Produ��o da CoronaVac, feita no Brasil pelo Instituto Butantan, foi inclu�da para distribui��o no plano nacional do Minist�rio da Sa�de (foto: Governo de S�o Paulo/Divulga��o
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O esfor�o coletivo de cientistas e grupos de pesquisa no mundo contribuiu para o surgimento de diversas vacinas contra o novo coronav�rus em tempo recorde, alimentando a esperan�a de que a doen�a possa ser finalmente controlada. R�ssia, Estados Unidos, Canad�, Ar�bia Saudita e Reino Unido foram os primeiros pa�ses a iniciar o processo de vacina��o em suas popula��es ou em parte delas. O Brasil, no entanto, sem calend�rio de imuniza��o, convive com d�vidas e incertezas que atrasam o acesso da na��o a uma vacina e deixam desprotegidos grupos priorit�rios no enfrentamento � doen�a respirat�ria com grande chance de contamina��o.
A extens�o territorial e a grande popula��o brasileira, por si, imp�em aquela que deve ser a maior campanha de vacina��o, mas h� problemas e desafios ligados � infraestrutura para a imuniza��o. Lan�ado na semana passada sob cr�ticas, o Plano Nacional de Operacionaliza��o da Vacina��o contra a COVID-19 n�o deixou claro como ser� a log�stica de distribui��o de imunizantes e compra de insumos necess�rios � aplica��o da vacina num Brasil de dimens�es continentais.
Essa infraestrutura requer a aquisi��o de equipamentos e seringas e a contrata��o de mais profissionais para distribuir as doses, como observa o professor Ben�cio Ferreira, coordenador do curso de biomedicina do Centro Universit�rio Internacional (Uninter). “Um fator preocupante que estamos vivenciando hoje � a escassez da m�o de obra de profissionais de sa�de, e uma vacina��o dessa magnitude necessitar� de in�meros profissionais, que em muitas situa��es poder�o ser afastados da assist�ncia atual onde est�o trabalhando, nos leitos de unidades de interna��o e UTIs (unidades de terapia intensiva)”, afirma.
Enquanto nos EUA e em outros quatro pa�ses a imuniza��o j� come�ou, o Brasil acumula d�vidas sobre a infraestrutura para aplicar o imunizante (foto: Mark Lennihan/AFP)
O especialista destaca ainda que os profissionais est�o assoberbados com extensivas jornadas de trabalho, para que a assist�ncia possa ser prestada. Ben�cio Ferreira aponta que o plano de imuniza��o do governo precisa de muitos ajustes para ser mais eficiente.
“Infelizmente, nesse quesito, o planejamento n�o foi o adequado. Em julho, o poder p�blico foi avisado da necessidade de insumos para a aplica��o de vacinas, por�m apenas agora, em dezembro, � que o Minist�rio da Sa�de come�ou a procurar fornecedores deste tipo de insumo. Existe receio das autoridades de sa�de de um real desabastecimento dos insumos utilizados para a aplica��o de vacinas em grande escala para a popula��o.”
O plano de imuniza��o anunciado pelo ministro da Sa�de, general Eduardo Pazuello, n�o tem cronograma definido e inclui 13 subst�ncias candidatas a vacina, entre elas as da AstraZeneca/Oxford, a Pfizer e a CoronaVac, alvo de pol�mica entre o Pal�cio do Planalto e o governo de S�o Paulo, que tem parceria com a fabricante chinesa Sinovac Biotech por meio do Instituto Butantan. A expectativa � de que sejam necess�rias pelo menos 108 milh�es de doses para imunizar os trabalhadores de sa�de, idosos, quilombolas, funcion�rios de transporte coletivo, comunidades tradicionais ribeirinhas e pessoas em situa��o de rua, grupos definidos pelo governo como priorit�rios.
Para facilitar a log�stica da distribui��o das doses, empresas a�reas firmaram acordo com o Minist�rio da Sa�de para transportar gratuitamente as vacinas a cidades distantes. De acordo com o governo federal, o ponto central de distribui��o das vacinas ser� no aeroporto internacional de Guarulhos, onde elas ficar�o armazenadas em freezers ou refrigeradores. O Minist�rio da Sa�de tamb�m prev� que haja bases de apoio em Bras�lia, Rio de Janeiro e Recife. Haver� remessas enviadas por terra, atrav�s de rodovias, para os estados de Minas Gerais, Santa Catarina, Esp�rito Santo, Mato Grosso do Sul, Goi�s, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Avi�es da For�a A�rea Brasileira (FAB) tamb�m ser�o usados no transporte entre as unidades federativas.
Imunidade de rebanho Em rela��o � vacina da Pfizer, o Minist�rio da Sa�de sabe que ser� necess�rios refrigeradores para manter o imunizante armazenado � temperatura de 70 graus negativos. Na vis�o do epidemiologista Geraldo Cunha Cury, que coordena a aplica��o de vacinas na UFMG, em Belo Horizonte, um dos entraves � conciliar o clima do Brasil com a temperatura exigida.
