
Nas redes sociais, muitos eleitores — principalmente bolsonaristas — t�m lembrado de casos das elei��es de 2018 em que as pesquisas eleitorais n�o coincidiram com o resultado das urnas.
Os exemplos mais citados s�o os de Dilma Rousseff e Eduardo Suplicy, candidatos pelo PT ao Senado em Minas Gerais e S�o Paulo, respectivamente. E Romeu Zema (Novo) e Wilson Witzel (PSC), que disputaram e venceram as corridas pelo governo de Minas e Rio de Janeiro.
A ex-presidente e o ex-senador petistas lideraram as pesquisas Datafolha e Ibope para o Senado em seus Estados durante toda a corrida eleitoral em 2018, mas Dilma acabou em quarto lugar em Minas Gerais e Suplicy em terceiro em S�o Paulo. Com duas vagas para cada Estado a serem preenchidas naquele ano para o Senado, ambos ficaram sem assento no parlamento.
Zema e Witzel, por sua vez, apareciam ambos no terceiro lugar das pesquisas divulgadas na v�spera do primeiro turno e acabaram em primeiro lugar nas pesquisas boca de urna e nos resultados das elei��es apurados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).Essas discrep�ncias entre pesquisas e resultados nas urnas t�m sido citadas pelos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) como argumento para justificar a possibilidade de reelei��o do presidente, que se mant�m at� o momento em segundo lugar nas pesquisas, atr�s de Luiz In�cio Lula da Silva (PT).
Se n�s acredit�ssemos em pesquisas a Dilma seria eleita Senadora por Minas Gerais, Suplicy seria Senador por S�o Paulo e Bolsonaro perderia para todos os candidatos no 2° turno.
— Raquel Stasiaki (@RaquelStasiaki) September 17, 2022O DataFolha n�o � um instituto de pesquisas. � um instituto de literatura ficcional. Pelo DataFolha Dilma seria senadora, Romeu Zema e Witzel n�o passariam sequer para o segundo turno e bem, voc�s sabem, Bolsonaro perderia de todo mundo no segundo turno… Pura literatura…
— %uD83D%uDC4A%uD83C%uDDE7%uD83C%uDDF7 Marco Feliciano 2270 (@marcofeliciano) June 24, 2022Mas por que algumas pesquisas para senadores e governadores n�o refletiram os resultados das urnas em 2018? E � prov�vel que movimento semelhante aconte�a na corrida presidencial de 2022? Perguntamos a especialistas e explicamos aqui.
Por que pesquisas para senador e governador �s vezes n�o captam resultado das urnas
"Em primeiro lugar, as pesquisas eleitorais t�m como fun��o retratar o momento em que elas foram coletadas. Ela n�o t�m como fun��o fazer progn�sticos do que vai ocorrer nas elei��es", explica o estat�stico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan (EUA).
"Como elas retratam o momento em que foram coletadas, se existe uma mudan�a nas prefer�ncias do eleitorado entre o momento da coleta e a elei��o, as pesquisas n�o conseguem captar esse tipo de movimenta��o", acrescenta o especialista.
Para al�m dessa quest�o, que diz respeito � natureza das pesquisas eleitorais de forma geral, h� uma particularidade das disputas para governo e Senado: muita gente deixa para decidir o voto para esses postos na v�spera ou no pr�prio dia da elei��o, pois esses s�o cargos sobre os quais as pessoas acabam se informando menos ao longo da campanha.
"Para governador, em geral, o �ndice de indecisos na reta final � maior do que para presidente. Como esses indecisos v�o ter que se decidir, ainda que seja na �ltima hora, se essa escolha cria um movimento acelerado em dire��o a um candidato ou outro, pode haver uma dist�ncia entre o resultado da elei��o e o que foi indicado pelas pesquisas", diz Emerson Cervi, professor do Departamento de Ci�ncia Pol�tica da UFPR (Universidade Federal do Paran�).
Os dados das �ltimas pesquisas Ipec e Genial/Quaest ilustram bem esse quadro.
Nas pesquisas Ipec divulgadas nessa �ltima semana antes das elei��es, 83% dos eleitores dizem que sua decis�o de voto para presidente � definitiva, comparado a 58% que dizem o mesmo para o governo de S�o Paulo, 59% para o governo do Rio e 69% para o governo de Minas.
Nas pesquisas Genial/Quaest, 79% afirmam que seu voto para presidente � definitivo, ante 51% que dizem isso para sua escolha ao governo de S�o Paulo, 50% para governo do Rio e 57% para Minas. A margem de erro de ambas as pesquisas � de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Para senador, a decis�o de voto � tomada ainda mais no �ltimo momento, diz o professor da UFPR.
"O �ltimo cargo que o eleitor vai pensar � no senador", observa Cervi.
"Ele decide antes para deputado, que � algu�m que est� mais pr�ximo dele, �s vezes o eleitor at� conhece o candidato ou j� teve alguma rela��o com algu�m pr�ximo �quele candidato. J� o senador n�o tem capacidade de estabelecer pol�ticas p�blicas como um governador e n�o est� pr�ximo como um deputado, por conta disso, o senador � o �ltimo voto", acrescenta o cientista pol�tico.
