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Estado de Minas COBRAN�A

Tabata Amaral cobra combate � corrup��o e critica arrog�ncia na esquerda

'A �nica coisa que eu pe�o � que tenha di�logo', afirma Tabata, que inicialmente resistiu � ideia de apoiar o petista


16/12/2022 09:10 - atualizado 16/12/2022 10:58

Deputada federal reeleita, Tabata Amaral
Deputada federal reeleita, Tabata Amaral (foto: Reprodu��o/YouTube)
Reeleita com mais votos do que em sua primeira candidatura, a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) se prepara para deixar a oposi��o ao governo -de Jair Bolsonaro (PL), no caso- e virar base.

Mas a parlamentar de 29 anos diz � Folha de S.Paulo que ser aliada do presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva (PT) n�o vai tirar dela a vontade de alertar e criticar quando for preciso.

"A �nica coisa que eu pe�o � que tenha di�logo", afirma ela, que inicialmente resistiu � ideia de apoiar o petista.

A paulistana espera que o governo se comprometa com o combate � corrup��o, embora evite comentar esc�ndalos em gest�es do PT porque "falar do passado ajuda muito pouco". Ela sugere, no entanto, que Lula seja intransigente com as emendas de relator. "N�o se governa com o or�amento secreto."

H� poucos dias, durante evento do RenovaBR (organiza��o privada que a ajudou em sua estreia na pol�tica, em 2018), Tabata disse que vai "continuar sendo a doida que fala de modera��o e di�logo".

PERGUNTA - Ser moderada � o novo ser 'doida'?

TABATA AMARAL - Olha, foram quatro anos em que ser moderado e prezar pelo di�logo n�o foi o caminho mais f�cil. Foi um momento de muita divis�o e �dio. Uma das consequ�ncias dessa polariza��o � o holofote que se d� a quem tem uma posi��o mais extremada e n�o encara a realidade com a complexidade que ela tem. Essas pessoas conseguem dividendos pol�ticos, mas o custo para o povo � muito alto.

P. - Mas a sra. v� ambiente favor�vel depois de uma elei��o em que a divis�o ficou t�o escancarada?

TA - Tenho um pouquinho de esperan�a, espero contribuir. Primeiro porque a gente precisa. N�o vejo o Brasil se reconstruindo, desde a pauta econ�mica, a ambiental, passando pela educa��o, se n�o for com mais uni�o. Esse n�vel de polariza��o, em que quem pensa diferente � tratado como inimigo, � impratic�vel. Isso n�o � bom para a democracia.

Vejo um contexto mais favor�vel a partir de 2023. O presidente Lula � uma das figuras mais amplas da pol�tica brasileira. Em governos passados, levou para o governo pessoas que inclusive n�o o tinham apoiado na campanha. Dialogou com o Congresso e com quem pensava diferente. Aposto muito nessa amplitude dele e no cansa�o que a popula��o est� com essa divis�o toda.

P. - A sra. se op�s ao bolsonarismo, foi criticada pela esquerda e passou por reviravoltas, como a sua sa�da do PDT. Pensou na hip�tese de n�o se reeleger?

TA - Sim e n�o. Tomei decis�es ao longo do mandato que foram consideradas suic�dio pol�tico, como votar sim � reforma da Previd�ncia [contrariando seu partido da �poca, o PDT]. Quando acredito em algo, sigo esse caminho. Nem sempre v�o concordar. Quando voc� se prop�e a ter coer�ncia, toma atitudes que n�o s�o populares.

Digo que sim e n�o porque tenho a preocupa��o de sair do mandato inteira. Cresci ouvindo que pol�tico � tudo bandido, que ningu�m presta. Fa�o escolhas para manter a coer�ncia. Foi assim quando decidi apoiar o Lula no primeiro turno. Talvez fosse mais confort�vel apoiar uma candidatura de terceira via ou n�o me posicionar, mas eu realmente acreditava que o nosso pa�s, muito mais do que a democracia, estava em risco. Por mais que tenha sido um apoio que me custou muitos votos.

