Alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL), os sanit�rios criados com o objetivo, entre outros, de acolher a popula��o trans viraram alvo de fake news em redes sociais. Elas diziam que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) iria implantar a iniciativa em escolas de educa��o infantil.
Na semana passada, a campanha do petista publicou em seu site um texto para negar que ele tivesse essa inten��o. No s�bado (8/10), a campanha foi al�m e divulgou: "Lula � a favor de banheiros separados".
"Se voc� receber essa fake de algu�m, explique para a pessoa que se trata de uma mentira e que o risco real que as crian�as brasileiras est�o correndo � morrerem de fome!", diz o texto no site da campanha petista.A publica��o foi feita dois dias ap�s Bolsonaro mencionar o tema. "Ningu�m quer que a sua filha v� no intervalo de escola e no banheiro est� um moleque, l� dentro, fazendo suas necessidades tamb�m", afirmou o presidente.
Tamb�m na Para�ba o tema foi alvo de fake news que imputou a cria��o dos sanit�rios ao governador e candidato � reelei��o Jo�o Azevedo (PSB).
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que, em meio a dilema sobre como reagir � pauta de costumes, a campanha de Lula tinha o diagn�stico de que a afirma��o de que o petista poderia criar banheiros unissex nas escolas estava ganhando musculatura entre eleitores.
Embora tenham aparecido com mais evid�ncia agora na campanha presidencial, os banheiros unissex, ou multig�nero, entraram na mira de legisla��es municipais h� mais tempo.
S� nos �ltimos meses, a proibi��o desses sanit�rios j� foi aprovada nas C�maras de vereadores de Juiz de Fora (MG), Joinville (SC) e Vit�ria (ES).
Em Limeira (SP), onde tramitou projeto com teor semelhante, a consultoria t�cnica do Legislativo municipal manifestou-se contra, citando estudo realizado pelo soci�logo Fabr�cio de Sousa Sampaio em uma escola p�blica em Sobral (CE).
Um dos depoimentos que consta do trabalho mostra o efeito do uso do banheiro sobre alguns grupos de alunos.
"Na escola em quest�o, os visivelmente afeminados fogem do banheiro masculino por temerem repres�lias e a grande maioria -de acordo com relatos dos alunos Jos�, Alisson e Pedro- ficam as aulas todas sem ir ao banheiro por justamente n�o serem aceitos no banheiro feminino".
Os banheiros unissex, ou multig�nero, passaram a ser implantados em algumas empresas e universidades nos �ltimos anos como uma forma de evitar discrimina��o contra a popula��o trans no acesso a esse espa�o.
Mas h� uma distor��o na forma como o tema � tratado, diz Viviane Vergueiro, pesquisadora do N�cleo de Pesquisa e Extens�o em Culturas, G�neros e Sexualidades da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
"N�o necessariamente a demanda da popula��o trans parte da bandeira de banheiros multig�nero ou unissex. Ela parte da ideia de que as pessoas trans, como todas as pessoas, t�m o direito de utiliza��o dos espa�os p�blicos", afirma.
Para Viviane, � um engano pensar que a transforma��o da iniciativa em tema de campanha afeta apenas a popula��o trans.
"Muitas vezes as pautas da popula��o trans n�o s�o somente da popula��o trans. Elas s�o pautas para pessoas terem mais liberdade para se expressarem, terem direito a acessar espa�os p�blicos sem discrimina��o, e isso n�o se restringe �s popula��es trans."
A manipula��o do medo sobre a sexualidade das crian�as j� esteve fortemente presente nas elei��es de 2018, com fake news sobre o material anti-homofobia analisado pelo Minist�rio da Educa��o no governo Dilma Rousseff (PT).
Pejorativamente chamado de "kit gay", ele nunca chegou �s salas de aula, mas voltou a circular em fake news na campanha de 2022.