
Assim que o Brasil registrou as primeiras infec��es pelo novo coronav�rus, em fevereiro do ano passado, o Ex�rcito percebeu que o pa�s enfrentaria um dos maiores desafios de sa�de do s�culo.
Os n�meros de mortes e casos que aumentavam rapidamente na Europa enviaram o alerta para a tropa terrestre mais poderosa da Am�rica Latina. Ao Departamento-Geral de Pessoal foi incumbida a miss�o de aplicar medidas sanit�rias, realizar campanhas e proteger o contingente da COVID-19.
Al�m dos militares da ativa, s�o de responsabilidade da For�a os que est�o na reserva e os dependentes — o que engloba uma rede de 700 mil pessoas.
Com 60 unidades de sa�de, entre hospitais, policl�nicas e postos avan�ados, o Ex�rcito mant�m uma taxa de mortalidade pela doen�a de 0,13%, bem abaixo do �ndice de 2,5% registrado na popula��o em geral do pa�s. A receita � uma pol�tica totalmente oposta � adotada pelo governo federal.
Autoridade m�xima de sa�de no Ex�rcito, o general Paulo S�rgio conta que a For�a entrou em uma esp�cie de lockdown, em que integrantes de grupos de risco foram enviados para home office e cerim�nias militares acabaram suspensas em todos os quart�is.
Al�m disso, est�o sendo realizadas campanhas massivas de distanciamento social e outras a��es, como uso de m�scaras e higieniza��o das m�os.
Os novos recrutas, que ingressam para o servi�o militar obrigat�rio, est�o em regime de internato e passam semanas sem ir para casa, a fim de evitar infec��es pelo novo coronav�rus.
Apesar das medidas intensas, a segunda onda j� come�a a ter efeitos severos no Ex�rcito, com o registro de interna��o de militares jovens e colapso nos hospitais da rede — obrigando o uso de unidades de sa�de privadas.
Enquanto o pa�s enfrenta a segunda onda e v� a taxa de mortes explodir, a For�a j� prev� uma terceira onda, que pode ser ainda mais grave e come�ar por Manaus, dentro de dois meses.
Em entrevista, o general Paulo S�rgio fala sobre as a��es que evitaram mortes no Ex�rcito, lamenta as perdas no meio civil e destaca que integra��o, log�stica e planejamento s�o as armas mais eficazes para entrar na guerra contra o v�rus. A seguir, os principais trechos.
Quais s�o as obriga��es do Departamento-Geral de Pessoal do Ex�rcito?
� o �rg�o que cuida da estrutura, planeja e coordena todas as a��es referentes aos nossos recursos humanos, nas �reas de avalia��o de desempenho, promo��es, atendimento aos pensionistas, assist�ncia social, religiosa, entre outras. E, neste per�odo que estamos vivendo, na sa�de.
Quantas pessoas s�o atendidas pelo departamento?
Estamos falando numa for�a de 220 mil homens. E, aqui no DGP, eu sou a autoridade m�xima do departamento de todas essas �reas de atua��o. � um �rg�o que cuida da dimens�o humana da For�a, que � aquilo que temos de mais sublime. Ent�o, nessa valoriza��o dos recursos humanos, no apoio � fam�lia militar que a gente busca, damos ao Ex�rcito a operacionaliza��o de que a gente precisa. A fatia dos nossos usu�rios, que s�o inativos, pensionistas, dependentes, eu diria que � de cerca de 700 mil do sistema. Quando se somam ativos, inativos e dependentes, chega a esse n�mero de usu�rios do sistema de sa�de.
S�o quantos hospitais nesta rede atualmente?
