
O empres�rio Marconi Ant�nio de Souza, de 71 anos, mora em Bras�lia e atua no ramo de m�quinas de cart�o de benef�cios corporativos, como vale-alimenta��o. Eleitor de Jair Bolsonaro (PL), ele considera que a economia no Brasil vai bem.
"Tivemos uma pandemia que ainda n�o acabou e que est� tendo uma fase aguda na China, temos uma interfer�ncia de uma guerra e um ano eleitoral. Mesmo assim, acho que a economia est� indo bem, porque o governo tomou medidas que fizeram com que houvesse uma rea��o, como redu��o de juros para financiamento imobili�rio", disse � BBC News Brasil.
A empresa de Marconi de Souza n�o encolheu, mas tamb�m n�o cresceu muito nos �ltimos dois anos. Ele atribui isso � pandemia e a fatores externos.
"Nossa empresa estabilizou em 2020 e cresceu um pouco no ano passado. O setor de turismo sofreu muito com a pandemia e alguns outros setores reduziram a produtividade por um problema de abastecimento que � global, mas a economia n�o andou para tr�s. Tem segmentos reclamando de barriga cheia", diz.
O empres�rio de Bras�lia faz parte dos 5% de brasileiros que, segundo a pesquisa de opini�o eleitoral BTG-FSB, divulgada em 25 de abril, consideram que o Brasil vive "um bom momento econ�mico". Outros 32% acreditam que o Brasil est� em crise econ�mica, mas conseguindo superar. A maioria, por�m - 62% - avalia que o Brasil est� em crise econ�mica e com dificuldade de superar.Alguns indicadores econ�micos importantes, como alta de pre�os, taxa elevada de desemprego e baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), alimentam esse cen�rio menos otimista. A infla��o no ano passado, de janeiro a dezembro de 2021, alcan�ou 10,06%, a pior taxa desde 2015. Levando em considera��o as 11 maiores economias da Am�rica Latina, o Brasil s� fica atr�s de Argentina e Venezuela, dois pa�ses que atravessam crises profundas, que v�o muito al�m dos problemas trazidos pela pandemia de covid-19 e suas repercuss�es.
Em mar�o, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a infla��o oficial do Brasil, acelerou para 1,62%, a maior taxa em 28 anos. E, recentemente, o Banco Mundial reduziu a proje��o de crescimento da economia brasileira de 1,4% para 0,7% em 2022.
Mas, ent�o, o que leva 5% dos eleitores a considerar que a economia vai bem? Quem � essa parcela da popula��o?
Segundo cientistas pol�ticas ouvidas pela reportagem, a explica��o pode estar no forte apoio desse p�blico ao atual governo e tamb�m no poder aquisitivo - muito ricos ou muito pobres. Entenda:
Apoiadores de Bolsonaro
Para a cientista pol�tica Andr�a de Freitas, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esses 5% s�o majoritariamente formados por pessoas que apoiam fortemente Bolsonaro. "Acredito que sejam o n�cleo duro de apoio ao bolsonarismo. Bolsonaro, mesmo nos piores momentos de avalia��o do governo, sempre mant�m algo em torno de 15 a 20% de aprova��o", disse � BBC News Brasil.
"Quando a gente vai olhando para v�rias perguntas das pesquisas de opini�o que direcionam o entrevistado a quest�es espec�ficas do governo, voc� sempre tem o n�cleo duro, que acha que tudo est� muito bem. Esses 5% s�o parte desse grupo."
Segundo Freitas, a percep��o desse eleitorado sobre a economia, portanto, est� mais ligada � identifica��o com Bolsonaro do que com a situa��o socioecon�mica dessas pessoas. Isso porque, destaca a professora, embora haja setores menos afetados pela infla��o e o baixo crescimento econ�mico, nenhum deles est� se beneficiando fortemente do estado atual da economia.

"Eu n�o acho que tenha um setor que esteja se beneficiando, seja de pol�ticas p�blicas ou de aus�ncia das pol�ticas p�blicas do Estado para economia. Todo mundo est�, de alguma forma, sendo afetado pela queda no consumo, causada pela diminui��o da renda e pelo aumento do desemprego", diz.
Segundo ela, nesse contexto, os eleitores que integram o n�cleo duro de Bolsonaro v�o utilizar "duas ferramentas racionais" para analisar o estado da economia.
Uma delas, diz Freitas, � distribuir responsabilidades. "Ele vai dizer que a responsabilidade � dos governadores que fecharam o com�rcio na pandemia, do Congresso, do Supremo Tribunal Federal ou da guerra da Ucr�nia. A segunda � afirmar que a economia poderia estar muito pior, n�o fosse por Bolsonaro."
A professora da Unicamp destaca que, de fato, a pandemia e a guerra s�o fatores que influenciam na economia. "Mas quando a gente vai olhar os indicadores frios, o Brasil est� pior do que muitas economias da Am�rica Latina. E todas elas, assim como o Brasil, est�o sendo afetadas pela guerra e pela pandemia."
O empres�rio Marconi de Souza tem outra avalia��o. Para ele, parte da "imprensa e advers�rios de Bolsonaro" pintam um quadro excessivamente dram�tico da economia.
"Os segmentos do Brasil que t�m problema n�o est�o tendo problema por causa da forma como o governo trabalha. O segmento que sofreu muito � o informal: o cara que vendia pipoca na praia, no sem�foro, perto dos est�dios. Com o 'fica em casa' durante a pandemia, esses segmentos tiveram preju�zos. Mas o governo atendeu dando o auxilio emergencial", argumenta.
"Como a gente est� num ano eleitoral, as pessoas est�o querendo tomar proveito disso. Tem gente querendo queimar o governo."
