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Como caminhoneiros se tornaram parte da base eleitoral de Bolsonaro

Categoria participa de bloqueios em estradas de todo pa�s ap�s vit�ria de Lula nas elei��es presidenciais


02/11/2022 08:14 - atualizado 02/11/2022 08:51
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Caminhões
(foto: Getty Images)

Desde que o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi derrotado nas urnas em sua tentativa de reelei��o, seus apoiadores, boa parte deles caminhoneiros, fecharam estradas pelo pa�s.

At� a manh� desta ter�a-feira (01/11), eram mais de 300 bloqueios, em rodovias federais e estaduais, em 24 Estados e no Distrito Federal, apesar da determina��o do Supremo Tribunal Federal (STF) para o desbloqueio das vias.

Apesar dos protestos n�o serem apenas de caminhoneiros - e nem todos concordarem com as a��es -, a categoria tem papel importante no movimento e, em sua maioria, apoiou a campanha de Bolsonaro.

Os caminhoneiros tamb�m exercem frequentemente press�o sobre o governo e, desde o in�cio do mandato de Bolsonaro t�m recebido acenos do presidente como uma base eleitoral importante.

Segundo o cientista pol�tico Francisco Fonseca, professor da FGV/Eaesp e da PUC-SP, a categoria se tornou uma importante base eleitoral para o presidente principalmente por conta de algumas das pautas defendidas por Bolsonaro - como a facilita��o do acesso a armas de fogo e a pauta de costumes - e ap�s reiteradas declara��es e acenos em favor da diminui��o do pre�o dos combust�veis.

"Historicamente, a pauta que mais atra�a os caminhoneiros era a coorporativa, de melhoria das condi��es de vida e das estradas - afinal eles s�o trabalhadores como muitos outros", afirmou Fonseca a BBC News Brasil.

"O movimento de alinhamento de parte desse grupo ao bolsonarismo e � direita � algo mais recente e pode desaparecer uma vez que Lula assuma o poder e fa�a concess�es � categoria, como por exemplo desassociar os pre�os praticados pela Petrobras do petr�leo internacional."

O analista lembra, por�m, que os caminhoneiros n�o s�o necessariamente um grupo homog�neo que apoia sempre as mesmas ideias.

Mesmo as atuais manifesta��es t�m dividido a categoria - a Confedera��o Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Log�stica (CNTTL), uma das entidades que representam o grupo, criticou as a��es.

Acesso a armas e pauta de costumes

Para Fonseca, a promo��o de diversas a��es que facilitaram o acesso de civis a armas e muni��es e as declara��es de Bolsonaro sobre o tema podem atrair parte da categoria.

"O discurso passa uma falsa sensa��o de que os caminhoneiros, que muitas vezes transitam por estradas afastadas e dormem em locais perigosos, estariam mais protegidos portando uma arma", diz.

Al�m disso, segundo o cientista pol�tico, o ambiente em que os caminhoneiros trabalham � muito dominado por homens e, por vezes, machista e patriarcal. "As ideias sobre fam�lia, g�nero e religi�o defendidas por Jair Bolsonaro podem penetrar com mais facilidade nesse contexto."


Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro foi o primeiro presidente brasileiro que n�o conseguiu se reeleger (foto: EPA)

O professor da FGV e da PUC-SP afirma ainda que h�, como elemento comum de muitos governos da direita neoliberal e extrema-direita, a promo��o do trabalho aut�nomo como forma de conquistar liberdade econ�mica e sucesso sem o aux�lio do Estado ou da legisla��o trabalhista. "Essa ideia se tornou popular no Brasil entre motoristas de aplicativos e pode ter influenciado tamb�m os caminhoneiros", avalia.

Benef�cios

Parte do apoio da categoria tamb�m adv�m dos muitos benef�cios e concess�es feitas pelo Planalto ao longo dos �ltimos quatro anos.

Segundo Francisco Fonseca, muitas das medidas aprovadas s�o superficiais e provis�rias, mas podem ter atra�do a aten��o dos caminhoneiros.