N�s temos cerca de 60 hospitais, policl�nicas e postos m�dicos; isso espalhado nos oito comandos militares de �rea. Vem desde Amaz�nia, Nordeste, Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Planalto. � uma rede adequada ao efetivo que a gente tem. Mas 60 hospitais em um pa�s continental como o nosso � pouco. O Hospital de Manaus recebe pacientes de S�o Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Rio Branco, Porto Velho, Boa Vista. A cadeia de evacua��o da Amaz�nia Ocidental se baseia no Hospital de Manaus. � um hospital muito importante para o Ex�rcito. � uma rede adequada � nossa For�a, e temos de trabalhar, aqui, para que o recurso seja empregado. S�o quase 750 organiza��es militares espalhadas pelo Brasil.
Manaus e a Regi�o Norte, no geral, foram as localidades mais atingidas pelas ondas da pandemia at� o momento. Isso foi uma surpresa para o Ex�rcito?
At� hoje, � um aprendizado para todos n�s. O Ex�rcito, ou melhor, o Minist�rio da Defesa, l� em mar�o do ano passado, vendo o problema se adiantar, criou 10 conjuntos em todo o Brasil. Esses conjuntos envolveram as For�as Armadas e as autoridades estaduais e municipais. Esses 10 comandos conjuntos trabalharam harm�nicos. No Ex�rcito, para dar suporte a esses comandos e aos nossos hospitais, criamos a Opera��o Apolo. Tem toda uma equipe log�stica, sa�de, administrativa que coordena as a��es. Eu estava em Bel�m, era o comandante da �rea quando isso come�ou. O Brasil inteiro se voltou para a Amaz�nia Ocidental. N�s tomamos nossas medidas. O Ex�rcito, por exemplo, baixou recomenda��es administrativas claras, com rela��o � preven��o mais especificamente. A partir dali, foi uma coisa muito disciplinada, no uso da m�scara, no afastamento social nos refeit�rios, nos dormit�rios. A�, come�aram a surgir campanhas de conscientiza��o. Os hospitais come�aram a pedir sangue, e iniciamos uma campanha. Hoje, j� passa de 40 mil doadores de sangue, no Ex�rcito, espalhados pelo Brasil. Lan�amos a campanha “Ajudar est� no nosso sangue”. Todas as medidas sanit�rias, diretrizes emanadas pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), corroboradas pelas nossas diretorias de sa�de, s�o rigorosamente cumpridas em nossos quart�is. � uma For�a disciplinada.
Com rela��o � falta de oxig�nio em Manaus, ocorreu alguma falha de previsibilidade?
No nosso caso, n�o. Tudo foi novidade. Ningu�m imaginava aparecer de repente um neg�cio destes, este coronav�rus. Os nossos hospitais na Amaz�nia t�m reserva. Mas quando come�ou a surgir a crise na rede p�blica, n�s “startamos”, aqui, um planejamento alternativo. Com anteced�ncia, compramos usina de oxig�nio, cilindro e, por meio da For�a A�rea Brasileira, suprimos S�o Gabriel, Tabatinga, Porto Velho e Manaus. N�o faltou oxig�nio para as organiza��es militares de sa�de do Ex�rcito. Esse centro de opera��es funciona e trabalha conjugado com a possibilidade de acontecer isso. Terminou essa crise do oxig�nio, agora � Porto Alegre, Santa Maria e Rio Grande do Sul. M�dicos de Manaus, engenheiros de Manaus, equipes de sa�de para refor�armos o Hospital de Santa Maria, j� levamos.
Como est� a situa��o em Manaus?
Em Manaus acalmou, tranquilizou, e no Sul, apertou. Ent�o, deslocamos equipes. A log�stica no Amazonas � complicada, tem de usar avi�es. Mas deslocamos equipamentos de Manaus para Porto Alegre. N�s temos um comando log�stico, uma experi�ncia log�stica. N�o morreu ningu�m, militar ou dependente nosso, por falta de leito, de apoio, de equipamento (no Ex�rcito). Morreu porque est� morrendo gente, e lamentamos profundamente. Perdi parentes, tenho amigos na UTI em estado grav�ssimo, generais que foram meus amigos. Nesse sentido, queria at� ressaltar outros programas que fazemos para amenizar este estresse e sofrimento. Temos desenvolvido campanhas sobre estresse, desemprego, a morte de um ente querido; temos cuidado da sa�de mental.