Muito rico e muito pobre
J� a professora de Ci�ncia Pol�tica Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de S�o Carlos (UFSCar) avalia que os 5% que consideram que a economia vai bem s�o os muito ricos ou muito pobres - esses �ltimos beneficiados recentemente com o Aux�lio Brasil.
"Essas pessoas devem integrar as camadas mais ricas que, independentemente da infla��o ou das condi��es sociais e pol�ticas, v�o manter um patamar de riqueza", avalia. "Ou � o segmento muito pobre que, independentemente da situa��o, n�o enxerga potencial de melhora na pr�pria condi��o de vida. S�o pessoas em condi��o vulner�vel, com baixa inteligibilidade do que se decide politicamente e o impacto dessas decis�es na pol�tica."
Entre os integrantes dessa camada mais pobre, o recebimento do Aux�lio Brasil pode ter contribu�do para uma percep��o mais positiva do estado da economia, diz a professora. Esse programa de transfer�ncia de renda foi Institu�do pelo governo Bolsonaro para substituir o Bolsa Fam�lia e paga cerca de R$ 400 por m�s a cerca de 18 milh�es de fam�lias. A cria��o do Aux�lio Brasil foi alvo de controv�rsia, com cr�ticos afirmando que ele teria car�ter eleitoreiro.
Por sua vez, Andr�a Freitas, da Unicamp, acredita que o benef�cio em si, sozinho, n�o seria suficiente para gerar essa avalia��o positiva. Para ela, o componente ideol�gico, de apoio a Bolsonaro, � o fator principal, enquanto o Aux�lio Fam�lia seria o argumento racional usado para justificar a percep��o otimista sobre a economia.
"N�o � que o aux�lio n�o fa�a diferen�a, mas eu acho que, de novo, ele entra nesse lugar da argumenta��o racional", diz.
"Pode haver pessoas que est�o recebendo aux�lio e que sintam que est�o melhores do que antes. Mas eu n�o acho que � isso que vai conduzir necessariamente o voto no Bolsonaro, porque o processo de implementa��o do programa foi confuso e gerou a percep��o de uma pol�tica inst�vel."
Economia ser� tema central da elei��o

O fato � que a economia dever� ser o principal tema da elei��o presidencial deste ano. E a melhora ou piora nos indicadores deve ter efeito direto na aprova��o de Bolsonaro.
Segundo a consultoria internacional Eurasia Group, a principal preocupa��o do eleitor atualmente � "renda e emprego". Entre mar�o e abril, pesquisas de inten��o de voto revelaram um avan�o de Bolsonaro, embora o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) continue � frente em todos os cen�rios para o primeiro e segundo turno. Lula aparece com 41% a 45% das inten��es de voto, dependendo da pesquisa, e Bolsonaro com 30% a 32%.
E, em m�dia, o percentual dos que aprovam a gest�o de Bolsonaro subiu de 30% para 35% nos primeiros tr�s meses deste ano. A Eurasia Group atribui a melhora na avalia��o de Bolsonaro "� modesta recupera��o do poder de renda" da popula��o mais pobre nos primeiros meses deste ano devido a medidas pontuais.
"No segundo semestre de 2021, a renda real no Brasil caiu 11%, impulsionada por um aumento inflacion�rio maior do que o previsto, que atingiu duramente as fam�lias de baixa renda. Mas, no in�cio de 2022, essas fam�lias recuperaram parcialmente a renda perdida com o reajuste anual de 10% do sal�rio m�nimo nacional, 13º sal�rio para aposentados e algumas medidas tomadas pelo governo, como o perd�o da d�vida estudantil e libera��o de saques do FGTS", diz a consultoria.
Apesar dessa leve recupera��o na renda, a situa��o econ�mica do pa�s continua dif�cil, com alta nos pre�os dos alimentos e combust�veis. No acumulado de 12 meses, a infla��o chegou a 11,3%. Alimentos e combust�veis s�o alguns dos setores mais afetados.
O pre�o m�dio do litro da gasolina ficou em R$ 7,283 na �ltima semana de abril, o que representa uma alta de 0,18% em rela��o ao levantamento anterior.
Trata-se do maior valor nominal pago pelos consumidores desde que a Ag�ncia Nacional do Petr�leo (ANP) passou a fazer levantamento semanal de pre�os, em 2004. J� a taxa de desemprego no primeiro trimestre de 2022 foi de 11,1%, o mesmo patamar do primeiro trimestre de 2021. � uma taxa menor que a projetada pela ag�ncia Bloomberg, de 11,4%.
Segundo a consultoria Eurasia, Bolsonaro precisa de avan�os mais substanciais nos indicadores econ�micos para continuar crescendo nas pesquisas.
Socorro Braga, professora da UFSCar lembra que, historicamente, eleitores culpavam o candidato � reelei��o pelas crises econ�micas em vigor. Mas o cen�rio atual, de pandemia seguida por uma guerra na Ucr�nia, viabilizou uma narrativa de culpabiliza��o de fatores externos.
"A infla��o no Brasil est� alta e atinge a classe m�dia. Nas elei��es anteriores, quanto maior a infla��o, menor capacidade de compra e, como consequ�ncia, culpava-se o governo", diz.
"Mas uma parcela da popula��o, sobretudo esses 5% que consideram que a economia vai bem, est� culpando o efeito da pandemia ou da guerra, e n�o a falta de pol�ticas efetivas para debelar essa situa��o. � uma narrativa forte voc� dizer que isso � consequ�ncia de uma guerra, da falta de insumos e da pandemia."
Resta saber se essa narrativa vai ganhar for�a ou perder espa�o ao longo da campanha eleitoral.
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