eram situa��es em que o S�rgio e ele tinham assuntos a tratar, eu apenas estava presente, n�o pude interagir muito.
A senhora fala do seu marido de maneira apaixonada – ao menos � essa a impress�o de quem l� o seu livro.
E � claro que eu sou (apaixonada). Absolutamente. A gente se d� superbem, a gente pensa muito igual. Temos uma rela��o de muita cumplicidade. Quando ele mais precisou de apoio, eu estava junto. Antes de ele assumir o minist�rio, houve um per�odo em que eu me ausentava muito por causa do meu trabalho. Mas a gente ficava tranquilo porque sempre um dos dois estava em casa com a fam�lia, com os filhos. Quando era eu que precisava viajar, estar fora de casa, ele sempre me apoiou. Os dias que ele passou no minist�rio foram intensos, tivemos de nos adaptar. Mas quando o lar tem respeito, amor e cumplicidade, as pessoas conseguem dar conta. Fora isso, sim, sim, sou muito apaixonada por ele. Ele abre a porta do carro pra mim at� hoje, manda flores…
Deixa bilhetinhos?
A� n�o, menos! (risos)
N�o acha que faltou expor, no seu livro, um pouco dos conflitos que voc�s viveram durante esses dias mais intensos? Imagino que eles devam ter existido…
O que eu tinha para falar sobre essa quest�o dos conflitos abordei quando contei sobre o post apagado. Eu vejo o S�rgio como uma pessoa muito estudiosa, ele l� muito. Tenho muita certeza de que ele faz o melhor no trabalho dele. Seja na Justi�a, seja no minist�rio, seja na iniciativa privada. Ent�o, eu n�o tenho momentos de cr�tica para te relatar.