
Em um movimento in�dito, o ex-ministro da Sa�de Eduardo Pazuello passou a ser assessorado pela Advocacia-Geral da Uni�o (AGU) para tra�ar sua estrat�gia de defesa na CPI da Covid. O general da ativa j� se reuniu ao menos duas vezes com advogados da equipe da AGU que est�o coletando documentos sobre aquisi��o de respiradores e fabrica��o de cloroquina para subsidi�-lo na CPI, no pr�ximo dia 19. O depoimento de Pazuello � considerado crucial porque, ao deixar o cargo, ele ligou sua demiss�o a um compl� de pol�ticos interessados em verba p�blica e "pixul�". Para senadores, Pazuello sabe de esc�ndalos que podem comprometer o governo.
O ministro da Sa�de, Marcelo Queiroga, tamb�m tem a consultoria de advogados da Uni�o. Segundo a AGU, tanto Queiroga quanto Pazuello requisitaram aux�lio do �rg�o, o que n�o ocorreu no caso dos ex-ministros da Sa�de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que prestaram depoimento � CPI. Os dois apontaram erros do governo na condu��o da pandemia de COVID-19 e disseram que o presidente Jair Bolsonaro n�o lhes dava autonomia.
Para o vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o uso da AGU por parte de Pazuello � "grav�ssimo". "A Advocacia-Geral da Uni�o � um �rg�o de Estado, n�o � um �rg�o de advocacia particular, privada. N�o me consta que o senhor Eduardo Pazuello seja, nesse momento, ministro de Estado ou esteja exercendo algum cargo p�blico. � um absurdo a utiliza��o da estrutura de Estado para o benef�cio privado. N�o � s� um ato imoral, � um ato de corrup��o", afirmou Randolfe.
J� na avalia��o do ex-juiz federal Luciano Godoy, n�o h�, em princ�pio, "nenhuma ilegalidade". "Mas os advogados t�m de defender a pol�tica p�blica do governo. Se isso leva � defesa do ex-ministro, est� dentro da miss�o constitucional da AGU", disse Godoy, que � professor da FGV Direito S�o Paulo.
Os servidores convocados para dar assist�ncia a Pazuello s�o os advogados da Uni�o Diogo Palau, procurador regional da Uni�o na 1.ª Regi�o, e Jailor Capelossi, consultor jur�dico no Minist�rio da Sa�de. Palau acompanha os desdobramentos do inqu�rito aberto em janeiro pelo Supremo Tribunal Federal, no auge da crise em Manaus, quando dezenas de pessoas morreram asfixiadas em raz�o da falta de oxig�nio em hospitais da capital amazonense. Ap�s Pazuello perder o foro privilegiado, em mar�o, quando deixou o minist�rio, o caso passou a tramitar na primeira inst�ncia da Justi�a Federal.
O depoimento do ex-ministro � CPI estava marcado para quarta-feira passada, mas foi adiado para o dia 19 depois que ele alegou, por meio de of�cio encaminhado ao Ex�rcito, ter mantido "contato direto" com dois servidores infectados pelo novo coronav�rus.
Como o Estad�o revelou anteontem, Pazuello "furou" a quarentena que faria no Hotel de Tr�nsito de Oficiais, onde mora em Bras�lia, e se reuniu com o ministro da Secretaria-Geral da Presid�ncia, Onyx Lorenzoni, um dos auxiliares de Bolsonaro que o assessoram para o depoimento.
O Comando do Ex�rcito silenciou sobre a conduta de Pazuello. O ex-ministro da Sa�de foi visto circulando sem m�scara no hotel e costuma usar o telefone da recep��o. O epis�dio causou indigna��o entre os parlamentares, j� que as recomenda��es para quem est� com suspeita de ter contra�do coronav�rus � manter isolamento social. Senadores chegaram a avaliar at� mesmo uma "condu��o coercitiva" para for�ar o comparecimento de Pazuello � comiss�o.
