
A oposi��o ao governo Jair Bolsonaro tem aproximado advers�rios hist�ricos na pol�tica. Na �ltima sexta-feira, foi a vez do deputado federal Rodrigo Maia (sem partido), um dos l�deres da oposi��o aos governo petistas, se reunir com o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), que deve novamente concorrer � Presid�ncia da Rep�blica em 2022.
Em entrevista � BBC News Brasil, Maia defendeu que o processo de di�logo pol�tico contra Bolsonaro "inclui o presidente Lula" e contou que se colocou � disposi��o dele para conversar com a equipe que organizar� o plano de governo de sua candidatura. Ressaltou, por�m, que isso n�o significa um apoio ao ex-presidente j� no primeiro turno.Seu foco, afirma, � trabalhar para que seu campo, que chama de "centro liberal", tenha um candidato pr�prio capaz de chegar ao segundo turno no lugar do atual presidente para enfrentar Lula.
O plano, dif�cil de ser executado, � que todos os candidatos hoje atr�s de Lula e Bolsonaro nas pesquisas se unam em uma �nica candidatura. Isso inclui a ingl�ria miss�o de unir advers�rios como Ciro Gomes (PDT) e o governador de S�o Paulo, Jo�o D�ria (PSDB).
"Nenhum dos nossos nomes tem musculatura sozinho para enfrentar o Lula ou o Bolsonaro", reconhece Maia.
Outra dificuldade que o pr�prio deputado v� na constru��o dessa candidatura do "centro liberal" � que parte relevante dos partidos do seu campo pol�tico, como PSDB, MDB e DEM, tem se alinhado ao governo Bolsonaro no Congresso, atra�dos pelo repasse de recursos da Uni�o para suas bases eleitorais.
"Eu acho que o centro liberal hoje est� muito amarrado na pauta bolsonarista. (…) Eu vejo hoje no Parlamento nosso campo muito acanhado, muito ref�m dessa m�quina federal", ressalta.
Se um candidato do "centro liberal" n�o passar do primeiro turno, Maia diz que votar� em Lula contra Bolsonaro - em 2018, fez exatamente o inverso, escolheu no segundo turno o atual presidente para derrotar o PT.
Sua passagem � oposi��o a Bolsonaro acabou alimentando seu desgaste no DEM, partido que integrava desde os anos 90 e do qual acaba de ser expulso. A sa�da se deu por diverg�ncias p�blicas com o presidente do partido, ACM Neto, relacionadas ao alinhamento da legenda ao governo federal.
Agora, Maia tende a ingressar no PSD, seguindo o mesmo trajeto do prefeito do Rio, Eduardo Paes. Apesar das especula��es de que ambos possam apoiar a candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao governo do Rio de Janeiro, Maia diz que o mais prov�vel � ele e Paes trabalharem para que o PSD lance seu pr�prio candidato ao Pal�cio da Guanabara.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil - O sr. e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se reuniram com o ex-presidente Lula na semana passada. Qual foi o objetivo desse encontro?
Rodrigo Maia - O prefeito Eduardo Paes fez o convite. O prefeito teve uma rela��o muito pr�xima ao presidente Lula quando um era presidente e o outro era prefeito. Eles mant�m boa rela��o e combinaram esse almo�o certamente pra discutir pol�tica.
Discutimos a conjuntura pol�tica atual, futura, elei��o de 2022. Acho que � importante que aqueles que, do meu ponto de vista, est�o no campo democr�tico, dialoguem, independente se estar�o ou n�o no mesmo palanque na elei��o de 2022 no primeiro turno.

BBC News Brasil - O encontro surpreendeu parte do mundo pol�tico porque o senhor esteve historicamente no campo advers�rio do ex-presidente Lula, com duras cr�ticas � pol�tica econ�mica do PT, aos esc�ndalos de corrup��o. Houve uma mudan�a de vis�o sua em rela��o ao Lula e ao PT? O que explica que agora os srs. tenham esse di�logo?
