
Juntos, os dois grupos somam 53% do eleitorado. O restante (47%) � composto pelos chamados "n�o-partid�rios" ou simpatizantes de outros partidos.
Para Zucco, os n�meros indicam grandes chances de que candidatos do PT cheguem ao segundo turno das elei��es presidenciais. Por outro lado, ele diz, a vantagem percentual de antipetistas n�o representar�, necessariamente, uma vantagem significativa para candidatos que se oponham ao PT como, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para o pesquisador, em elei��es particularmente disputadas, como a deste ano, a avalia��o de cada eleitor a respeito da economia dever� pesar mais do que a antipatia ou simpatia partid�ria para a parcela do eleitorado que n�o � petista e nem antipetista.
Identidade partid�ria
O foco do estudo conduzido pelos professores � mensurar e compreender os mecanismos que levam as pessoas a se identificaram ou n�o com os partidos pol�ticos. Historicamente, os partidos v�m sendo considerados elementos fundamentais para a estabilidade dos regimes democr�ticos.
Segundo os pesquisadores, os dados do estudo ainda est�o sendo processados. Al�m de avaliar a propor��o de petistas e antipetistas, a pesquisa tamb�m fez perguntas para saber de qu� forma os dois grupos veem um ao outro. A ideia � avaliar qu�o longe ou perto ideologicamente esses dois segmentos est�o.
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Em 2018, Zucco e Samuels lan�aram um livro sobre o assunto com foco no Brasil: "Partisans, Antipartisans, and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil" (Partid�rios, Antipartid�rios e N�o-partid�rios: o comportamento do voto no Brasil, na tradu��o para o portugu�s).
As pesquisas sobre o tema comumente dividem os eleitores em alguns grupos. Em um grupo, existem as pessoas que se identificam com um partido. Elas s�o chamadas de partid�rias.
Em outro grupo est�o aquelas que rejeitam um ou mais partidos, chamadas de anti-partid�rias. H� tamb�m um outro grupo no qual est�o as pessoas que n�o se identificam com um partido e nem rejeitam uma ou mais legendas espec�ficas. Esse grupo � chamado de apartid�rio ou n�o-partid�rio.

Zucco explicou que os primeiros estudos sobre a identifica��o das pessoas com partidos, especialmente os focados na realidade norte-americana, mostravam um cen�rio diferente do encontrado no Brasil.
Como o sistema partid�rio dos Estados Unidos � dominado pelo duelo entre o Partido Republicano e o Partido Democrata, era comum encontrar uma grande parte do eleitorado que dizia se identificar com um partido e que, automaticamente, afirmava ser contra o outro.
Esse modelo, no entanto, n�o se encaixou � realidade brasileira.
"Nos Estados Unidos, quase sempre quem simpatiza com um partido, antipatiza com o outro. Mas no Brasil, a gente descobriu algo diferente. Aqui, havia um contingente grande de pessoas que n�o tinha uma prefer�ncia espec�fica, mas que n�o gostava de um partido em particular. E esse partido, quase sempre era o PT", explicou o pesquisador em entrevista � BBC News Brasil.
Zucco afirmou que esse n�vel de antipatia por um �nico partido � incomum. "Esse grau de antipartidarismo ligado a um partido s� n�o � comum. Talvez, poder�amos fazer um paralelo com o peronismo (corrente pol�tico-ideol�gica criada pelo ex-presidente Juan Domingo Peron a partir dos anos 1940), mesmo assim o paralelo n�o seria perfeito. [O que acontece] no Brasil � inusual e demoramos um pouco para perceber", avalia o pesquisador.
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Zucco, que j� foi professor na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, disse que o antipetismo surgiu no mesmo momento em que o PT come�ou a crescer. O PT foi fundado em S�o Paulo no dia 10 de fevereiro de 1980, nos �ltimos anos da Ditadura Militar (1964 a 1985).

