
Essa � uma previs�o otimista, considerando que todos os laborat�rios cumpririam as promessas feitas. Para isso, o governo federal precisa contar com a chegada de lotes de insumo farmac�utico ativo (IFA) vindos da China para a produ��o da CoronaVac e da vacina da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz), al�m de conseguir fechar acordos com a Uni�o Qu�mica, da Sputnik V, e com a Precisa Medicamentos, da Covaxin. O Minist�rio da Sa�de tamb�m precisa que os imunizantes passem por aprova��o de autoriza��o do uso emergencial na Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), o que neste caso envolve tamb�m as vacinas da Fiocruz. Sobre a vacina russa, a pasta deixou claro, ainda, que a aquisi��o depende de um pre�o plaus�vel.
Num cen�rio de cobran�as, o governo parece estar empenhado, tendo reuni�es com os representantes da Covaxin e da Sputnik V. Apesar da aparente movimenta��o, o fundador e ex-presidente da Anvisa, Gonzalo Vecina, diz, contudo, n�o ver ou acreditar que o governo do presidente Jair Bolsonaro — que continua deixando claro que n�o ir� se imunizar —, esteja correndo atr�s de vacina no momento. De acordo com Vecina, n�o h� mais imunizantes dispon�veis no mercado, e as doses que a AstraZeneca e a Sinovac poderiam vender ao Brasil j� foram adquiridas pelo Butantan e pela Fiocruz.
Para ele, se outras empresas citadas em negocia��es com o governo tiverem vacinas dispon�veis, ser�o quantidades muito pequenas. Vecina cita a Pfizer, com a qual o governo diz estar em constantes negocia��es, apesar de ter apontado, por diversas vezes, que n�o ir� adquirir o imunizante devido a cl�usulas contratuais que diz discordar. A Pfizer enviou, ontem, � Anvisa, pedido para registro definitivo da vacina. “O governo est� chegando atrasado. Poderia ter ido atr�s de vacina desde julho, mas n�o foi. Agora � tarde. N�o vai ter mais vacina”, opina o especialista.
Diretor cient�fico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Jos� Davi Urbaez afirma que o cen�rio s� n�o � mais ca�tico porque o Brasil conta com institui��es como a Fiocruz e o Instituto Butantan. “Gra�as aos trabalhos dos t�cnicos e dos pesquisadores dessas institui��es, que acabam pressionando e colocando um esfor�o monumental para honrar o fornecimento de vacinas no Brasil, n�s entramos no grupo dos pa�ses privilegiados do mundo que est�o vacinando a sua popula��o”, ressaltou. At� o momento, a Fiocruz e o Butantan s�o os �nicos a fornecerem vacinas ao pa�s; no caso da funda��o s�o apenas 2 milh�es de doses importadas.
Fase 3
O infectologista acredita que a retirada da obrigatoriedade de estudos do fase 3, no Brasil, como requisito para a solicita��o do pedido emergencial de vacinas pode ajudar o pa�s a conseguir mais imunizantes, uma vez que o mundo vive uma pandemia e sofre com o contexto intenso de falta de vacinas. A decis�o foi tomada pela Anvisa na �ltima semana, favorecendo a Sputnik V em meio a press�es de governadores e parlamentares. “� um passo muito bom e a pr�pria Anvisa tem os recursos t�cnicos e procedimentos internos que v�o nos dar a seguran�a da revis�o de todos esses estudos feitos em outros pa�ses”, destaca.
Para Gonzalo Vecina, a necessidade dos estudos de fase 3 foi importante em um primeiro momento. “Gra�as a isso tivemos quatro estudos de fase 3 no Brasil que ajudaram muito a ci�ncia brasileira”, pontua. At� o momento, a vacina de Oxford/AstraZeneca, a CoronaVac, a vacina da Pfizer e a da Janssen-Cilag realizam testes de fase 3 no Brasil. Os representantes das vacinas Sputnik V e Covaxin tamb�m j� pediram � Anvisa a autoriza��o para come�ar os testes em territ�rio nacional.
Apesar de ressaltar a import�ncia da pesquisa em territ�rio nacional, Vecina afirma que a Anvisa fez bem ao dar “um passo atr�s” e permitir que os laborat�rios solicitem o uso emergencial sem possuir o estudo de fase 3 no pa�s. No entanto, ele refor�a a necessidade desses testes em outros pa�ses.
Desinteresse
Desde o segundo semestre do ano passado, especialistas falam sobre a import�ncia de se buscar mais de um imunizante no pa�s. O governo brasileiro, entretanto, preferiu o marasmo. A import�ncia de se adquirir v�rios imunizantes �, inclusive, pontuada internamente, em uma proposta assinada por seis ministros, incluindo o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, para a Medida Provis�ria (MP) 1.026, editada no dia 6 de janeiro deste ano. A referida MP permite a compra de vacinas antes do registro da Anvisa, desde que aprovadas em uma das ag�ncias internacionais citadas no texto.
No documento, do dia 29, no qual tamb�m propuseram a inclus�o da R�ssia (o que n�o foi feito), os ministros ressaltam que � relevante “a diversifica��o dos investimentos em diferentes vacinas e fornecedores, visando mitigar o risco de n�o aprova��o de uma vacina eventual” como uma estrat�gia “para maximizar as taxas de sucesso relativas ao” plano e vacina��o. Naquele momento, o governo s� tinha contrato com a Fiocruz, assinado em setembro, para aquisi��o de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, que ser� produzida pela funda��o no Brasil.
Por quest�es ideol�gicas e pol�ticas, a relut�ncia foi intensa quanto � CoronaVac. Em outubro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o general Pazuello, quando o ministro da Sa�de anunciou que compraria 46 milh�es de doses do imunizante chamado por Bolsonaro de “vacina chinesa de Jo�o Doria”. Quando viu que j� n�o era poss�vel protelar mais, com o governador tucano anunciando data de vacina��o e com o pedido de uso emergencial nas m�os da Anvisa, Pazuello assinou contrato para compra de exatamente 46 milh�es de doses, no dia 7 de janeiro de 2021.
O assunto chegou ao Congresso por press�o de empres�rios, que se articularam para tentar comprar vacinas, e de governadores, para a libera��o da Sputnik V. Na semana passada, uma das mudan�as aprovadas em MP pelo Senado chegou a ser prevista em medida editada no dia 6 de janeiro pelo governo federal. Como j� divulgado pelo Correio, uma minuta da MP 1.026 tinha o nome da R�ssia (o que facilitaria a compra da Sputnik V), mas o governo retirou o pa�s ao publicar a medida.
Queda no n�meros da COVID-19
Ainda que em altos patamares, o Brasil encerrou a quinta semana epidemiol�gica com diminui��o no n�mero de casos e mortes pela COVID-19, na compara��o com o fechamento anterior. Foram acrescentados 7.076 �bitos e 320.820 infec��es no acumulado dos �ltimos sete dias, o que representa queda de 5,6% e 11%, respectivamente. Com taxas de isolamento na m�dia de 36% (quando o recomendado � de 70%), o momento ainda � preocupante, sobretudo pelas m�dias m�veis, que continuam acima de mil vidas perdidas diariamente e 45,8 mil casos. Ontem, o Minist�rio da Sa�de contabilizou novas 978 fatalidades e 50.630 positivos para a doen�a, totalizando 231.012 �bitos e 9.497.795 casos desde o in�cio da pandemia.