Maia - Eu, mesmo quando fazia oposi��o ao PT, sempre tive um bom di�logo com os l�deres do PT na C�mara de Deputados. Sempre fui um advers�rio transparente, aberto, cr�tico principalmente � pol�tica econ�mica do final do primeiro governo do presidente Lula, mas principalmente do governo Dilma. Se voc� comparar a pol�tica fiscal do primeiro governo do presidente Lula com a pol�tica fiscal do governo Dilma, voc� vai ver diferen�as enormes. E eu posso dizer que a equipe que comandou o Minist�rio da Economia (no governo Lula), escolhido pelo (ministro Ant�nio) Palocci, s�o todos quadros da minha rela��o pol�tica hoje, com que eu converso: o Marcos Lisboa, o Bernard Appy, o Joaquim Levy, que depois foi ministro da Dilma. Ent�o, voc� tem que separar um pouco os dois governos.
Claro que os fatos ocorridos, os desvios, a utiliza��o da Petrobras, s�o temas que a gente critica e vai continuar criticando. Eu sempre disse que o que tinha sido feito contra o presidente Lula, do meu ponto de vista, em rela��o ao que tinha de prova material contra ele, era muito fr�gil. Agora, � claro que a Petrobras foi utilizada por muitos de uma forma indevida e o Judici�rio e o Minist�rio P�blico avan�aram muito (contra o esquema de corrup��o). E a gente viu o que aconteceu com a Lava Jato depois de muito poder, muitos excessos, muitas arbitrariedades.
� frente da presid�ncia da C�mara eu tive a oportunidade de conviver mais pr�ximo a todos os partidos e aos deputados do PT. Ent�o, pra mim, estar dialogando com o presidente Lula no momento que a gente tem um governo que desrespeita o Congresso Nacional, desrespeita o Supremo Tribunal Federal, questiona a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro, � claro que esse governo acaba aproximando e nos colocando numa posi��o de mais proximidade em rela��o ao di�logo pra elei��o de 2022.
BBC News Brasil - O sr. em 2018 votou no atual presidente Bolsonaro e um dos motivos era por que o sr. queria tirar o PT?
Maia - N�o. Eu tinha dois temas. Primeiro, a minha dificuldade, claro, de votar no PT pela oposi��o hist�rica que fiz ao PT, mas, mais do que isso, eu olhava o (ministro da Economia) Paulo Guedes como um quadro que poderia, de alguma forma, conduzir a pol�tica econ�mica pra um caminho diferente daquilo que o Bolsonaro defendeu a vida inteira. A gente sabe que o Bolsonaro n�o � liberal na economia em hip�tese nenhuma, mas eu achava que o Paulo Guedes poderia assumir esse papel. Acho que at� no in�cio tentou, mas depois acabou contaminado e envolvido com essa agenda bolsonarista.
Mas foram esses dois motivos que me fizeram votar no segundo turno. Eu nunca fiz campanha. N�o sou daqueles que digo que eu me arrependo, at� porque todo mundo sabia quem era o Bolsonaro. Quem falar que n�o sabia, n�o t� falando a verdade. Ent�o, posso dizer que eu tinha uma posi��o de muito contraponto ao PT e tinha o Paulo Guedes na outra ponta que era uma pessoa com quem eu e meu pai (C�sar Maia) t�nhamos uma rela��o h� muitos anos no Rio de Janeiro.
BBC News Brasil - Justamente, o sr. tem dito que seu voto em Bolsonaro foi por esses dois fatores: sua oposi��o ao PT e o apoio � agenda econ�mica de Guedes. Agora, o sr. est� disposto a fazer o contr�rio: votar no PT para tirar o Bolsonaro?
Maia - N�o, eu estou disposto a construir uma candidatura no meu campo, no campo que eu chamo de centro liberal. Eu divido (o centro pol�tico) em dois grupos: o centro, que alguns chamam de centr�o, e o centro liberal, que � o campo em que eu me coloco, que na economia tem uma vis�o que n�o � pragm�tica como o centr�o tem.