A seguir, a BBC News Brasil listou algumas das principais a��es e os benef�cios concedidos pelo atual governo que impulsionam o apoio do grupo.

1. Redu��o das tarifas sobre o combust�vel

No final de junho, entrou em vigor no Brasil a legisla��o que limita as al�quotas do Imposto sobre Circula��o de Mercadorias e Produtos (ICMS) que incidem sobre itens considerados essenciais — como combust�veis, g�s natural, energia el�trica, comunica��es e transporte coletivo.

Sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro ap�s longas discuss�es e uma tramita��o demorada no Congresso, a proposta determina que Estados limitem a cobran�a do tributo, que � estadual, � al�quota m�nima de cada Estado, que varia entre 17% e 18%.

Ao mesmo tempo, o governo tamb�m zerou as al�quotas da Contribui��o para os Programas de Integra��o Social e de Forma��o do Patrim�nio do Servidor P�blico (PIS/Pasep) e da Contribui��o para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) — dois tributos federais — para os combust�veis.

As mudan�as impactaram diretamente no pre�o dos combust�veis nos postos e agradaram muitos caminhoneiros que dependem do diesel para trabalhar.


Diesel
(foto: Getty Images)

2. Trocas na Petrobras

Desde abril de 2021, a Petrobras j� teve quatro presidentes distintos. As mudan�as representam um aceno do presidente Jair Bolsonaro � popula��o - e aos caminhoneiros - de que est� buscando uma solu��o para o aumento nos pre�os dos combust�veis.

Em mar�o de 2021, quando se deu a primeira troca de comando pelo governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que se tratava de uma "satisfa��o pol�tica" do presidente aos caminhoneiros.

O economista Roberto Castello Branco foi removido do cargo diante de amea�as de uma greve da categoria em fun��o do aumento nos pre�os dos combust�veis na �poca. Pouco antes de sua demiss�o, Castello Branco chegou a dizer que a insatisfa��o dos caminhoneiros com a quest�o n�o era um "problema da Petrobras".

"Para o p�blico caminhoneiro, que s�o eleitores t�picos, fi�is do presidente Bolsonaro, o presidente deu uma satisfa��o: tirei o cara que disse que n�o liga para voc�s", disse Guedes na ocasi�o, em entrevista ao programa Pingos Nos Is, da Jovem Pan.

O substituto de Castello Branco, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, ficou no cargo at� abril de 2022, quando a estatal passou a subir novamente os pre�os do diesel e da gasolina como reflexo da alta do pre�o do barril de petr�leo no mercado internacional com a guerra na Ucr�nia.


Petrobras
(foto: Petrobras)

Silva e Luna, foi criticado por Bolsonaro por sua condu��o e substitu�do pelo empres�rio Jos� Mauro Ferreira Coelho. Por�m, pouco mais de dois meses ap�s assumir, ele anunciou sua demiss�o.

No final de junho, o executivo Caio Mario Paes de Andrade foi nomeado pelo governo.

3. Aux�lio caminhoneiro

O chamado Aux�lio Caminhoneiro, que faz parte do pacote social pr�-eleitoral criado pela chamada PEC Kamikaze, tamb�m � visto como um aceno que pode ter levado a categoria a apoiar Jair Bolsonaro durante e ap�s as elei��es.

A Proposta de Emenda � Constitui��o foi promulgada pelo Congresso no dia 14 de julho e seu custo total chega a R$ 41,2 bilh�es - al�m do aux�lio para os caminhoneiros, o pacote tamb�m aumentou o valor do Aux�lio Brasil e ampliou o vale-g�s, entre outros pontos.

O Aux�lio Caminhoneiro, em particular, prev� o pagamento de de R$ 1 mil mensais, entre julho e dezembro deste ano.

T�m direito ao benef�cio os transportadores aut�nomos de cargas com a situa��o cadastral "Ativo" no Registro Nacional de Transportadores Rodovi�rios de Cargas (RNTR-C) e que est�o com a Carteira Nacional de Habilita��o (CNH) e o CPF v�lidos.


