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Estado de Minas AN�LISE

Bolsonarismo fala com valores do Brasil profundo, dizem pesquisadores

Estudo analisa o apoio relativamente est�vel ao presidente em setores da sociedade brasileira. Pesquisas de inten��o de voto mostram resili�ncia no desempenho apesar de problemas econ�micos e de cr�ticas � gest�o da pandemia.


27/04/2022 05:57 - atualizado 27/04/2022 09:06


Evento de filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL
Evento de filia��o do presidente Jair Bolsonaro ao PL (foto: Getty Images)

Com �ndices pouco favor�veis na economia e uma criticada gest�o da pandemia de covid, a maior crise de sa�de em um s�culo, Jair Bolsonaro n�o s� tem se mostrado um candidato competitivo � reelei��o como vem registrando crescimento nas �ltimas pesquisas.

Analistas viram, nos n�meros mais recentes, os efeitos favor�veis de alguns fatores para Bolsonaro: sa�da da corrida presidencial do ex-juiz Sergio Moro, implementa��o do programa Aux�lio Brasil e atual fase da pandemia, com sensa��o maior de otimismo entre a popula��o ap�s a reabertura.

O desempenho nas �ltimas pesquisas tem atingido um �ndice superior � faixa entre 20% e 25% que o eleitorado mais fiel a Bolsonaro soma normalmente nos levantamentos.

"O percentual que avalia o governo Bolsonaro como ruim e p�ssimo - ou seja, a rejei��o a ele - est� muito acima de todos os outros governos, com exce��o de Dilma no segundo mandato e de Temer. Mas o que chama aten��o � o percentual de �timo e bom. H� uma grande resili�ncia", diz Br�ulio Borges, economista-s�nior da LCA e pesquisador-associado do FGV IBRE.

Em mar�o, o pa�s teve a maior infla��o para o per�odo em 28 anos. Em 12 meses, a alta de pre�os acumula 11,30%, o maior percentual desde outubro de 2003.

O Brasil ficou em 32° lugar em uma lista de desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) de 54 pa�ses nos �ltimos dois anos.

Os pesquisadores Fabio Peixoto Bastos Baldaia, Tiago Medeiros Ara�jo e Sinval Silva de Ara�jo, do Instituto Federal da Bahia, est�o desenvolvendo uma an�lise sobre o apoio relativamente est�vel a Bolsonaro em setores da sociedade brasileira.

"Uma coisa que a gente percebeu � que o bolsonarismo n�o � um reflexo de fen�menos que est�o acontecendo fora do Brasil, de ascens�o da extrema direita, como Donald Trump, [Viktor] Orb�n na Hungria ou [Rodrigo] Duterte nas Filipinas. Ou n�o apenas", diz Baldaia.

Ele afirma que o bolsonarismo, de fato, conseguiu explorar a dispers�o de informa��o via WhatsApp, Telegram e comunidades de Facebook, mas j� tinha uma conex�o de ideias com o que chama de "Brasil profundo" - definido no texto parcial do estudo como um conjunto de pr�ticas e de mentalidades que depois se tornam comportamentos.

Os pesquisadores veem no bolsonarismo um grupo identit�rio, que demarca fronteiras com o restante da popula��o, e tem eco tanto em segmentos da classe trabalhadora brasileira como em setores sociais m�dios e, ocasionalmente, em parte da elite.

"O bolsonarismo tem uma l�gica de buscar coes�o. � um movimento identit�rio nesse sentido. O bolsonarismo est� refor�ando a identidade de grupo o tempo todo."

"O pr�prio Bolsonaro e as lideran�as-sat�lite - que s�o os filhos de Bolsonaro e outros nomes de destaque no movimento - est�o o tempo todo tentando expurgar aqueles que n�o comungam desses ideais e o tempo todo est�o refor�ando a narrativa de que esse grupo formaria os verdadeiros brasileiros."

A base de pensamento que galvaniza a base e se comunica com setores do "Brasil profundo" passa por temas como "olho por olho, dente por dente" em rela��o ao crime, o moralismo contra comportamentos sexuais fora dos padr�es e uma certa avers�o � pol�tica como um todo.

"Mas s�o coisas que j� existiam antes de Bolsonaro. S� que ele deu uma cara, um formato e um sentido de pertencimento para essas pessoas", afirma Baldaia.