Acho que o nosso campo deveria construir uma candidatura, mas que o encaminhamento n�o est� do tamanho correto. Acho que essa tentativa permanente de uma certa exclus�o do (governador de S�o Paulo Jo�o) D�ria, de um certo conflito interno no PSDB com o governador de S�o Paulo, acho isso muito ruim e sinaliza de forma muito negativa.
Sendo o D�ria o candidato do nosso campo ou n�o, isso � uma quest�o que eu acho que tem que ser uma decis�o coletiva, porque nenhum dos nossos nomes tem musculatura sozinho para enfrentar o Lula ou o Bolsonaro. Acho que a nossa ida ao segundo turno passa por S�o Paulo, sendo o D�ria o candidato desse campo, (assim como) passa por S�o Paulo com a compreens�o do D�ria que ele, no final do ano, n�o ser� a melhor op��o, vamos dizer assim, pra representar esse campo.
At� a hip�tese, que eu acho � importante, de trazer o PDT para esse di�logo, com a candidatura de Ciro Gomes, tamb�m (deve ocorrer) com a certeza que pode ser ele o candidato ou pode n�o ser. Ent�o, nosso campo � que precisa organizar melhor as suas ideias, organizar melhor o seu espa�o pol�tico.
Acho que o centro liberal hoje est� muito amarrado na pauta bolsonarista, pela for�a que tem o governo nas nossas bases eleitorais. A gente v� com alguma preocupa��o o que hoje representa (a atua��o no Congresso de partidos como) o PSDB, na maioria das vezes o MDB, o Cidadania, o Podemos, o pr�prio DEM, que eu acho que vai acabar apoiando o Bolsonaro. Vejo hoje no Parlamento nosso campo muito acanhado, muito ref�m dessa m�quina federal. Todo mundo olhando suas reelei��es. Ent�o, acho que temos um caminho dif�cil, porque n�o temos nitidez de oposi��o ao governo, e nem conseguimos levar as bancadas desses partidos para essa posi��o.
E tamb�m ainda temos um problema interno do PSDB que acho que ainda precisa ser resolvido porque o PSDB � um partido que tem tr�s grandes candidatos (D�ria, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e o senador do Cear�, Tasso Jereissati) e precisa sair desse processo unido. E acho que n�o apenas (com a uni�o) dos tr�s, o correto era que a gente pudesse juntar com os outros poss�veis candidatos, o (ex-ministro da Sa�de Henrique) Mandetta, o Ciro, e tentar construir um centro �nico em que a gente conseguisse gerar uma converg�ncia de ideias, uma agenda m�nima de ideias.

BBC News Brasil - Ainda sobre o encontro com Lula, o jornal O Globo diz que o sr. teria se oferecido para ajudar o petista na elei��o de 2022. Existe essa possibilidade?
Maia - O que eu conversei com o presidente Lula � que o que me interessa nesse processo pr�-eleitoral, com as dificuldades que coloquei aqui dos nossos partidos no Parlamento, � ter a possibilidade de aproveitar a experi�ncia que acumulei como presidente da C�mara, os debates que fiz sobre as reformas (econ�micas), e poder colaborar com o processo de di�logo.
O processo de di�logo inclui o presidente Lula, n�o exclui o presidente Lula. O que disse a ele � que estava � disposi��o pra sentar com o pessoal dele, falar um pouquinho do que penso, do que o meu campo pensa. Acho que talvez pra ele seja importante. � �bvio que isso n�o � uma sinaliza��o de que vou apoiar o presidente Lula, mas quero dialogar com a equipe dele. Acho que a gente tem diverg�ncias, mas a gente pode construir consensos em todo campo democr�tico pra que, no processo eleitoral, a gente deixe claro que as nossas maiores diverg�ncias est�o no campo nosso contra a candidatura do Bolsonaro.
Ent�o, o que disse ao presidente Lula era que estava � disposi��o para dialogar com aqueles que v�o organizar o plano de governo dele. � o que me estimula a olhar o futuro, n�o � ser deputado pra estar votando com o Governo pra liberar a emenda. Acho que isso (votos em troca de emendas) n�o faz com que o nosso mandato represente mudan�as reais na vida dos brasileiros.
