
Os �ltimos presidentes civis brasileiros que entraram em conflito com as For�as Armadas acabaram depostos.
Para dois de seus antecessores — Get�lio Vargas e Jo�o Goulart —, o embate com os militares acabou mal.
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Mas existe uma diferen�a importante. "Em 64, n�o tinha o sil�ncio que vemos hoje na sociedade e nos quart�is", diz a pesquisadora.
"N�o tem hoje um general da ativa falando que precisa de uma interven��o. N�o existe uma mobiliza��o social a favor disso. Tem apoio de uma fatia da sociedade, mas ela n�o � expressiva o suficiente para criar um ambiente favor�vel para um golpe."
O mesmo acontece nos outros dois poderes — o Legislativo e o Judici�rio, diz a pesquisadora.
"H� um apoio de deputados de extrema-direita, mas n�o do Congresso como um todo e menos ainda no Supremo. Pelo contr�rio, h� falas muito cautelosas, dizendo: 'N�o � por a�'."

As quedas de Vargas e Jango
Vargas buscava fazer a transi��o da ditadura do Estado Novo para a democracia quando foi obrigado a renunciar por um movimento liderado por generais que faziam parte do seu pr�prio governo.
Jango foi destitu�do pelo golpe de 1964, que deu in�cio de uma ditadura militar que durou 21 anos.
Starling aponta que a �ltima vez em que houve um confronto semelhante entre as For�as Armadas e o Executivo foi em 1977.

O general Sylvio Frota, ent�o ministro do Ex�rcito, foi demitido pelo general Ernesto Geisel depois de tentar se insurgir contra o presidente e a abertura do regime militar promovida por ele.
Mas, neste caso, tratou-se de uma crise entre os pr�prios militares, que governavam o Brasil.
Starling diz que, diante da hist�ria do pa�s, pode ser inevit�vel pensar que o passado est� se repetindo. J� houve ao menos 15 tentativas de interven��o militar, nas contas da historiadora.
Duas delas bem sucedidas: em 1937, com o golpe que deu in�cio ao Estado Novo, e em 1964. "O que vemos agora tamb�m � uma crise militar e uma situa��o de crise pol�tica incontrol�vel", diz a historiadora.

As demiss�es do comando das For�as Armadas
A crise entre o Planalto e as For�as Armadas foi escancarada pelo pedido de demiss�o do general Fernando Azevedo, que comunicou sua sa�da na segunda-feira (29/3), sem explicar o motivo.
Azevedo � visto como um militar da ala mais moderada. A BBC News Brasil apurou que Bolsonaro pediu sua sa�da do cargo por estar insatisfeito com a falta de apoio das For�as Armadas a bandeiras do governo.
Azevedo fez quest�o de ressaltar em uma nota que "preservou as For�as Armadas como institui��es de Estado".
Depois, na ter�a-feira (31/3), os comandantes das For�as Armadas deixaram os cargos: Edson Pujol, do Ex�rcito, Ilques Barbosa, da Marinha, e Ant�nio Carlos Moretti Bermudez, da Aeron�utica.
Isso foi visto como um protesto pela demiss�o de Azevedo. Mas tamb�m foi noticiado que havia uma insatisfa��o especial de Bolsonaro com Pujol, que se posicionou publicamente contra a participa��o dos militares na pol�tica.

Potencial de 'explodir o pa�s'
Helo�sa Starling interpreta os �ltimos acontecimentos como um sinal claro de que n�o existe no comando das For�as Armadas disposi��o para uma interven��o.
"H� um entendimento de que as For�as Armadas s�o uma institui��o do Estado e que devem se manter assim. O comando est� dizendo que n�o far� uma interven��o e que n�o aceitam ser chamados de 'meu Ex�rcito' por Bolsonaro."
Mas a pesquisadora destaca que os militares n�o s�o um bloco homog�neo, e diferentes posi��es podem estar sendo defendidas internamente.
Uma rebeli�o interna nas For�as Armadas n�o seria um fato in�dito na hist�ria do pa�s e teria o potencial de "explodir o pa�s", avalia a historiadora.
Por isso, ela diz que � preciso prestar aten��o ao que est� sendo dito entre os oficiais que comp�e o corpo militar brasileiro e seu grau de apoio a uma a��o mais dr�stica.
"Talvez possa ocorrer uma quebra de hierarquia a partir das baixas patentes em rela��o � posi��o demarcada pelo comando, mas, por enquanto, Bolsonaro s� tem a seu lado generais da reserva e de uma mesma gera��o, dos anos 1970, que foram formados dentro de um mesmo ambiente ideol�gico e marcado por tortura e repress�o."
'A democracia est� sendo corro�da por dentro'
Tudo isso est� acontecendo enquanto o pa�s enfrenta uma sobreposi��o de crises — uma pol�tica, outra econ�mica e uma sanit�ria, por causa da pandemia. Agora se soma a elas uma crise militar.
Ao mesmo tempo, o Brasil tem hoje um governo que tem n�o paralelo com outros na hist�ria, diz Starling: "Bolsonaro falou que seu prop�sito n�o era construir, mas desconstruir, e acho que essa desconstru��o tem um m�todo".

O presidente testa repetidamente os limites das institui��es, afirma a historiadora, e a cada vez que isso ocorre elas se desgastam e se fragilizam.
Starling avalia que, diferentemente de antes, quando a democracia veio abaixo por a��es externas �s institui��es, agora ela � amea�ada pelo pr�prio governo. "A democracia est� sendo corro�da por dentro", diz.
Ao menos por enquanto, os gestos das For�as Armadas v�o no sentido contr�rio do passado. Em termos de papeis hist�ricos, os sinais agora est�o trocados.
Em vez de ir contra a democracia, os militares est�o saindo em sua defesa, enquanto os �mpetos autorit�rios v�m do governo.
"As For�as Armadas n�o precisam nem colocar nenhum tanque na rua para defender a democracia, basta n�o aceitarem a sua politiza��o."
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