A segunda onda est� afetando mais os jovens. Isso tem sido percebido dentro do Ex�rcito?
Sim. Temos militares mais jovens que foram evacuados, ou seja, moravam no interior, onde n�o tinha hospital, e foram transportados para outro local.
Foram necess�rios refor�os nas equipes de sa�de?
Sim, tivemos de convocar pessoal m�dico. �s vezes, tem equipamento, mas n�o tem equipe m�dica. Eu n�o posso transformar um infectologista em tr�s, um intensivista em quatro, por estar abrindo mais 10 leitos. Ent�o, tivemos de convocar e capacitar novas equipes. A primeira fase da pandemia veio em ondas. Come�ava por Manaus e descia para o resto do pa�s. Melhorava em um estado e piorava em outros, ent�o, a gente deslocava equipes.
Existe o temor de uma terceira onda em n�vel nacional?
Quando soubemos que Fran�a e Alemanha est�o come�ando novo lockdown com esta terceira onda, imaginamos que, como ocorreu na segunda, que come�a na Europa, dois meses depois se alastra por outros continentes. Temos de estar preparados no Brasil. N�o podemos esmorecer. � trabalhar, melhorar a estrutura f�sica dos nossos hospitais, ter mais leitos, recursos humanos para, se vier uma onda mais forte, a gente ter capacidade de rea��o.
O Ex�rcito, ent�o, j� trabalha com a hip�tese de uma terceira onda?
� um planejamento cont�nuo. Tudo que a gente faz sempre tem a vis�o do futuro. Se temos a not�cia de que, l� na frente, pode ter uma terceira onda, temos de estar preparado. Mas torcemos para n�o termos, que a gente avance, e a vacina est� a� para isso.
Qual foi a estrat�gia para impedir o adoecimento da tropa nos �ltimos 12 meses?
Depois que os n�meros ca�ram no Par�, (os casos) vieram para o Rio de Janeiro. N�s socorremos, deslocamos equipes m�dicas para Bel�m. Adquirimos equipamentos para refor�ar nossos hospitais no Par�. N�o faltou leito, pois tivemos �xito nessa opera��o. A coisa foi se expandindo para o Sul. Agora, os n�meros est�o crescendo no Rio de Janeiro. Vamos manobrando com nossos meios, apoiando estados e munic�pios. Nosso hospital de campanha no Rio � dividido em quatro m�dulos. Temos um hospital de campanha apoiando o hospital da rede p�blica, e outro em Manaus ainda. Tamb�m apoiamos a pr�pria rede militar em algumas regi�es.
Qual � o quadro atual da covid-19 no Ex�rcito?
Os n�meros s�o relativamente bons em rela��o � popula��o em geral, por conta da preven��o que temos. O �ndice de letalidade � muito baixo, menor do que na rede p�blica, gra�as a essa conscientiza��o, essa compreens�o, que � o que eu acho que, se melhorasse no Brasil, provavelmente, o n�mero de contaminados seria bem menor.
Qual � esse �ndice de letalidade?
Estamos com uma taxa de mortalidade de 0,13%. �nfima, em termos de compara��o com a do pa�s. Eu diria que a maioria dos hospitais s�o modernos. Os hospitais de porte mesmo s�o o HCE (Hospital Central do Ex�rcito) e o Hospital de S�o Paulo. Iniciamos a opera��o covid com 84 leitos de UTI em toda a rede. Fruto de equipamento comprado e transforma��o da estrutura dos hospitais, chegamos a 280 leitos de UTI em toda a rede militar. H� hospitais da rede p�blica de S�o Paulo, daqueles grandes, que t�m 280 leitos. Ent�o, � uma rede muito restrita, que mal atende � pr�pria For�a. Inclusive, temos conv�nios com a rede privada, que chamamos de organiza��es civis de sa�de. Encaminhamos nosso paciente para a rede privada, pois n�o temos leitos suficientes em nossos hospitais.