Eu quero participar de mudan�a, eu quero participar de um processo em que a gente possa, de fato, modernizar e refundar o Estado brasileiro, que hoje basicamente atende aos interesses das elites brasileiras, do setor p�blico e do setor privado.
Ent�o, vou dialogar com o presidente Lula. O presidente do PDT, o (Carlos) Lupi, tem conversado comigo. Tenho uma �tima rela��o com o Ciro Gomes, j� quis apoi�-lo em 2018, (mas) fui derrotado dentro do Democratas. Ent�o, vou dialogar com todos e quero discutir o Brasil com todos.
BBC News Brasil - Se essa candidatura que o sr. defende, do centro liberal, n�o chegar ao segundo turno e a disputa for entre Bolsonaro e Lula, o sr. escolher� um desses lados?
Maia - Eu j� disse isso publicamente. N�o considero que o presidente Bolsonaro tenha o apre�o e esteja no caminho de fortalecer as institui��es democr�ticas. Acho que � o contr�rio. Acho que eles t�m uma vis�o de que o Poder Executivo tem uma posi��o de comando em rela��o ao Supremo e ao Congresso Nacional, da qual divirjo frontalmente.
Por essa quest�o b�sica, � �bvio que se tiver um segundo turno entre os dois, que acho que n�o ter�, acho que o segundo turno ser� o Lula com um candidato do centro liberal, mas tendo essa op��o, vou ficar sempre com aquele que entendo que olha a democracia com mais converg�ncias comigo do que em rela��o ao outro candidato, tal Bolsonaro. De fato, em rela��o a essa quest�o b�sica, as nossas diverg�ncias (com Bolsonaro) s�o muito grandes.
BBC News Brasil - Na sua leitura, considerando o cen�rio hoje, o ex-presidente Lula vai estar no segundo turno?
Maia - A minha opini�o � que, dos 46% mais ou menos que Bolsonaro teve no primeiro turno, ele tem metade disso (de apoio). A outra metade s�o eleitores do campo do centro liberal somado a um campo anti-petista que procurou uma alternativa (para derrotar o PT em 2018). E esse campo est� aberto, voc� tem 25%, 30% para tentar construir uma candidatura para disputar com o Bolsonaro.
E acho que � no campo dele (que os votos est�o em disputa), porque � no campo dele que tem esses eleitores que, pelo que eu t� ouvindo, n�o querem votar novamente com Bolsonaro e ainda n�o chegaram na hip�tese de votar no presidente Lula. Uma pequena parte j� (decidiu por Lula ap�s votar em Bolsonaro), a gente est� vendo pelas pesquisas, mas uma grande maioria ainda n�o.
Ent�o, acho que se a gente tiver capacidade de di�logo, sentar na mesa e construir um caminho pra que todos possam estar juntos, acho que � um bom caminho para que a gente possa levar uma candidatura do centro liberal ou do centro, trazendo o Ciro para isso. E o espa�o que vejo � pra que essa candidatura cres�a exatamente nesse eleitor que votou no Bolsonaro em 2018.

BBC News Brasil - O Ciro Gomes, embora j� tenha feito parte de partidos mais � direita no passado, agora est� em um partido mais � esquerda e defende um modelo econ�mico desenvolvimentista, � cr�tico ao Teto de Gastos e sempre se colocou em oposi��o ao governador Jo�o D�ria. Como seria poss�vel gerar algum tipo de converg�ncia entre Ciro Gomes, Jo�o D�ria, o ex-ministro Mandetta, por exemplo?
Maia - Olha, se em 2001 eu dissesse pra voc� que o Marcos Lisboa e o Joaquim Levy fariam parte da equipe econ�mica do Lula (em seu primeiro governo), voc� diria que eu estava sonhando. Ent�o, na pol�tica, principalmente numa elei��o de dois turnos, ganha quem agrega.