“Nos Estados Unidos, as vacinas sa�ram de Minessota com temperatura ambiente de 16 graus negativos e foi mais f�cil transport�-las. Aqui, talvez tenhamos de fazer um esquema misto. Nas capitais, h� locais para armazenar a vacina em temperaturas baixas. Logo, � poss�vel vacinar um grupo com elas. Em outros, com temperatura normal, outras vacinas poderiam ser abrangidas e atender a novos grupos. Enfim, o processo tem que ser bem definido.” A campanha de imuniza��o come�ou, na segunda-feira, nos Estados Unidos. A enfermeira Sandra Lindsay, de Nova York, foi a primeira americana a ser vacinada contra a COVID-19.
Para o pesquisador e coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CTvacinas), Fl�vio Guimar�es da Fonseca, � preocupante o fato de o presidente Jair Bolsonaro anunciar que n�o tomar� a vacina, incentivando, assim, indiretamente, milhares de brasileiros a deixar de lado o imunizante. “O presidente fala que n�o vai tomar a vacina. O Brasil atinge um dos maiores patamares globais de popula��o que se recusa a ser vacinada. E � um problema gigantesco. Para cortar a circula��o do v�rus, a �nica op��o � a vacina��o em massa. Enquanto houver pessoas que n�o se vacinam, n�o conseguimos moldar o que chamamos de imunidade de rebanho. O v�rus continuar� circulando nessa popula��o que est� desprotegida.”
Plano feito a 'toque de caixa'
A imuniza��o contra a COVID-19 � classificada como a maior campanha de vacina��o da hist�ria do Brasil e sem ter precedentes pelo pesquisador e coordenador do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT vacinas), Fl�vio Guimar�es da Fonseca. Outra dificuldade destacada pelo especialista � o fato de o plano nacional de imuniza��o ter sido feito �s pressas, quando demandaria pelo menos quatro meses para ser elaborado.
“O quantitativo de pessoas a serem vacinadas � muito maior que de outras campanhas. Ser� um desafio enorme para o programa, at� porque ele foi gerido a toque de caixa por �timos t�cnicos. Mas precisaria de pelo menos quatro meses para ser elaborado", afirma Fl�vio Fonseca
Ele entende que o pa�s pode se basear na experi�ncia de outras campanhas em anos anteriores. “O nosso programa de vacina��o j� foi premiado internacionalmente e constru�do ao longo de d�ca- das. Ele � independente de governo, seja os bons ou ruins, e at� hoje ningu�m prejudicou essa boa regularidade. A campanha para a vacina do coronav�rus ser� a maior da hist�ria e sem precedentes.
O governo federal anunciou que o Brasil tem garantidos 300 milh�es de doses de vacinas, sendo 130 milh�es do imunizante da AstraZeneca; 42,5 milh�es da parceria Covax Facility com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) e outros 70 milh�es da subst�ncia produzida pela Pfizer. Por�m, nenhum dos imunizantes at� agora teve o registro concedido pela Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), o que prejudica a log�stica e a entrega.
O Minist�rio da Sa�de confirmou ontem o 2º caso de reinfec��o pelo novo coronav�rus no pa�s. O caso � de uma mulher de 41 anos moradora de Fernand�polis (SP).
A pasta notificou ontem 7.213.155 registros de infec��o e 186.356 �bitos provocados pela doen�a respirat�ria. Em Minas Gerais, s�o 494.187 pessoas contaminadas e o n�mero de mortes alcan�ar 11.093 desde o in�cio da pandemia. Outros 36.532 casos da doen�a est�o em acompanhamento pelas autoridades de Sa�de.
Na Su��a O �rg�o regulador da �rea da sa�de da Su��a, Swissmedic, informou ontem, por meio de comunicado, que liberou a vacina da Pfizer e da BioNTech contra a COVID-19 para uso no pa�s. A nota lembra que � a primeira vez no mundo em que a autoriza��o para o imunizante � dada em procedimento ordin�rio, n�o por um aval de uso emergencial.
Que pressa?
“A pressa da vacina n�o se justifica”. A frase foi dita na tarde deste s�bado, em entrevista concedida pelo presidente Jair Bolsonaro ao pr�prio filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O presidente disse, ainda, que a pandemia da COVID-19 est� acabando. “A pandemia, realmente, est� chegando ao fim. Temos uma pequena ascens�o agora, que chama de pequeno repique que pode acontecer, mas a pressa da vacina n�o se justifica”, afirmou Bolsonaro, ao afirmar que h� uma apreens�o injustificada sobre a doen�a, que j� matou mais de 180 mil brasileiros. “Voc� mexe com a vida das pessoas. V�o inocular algo em voc�. O seu sistema imunol�gico pode reagir ainda de forma imprevista”, comentou. Enquanto isso, no Reino Unido, O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou ontem novas restri��es � circula��o de pessoas em Londres e no sudeste do pa�s , regi�es onde a pandemia de COVID-19 tem se agravado. Johnson confirmou que nova variante do coronav�rus identificada pelas autoridades de sa�de brit�nicas se espalha mais rapidamente do que as anteriores. “Pode ser at� 70% mais transmiss�vel do que a variante antiga”, disse o premi� brit�nico. As novas medidas s�o equivalentes ao lockdown imposto em novembro e durar�o duas semanas.