Mas mesmo os hospitais privados registram falta de leitos de UTI. O que � feito nesses casos?
Quando o hospital privado diz que n�o h� leitos, a� n�s vamos ter de nos virar com os que a gente tem. Ent�o, estamos adquirindo materiais, como respiradores e monitores, e transformando leitos de semi-intensiva em intensiva e leitos de enfermaria em semi-intensiva. Com muita preven��o e cuidado, temos nos mantido nos n�meros adequadamente. Nenhum �bito aconteceu por falta de leito, oxig�nio ou medicamento na nossa fam�lia militar, entre ativos, pensionistas e dependentes.
Como ocorreu a expans�o da rede de sa�de militar?
O Hospital de Curitiba � bem pequeno, com oito leitos de UTI. Lan�amos um m�dulo de hospital de campanha l� e levamos 10 a 12 leitos com ato de semi-intensiva. Melhorou aqui, piorou ali, temos de fazer a log�stica de material e transporte para n�o deixar faltar onde precisa. Quando eu falei de 60 hospitais, s�o diversas unidades de sa�de. Os postos m�dicos, nem leitos de intensiva e semi-intensiva t�m. O paciente que chega ali em estado cr�tico � evacuado ou para a rede civil ou para um hospital de refer�ncia. J� est� acontecendo no nosso caso o que chamamos de evacua��o aerom�dica. Acionamos uma empresa contratada e trazemos o paciente l� de Tef�, no meio da Floresta Amaz�nica, para Manaus. Ou traz para o Rio de Janeiro, e assim por diante. Onde tem vias de transporte, como no Sul, em caso leve, vem pela estrada. Mas na Amaz�nia � por meio a�reo.
A transfer�ncia pode ocorrer para um hospital p�blico do Sistema �nico de Sa�de (SUS)?
Pode, e n�o tem problema. S� n�o � o normal. Por�m, se o hospital de refer�ncia for do SUS, como em Tef�, onde s� tem posto de sa�de, o militar vai para hospital SUS normal. A depender do caso, n�s o retiramos do hospital e trazemos para uma rede nossa. Certamente, ele n�o ficar� no hospital mais de 48 horas.
Se tiver um leito vago em um hospital do Ex�rcito e um civil precisar de UTI, ele ter� acesso?
� aquilo que falei no in�cio. A nossa rede � adequada � For�a, ao nosso efetivo. Se for visitar nossa rede, toda ela j� est� no limite de ocupa��o. Quis�ramos n�s ter a capacidade em nossos hospitais de ajudar nesse sentido. O que fazemos � hospital de campanha, como ocorreu em Manaus, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. S�o anexos a hospitais da cidade. Esse � o apoio que podemos dar.
Ent�o, existem muitas campanhas de conscientiza��o no Ex�rcito para incentivar o distanciamento, o uso de m�scaras?
Chega a ser uma febre. Agora mesmo estamos recebendo o novo contingente de soldados incorporados. Eles est�o com tr�s semanas de instru��o. S�o aqueles recrutas que se alistam, e todas as medidas sanit�rias foram colocadas em pr�tica. Desde a chegada ao quartel at� a instru��o; � noite, na hora de dormir; � o term�metro na entrada, higieniza��o dos p�s, �lcool em gel, uso da m�scara, distanciamento. N�s testamos praticamente todos os recrutas, quase 90%, e o �ndice de contamina��o foi muito baixo. Os infectados foram isolados, com equipes m�dicas acompanhando. Em 2020, n�o tivemos nenhum �bito de soldado incorporado ao Ex�rcito. Imaginamos que seja pela idade, pela juventude.
