
Rittl considera tamb�m que a a��o contra o ministro pode complicar ainda mais o processo de entrada do Brasil na OCDE (Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico, considerada o "clube dos pa�ses ricos") e a ratifica��o do acordo entre Mercosul e Uni�o Europeia, anunciado h� quase dois anos e at� hoje em "banho-maria".
"O impacto disso � enorme. Inclusive, acho que as conversas com o Brasil no sentido de fechar novos acordos ser�o suspensas ou, no m�nimo, colocadas banho-maria sem prazo para terminar", disse o pesquisador � BBC News Brasil.
A opera��o da PF foi ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em uma a��o que investiga a venda ilegal de madeira para os Estados Unidos e para a Europa.
Moraes determinou a quebra dos sigilos fiscal e banc�rio do ministro e tamb�m ordenou o afastamento do presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis), Eduardo Bim, e mais nove integrantes da alta c�pula do instituto, como medida preventiva.
A a��o da PF investiga desde janeiro deste ano suspeitas de crimes como corrup��o, advocacia administrativa, prevarica��o e facilita��o de contrabando.
A investiga��o come�ou a partir de den�ncias feitas por autoridades estrangeiras sobre suposto "desvio de conduta de servidores p�blicos brasileiros no processo de exporta��o de madeira".
Em conversa com jornalistas, Ricardo Salles avaliou que a opera��o da Pol�cia Federal foi "exagerada e desnecess�ria". Ele argumentou que "todos os que foram inclu�dos nesta opera��o sempre estiveram � disposi��o para esclarecer quaisquer quest�es".
"At� onde eu sei, uma carga foi exportada para os Estados Unidos, que pediu documentos que n�o constavam. Analisando o caso, a presid�ncia do Ibama entendeu que a regra invocada (pelos Estados Unidos) j� naquela altura deveria ter sido alterada. Por isso, aparentemente, agiu de forma t�cnica", disse Salles.
Para Carlos Rittl, uma das consequ�ncias diretas da ofensiva contra o ministro � dificultar a entrada do Brasil na OCDE. Em dezembro de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia dito que o pa�s estava pronto a ingressar no grupo e que isso refor�aria a agenda ambiental e de governan�a do Brasil.
A entrada do Brasil na OCDE, grupo que re�ne as economias mais desenvolvidas do mundo, � negociada e aguardada desde o governo do presidente Michel Temer (2016-2019), mas tamb�m est� empacada por conta de supostas reservas de pa�ses membros e a uma falta de apoio dos Estados Unidos.

A OCDE realiza seu encontro anual do conselho de ministros dos pa�ses membros entre 31 de maio e 1º de junho, quando esperava-se que pudesse haver um avan�o nas negocia��es com o Brasil.
"Eles devem falar da explos�o do desmatamento na Amaz�nia, da viol�ncia contra povos ind�genas e o como isso representa um obst�culo para os objetivos deste acordo comercial, no seu cap�tulo sobre desenvolvimento sustent�vel. Essa ser�, talvez, a �ltima reuni�o do grupo. A inten��o era de que este encontro desse um bom encaminhamento na entrada para a OCDE. Mas muito provavelmente n�o vai ter encaminhamento nenhum", afirmou Rittl.
Ele afirmou que h� diversos crit�rios ambientais que precisam ser respeitados pelos pa�ses que se candidatam a uma vaga na OCDE. Os membros do grupo fazem uma an�lise para avaliar se aquele pa�s est� seguindo ou n�o as cl�usulas relacionadas � transpar�ncia, combate � corrup��o, respeito a direitos humanos e quest�es ambientais.
"A OCDE est� discutindo um novo plano relacionado �s mudan�as clim�ticas. Pela primeira vez um candidato, no caso o Brasil, n�o apresenta ind�cios de redu��o no combate � corrup��o. Ent�o, a situa��o do Brasil j� n�o era boa e fica ainda pior com essa situa��o do ministro Ricardo Salles. As dificuldades tendem a ser in�meras pro Brasil", disse o pesquisador do instituto alem�o.
Reuni�o decisiva
O pesquisador afirmou ainda que pa�ses do bloco europeu se reunir�o na pr�xima sexta-feira (21) para avaliar se os pa�ses do Mercosul est�o cumprindo as regras ambientais exigidas para ratificar o acordo comercial.
Para Rittl, a investiga��o contra o ministro ser� pauta da reuni�o entre os pa�ses e pesar� contra o Brasil e, consequentemente, contra o Mercosul
"Voc� sustenta como interlocutor de um debate desses uma pessoa investigada pela Pol�cia Federal? Essa n�o � s� uma den�ncia inicial, mas uma den�ncia com ind�cios graves. Tem uma decis�o do Supremo que requisita a apreens�o de equipamentos, de aparelhos de comunica��o e de computadores para a coleta de evid�ncias", diz.
"O ministro Ricardo Salles n�o est� qualificado para manter o di�logo com outros pa�ses. Eu acho muito dif�cil haver continuidade nessa conversa do Brasil com os Estados Unidos, com pa�ses da Europa. Eles s�o alguns dos nossos principais parceiros comerciais", afirma Rittl.
O pesquisador disse ainda que a imagem de Salles � ainda mais prejudicada por conta da proximidade dele com grupos apontados por invadir terras ind�genas, explorar min�rio e de vender madeira ilegal.
"Ele interrompeu opera��es, fiscaliza��es e demitiu fiscais do Ibama. Acho que ele teve uma certa arrog�ncia em achar que esse relacionamento com criminosos ambientais seria normal. E hoje os fatos mostram que a situa��o dele � muito grave", afirmou.

Para Carlos Rittl, a perman�ncia de Salles � frente do Meio Ambiente � insustent�vel. Ainda assim avalia que ele permanecer� no cargo e que, mesmo caso ocorresse uma eventual troca na pasta, nada mudaria significativamente.
"O Salles continua no cargo porque � um bom cumpridor de tarefas do presidente Bolsonaro. Se o presidente fosse s�rio, o ministro Ricardo Salles j� n�o estaria mais na sua posi��o h� muito tempo porque n�o � um ministro que est� l� para trabalhar em prol do meio ambiente. Muito pelo contr�rio. Tem facilitado a causa do problema, constrangendo agentes do Ibama, enfraquecido a capacidade do Ibama de aplicar em penalidades e defendendo quem comete crime ambiental", afirmou o pesquisador.
O pesquisador afirma que o ideal seria que o presidente trocasse o ministro do Meio Ambiente e colocasse uma pessoa com uma postura diferente de Ricardo Salles no lugar.
"� preciso haver uma mudan�a radical. O problema � que o presidente Bolsonaro n�o quer. A ideia dele para a Amaz�nia sempre foi abrir, escancarar com o pensamento de que � poss�vel desmatar para produzir alguma coisa ali porque o mundo vai comprar. Querem abrir nossa economia. Mas ao tentar torn�-la mais integrada esse discurso cai por terra porque o risco Brasil hoje � um risco ambiental e o ministro Ricardo Salles acaba de elevar esse risco a um patamar jamais visto."
No ponto de vista dele, nenhum pa�s assinaria um acordo com um ministro que n�o passa confian�a, que teve o sigilo quebrado pela Suprema Corte. Rittl afirma que um acordo com a Uni�o Europeia poderia aumentar em at� 20% o volume de exporta��o de commodities do Brasil para o continente, al�m de diversas isen��es de taxas em outros acordos comerciais com o bloco.
Procurado, o Minist�rio do Meio Ambiente n�o se manifestou at� a publica��o desta reportagem.
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