
Desempregada, Danielle mora sozinha em S�o Sebasti�o. Em entrevista concedida ao Correio, na �ltima sexta-feira (18/2), a jovem deu detalhes do caso e contou como est� vivendo ap�s os epis�dios de humilha��o que passou. “Por um momento, achei que o caso n�o iria para a frente, porque n�o tinha visto mais not�cias e ningu�m comentava mais. Quando soube, fiquei feliz por saber que eu n�o estava sozinha nessa luta e vi que levaram a situa��o a s�rio”, desabafou.
A primeira ofensa ocorreu em outubro de 2020. Danielle trabalhava como gar�onete na pizzaria. A jovem conta que, enquanto atendia Wassef, foi puxada pelo bra�o pelo advogado. “Ele falou que n�o queria ser atendido por mim, que eu era negra e tinha cara de sonsa”, relata. Danielle conta que havia passado por situa��es semelhantes, mas n�o de maneira t�o agressiva e ofensiva. “Eu estava apenas fazendo o meu trabalho e me perguntei por que ainda existiam pessoas que julgavam a gente pela apar�ncia. Fiquei triste a abalada”, afirma.
"Voc� � uma macaca"
Na primeira ocasi�o, a jovem n�o reconheceu que o cliente era Wassef, personagem conhecido na pol�tica nacional. Danielle s� soube que se tratava do advogado da fam�lia Bolsonaro ap�s ele comparecer novamente na pizzaria, em novembro. “Quando o vi, mandei minha amiga atender e permaneci no balc�o.”
Enquanto estava no balc�o, conta Danielle, o advogado foi em dire��o a ela e disse que a pizza estava "uma merda". Em seguida, perguntou se a funcion�ria havia comido a refei��o. Insatisfeito com a resposta negativa, o acusado teria respondido: "Voc� � uma macaca. Voc� come o que te derem". “Dessa vez, eu retruquei, e disse que ele n�o era melhor do que ningu�m por ser branco”, afirmou.
Danielle relata que sentiu medo de denunci�-lo, justamente pelo fato de Wassef ser conhecido e defender a fam�lia do presidente da Rep�blica. “Quem me incentivou foi o meu ex-gerente. Ele ouviu as ofensas e logo disse que era caso de pol�cia", relata Danielle.
Por meses, a jovem evitou sair de casa por medo. Estudante do ensino m�dio, ela chegou a receber v�rias liga��es da escola por n�o estar fazendo as atividades. “Minha m�e me ajudou muito nesse per�odo. Ela resolvia os problemas. Cheguei a bloquear todas as minhas redes sociais”, lembra.
Indeniza��o
Na den�ncia enviada pelo MPDFT � Justi�a e obtida pelo Correio, a promotora Mariana Silva Nunes, do N�cleo de Enfrentamento � Discrimina��o (NDH), pede que Wassef indenize a v�tima em R$ 20 mil, para repara��o de preju�zos pessoais, e em R$ 30 mil, a t�tulo de danos morais coletivos. Essa segunda quantia ser� revertida a institui��o que atua no combate � discrimina��o racial, a ser indicada pelo Minist�rio P�blico.
A promotora exige, ainda, que o acusado participe do curso Conscientiza��o para Igualdade Racial, ministrado pelo MP em parceria com a Universidade de Bras�lia (UnB). "Diante do acima exposto, notadamente em raz�o da gravidade em concreto do presente caso, em que a v�tima, de apenas 18 anos, foi humilhada e ofendida pelo denunciado de forma reiterada, o N�cleo de Enfrentamento � Discrimina��o do MPDFT manifesta-se no sentido de que os instrumentos de justi�a consensual n�o s�o necess�rios e suficientes para reprova��o e preven��o dos crime", diz trecho da den�ncia.
Na quinta-feira (17/2), o juiz Omar Dantas Lima, da 3ª Vara Criminal de Bras�lia, recebeu a acusa��o. A defesa do advogado ter� 10 dias para se pronunciar.
Fraude processual
Ao Correio Braziliense, Wassef negou as acusa��es, afirmou que houve "fraude processual" e disse tratar-se de caso de "denuncia��o caluniosa". "Jamais proferi ofensa a quem quer que seja. Isso n�o existe. Querem que o falso depoimento seja transformado em um esc�ndalo para me destruir. Sou v�tima de denuncia��o caluniosa. A pol�cia nunca me ouviu. Ignorou tr�s peti��es em que pedi para ser ouvido, para mostrar que sou v�tima de crime. Em vez de oferecer den�ncia, devolveram o inqu�rito. A pol�cia n�o fez nada e engavetou meu inqu�rito. Houve, ainda, troca de promotora, que ofereceu den�ncia sem existir nada nos autos", afirmou.
O r�u completou: "O objetivo � fazer a den�ncia para vazar para a imprensa e massacrar a imagem de Frederick Wassef. A den�ncia foi oferecida ontem (quarta-feira), recebida hoje (quinta-feira) no fim da tarde. Existe ocorr�ncia em que denuncio crime de denuncia��o caluniosa. A menina n�o � negra. A promotora Mariana (Silva Nunes) simplesmente passou por cima do pr�prio MP e ofereceu a den�ncia".
Consultada pela reportagem, o advogado do acusado, Cleber Lopes, tamb�m se posicionou. "A defesa de Frederick Wassef est� perplexa com a den�ncia oferecida pelo Minist�rio P�blico, pois havia dilig�ncias pendentes no inqu�rito, que eram, como de fato s�o, absolutamente relevantes para o esclarecimento da verdade, as quais mostrariam sua inoc�ncia (do r�u). Isso viola a garantia constitucional de defesa, pois o inqu�rito n�o pode ser apenas um instrumento que busque incriminar algu�m. Iremos aos tribunais para resgatar a Constitui��o", enfatizou, em nota.
