
O coordenador eleitoral do Minist�rio P�blico de Minas Gerais (MPMG), Edson de Resende Castro, assim como Moraes, atuou como promotor em elei��es no interior. Em entrevista ao Estado de Minas, ele recordou algumas fraudes comuns durante o tempo das elei��es manuais. “Na apura��o, por exemplo, aconteciam dois problemas b�sicos. Um que a gente poderia chamar de fraude mesmo, que era quando o escrutinador pegava um voto em que o eleitor escreveu, por exemplo, 3. A� o escrutinador, de m� f�, completava ali ou interpretava como sendo 8, por exemplo. O 5 virava 6. Assim, voc� tinha uma margem muito grande para fraude. Algu�m pode dizer: ‘ah, mas tem fiscal ali’. Sim, mas para transformar um 5 em 6 � uma fra��o de segundo, �s vezes completava � caneta, outras vezes nem completava, simplesmente colocava num montinho do candidato, at� porque os escrutinadores s�o todos eleitores tamb�m, todos tinham suas prefer�ncias”, conta.
O promotor tamb�m citou uma forma de fraude chamada de “mapismo”. Nesta modalidade, o presidente de mesa, ao preencher o boletim com os resultados parciais da apura��o, alterava as linhas ou colunas, invertendo o n�mero de votos entre candidatos para favorecer um deles. “Quando terminavam de contar ali na mesa, passavam aquilo para um mapa. Na hora de passar, trocavam uma linha. O candidato X tinha um voto, o outro tinha 50, e se invertia”.
A ex-vereadora de BH e deputada estadual por Minas Luzia Ferreira relembra outra forma de fraude para a qual ficava em alerta em seus tempos de fiscal nas apura��es. “�s vezes acontecia de uma concentra��o acima da m�dia para um candidato s� em uma urna e isso chamava a aten��o. Acontecia tamb�m de haver v�rios votos com a mesma grafia, o que tamb�m era indicativo de fraude, ainda mais se os votos fossem todos para o mesmo candidato. Poderia mostrar uma falsifica��o. Acontecia at� de uma pessoa j� entrar com a c�dula pronta e colocar na urna”.
Extravios
As formas de fraude lembradas pelos entrevistados da reportagem figuram na lista de irregularidades comuns do per�odo de elei��es manuais elencadas no site do TSE. Al�m delas, s�o citados problemas como o extravio de urnas, ou a troca por uma que estivesse j� repleta de c�dulas que favoreciam candidatos espec�ficos.
No momento da vota��o, era poss�vel tamb�m que mes�rios preenchessem as c�dulas que sobraram na se��o eleitoral e colocassem na urna. Outra forma de fraude ocorria quando um eleitor depositava um papel qualquer na urna, levava a c�dula oficial para fora da sala de vota��o, onde algu�m a preenchia e entregava a um pr�ximo votante. Este depositava a c�dula preenchida e retornava com uma em branco e o processo seguia assim por diante.
Na apura��o, al�m das pr�ticas lembradas pelo promotor Edson de Resende, os escrutinadores poderiam agir incluindo o n�mero de um partido em c�dulas onde o eleitor s� havia indicado o nome do candidato. Isso faria com que o voto fosse computado para a legenda, que se sobrepunha ao nome escrito.
Os votos em branco tamb�m poderiam ser preenchidos por um apurador mal-intencionado. Embora os eleitores s� pudessem usar canetas azuis ou pretas e os escrutinadores s� usassem a cor vermelha, havia casos de funcion�rios que levavam canetas escondidas ou trocavam a tinta.
Na chamada ‘fraude cantada’, quem informava os n�meros da apura��o para que o presidente da mesa os registrasse no mapa eleitoral trocava os valores para favorecer um candidato espec�fico.

Proposta rejeitada
Em agosto do ano passado, a C�mara dos Deputados rejeitou a �ltima proposta formal de trazer de volta o papel ao primeiro plano das elei��es brasileiras. De autoria da deputada federal bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), a Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) 135/19, previa que as urnas eletr�nicas gerassem um comprovante impresso dos votos, que poderiam ser auditados caso houvesse desconfian�a nos resultados apurados de forma informatizada. A ideia foi refor�ada diversas vezes pelo presidente Bolsonaro, e as For�as Armadas chegaram a fazer um desfile de tanques em frente ao Congresso Nacional durante a aprecia��o da PEC. Para especialistas, na pr�tica, a medida traria de volta os problemas da contagem manual de votos.
O voto em papel no Brasil
S�rie especial do Estado de Minas recorda o per�odo das elei��es manuais no pa�s, uma realidade desconhecida por boa parte dos eleitores atuais, que j� come�aram a escolher seus representantes pol�ticos atrav�s da urna eletr�nica.
Com entrevistas de personagens que atuaram nos pleitos com voto em papel e registros do acervo dos Di�rios Associados, a reportagem apresenta o cen�rio de obst�culos no acesso � democracia e de vulnerabilidade a erros e fraudes que tinham o poder de mudar o curso das elei��es.
As mat�rias ser�o publicadas at� a ter�a-feira (30/8). Leia as outras reportagens da s�rie:
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Voto em papel sujeito � interpreta��o ampliava o caos nas elei��es
Colaborou Renato Scapolatempore