Em S�o Paulo, por exemplo, na pesquisa Ipec espont�nea (quando o pesquisador n�o apresenta uma lista de candidatos ao entrevistado), apenas 14% n�o souberam ou n�o responderam sobre seu voto para presidente nesta �ltima semana antes da elei��o, ante 46% para governador e 62% para senador.
O que aconteceu em 2018
Para al�m dessas quest�es que dizem respeito a qualquer elei��o, o pleito de 2018 teve caracter�sticas espec�ficas que tamb�m contribu�ram para os resultados inesperados.
"2018 foi uma elei��o muito at�pica, em que movimentos de mudan�a acelerada se deram na �ltima semana, o que n�o � comum. Ent�o 2018 foi muito incomum e nada indica que teremos uma repeti��o disso agora na mesma intensidade", diz Cervi, da UFPR.
Segundo o cientista pol�tico, esse movimento at�pico foi impulsionado por uma onda "antipol�tica", de rep�dio aos pol�ticos tradicionais, que acabou beneficiando candidatos novatos e percebidos como outsiders.

"Quem costuma concorrer a senador? Ex-governadores, deputados de longa data, senadores, ex-ministros, ex-secret�rios de Estados. Esses caras tiveram que enfrentar a onda da nova pol�tica para duas vagas, o que fez que houvesse ainda mais inseguran�a na predi��o de resultados de 2018", explica Cervi.
Al�m disso, explica o professor, quando a elei��o para o Senado � para duas vagas, a op��o de eleitores pelo voto estrat�gico �s vezes sai pela culatra.
"Foi o que aconteceu aqui no Paran�, Requi�o [MDB] era candidato � reelei��o e acabou ficando em terceiro porque muitos eleitores queriam evitar a elei��o de Beto Richa [PSDB] em segundo. Os dois acabaram perdendo votos e entraram dois novos", exemplifica Cervi.
Em S�o Paulo, parte da esquerda votou em Mara Gabrilli (PSDB) na tentativa de evitar a elei��o de Major Ol�mpio (PSL) na segunda vaga ao Senado e, com votos da direita e da esquerda, Gabrilli acabou eleita ao lado de Ol�mpio, enquanto Suplicy ficou de fora.
"Nesse ano, h� apenas uma vaga para o Senado e n�o tem mais a onda da antipol�tica, ent�o � prov�vel que o grau de previsibilidade das elei��es para o Senado seja maior", acredita Cervi.
A onda de "antipol�tica" tamb�m foi determinante no sucesso de Zema e Witzel, avalia o cientista pol�tico.
"Ambos surfaram a onda antipol�tica e a onda bolsonarista. Houve uma verticaliza��o em 2018: os votos de Bolsonaro foram transferidos de um forma que nem PT ou PSDB conseguiram fazer antes na mesma intensidade", observa.
"Quem votou em Bolsonaro, votou no candidato do Bolsonaro para governador, para senador e para deputado. Quando comparamos os desempenhos de Witzel, Zema e Bolsonaro por zona eleitoral, h� uma alta taxa de correla��o. Ent�o quem votou em um, tendeu a votar no outro."
E agora em 2002?
Ent�o, porque algumas pesquisas para senador e governador n�o conseguiram captar o resultado das urnas em 2018, o mesmo pode acontecer na corrida para presidente em 2002?
Os especialistas avaliam que isso � improv�vel.
"Existe uma decis�o de �ltima hora muito maior para elei��es de Senado e governo do que para presidente. Como para presidente muito provavelmente o voto j� foi estabelecido dias antes, �s vezes at� semanas ou meses antes para boa parte do eleitorado, n�o acontece tanto esse fen�meno de decis�o de voto no dia anterior", diz Nishimura, da Universidade de Michigan.
Cervi, da UFPR, observa que a onda de "antipol�tica" de 2018 se dissipou, e a elei��o desse ano parece ser de retorno dos pol�ticos tradicionais, com elevada taxa de reelei��o esperada nas elei��es proporcionais (para deputados).

Al�m disso, o �ndice de certeza de voto para presidente esse ano est� muito mais elevado do que em anos anteriores.
"Temos uma elei��o para presidente que j� est� pautada h� dois anos. Al�m disso, s�o dois candidatos muito conhecidos, pela primeira vez teremos um candidato � reelei��o e um ex-presidente disputando, ent�o o eleitor est� votando pensando no que cada governo fez por ele. Isso abriu pouqu�ssimo espa�o para os demais colocados", acrescenta.
Se para presidente uma mudan�a brusca na �ltima hora � improv�vel, para Senado e governadores, elas s�o mais plaus�veis, avalia o especialista.
"Reviravoltas podem acontecer. Elas s�o explicadas por movimentos de �ltima hora que n�o s�o captados pelas pesquisas, s�o um resultado normal da pol�tica", conclui.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63038862
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