Nos anos 1980, o partido elegeu seus primeiros filiados e foi ao segundo turno das elei��es presidenciais de 1989, quando Luiz In�cio Lula da Silva (PT) perdeu para Fernando Collor (PTB). Entre 2002 e 2018, o partido venceu quatro elei��es presidenciais consecutivas e foi ao segundo turno na �ltima.
"Em termos num�ricos, os dados mostram que o antipetismo seguiu a mesma evolu��o do PT. � medida em que o PT foi crescendo ao longo dos anos 1990, a quantidade de antipetistas tamb�m foi crescendo. Ao longo das d�cadas desse s�culo, houve momentos em que havia um contingente maior de petistas e outros em que havia mais antipetistas", disse o professor.
Quais as diferen�as entre petistas e antipetistas?
A pesquisa conduzida pelos tr�s professores tamb�m fez uma an�lise sobre o perfil sociodemogr�fico de petistas e antipetistas. A ideia era saber quais as principais diferen�as entre esses dois grupos.
Em s�ntese, os dados mostraram que, atualmente, h� mais ricos e evang�licos entre os antipetistas. Do outro lado, h� mais negros e pardos, jovens, mulheres e nordestinos entre os que se dizem petistas.
Usando o perfil m�dio da popula��o brasileira como padr�o, a pesquisa identificou por, exemplo, que nas classes sociais mais altas (A e B), h� 13,1 pontos percentuais a mais entre antipetistas. Entre os evang�licos, essa vantagem � de 11,1 pontos percentuais.
J� entre os n�o-brancos (pretos e pardos, principalmente), h� 16,1 pontos percentuais mais petistas que antipetistas. Entre os nordestinos, a vantagem petista � de 16.2 pontos percentuais e entre jovens de 13,8. Entre as mulheres, essa vantagem � de 1,7 ponto percentual.
Zucco explica que os dados coletados no primeiro semestre deste ano consolidam uma tend�ncia de diferencia��o sociodemogr�fica entre os dois grupos que come�ou a ser observada em 2010 e que teria se intensificado em 2018.
Zucco afirma que n�o � poss�vel comparar o petismo com o bolsonarismo uma vez que o bolsonarismo n�o � um partido. Ele diz, ainda que nem todo antipetista �, necessariamente, bolsonarista.
"Esse grupo (antipetistas) convergiu para o Bolsonaro e pode convergir para outro (candidato). N�o h� uma liga��o intr�nseca, org�nica ou institucional do antipetismo com Bolsonaro. A probabilidade � que esse grupo vai continuar existindo e, se n�o tiver Bolsonaro, vai votar em outro candidato", diz o professor.
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"Baderna", corrup��o e valores
O pesquisador afirma que o antipetismo teve v�rias fases desde o seu surgimento, praticamente junto com o crescimento do PT, nos anos 1980. Inicialmente, a principal diferen�a entre os dois grupos se dava na rela��o de ambos com a democracia. Depois, o foco passou a ser a corrup��o. Mais recentemente, a pauta de valores e costumes passou a ser relevante.
No livro publicado com David Samuels, em 2018, Zucco e explica que, � medida em que o PT recrutou seus filiados divulgando uma mensagem de que a democracia deveria ser uma for�a para a mudan�a social, o antipetismo cresceu entre pessoas que tinham uma vis�o diferente sobre o papel da pol�tica e da democracia.
Os dados coletados pela dupla at� 2014, por exemplo, mostram que, na m�dia, os petistas eram mais propensos a se engajar em algum tipo de ativismo junto � sociedade civil do que antipetistas. "Tem uma fase inicial nos anos 1990 em que os antipetistas eram aqueles que associavam o PT a baderna e a greves", explica Zucco � BBC News Brasil.

"Uma segunda fase do antipetismo surge com o PT no poder. � a� que come�a aparecer o tema da corrup��o (como justificativa para o antipetismo). Isso vira um tra�o marcante, mas n�o criou o antipetismo", salientou Zucco.