O Ciro tem as suas ideias, suas convic��es, isso � muito importante, isso gera apoio, mas por outro lado ele precisa compreender que para chegar ao segundo turno ou at� pra ganhar a elei��o, vai precisar agregar pol�ticos de outros campos, principalmente do nosso campo.
Para isso, vai ter que fazer um movimento pol�tico da centro-esquerda pro centro, como o presidente Lula fez na elei��o (de 2002), com a carta aos brasileiros, saindo da esquerda e caminhando para outro eleitor.
Acho que ele vai ter que ver em que parte consegue criar sinergia e avan�ar para se criar uma proposta em conjunto com os partidos do centro liberal, da centro-direita, para que se possa gerar a musculatura para um avan�o.
Todos, de alguma forma, v�o ter que construir agendas m�nimas, consensos m�nimos, para tentar agregar eleitor e chegar ao segundo turno.
BBC News Brasil - H� uma expectativa de retomada econ�mica. Se a economia engatar, o governo ampliar o Bolsa Fam�lia, a vacina��o avan�ar e o pa�s voltar a uma certa normalidade em 2022, n�o podemos ter um cen�rio que fortale�a o plano de reelei��o?
Maia - Olha, a minha impress�o � que a vacina n�o vai ter tanto impacto (na economia). Pelo o que estou vendo nas ruas, um cansa�o em rela��o ao isolamento, as pessoas (j�) est�o trabalhando.
No fim de semana, andei no Rio, passei pelo Leblon para ir almo�ar na casa dos meus pais, e restaurantes e bares est�o cheios. Ent�o, n�o acho que a acelera��o da vacina agora vai gerar esse impacto todo.
E o crescimento econ�mico, se voc� olhar os n�meros por dentro, ainda est� muito longe de uma quest�o sustent�vel. O resultado do PIB (de crescimento no primeiro trimestre) tem muito ingrediente da infla��o. A infla��o ajuda as contas p�blicas (ao aumentar o limite do Teto de Gastos), mas ao mesmo tempo ela tira dinheiro da sociedade.
Os resultados que sa�ram, acho que foram do IBGE, nos �ltimos dias, mostram que a desigualdade nunca esteve t�o alta no Brasil e a renda per capita (caiu) abaixo de mil reais. Ent�o, na maioria da sociedade brasileira, esse resultado do PIB n�o chegou e n�o vai chegar.
N�o h� mais um planejamento no governo de uma agenda de reformas para que o Brasil possa crescer. E acho que a quest�o do Bolsa Fam�lia, na hora que o presidente fala n�meros (de amplia��o do benef�cio) que est�o muito al�m daquilo que o Or�amento permite, por um lado ele ganha (com a medida popular), e por outro lado ele perde. A presidente Dilma expandiu os gastos p�blicos muito fortemente. At� ganhou a elei��o (em 2014), mas n�s tivemos dois anos seguidos com uma recess�o de 7%.
Ent�o, toda vez que voc� cria uma despesa que n�o cabe dentro da realidade do Or�amento prim�rio brasileiro, vai ter uma conta a ser paga. Vai ser paga na taxa de juros? A taxa de juros, claro, pela infla��o, vai ter que chegar a 6%, 7%. Quem pegou financiamento indexado, vai pagar uma taxa de juros mais alta. Ent�o, � tudo um ciclo vicioso onde o processo eleitoral vai acabar mais prejudicando do que gerando resultados positivos.
BBC News Brasil - Gostaria de falar do apoio da elite econ�mica ao Bolsonaro. Como o sr. falou no in�cio da entrevista, em 2018 j� se sabia que Bolsonaro tinha uma postura antidemocr�tica, pois sempre defendeu a Ditadura Militar. Esse apoio de empres�rios e do mercado a ele indica que esse grupo valoriza mais o crescimento econ�mico e os ganhos financeiros do que a democracia? E qual o apoio da elite econ�mica hoje ao presidente, na sua avalia��o?