Atribui��es
Procurada pelo Estad�o, a AGU alegou que pode representar autoridades e ex-autoridades tanto judicial quanto extrajudicialmente. "Nos termos do artigo 22 da Lei 9.028/1995 (que trata das atribui��es da Advocacia Geral da Uni�o), a AGU atua na representa��o de autoridades p�blicas em fun��o de atos praticados no �mbito de suas atribui��es. Por exemplo, at� hoje a AGU representa o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-ministro Pedro Malan, dentre outras tantas autoridades", informou o �rg�o. Militares das For�as Armadas que respondem a inqu�rito policial ou processo na Justi�a tamb�m podem ser defendidos por servidores da AGU.
Mesmo prevista em lei, portarias e um manual do �rg�o, a medida � considerada sem precedentes no �mbito de uma CPI. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
O que � uma CPI?
O que a CPI da COVID investiga?
Saiba como funciona uma CPI
O que a CPI pode fazer?
- chamar testemunhas para oitivas, com o compromisso de dizer a verdade
- convocar suspeitos para prestar depoimentos (h� direito ao sil�ncio)
- executar pris�es em caso de flagrante
- solicitar documentos e informa��es a �rg�os ligados � administra��o p�blica
- convocar autoridades, como ministros de Estado — ou secret�rios, no caso de CPIs estaduais — para depor
- ir a qualquer ponto do pa�s — ou do estado, no caso de CPIs criadas por assembleias legislativas — para audi�ncias e dilig�ncias
- quebrar sigilos fiscais, banc�rios e de dados se houver fundamenta��o
- solicitar a colabora��o de servidores de outros poderes
- elaborar relat�rio final contendo conclus�es obtidas pela investiga��o e recomenda��es para evitar novas ocorr�ncias como a apurada
- pedir buscas e apreens�es (exceto a domic�lios)
- solicitar o indiciamento de envolvidos nos casos apurados
O que a CPI n�o pode fazer?
Embora tenham poderes de Justi�a, as CPIs n�o podem:
- julgar ou punir investigados
- autorizar grampos telef�nicos
- solicitar pris�es preventivas ou outras medidas cautelares
- declarar a indisponibilidade de bens
- autorizar buscas e apreens�es em domic�lios
- impedir que advogados de depoentes compare�am �s oitivas e acessem
- documentos relativos � CPI
- determinar a apreens�o de passaportes

A hist�ria das CPIs no Brasil
CPIs famosas no Brasil
1992: CPMI do Esquema PC Farias - culminou no impeachment de Fernando Collor
1993: CPI dos An�es do Or�amento (C�mara) - apurou desvios do Or�amento da Uni�o
2000: CPIs do Futebol - (Senado e C�mara, separadamente) - rela��es entre CBF, clubes e patrocinadores
2001: CPI do Pre�o do Leite (Assembleia de MG e outros Legislativos estaduais, separadamente) - apurar os valores cobrados pelo produto e as diretrizes para a formula��o dos valores
2005: CPMI dos Correios - investigar den�ncias de corrup��o na empresa estatal
2005: CPMI do Mensal�o - apurar poss�veis vantagens recebidas por parlamentares para votar a favor de projetos do governo
2006: CPI dos Bingos (C�mara) - apurar o uso de casas de jogo do bicho para crimes como lavagem de dinheiro
2006: CPI dos Sanguessugas (C�mara) - apurou poss�vel desvio de verbas destinadas � Sa�de
2015: CPI da Petrobras (Senado) - apurar poss�vel corrup��o na estatal de petr�leo
2015: Nova CPI do Futebol (Senado) - Investigar a CBF e o comit� organizador da Copa do Mundo de 2014
2019: CPMI das Fake News - dissemina��o de not�cias falsas na disputa eleitoral de 2018
2019: CPI de Brumadinho (Assembleia de MG) - apurar as responsabilidades pelo rompimento da barragem do C�rrego do Feij�o