E entre os militares mais idosos?
Entre esses, tivemos baixas, generais da ativa que morreram no HFA (Hospital das For�as Armadas). Entram naqueles 0,13% de �bitos. Ao recruta, fizemos um per�odo de internato, e eles conversam com a fam�lia por v�deo. Ele pode ir no fim de semana. Eu acho que n�o tem local mais seguro para um jovem, hoje, do que dentro do quartel, pois ele est� sendo acompanhado, fiscalizado sobre as medidas preventivas, instru�do. Os �ndices de infec��o s�o m�nimos, e aqueles que se contaminam s�o resolvidos em interna��o. N�s temos locais isolados nos quart�is para esse tipo de coisa.
O general Miotto, ex-comandante militar do Sul, morreu por covid-19. Ele era influente no Ex�rcito. Existe preocupa��o maior com os oficiais de mais idade?
Hoje, no Quartel General, n�o estamos com todo o efetivo cumprindo o expediente normal. Metade vem um dia; outra metade, no outro. Ou metade vem de manh� e metade, � tarde. Todo mundo no ambiente � um risco, almo�ando junto... Isso � preven��o que vem sendo feita h� um ano. Quem n�o pode vir, � mais idoso, fica em casa. O general Miotto era um chefe militar, um amigo, que a gente lamenta muito. Mas � um risco, e eu estou aqui agora. Em duas semanas, posso me contaminar e n�o resistir. Temos oficiais generais internados, e n�o tem diferen�a para ocupar um leito. Se um soldado precisar de um leito naquele momento, tem de ser para ele. Temos maior preocupa��o com quem est� com mais de 60 anos. Eu sou de risco, tenho 62, e j� tive covid em Bel�m. Tive sintomas leves, em maio do ano passado. Eu estava em miss�o, na ponta da linha, viajando. Em algum momento, peguei, levei para minha esposa. Minha sogra, que mora comigo, e tem 84, n�o pegou.
O �ndice de infec��o aumenta para militares que v�o a campo?
Isso a� n�o tem jeito. A For�a n�o pode parar, a miss�o continua, com a defesa da P�tria. Tem de ter instru��o, adestramento. Estamos em opera��o, como a Verde Brasil, na defesa do meio ambiente. Ent�o, com precau��o, preven��o, fiscaliza��o e disciplina, estamos conseguindo combater a covid sem perder a operacionalidade da tropa.
A segunda onda veio forte, e registramos mais de 3 mil �bitos em um dia. O senhor acredita que o Ex�rcito pode colaborar mais no combate � pandemia?
O reflexo na For�a � igual. Estamos no limite. Se for, agora, ao Hospital das For�as Armadas, ver� dois compartimentos de UTI completamente lotados. Eu sempre vou l� para verificar, pela minha posi��o de ser o 01 da sa�de na For�a. N�s estamos no limite, e a gente torce e at� reza para que esses n�meros decres�am para n�o faltar. At� hoje n�o faltou, mas � um risco que a gente corre.
O pa�s quase todo enfrenta uma situa��o grave…
�, mas tem locais onde come�a a reduzir. No Sul, est� tendo uma leve desacelera��o. Manaus desacelerou de uma forma que a terceira onda, que j� est� surgindo na Europa, a gente imagina que, se mantiver a tradi��o da primeira para a segunda, daqui a dois meses vamos sofrer essa terceira onda. E queremos exatamente a manuten��o do planejamento para nos prepararmos para essa terceira onda. � isso que estamos fazendo, e esperamos que o poder p�blico fa�a tamb�m. Eu acredito que, neste momento, estamos no nosso limite. Nossas organiza��es militares de sa�de, nossos hospitais, s�o muito modestos. Estamos salvando vidas militares nos hospitais privados, pagando de acordo com o contrato. � uma v�lvula de escape nossa.
O Ex�rcito pode atuar na ado��o de medidas sanit�rias, como o fechamento de vias, se for o caso?