Durante os anos em que o PT esteve no poder, o partido teve alguns de seus principais l�deres presos por acusa��es de corrup��o como nos casos do mensal�o e da Opera��o Lava Jato.
O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), que concorre a um terceiro mandato neste ano, ficou 580 dias preso ap�s ser condenado por corrup��o passiva e lavagem de dinheiro. Suas condena��es foram anuladas em 2021 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que lhe devolveu a possibilidade de se candidatar a cargos eletivos.
Segundo o pesquisador, uma nova fase do antipetismo come�ou entre 2010 e 2014 quando temas relacionados � pauta de costumes como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo passaram a ganhar sali�ncia nas pesquisas. Al�m disso, come�am a ficar maiores as diferen�as socioecon�micas entre os dois grupos.
O fen�meno, segundo ele, se acirrou em 2018, o que, em parte, explica o apoio significativo do eleitorado evang�lico � candidatura de Jair Bolsonaro em 2018. De acordo com o Datafolha, 59% dos eleitores evang�licos afirmaram que votaram em Bolsonaro no segundo turno das elei��es. O ent�o candidato petista � Presid�ncia, Fernando Haddad, teve 26%.
Segundo Zucco, essa guinada do eleitorado evang�lico para o polo antipetista aconteceu, em grande parte, pela capacidade de Jair Bolsonaro mobilizar esse p�blico em 2018. "Bolsonaro conseguiu mobilizar o antipetismo e fez isso com as lideran�as evang�licas, tamb�m. Isso fez com que houvesse um salto grande dos votos do eleitor evang�lico em Bolsonaro muito perto das elei��es", disse.
Como a divis�o entre petistas e antipetistas afeta as elei��es?
Na avalia��o de Zucco, se propor��o entre petistas (24%), antipetistas (29%) e n�o-partid�rios (47%) se mantiver est�vel no futuro, a tend�ncia � que candidatos do PT quase sempre cheguem ao segundo turno das elei��es presidenciais.
"Essa divis�o aponta uma certa previsibilidade. H� grandes chances de o segundo turno das elei��es presidenciais no Brasil se d� entre um candidato do PT e um antipetista. Os dados n�o dizem quem vai ganhar as elei��es, mas ajudam a indicar quem pode ir para o segundo turno", explica.
Ainda segundo o pesquisador, os dados mostram que a forma como o eleitorado est� dividido torna dif�cil o surgimento de candidatura de "terceira via". "Esse cen�rio dificulta o surgimento de outros candidatos. Se um nome do PT sai com 25% das inten��es de voto e um antipetista tem uma inten��o de voto semelhante, o que sobra do eleitorado � pouco para algu�m fora desses espectros come�ar uma campanha. O restante do eleitorado n�o est� muito interessado nas elei��es e � um p�blico dif�cil de obter", explica.
Zucco diz esperar um aumento do petismo e do antipetismo ao longo da corrida eleitoral deste ano. Segundo ele, no entanto, o maior percentual de antipetistas n�o � suficiente para garantir uma vantagem para Bolsonaro neste momento.
"Numa elei��o presidencial, o foco � o presidente. Numa elei��o presidencial em que o presidente � candidato, o foco � no presidente ainda mais. O Bolsonaro n�o tem como escapar disso. O foco, agora, n�o � mais o PT", disse o pesquisador.
Zucco avalia que, � medida em que o eleitorado est� relativamente bem definido, o fator que dever� decidir as elei��es � o chamado voto econ�mico, uma vez que pesquisas recentes mostram que a convers�o de petistas em antipetistas e vice-versa � muito rara.
"Uma parcela significativa da popula��o j� tem o seu voto mais ou menos decidido, mas tem quase metade da popula��o sem essa identidade partid�ria. Eu acho que os n�o-partid�rios n�o ir�o votar pensando em petismo ou antipetismo. Eles v�o votar com o bolso", disse o professor.
Este texto foi originalmente publicado em Petistas e antipetistas s�o mais da metade do eleitorado brasileiro, aponta estudo in�dito
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