
Aguardadas com a preocupa��o de que ocorra uma ruptura institucional no pa�s, as manifesta��es convocadas hoje em maioria por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) podem ter menos influ�ncia do que se espera, como avaliam cientistas pol�ticos ouvidos pelo
Estado de Minas
. Os atos em favor do presidente, e, inclusive, convocados por ele, tentar�o alimentar a base de apoio, diante da perda de for�a de Bolsonaro nas �ltimas pesquisas de inten��o de voto para 2022.
“Acho que o mais prov�vel � que tenhamos grandes manifesta��es, mas que v�o ficar nisso mesmo. Vai ter muita gente na rua, o povo vai esbravejar e no dia seguinte a vida segue. N�o vai haver nenhum abalo. Essa manifesta��o serve muito mais para o Bolsonaro manter mobilizada sua base. Para ele falar que tem apoio popular, que de fato tem. As pesquisas indicam que ele tem cerca de 20% da popula��o do seu lado ainda, j� teve muito mais, mas ele tem e consegue mobilizar essas pessoas”, afirma.
O objetivo desses atos n�o � derrubar a democracia, na opini�o de Carlos Ranulfo, mas mobilizar a base, mostrar for�a, criar imagens para que elas circulem na base do presidente. “No momento, Bolsonaro est� completamente isolado, n�o conversa com governadores, perdeu completamente o apoio no Senado, tem dificuldade na C�mara. Os filhos dele est�o sendo investigados, ent�o, ele tem que mostrar for�a e o ato � para isso. No dia seguinte n�o vai acontecer nada”, opina.
Para Felipe Nunes, professor de ci�ncia pol�tica na UFMG, a radicaliza��o � que pode provocar consequ�ncias. “Os estudos que eu tenho feito me mostram que as pessoas que est�o se dispondo a se manifestarem s�o um pouco mais radicais do que a m�dia, daquele eleitor que aprova o governo. Essa radicaliza��o sim, tem consequ�ncias que podem ser complicadas. Antes de fazer qualquer avalia��o, a gente tem que olhar qual o n�vel de irresponsabilidade das pessoas que v�o se manifestar”, destaca. O professor da UFMG n�o descarta que seja provocada uma ruptura entre as institui��es.
Lilian Sendretti, doutoranda em Ci�ncia Pol�tica pela Universidade de S�o Paulo (USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de An�lise e Planejamento (Cebrap), considera as manifesta��es de maioria bolsonarista uma demonstra��o num momento em que o presidente v� sua for�a pol�tica abalada.
“O 7 de setembro representa um momento de for�a do bolsonarismo. Manifesta��es anteriores, vimos em imagens do ano passado, em meio � pandemia, quando Bolsonaro participou de um ato que pedia fechamento do Congresso e interven��o militar, foram os momentos em que ele estava com prest�gio p�blico abalado por conta da chegada da pandemia, em mar�o de 2020. Sempre em momentos que ele est� institucionalmente mais fraco, ele faz falas em ataque aos poderes da Rep�blica, principalmente ao STF”, observa.
“O 7 de setembro representa um momento de for�a do bolsonarismo. Manifesta��es anteriores, vimos em imagens do ano passado, em meio � pandemia, quando Bolsonaro participou de um ato que pedia fechamento do Congresso e interven��o militar, foram os momentos em que ele estava com prest�gio p�blico abalado por conta da chegada da pandemia, em mar�o de 2020. Sempre em momentos que ele est� institucionalmente mais fraco, ele faz falas em ataque aos poderes da Rep�blica, principalmente ao STF”, observa.
A pesquisadora ressalta que agora lideran�as da direita radical est�o insatisfeitas com o STF, que aceitou a not�cia-crime contra o presidente e o incluiu no inqu�rito das fake news. “Agora as lideran�as, principalmente o grupo nas ruas, Abrapa, Direita Conservadora, chamam a manifesta��o no sentido de defender a Constitui��o e defender a democracia. Porque na vis�o desses grupos, eles est�o sendo criminalizados pelo STF e a partir de uma vis�o controversa, impulsionada pelo presidente.”
Para Lilian Sendretti, essa vis�o controversa parte de artigos da Constitui��o, que s�o distorcidos no discurso bolsonarista. “Nos artigos da Constitui��o que defendem o poder e a mem�ria do povo e que definem as diretrizes das For�as Armadas tem uma leitura controversa no sentido de que as manifesta��es, como o presidente disse, v�o jogar dentro das quatro linhas da Constitui��o. Quando eles falam isso usam esses artigos porque acima do STF estaria o pr�prio povo ou que se entende, do ponto de vista desses autores que v�o estar na rua, do que � o povo”, afirma.