Estrada bloqueada em Jacareí (SP); ao fundo, em passarela, apoiadores do presidente seguram bandeira com foto de Bolsonaro
Estrada bloqueada em Jacare� (SP); ao fundo, em passarela, apoiadores do presidente seguram bandeira com foto de Bolsonaro (foto: Reuters)

4. Mudan�as na tabela de frete

Em maio, o governo de Bolsonaro tamb�m editou uma medida provis�ria para reduzir o percentual de varia��o do pre�o de �leo diesel que serve como gatilho para a revis�o dos valores da tabela de frete do transporte rodovi�rio de cargas.

Com a medida, que est� em vigor desde que foi editada, mas s� foi aprovada pelo Senado no final de agosto, a tabela de frete passou a ser revisada cada vez que ocorrer varia��o de 5% no pre�o do diesel.

Antes, o reajuste ocorria apenas quando houvesse eleva��o de 10%, ou a cada seis meses.

A MP alterou a Pol�tica Nacional de Pisos M�nimos do Transporte Rodovi�rio de Cargas, criada em agosto de 2018 em raz�o da greve dos caminhoneiros.

Na ocasi�o, a categoria fez uma paralisa��o em todo o pa�s reivindicando, entre outros pontos, a cria��o de uma tabela com os pre�os m�nimos do frete. O valor m�nimo leva em considera��o, entre outros itens, gastos por quil�metro rodado e caracter�sticas das cargas.

Ao justificar a medida, o governo argumentou que a metodologia antiga se mostrava "insuficiente" para superar a eleva��o do pre�o do diesel.

5. Linhas de cr�dito

O governo tamb�m investiu em linhas de cr�ditos destinadas exclusivamente aos caminhoneiros.

Em fevereiro deste ano, a Caixa lan�ou a Giro Caixa Transportes. O mecanismo de empr�stimo permitir� aos caminhoneiros aut�nomos tomarem dinheiro com at� 120 dias de anteced�ncia para bancar os custos do transporte do frete.

Pouco depois, em abril, o Banco do Brasil anunciou um servi�o semelhante, chamado "BB Antecipa Frete".

O presidente Jair Bolsonaro participou das cerim�nias de lan�amento de ambas as linhas de cr�dito.

6. Promessa de abrigo gr�tis

Em fevereiro deste ano, Bolsonaro chegou a prometer em um v�deo divulgado em suas redes sociais que tentaria intervir para que os postos de gasolina sejam obrigados a abrigar gratuitamente o descanso de caminhoneiros nas estradas.

O v�deo foi gravado depois de uma viagem de Bolsonaro pelo Distrito Federal. No caminho, ele conversou com caminhoneiros e ouviu diversas cr�ticas.

Alguns representantes da categoria se queixaram que postos de combust�vel estavam autorizando a pernoite do caminh�o no local apenas mediante ao abastecimento ou pagamento de uma taxa.


Bloqueio com fogo em Várzea Grande, no Mato Grosso
Bloqueio com fogo em V�rzea Grande, no Mato Grosso (foto: Reuters)

"Conversei com um caminhoneiro aqui e ele reclamou que tem local do Brasil que, para dormir � noite no posto, s� se abastecer ou se pagar em torno de R$ 25", diz Bolsonaro no v�deo. O presidente chegou a ligar para o ministro da Justi�a, Anderson Torres, para pedir que ele autue os postos envolvidos.

Cerca de tr�s dias depois, o Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), notificou os representantes de revendedores de combust�veis sobre a suposta cobran�a.

Segundo a Senacon, os postos podem implantar locais de repouso e descanso para caminhoneiros, mas n�o podem condicionar a presta��o do servi�o ao abastecimento de combust�vel. J� a cobran�a pela pernoite � permitida.

O posicionamento do presidente, por�m, irritou entidades representantes dos postos, que alegaram que s�o os donos dos postos que investem na infraestrutura para garantir �rea de estacionamento, banheiro, refeit�rios e seguran�a para os caminhoneiros.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63478884


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