
Desde o momento em que ela foi tocada na lateral dos seios por Cury, em dezembro, durante sess�o transmitida ao vivo pela TV da Alesp, Isa cobrou a cassa��o do parlamentar. Mesmo sem alcan�ar esse objetivo, ela j� mira adiante e quer aproveitar a grande repercuss�o do caso. Na pr�xima segunda-feira, por meio bancada do PSOL na C�mara, a parlamentar participa da apresenta��o de um projeto de lei para garantir a paridade de g�nero e ra�a nos Conselhos de �tica das casas legislativas do Pa�s.
N�o � por acaso. Foi no conselho da Alesp que Isa enfrentou as maiores resist�ncias ao longo do processo. O passo seguinte (e ela n�o esconde a ambi��o de al�ar voos mais altos na pol�tica) � lutar pela aprova��o de uma lei que tipifique o crime de ass�dio. O projeto que ela menciona �, a seu ver, a primeira medida "de um pacote contra a cultura do estupro" no Brasil. "J� h� elementos para construir uma lei que criminalize o ass�dio. Essa � a minha pr�xima miss�o." O Estad�o procurou Cury, mas ele preferiu n�o se manifestar. A seguir, os principais trechos da conversa com Isa Penna:
A sra. disse, na sess�o de anteontem, sentir-se exaurida. Como foram esses 113 dias desde o epis�dio de 16 de dezembro?
Acho que esses meses foram os piores da minha vida. Porque era uma sensa��o de sobressalto. Em todas as reuni�es eles tentaram obstar o nosso avan�o. Eu tive que me impor. A for�a que busquei foi muito nas mulheres que me cercam. A� entram as mulheres do 342 Artes, as do Vote Nelas (entidades que organizaram uma campanha p�blica pela cassa��o de Cury). Mas a sensa��o foi de humilha��o recorrente, de exposi��o absoluta, de tentativa de me fazer assinar embaixo, no papel da feminista hist�rica que queria destruir a vida do Fernando Cury. � dif�cil. Sou uma mulher que estudou muito a luta feminista, conheci a Marielle Franco. Nada para as mulheres veio sem luta. Muitas morreram sem ter nem essa vit�ria.
Em mais de uma ocasi�o nesses quatro meses a senhora disse que foi "revitimizada". Pode dar exemplos?
Eu j� fui procurada por algumas inst�ncias que querem levar esse caso como demonstrativo da viol�ncia pol�tica institucional de g�nero. A diferen�a � que � um processo pol�tico, ent�o tudo est� sempre em disputa. Essa viol�ncia toda n�o foi uma tentativa contra a Isa. Foi uma viol�ncia contra a presen�a das mulheres na pol�tica e nos espa�os de poder. N�o acho que fui revitimizada, acho que fui v�tima de uma sequ�ncia de epis�dios de ass�dio. Me refiro especificamente aos deputados no Conselho de �tica, em especial o Wellington Moura (do Republicanos, que elaborou a proposta de puni��o de 119 dias).
A sra. disse, desde o in�cio, que queria a cassa��o de Cury. Vai manter essa luta?
A bola, nesse caso, n�o est� mais na minha m�o. Os pr�ximos passos s�o aguardar o Minist�rio P�blico, a conclus�o da expuls�o dele de seu partido, o Cidadania, aguardar o mandado de seguran�a. Acima de tudo, a minha luta � contra esse sistema.
Esse resultado pode ter um significado na pol�tica brasileira?
A vit�ria de ontem (anteontem) �, em primeiro lugar, um marco para as mulheres como um todo, que em seus ambientes de trabalho v�o poder usar esse caso como precedente. Dois, � um marco para a democracia. � o Estado, parte dele, na maior casa legislativa da Am�rica Latina, reconhecendo que existe uma viol�ncia pol�tica que � de g�nero - e isso, por si s�, � uma valida��o do nosso discurso pelo Estado brasileiro. Um marco para dentro do Parlamento e para os assediadores. Eu n�o quero o mal da fam�lia do Cury nem compactuo com pr�ticas de viol�ncia ou linchamento contra a fam�lia dele. Acho que ele tem que pagar pelo que ele fez e se rever como homem.
Do ponto de vista legal e jur�dico, o que acha que deveria mudar no Pa�s?
Tem duas dimens�es importantes. A primeira, do ponto de vista interno das casas legislativas: nesta segunda-feira a gente j� vai protocolar no Congresso Nacional e em todos os parlamentos do Brasil uma proposta, a primeira medida de um pacote contra a cultura do estupro. Essa primeira medida � pela paridade nos conselhos de �tica. Isso � muito importante, a gente tem que almejar a paridade entre pessoas n�o brancas e brancas, entre pessoas n�o cis e cis.
E a segunda dimens�o?
� a respeito do texto criminal. Sempre pensei em sair para deputada estadual, mas o quanto que eu n�o tenho que estar em �mbito nacional, porque a gente precisa mudar. Assim como tem a lei do feminic�dio, a gente precisa tamb�m ter uma lei que tipifique o ass�dio. J� temos padr�es de comportamento sobre como o ass�dio se desenvolve no Brasil, sobre como a encoxada acontece no transporte p�blico. Vamos tipificar a encoxada, ela � crime. O que quero dizer � que j� h� elementos para construir uma lei que criminalize o ass�dio no Brasil. Nesse momento, essa � a minha pr�xima miss�o. Mas n�o sozinha. O meu caso � s� a ponta do iceberg. Porque a gente est� falando da viol�ncia que vem dos espa�os de poder. Isso, no Brasil � absolutamente recorrente.