Discurso econ�mico vira discurso moral

Outro atrativo do bolsonarismo � uma narrativa simplificada que rejeita lidar com constata��es cient�ficas (como o aquecimento global) e novas configura��es de vida que v�m modificando o mundo nas �ltimas d�cadas.

A ordem da tradi��o � usada como defesa.

"Nesse mundo t�o complexo, as pessoas est�o em busca de uma narrativa mais simples, conhecida, que d� seguran�a e sentido e ajude a entender esse caos", diz o pesquisador.


Bolsonaro com Paulo Guedes
Segundo pesquisadores, Bolsonaro lan�a m�o de simplifica��es para justificar problemas econ�micos (foto: Getty Images)

Tiago Medeiros Ara�jo, outro pesquisador do estudo, aponta que esse mecanismo tamb�m � usado pelo presidente para explicar os problemas econ�micos.

"Como a economia � complexa demais, ele consegue terceirizar a responsabilidade para coisas que est�o acontecendo em outros pa�ses: 'Tem infla��o, tem desemprego? Bom, isso est� acontecendo no mundo inteiro' � como ele se defende", afirma.

"Ou quando ele pressiona os governadores sobre o ICMS na alta dos combust�veis. Bolsonaro diz 'O que eu pude fazer sobre a pol�tica de combust�veis eu j� fiz, agora � com os governadores'. Ele terceiriza o problema e joga de maneira conflitiva."

As quest�es econ�micas se transformam em uma tem�tica que o bolsonarismo procura monopolizar: a causa moral.

"Nos grupos de WhatsApp de motoboys, de caminhoneiros, a quest�o econ�mica � muito ligada � causa moral. � representada, por exemplo, pelo pai de fam�lia que sai de casa para se arriscar", diz Baldaia.

"S�o popula��es de vulnerabilidade muito grande, e a� envolve uma dimens�o da macheza: 'Tem que ser muito homem para dirigir a moto, para rodar o caminh�o, para expandir fronteira agr�cola no oeste da Bahia, em Goi�s'. Isso facilita a ascens�o do bolsonarismo, com a figura do mach�o que bate na mesa para resolver."

"Bolsonaro diz ent�o que vai dar condi��es para esse homem prosperar e sustentar a fam�lia porque o estado n�o d� nada, ele s� atrapalha: apreende mercadoria, multa. Ent�o o discurso dele vai nesse sentido, dizendo 'Eu vou suspender as multas ambientais, eu vou facilitar para voc� o que o estado dificulta'", analisa Baldaia.

Outra forma de "simplifica��o" empreendida por Bolsonaro, segundo o pesquisador da IFBA, � o de atacar a institucionalidade democr�tica e a tentativa de desestabilizar o equil�brio entre os poderes.


Partidários de Bolsonaro em evento em Brasília
Partid�rios de Bolsonaro em evento em Bras�lia (foto: Getty Images)

"Nessa vis�o de mundo, tudo que envolve institucionalidade � coisa complicada. STF [Supremo Tribunal Federal] � coisa complicada. Se Bolsonaro n�o conseguiu fazer, apoiadores repetem, foi porque as institui��es n�o deixaram. Porque a C�mara atrapalha, o Senado atrapalha, os governadores atrapalham."

Na �ltima quinta-feira (21/04) o confronto com o STF teve nova crise com a concess�o do indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado um dia antes pelo Supremo justamente por tentativa de impedir o livre exerc�cio dos poderes da Uni�o.

'Reconhecimento social'

Na vis�o do soci�logo Jess� Souza, conhecido por estudar camadas da popula��o do "Brasil profundo" em livros como Os Batalhadores Brasileiros: Nova Classe M�dia ou Nova Classe Trabalhadora? (editora UFMG, 2010), "o tema chave aqui � a necessidade de 'reconhecimento social' - no caso, a partir da identifica��o com a figura de um l�der forte. Os dois grandes terrenos populacionais do Bolsonaro s�o do 'branco pobre' do Sul e de S�o Paulo e os evang�licos de todas as cores".

O soci�logo aponta, ainda, o ressentimento como um dos elementos do apoio a Bolsonaro.

"Ele atualiza no Brasil a manipula��o da raiva e do ressentimento de quem empobreceu com o capitalismo financeiro sem saber o porqu�. (...) Passa ent�o a ser joguete do l�der no qual veem como um dos seus: finalmente algu�m t�o raivoso e ressentido quanto eu na presid�ncia!"

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