Maia - Majoritariamente, todos com os quais converso est�o preocupados com a quest�o democr�tica e a quest�o do meio ambiente. N�o � uma quest�o s� de princ�pio; � uma quest�o tamb�m pragm�tica. O Brasil � um pa�s que precisa de capital externo, e essas duas quest�es, democracia e meio ambiente, s�o temas que est�o na agenda dos grandes investidores pelo mundo, e s�o vari�veis decisivas.
Ent�o, � �bvio que um grande empres�rio, principalmente no mundo da economia real, n�o no mercado financeiro, � �bvio que ele olha isso com muita preocupa��o, porque est� vendo que isso no m�dio e longo prazo inviabiliza uma maior integra��o do Brasil com o resto das economias e mais recursos para investimentos no pa�s.
Dentro do mercado financeiro, tamb�m vejo uma grande maioria preocupada e que sabe que essas agendas do Bolsonaro tamb�m inviabilizam recursos de grandes fundos que hoje tem pr�-condi��es de investimento em qualquer pa�s, como a democracia e (a prote��o do) meio ambiente.
� claro que eles sempre olham a quest�o pragm�tica. O formato da privatiza��o da Eletrobras atendeu o mercado financeiro. N�o estou dizendo que isso � injusto ou justo, � um dado.
Junto com isso est� se levando um absurdo que � o contribuinte ter que pagar a constru��o de gasodutos e consumo m�nimo de termel�tricas a g�s em regi�es muito distantes da produ��o de g�s no nosso pa�s. Eles est�o fingindo que n�o est�o vendo essa parte porque est�o favor�veis � privatiza��o da Eletrobras. H� esse tipo de flexibiliza��o. Cobro isso deles.
Por exemplo, a aprova��o da PEC Emergencial. Em troca da PEC Emergencial, que n�o tem nada de emergencial, os gatilhos (de corte de gastos) que foram criados s�o pro futuro, o governo teve que entregar R$ 16 bilh�es do Or�amento para o Congresso (atrav�s das chamadas emendas de relator), teve que adiar o abono salarial, teve que adiar o Censo.
Ent�o, o mercado est� vendo que esse Or�amento cortou despesas obrigat�rias, que � fake, mas o mercado queria tamb�m a sinaliza��o da PEC Emergencial por que isso, na cabe�a deles, gerava o m�nimo de previsibilidade da quest�o fiscal, para que o mercado pudesse continuar recebendo recursos de investidores estrangeiros.
Ent�o, tem sim, �s vezes, esses interesses em jogo, mas acho que na sua grande maioria, todos t�m essa grande preocupa��o, entendem que o melhor seria o ciclo do presidente Bolsonaro acabar com a elei��o de 2022.
Agora, voc� sabe qual � a for�a do Estado do brasileiro. A maioria tem muito medo de uma exposi��o (contra Bolsonaro) agora e que seus setores ou as suas empresas possam ser prejudicadas pelo governo.

BBC News Brasil - Parte da sociedade teme que Bolsonaro possa tentar um golpe caso perca as elei��es, alegando fraude nas urnas, com apoio das For�as Armadas e das pol�cias militares. O sr. considera esse risco real? O que pode ser feito para evitar esse cen�rio?
Maia - Considero real, acho que os partidos de esquerda e mais os partidos do centro liberal deveriam interditar o debate da PEC do voto impresso. Fui o relator da inclus�o do voto impresso na lei da reforma pol�tica em 2015. Tenho uma posi��o da import�ncia da possibilidade da recontagem de voto, mas nunca fiz isso questionando o sistema de urna eletr�nica. Fui eleito desde a minha primeira elei��o pelas urnas eletr�nicas. � um modelo que nunca deu problema, modelo seguro.
A gente est� vendo o Peru, onde o voto � impresso, e at� agora voc� n�o tem o resultado final (da elei��o presidencial), depois de v�rios dias do processo eleitoral. Ent�o, acho que a gente deveria interditar o debate, porque o Bolsonaro n�o quer o debate pra ter uma amostragem do resultado. Ele quer exatamente pra contestar o processo. Contestando o processo, ele pode caminhar para n�o aceitar o resultado em 2022 como fez o (ex-presidente dos EUA Donald) Trump na elei��o passada nos Estados Unidos.