No discurso dos apoiadores do governo, destaca a pesquisadora, o povo s�o as pessoas auto intituladas como “patriotas” de verde e amarelo que defendem o Bolsonaro.
“� um discurso envolto de uma estrutura institucional que tensiona o que � o limite da liberdade de express�o o tempo todo e ao mesmo tempo inverte a culpa de quem est� tensionando os limites da liberdade de express�o dos direitos democr�ticos ao imputar que quem faz isso na verdade s�o os ministros do STF e n�o o pr�prio presidente”, afirma.
Bravata
Carlos Ranulfo Melo observa que qualquer ato violento pode ter consequ�ncias negativas para o presidente Bolsonaro. “Se ele perde o controle dessa manifesta��o e, por exemplo, h� uma invas�o do Congresso, isso pode significar o fim do governo e o Bolsonaro sabe disso, ele n�o pode deixar isso acontecer. A manifesta��o vai ser agressiva na forma, mas n�o passa disso. � t�pico do bolsonarismo falar muito, fazer bravata, mas se espremer vai sair pouca coisa e no dia seguinte segue tudo normal: a CPI vai continuar pegando os esquemas da Sa�de, a Justi�a vai continuar investigando, o Bolsonaro vai ter que explicar por que o lobista est� intermediando os neg�cios dele, o outro filho vai explicar como � a rachadinha na C�mara dos vereadores do RJ e por a� vai”, afirma.
Na vis�o de Felipe Nunes, professor de ci�ncia pol�tica na UFMG, a radicaliza��o pode ter resultados. “Manifesta��o � um direito constitucional do cidad�o brasileiro. A quest�o que est� colocada para mim � o chamado dilema de Karl Popper, que diz: 'at� quando temos que tolerar os intoler�veis?' Ele chama aten��o, quando descreveu no come�o do s�culo, o problema de ter que lidar com gente que � intolerante em rela��o a tudo e se pergunta se o resto da sociedade tem que fazer o mesmo, se � intolerante ou tem que aceitar que eles sejam assim e tudo bem. O resultado desse dilema � negativo, j� que existe uma intoler�ncia evidente na sociedade”, acrescenta.
Segundo Felipe Nunes, � poss�vel que seja provocada uma ruptura entre as institui��es. “Neste momento me parece que h� um processo de desgaste na imagem das principais institui��es p�blicas e isso � o pressuposto necess�rio para que seja constru�do um processo de ruptura. Destruir a legitimidade, a credibilidade do Congresso e do Supremo Tribunal Federal s�o estrat�gias claramente voltadas para um processo de concentra��o de poder ou de legitima��o e isso n�o � desejado”.
Uma democracia est�vel, ensina o professor, � aquela em que, por um lado, os perdedores aceitam a derrota e por outro, os vencedores concordam em deixar o poder depois de algum tempo. “Acho que o processo � muito perigoso e � preciso que a gente tenha muito cuidado ao acompanhar esse processo no dia 7 de setembro, que na minha vis�o, vai apontar necessariamente o desgaste das rela��es entre as institui��es brasileiras”, ressalta.
Isolamento
Por outro lado, para Carlos Ranulfo, o isolamento de Bolsonaro das outras institui��es j� vem ocorrendo. “Um presidente que busca ruptura perderia o resto do apoio no Congresso e, ent�o, ele sabe que tem um limite que n�o pode ultrapassar. N�o h� apoio do Ex�rcito, n�o h� apoio no Congresso e nem em lugar nenhum. H� apoio de uma massa, de um setor e mesmo quem apoia o Bolsonaro, uma parte n�o apoia o golpe. O que h� � um isolamento do Bolsonaro, que vai continuar cada vez mais isolado, t� tudo ruim para ele. Mas ele n�o tem capacidade de provocar uma ruptura”, afirma.
Na avalia��o do cientista pol�tico, o presidente fala para sua base e n�o para a popula��o. “Ali�s, Bolsonaro n�o se comunica com a popula��o brasileira h� muito tempo. Ele n�o governa mais, organiza motociata, organiza atos, mas n�o governa, n�o existe governo. Tudo que ele faz � para a base dele, n�o � para o pa�s. “Ele n�o vai romper, Bolsonaro n�o tem for�a para provocar uma ruptura. Se ele tentar uma ruptura, no dia seguinte o governo dele acaba.”