Sim, n�s temos organiza��es militares muito capacitadas, na �rea de defesa qu�mica, biol�gica. Capacitamos mais de 5 mil militares no Brasil na parte de descontamina��o. Hoje, todos os nossos quart�is t�m pelot�o, de 30 homens, por exemplo, capacitado. � muito comum a imagem daquele grupo de militares encapados, em aeroportos, portos, pra�as p�blicas. Em Bel�m, eu montei a patrulha do ponto de �nibus, com uma equipe protegida, equipamento apropriado, e sa�a na avenida � noite para desinfetar. Neste ano, realizamos muitas campanhas. Fizemos doa��es de sangue.
Como a sociedade civil pode se beneficiar desses programas?
Se o presidente de uma empresa quiser fazer descontamina��o, � s� falar com a gente. N�o tem crit�rio, e acontece muito. Em Bel�m, o Minist�rio P�blico pedia, a rodovi�ria de Bel�m pedia. Foi feita uma grande descontamina��o na Rodovi�ria do Plano Piloto, nas esta��es de metr�, pelo Batalh�o de Goi�nia. Se for privado, �s vezes, a empresa tem recursos para bancar, ent�o, �s vezes, atuamos na capacita��o da equipe de limpeza, por exemplo. Fica tr�s quatro dias no quartel aprendendo a descontaminar.
O Brasil est� em guerra contra o v�rus?
� um trabalho �rduo, pois a medicina ainda n�o sabe tudo sobre o v�rus. � uma mobiliza��o, e o mais importante � que o Ex�rcito est� pronto para ajudar a na��o. As baixas que temos todos os dias s�o n�meros de guerra. � uma for�a de express�o, mas � isso. Exige planejamento, integra��o, conjuga��o de esfor�os. N�o conseguimos fazer tudo sozinho. Na Amaz�nia, � muito comum solicitar apoio. A For�a esteve nesse ano inteiro e estar� at� o �ltimo momento do lado do Brasil, reduzindo o sofrimento desta, em tese, guerra.
O senhor falou em coordena��o, campanha. O governo federal n�o tem uma campanha em n�vel nacional pelo uso de m�scaras, distanciamento. Falta orienta��o para a popula��o?
N�s acompanhamos o que acontece pelas m�dias sociais, pela imprensa. Eu n�o tenho a condi��o de fazer um ju�zo de valor sobre o que est� sendo feito ou deixado de fazer. Eu vejo um esfor�o grande, por parte dos �rg�os gerais, de tentar conscientizar. Agora, � uma popula��o de 200 milh�es de habitantes, com problemas sociais diversos, com cintur�es marginais nas grandes megal�poles. �s vezes, � dif�cil chegar � ponta da linha com essa orienta��o. Acho que h� campanhas positivas.
O ministro da sa�de e o pr�prio presidente chegaram a recomendar o uso de medicamentos sem efic�cia cient�fica comprovada contra a covid-19. No Ex�rcito, isso n�o acontece...
No Ex�rcito, temos protocolos muito bem elaborados, difundidos, que dizem qual a conduta entre m�dico, paciente e fam�lia para o melhor tratamento. Se vai dar a medica��o A, B, C, O, D, � decidido entre m�dico e paciente. Eu n�o tenho restri��o, nem a medicamento nem a tratamento.
O Minist�rio P�blico Federal investiga o governo por eventuais irregularidades na condu��o da pandemia. O ex-ministro da Sa�de Eduardo Pazuello � do Ex�rcito, e tem outros 6 mil militares no Executivo. Existe algum constrangimento da liga��o da imagem das For�as Armadas com as falhas do governo?