BBC News Brasil - Se houver essa tentativa de golpe, o sr. acredita que Bolsonaro teria apoio por parte das For�as Armadas ou das pol�cias militares?
Maia - Das For�as Armadas, a minha impress�o � que � muito dif�cil. Acho que (com as) pol�cias militares hoje o Bolsonaro tem uma rela��o mais pr�xima.
BBC News Brasil - Sobre seu futuro pol�tico: o sr. vai realmente para o PSD acompanhando o prefeito Eduardo Paes, que tamb�m saiu do DEM?
Maia - Caminha pra isso. Tenho que conversar com algumas pessoas ainda. J� tinha pedido a minha desfilia��o do Democratas, achava que isso j� sinalizava claramente a minha sa�da do partido, mas infelizmente no partido hoje voc� n�o pode criticar o nosso Torquemadinha (como Maia tem chamado o presidente do DEM, ACM Neto, em refer�ncia ao inquisidor espanhol Tom�s de Torquemada).
Acho que uma expuls�o dessa forma d� um certo nojo. Um certo nojo de voc� ver um partido como Democratas estar numa linha t�o pr�xima ao bolsonarismo. Como se expulsar uma pessoa de um partido fosse um ato qualquer.
A tend�ncia � caminhar com o prefeito Eduardo Paes, meu principal aliado na pol�tica do Estado do Rio, mas eu preciso conversar com outros quadros antes, principalmente com o vice-governador de S�o Paulo (Rodrigo Garcia, que trocou o DEM pelo PSDB), que � um quadro que sempre me acompanhou, esteve junto comigo no Democratas.
O pr�prio Baleia, (presidente) do MDB, o pr�prio Bruno Ara�jo (presidente do PSDB), eu tenho que dialogar para que essa solu��o da minha filia��o continue me colocando num espa�o de debate e de constru��o de uma agenda, que � o que mais me interessa: discutir o Brasil, discutir projetos que possam modernizar o Estado brasileiro.
BBC News Brasil - O sr. v� hoje o DEM caminhando para apoiar Bolsonaro nessa elei��o de 2022? E no caso de outras siglas grandes do centr�o, como PP e PL, que costumam ser flex�veis em suas alian�as, tamb�m acredita que apoiar�o a reelei��o ou pode haver um desembarque pr�-eleitoral da base de Bolsonaro?
Maia - Acho que a maioria tende a ficar. O DEM eu espero que n�o fique, mas fazendo uma an�lise fria, quem viabilizou a Copa Am�rica no Brasil? Foi o DEM. Dos quatro Estados (que aceitaram sediar o campeonato), dois do DEM. O governador de Goi�s (Ronaldo Caiado) e o governador de Mato Grosso (Mauro Mendes), Estados onde o bolsonarismo � muito forte. Ent�o, a tend�ncia deles � tentar trabalhar para que Bolsonaro n�o tenha outro candidato no Estado deles.
O (DEM do) Rio de Janeiro agora entregue ao deputado S�stenes (Cavalcante), ligado ao pastor Silas Malafaia, muito ligado ao bolsonarismo.
Na Bahia, o Neto t� com pouco espa�o (para sua candidatura ao governo): l� � (um candidato de) Lula contra algu�m e esse algu�m a princ�pio � (um candidato do) Bolsonaro. No primeiro momento, acho que o Ciro Gomes n�o consegue, na Bahia, ocupar esse espa�o. Como � que ele (ACM Neto) faz? Pra ele entrar no jogo, vai ter que caminhar para alguma alian�a com o Bolsonaro, ou n�o ser candidato e lan�ar o Jo�o Roma (ministro da Cidadania, do partido Republicanos), que tamb�m quer ser candidato a governador.
Olhando os quadros do partido (no governo Bolsonaro), voc� tem a Tereza Cristina (ministra da Agricultura), voc� tem o Onyx (Lorenzoni, ministro da Secretaria Geral da Presid�ncia da Rep�blica), dois ministros. Se continuar do jeito que as coisas est�o caminhando, acho muito dif�cil que o DEM n�o caminhe com apoio ao presidente Bolsonaro.
