
Ara�jo e o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presid�ncia, Filipe Martins, viraram alvos do Congresso, mas t�m suporte do cl� Bolsonaro.
O chanceler participou durante a manh� da reuni�o de 30 anos do Mercosul, ao lado de Bolsonaro. Ele tem conversado com o presidente sobre as cobran�as de pol�ticos do Centr�o, sobretudo da c�pula do Congresso, de militares e empres�rios, para que seja substitu�do.
Nesta sexta-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), recebeu a visita de Bolsonaro e reiterou cr�ticas � condu��o das Rela��es Exteriores.
"Consideramos que a pol�tica externa do Brasil ainda est� falha", afirmou Pacheco. "Precisa ser corrigida, melhorar a rela��o com os pa�ses, inclusive com a China. Para al�m do desempenho pessoal do ministro, vamos falar sobre ideias, comportamentos, e isso precisa melhorar. Com ministro A ou B, o que importa � que funcione."
Diplomatas ouvidos pela reportagem afirmam que Ara�jo continua trabalhando, na tentativa de baixar a poeira e delimitar as responsabilidades do Itamaraty diante das cobran�as pela escassez de vacinas. O ministro que obter resultados concretos e propagandear a chegada de insumos vindos da China para fabrica��o de 32 milh�es de doses de vacina pela Fiocruz.
Ara�jo recebeu nesta sexta-feira o novo embaixador russo em Bras�lia, Alexey Labetskiy, que lhe trouxe convite do chanceler Segey Lavrov para visitar o pa�s.
Parte da equipe de Ara�jo entende que o titular de Rela��es Exteriores virou um para-raio e sofre lobby contr�rio de chineses, que intensificaram o di�logo direto com o Congresso e reclamaram dele para o presidente da C�mara, Arthur Lira (Progressistas-AL).
O ministro nega ter problemas com a China, mas no ano passado se envolveu em crises diplom�ticas com o embaixador Yang Wanming e disse ao Estad�o que ele mesmo acionou Pequim para reclamar do representante do pa�s em Bras�lia. Segundo fontes do Itamaraty, a embaixada brasileira foi instru�da a pedir a retirada de Wanming, mas a chancelaria chinesa ignorou. Ara�jo nunca negou, mas se recusa a detalhar o pedido.
Bolsonaro chegou a orientar Martins - investigado pela Pol�cia Legislativa por causa de um gesto interpretado como express�o da "supremacia branca" - a tentar acalmar os �nimos diretamente com os senadores que cobraram sua cabe�a. Martins j� foi avisado de que deve ser afastado do Pal�cio do Planalto e busca apoio entre militantes e setores da comunidade judaica, na tentativa de demonstrar que n�o cometeu ato de racismo.
No governo circulam op��es de destino tanto para Ara�jo quanto para Martins. O caso do ministro, apesar da intensa cobran�a, estaria um passo atr�s, de acordo com assessores presidenciais. Uma hip�tese avaliada pelo grupo � que Martins seja sacrificado e perca o cargo de assessor internacional para tentar preservar o chanceler.
Ministros pr�ximos a Bolsonaro chegaram a sugerir a ele que deslocasse Ara�jo para a chefia de sua Assessoria de Assuntos Internacionais. A hip�tese � considerada remota, pois soaria como um rebaixamento, que nunca ocorreu com ex-chanceleres. A op��o tamb�m � considerada sem sentido entre diplomatas, que apostam na transfer�ncia de Ara�jo para alguma miss�o permanente de �rg�o internacional, que n�o dependa de aval do Senado. H� no Planalto quem defenda um pol�tico � frente da chancelaria, mas outra ala prefere novamente um diplomata de carreira.
A indisposi��o com o ministro � quase un�nime. O chanceler foi abandonado por l�deres do governo durante sess�o de debates no Senado, na �ltima quarta-feira, 24. Se Ara�jo n�o for trocado agora, senadores amea�am, nos bastidores, bloquear a agenda do Itamaraty na Casa, respons�vel por aprovar todas as indica��es de embaixadores a postos no exterior, por exemplo.
Na C�mara, o Centr�o percebeu que Bolsonaro s� demite os ministros quando se v� obrigado, porque o quadro � irrevers�vel. Muitos pol�ticos consideram a situa��o de Ara�jo insustent�vel, mas o presidente n�o se convenceu disso.
Parlamentares avaliam, ainda, que Bolsonaro tenta ganhar tempo. Em conversa reservada, uma senadora disse ao Estad�o que a classe pol�tica acabou constatando que, "quanto mais se for�a a sa�da de um ministro, mais ele se fortalece". A aposta, agora, � que Ara�jo ser� remanejado se houver algum sinal de que sua sa�da facilitar� a obten��o de vacinas nas negocia��es com a China e os Estados Unidos. Tanto deputados como senadores acreditam que h� m� vontade desses pa�ses com o ministro.
Numa demonstra��o de prest�gio entre militantes conservadores, o chanceler e o assessor internacional motivaram campanhas de apoio nas redes sociais. Esse term�metro � sempre considerado por Bolsonaro, que aposta na comunica��o direta com seus apoiadores, nas decis�es de governo.
Al�m disso, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - filho do presidente mais influente na pol�tica externa - saiu em defesa de Ara�jo e de Martins, atuando como esp�cie de fiador dos dois. Eduardo disse que Ara�jo "tem todo o apoio" e ajudou a mudar a imagem do Pa�s, que teria passado de "an�o diplom�tico financiador de ditaduras" para "grande parceiro de importantes pa�ses".
Bolsonaro tamb�m tem prestigiado ministros que se mostram obedientes. Ao Estad�o, Ara�jo afirmou ter afinidade com o presidente e justificou que adota a pol�tica externa sob a orienta��o do chefe.
Na noite desta quinta-feira, 25, a diplomata Maria Eduarda de Seixas Corr�a, mulher do chanceler, publicou nas redes sociais uma mensagem em defesa de Ara�jo. "Est�o tentando transformar meu marido em bode expiat�rio da Rep�blica. Pat�tico. Aguente firme, meu amor", escreveu. Maria Eduarda espalhou a campanha #ningu�mmexecomernesto entre bolsonaristas de direita.
O chanceler respondeu com uma cita��o b�blica. "O amor n�o se alegra com a injusti�a, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo cr�, tudo espera, tudo suporta... Assim, permanecem agora estes tr�s: a f�, a esperan�a e o amor. O maior deles, por�m, � o amor".