Nessa �rea pol�tica, fica dif�cil para a gente. Eu prefiro n�o comentar. Mas acho que o Pazuello foi convocado pelo presidente para uma miss�o. Ele aceitou, saiu da For�a, pediu licen�a e est� l� fazendo seu papel. N�o vou fazer ju�zo de valor do trabalho dele. Eu n�o conhe�o o �mago do que ocorre l� dentro. Conhe�o o Pazuello, convivi com ele na Amaz�nia, na 12ª Regi�o Militar. Ele cumpriu a miss�o que o presidente deu a ele.
A segunda onda est� preocupando mais?
Total. Est� sendo pior que a primeira para o Brasil inteiro. A curva � muito mais ascendente. Aprendemos com a primeira, e, com certeza, se vier a terceira, a segunda ter� nos dado li��es. O esfor�o hoje do Ex�rcito para reduzir os n�meros de contamina��o � impressionante. Todo dia, nosso comandante, o general Leal Pujol, faz videoconfer�ncia conosco e recomenda para que a ponta da linha use m�scara, �lcool em gel, distanciamento. N�o tem mais formatura militar. Quando vai fazer algum evento s�o 10, 20, no m�ximo. Agora mesmo, teve anivers�rio de uma companhia, e foi meia d�zia de gatos pingados.
O Ex�rcito est� em lockdown?
�... Seria isso. � uma preocupa��o propagar o v�rus. Mas n�o paramos nada. Se for ali ao Batalh�o de Guarda Presidencial, est� tendo instru��o de tiro, de armamento, educa��o f�sica. O treinamento f�sico controlado, tomar sol, vitamina, com nossos m�dicos acompanhando o tempo todo. Por isso, est� com 0,13% de mortalidade. Tem internato de quatro semanas para todos. Antes, os recrutas voltavam para casa todo dia. Essa gurizada, agora, quando chegar em casa, estar� consciente. Eles est�o sendo massificados com campanha. Os militares que t�m parentes em grupos de risco n�o precisam ir para casa. Aqui, temos alimenta��o, dormit�rio.
Como est� o apoio �s comunidades ind�genas?
A nossa tropa � muito pr�xima das comunidades ind�genas. Apenas na Amaz�nia Ocidental s�o 24 pelot�es de fronteira, perto da Col�mbia, da Venezuela. E, do lado de c�, � �ndio, do lado de l�, tamb�m, ou estamos dentro da pr�pria terra ind�gena. Na �rea da Cabe�a do Cachorro, tem dois pelot�es. O m�dico do pelot�o � o da tribo. Essa intera��o � impressionante. O ind�gena tem uma imunidade diferente, e existe um cuidado maior da nossa parte. Na vacina��o, helic�pteros v�o l� com todos da equipe testados e com resultado negativo, todos empacotados para ir l�, vacinar e sair para n�o deixar contaminar. Um s� que se contamine causa um grande estrago. Quando surge uma not�cia de infec��o em determinada comunidade, n�s vamos avaliar. Surgiu a not�cia da morte de tr�s ind�genas por covid. Chegamos l�, e n�o era covid, mas houve casos. Agora, a popula��o ind�gena est� toda vacinada, todas as comunidades. Risco sempre tem, mas reduzimos isso.
O Brasil poderia estar numa situa��o melhor?
Eu respondo pelo nosso DGP, nosso Ex�rcito. Como autoridade m�xima na �rea de sa�de da For�a, acho que estamos cumprindo nosso dever. Os n�meros est�o a�, e apoiando a na��o naquilo que � poss�vel para enfrentar esse problema.
Frases
"Estamos com uma taxa de mortalidade de 0,13%. �nfima, em termos de compara��o com a do pa�s”
"Todas as medidas sanit�rias, diretrizes emanadas pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), corroboradas pelas nossas diretorias de sa�de, s�o rigorosamente cumpridas em nossos quart�is”
"Acho que n�o tem local mais seguro para um jovem, hoje, do que dentro do quartel”
"A gente imagina que, se mantiver a tradi��o da primeira para a segunda, daqui a dois meses vamos sofrer essa terceira onda (da covid)”