BBC News Brasil - Sobre o cen�rio eleitoral do Rio de Janeiro: h� especula��es de que o prefeito Eduardo Paes poderia apoiar uma candidatura ao governo do Estado de Marcelo Freixo, o que seria algo novo no cen�rio pol�tico. Freixo fez um movimento de sair do PSOL e ir para o PSB, um partido capaz de construir alian�as mais amplas. H� uma possibilidade real de o sr. e Paes apoiarem Freixo, ou isso � improv�vel?
Maia - Acho menos prov�vel. O mais prov�vel, o prefeito vem falando e eu concordo com ele, � que o PSD tenha um candidato a governador para enfrentar o Freixo e, principalmente, o atual governador do estado do Rio de Janeiro (Cl�udio Castro).

BBC News Brasil - O sr. continua sendo muito cobrado nas redes sociais por n�o ter iniciado o processo de impeachment de Bolsonaro. O Brasil se aproxima de 500 mil mortes por covid-19, e uma das suas justificativas para n�o iniciar o processo era que o foco devia estar na pandemia. Diante desse quadro, o sr. acredita que foi a decis�o correta?
Maia - N�o mudo minha posi��o. O presidente Bolsonaro sempre teve uma base de apoio no parlamento, mesmo desorganizada. Agora, ele tem uma base ainda maior. As pessoas n�o podem esquecer que um processo de impeachment precisa de 342 votos do plen�rio da C�mara de Deputados (para que haja um julgamento depois no Senado). N�s n�o t�nhamos (esses votos) antes, n�o temos hoje.
Ent�o, um processo pol�tico de impeachment hoje apenas ia tirar o foco da discuss�o da pandemia, ia trazer o palco pra pol�tica, ele ia gostar desse debate, ele ia vencer esse debate, e no final ele ia sair mais forte.
O Trump, quando os democratas inventaram o impeachment nos Estados Unidos, eles tinham maioria na C�mara e minoria no Senado. Fizeram barulho na C�mara, venceram o impeachment. Dias depois, o Senado arquivou o impeachment.
O Trump virou favorit�ssimo pro processo eleitoral porque as pessoas chegaram � conclus�o que aquele movimento pol�tico era um movimento que n�o priorizava as pessoas, mas sim o interesse do Partido Democrata. Depois veio a pandemia e a� ele cai pela p�ssima gest�o da pandemia.
Tenho a mesma opini�o aqui: se tivesse deferido o impeachment, o impeachment seria barrado no plen�rio da C�mara, ele partiria pra cima do Congresso Nacional, da C�mara dos Deputados, estaria mais forte hoje, porque ele teria o discurso, "�, tentaram me derrubar, n�o conseguiram, e agora, eu vou pra cima deles".
N�s n�o ter�amos 342 votos porque, diferente do impeachment da Dilma, que o presidente da c�mara (Eduardo Cunha) � �poca operou diretamente pelo impeachment, e o vice-presidente (Michel Temer) era ligado � pol�tica, hoje eu n�o operaria o impeachment, mesmo se eu fosse presidente da C�mara, e o vice-presidente (general Hamilton Mour�o) n�o � uma pessoa ligada ao Congresso Nacional.
Tanto eu tava certo na minha decis�o que eles (os aliados de Bolsonaro) venceram a elei��o para presidente da C�mara. Voc� viu que eles venceram com os votos do DEM e do PSDB, foi com o voto majorit�rio dos partidos que eu representava, que o centro liberal representa.
E mesmo nos partidos de esquerda, concretamente, eu nunca recebi uma grande press�o pelo impeachment. Era muito mais uma narrativa, uma vocaliza��o pra falar pra fora, do que uma press�o real, porque todos eles sabiam e sabem que n�s n�o t�nhamos e mantemos a mesma condi��o hoje: n�o temos voto para um processo de impeachment avan�ar na C�mara dos Deputados.
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