
Voc� chega diante da urna eletr�nica, digita o n�mero do seu candidato e confirma. O que acontece com seu voto depois disso?
Imediatamente, sua escolha ser� gravada no Registro Digital do Voto, um compartimento dentro da urna que mant�m, em ordem aleat�ria, cada um dos votos registrados naquela m�quina.
Neste momento, � como se voc� estivesse depositando numa velha urna de lona a sua c�dula de papel. Ou como se derramasse uma gota de �gua dentro de um copo. Imposs�vel saber quem despejou cada gota — ou cada voto — na urna.
S� �s 17h do dia da elei��o, logo ap�s o encerramento da vota��o, que cada urna contar� eletronicamente os votos digitados ao longo do dia.
Quando termina o c�lculo, a urna imprime os resultados em ao menos cinco vias, s�o os chamados boletins de urna. Um deles fica na entrada do lugar de vota��o. Se for uma sala de aula de escola, onde muitos dos brasileiros costumam votar, por exemplo, � na porta dela que o boletim ser� colado. As outras c�pias s�o guardadas pela Justi�a Eleitoral e entregues a fiscais de partidos pol�ticos. Voc� tamb�m poder� acessar os boletins de urna online, em tempo real.Mas esse n�o � o destino final do seu voto. Cada urna tamb�m salva os resultados em um pendrive. Esse pendrive viajar� at� um ponto de transmiss�o seguro, onde entrar� na rede de dados privada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e desembocar� em supercomputadores em Bras�lia. Essas m�quinas v�o somar os resultados de mais de 500 mil urnas eletr�nicas.
A viagem do seu voto pode acontecer de muitas maneiras. Motoboys a servi�o da Justi�a Eleitoral, por exemplo, podem coletar os pendrives de uma escola e lev�-los at� um cart�rio eleitoral, onde o material ser� transmitido via rede privativa. Um computador conectado em uma rede VPN, ou seja, privada, no pr�prio local de vota��o, tamb�m pode fazer essa transmiss�o. Em �reas remotas, um telefone via sat�lite ligar� o computador que transmitir� os dados. Nunca � usada a internet comum, aquela que voc� tem em casa.
A partir das 17h20, mais ou menos, os primeiros votos j� come�am a desembarcar no TSE.
Em Bras�lia, seu voto entrar� nos supercomputadores junto com todos os outros dados na urna da sua se��o eleitoral.
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Esses potentes computadores s�o os �nicos com as chaves para ler todas as criptografias usadas pelas urnas pra proteger os votos. Eles sabem identificar precisamente de onde veio cada boletim de urna. Se houver qualquer d�vida ou suspeita, o dado n�o � aceito e uma recontagem pode ser feita na urna original.
Ou seja, n�o adianta algu�m achar que pode usar um outro pendrive, que n�o o original, e transmitir dados que n�o correspondam aos votos registrados na urna. Isso porque os supercomputadores sabem identificar e ler a criptografia correspondente a cada pendrive usado em cada uma das mais de 500 mil urnas. Se recebessem dados estranhos, eles seriam rejeitados pelos supercomputadores, haveria um alerta e seria feita uma recontagem na urna cujos dados do pendrive apresentam inconsist�ncias.
Por isso, a chance de uma tentativa de fraude ser bem sucedida � zero, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, contrariando a vis�o propagada pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reelei��o.
Vale lembrar que o que impulsionou o uso da urna eletr�nica no Brasil, em 1996, foi a grande quantidade de fraudes com c�dulas de papel.
"Chegava uma c�dula em branco e se dava um jeito de, no momento de abrir a c�dula, escrever alguma coisa, algum rabisco que j� virava um voto. Tinha gente que botava at� grafite embaixo da unha para abrir uma c�dula em branco, a� j� dava um rabisco de um n�mero ali e j� virava um voto, subtraia-se c�lulas… Quer dizer, era uma festa na quest�o de fraudes", diz � BBC News Brasil Giuseppe Dutra, ex-secret�rio de tecnologia do TSE.
Os supercomputadores ficam em uma sala fria e intensamente iluminada, filmada 24 horas por dia, sete dias por semana, e de n�vel 5 de prote��o. Isso significa que, para entrar nela, � preciso passar por cinco portas diferentes. As �ltimas portas exigem biometria de ao menos duas pessoas para se abrirem. L� dentro, o barulho das m�quinas � intenso e o ar � mais seco do que o normal. Detectores de fuma�a permanecem ativados, para garantir que os processadores que d�o conta de bilh�es de dados possam trabalhar em sua m�xima pot�ncia e com seguran�a.
Ningu�m fica dentro dessa sala. E nem um ser humano conta votos no TSE. Durante a contagem, a equipe t�cnica e os fiscais dos partidos ficam todos na sala ao lado, visualizando os trabalhos dos computadores pelos monitores das c�meras e observando os indicativos de efici�ncia que as m�quinas d�o.
A cada dez ou 15 minutos, os supercomputadores fornecem uma nova rodada de resultados parciais, j� que a cada segundo recebem mais e mais resultados de urnas espalhadas pelo Brasil. Em algumas horas, a quantidade de votos apurados permite determinar quem venceu na disputa. � o fim da a��o que voc� — e outros milh�es de brasileiros — iniciou horas antes, ao digitar sua escolha na urna.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63080404
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