P. - A que atribui os 73 mil votos a mais que recebeu?

TA - Acredito que eu conhe�o o meu eleitor. Eu n�o me elegi com redes sociais. Meu eleitor era da periferia, de classe C, e estava menos preocupado com discuss�es do Twitter e mais com coisas concretas. Eu n�o estava l� [na C�mara] para fazer discurso lacrador no plen�rio, mas para fazer lutas como a da distribui��o de absorventes, do Fundeb [fundo ao financiamento da educa��o b�sica], da vacina dos professores, do ensino t�cnico. Ter aumentado a vota��o tem muito mais a ver com esse diploma de realidade do que qualquer outra coisa.

P. - Antes de apoiar Lula, a sra. disse em um jantar com empres�rios discordar 'de todos os posicionamentos que o PT' vinha tendo. Essas diverg�ncias foram sanadas?

TA - Tamb�m falei naquele jantar que tenho muito mais concord�ncias do que discord�ncias com o que foi o governo do PT. Mas, sim, existem diverg�ncias que se referem ao que aconteceu nos �ltimos anos. Quando eu falo, por exemplo, da import�ncia de n�o negociar com or�amento secreto, � porque acho que combate � corrup��o importa.
A corrup��o aconteceu no Brasil em todos os governos desde a redemocratiza��o. N�o � para dizer que a culpa � da esquerda, a culpa � da direita. � um problema cr�nico, que faz com que as pessoas, na periferia inclusive, n�o confiem na pol�tica e nos partidos. Se a gente n�o entende que a corrup��o � parte do que levou � elei��o do Bolsonaro e que o or�amento secreto � o maior esc�ndalo de corrup��o da nossa hist�ria recente, talvez a gente possa cometer o mesmo erro nessa dire��o.

P. - Acha que Lula deveria ter tido uma posi��o mais firme e repudiado casos que envolveram o PT?

TA - Acho que falar do passado ajuda muito pouco. At� porque � muito f�cil julgar depois que a coisa passou, n�? Agora, o que eu sei � o que d� para fazer de diferente para o futuro. Ser� que n�o vale a pena ter algo dentro do governo para pensar o combate � corrup��o? Outros pa�ses entenderam que o caminho era ter uma comiss�o interministerial voltada ao tema. � s� n�o colocar esse problema debaixo do tapete, sabe? � encarar como uma luta cont�nua.

P. - A sra. apoia a reelei��o de Arthur Lira (PP-AL) para a presid�ncia da C�mara, como indicou seu partido?

TA - Espero dizer a ele que � muito importante que a gente construa uma candidatura de uni�o. Obviamente, respeito a decis�o do meu partido, mas n�o d� para ser uma candidatura que v� deixar uma parte da C�mara brigando com a outra, causar mais divis�o.

P. - Mas � poss�vel?

TA - A diverg�ncia faz parte, n�? Faz, mas quero que as pessoas tenham no��o da gravidade do momento. N�o tem dinheiro para absolutamente nada. N�o temos or�amento para pagar merenda no ano que vem, para habita��o, para o Farm�cia Popular. Quero fazer um �nico pedido ao presidente Arthur Lira: que n�o seja a candidatura de um grupo, mas uma candidatura com pontos pactuados, pelo menos com o m�nimo para o Brasil se manter de p� nos pr�ximos anos.

P. - Como est� enxergando a nova composi��o da C�mara?

TA - Fiquei preocupada porque perdemos quadros importantes, que dialogavam e debatiam o que � importante para o pa�s, como Felipe Rigoni [Uni�o-ES], Marcelo Ramos [PSD-AM], Professor Israel Batista [PSB-DF]. E tivemos a entrada de pessoas que colhem os dividendos do radicalismo. Mas o tamanho da extrema direita, do radicalismo, seria um com Bolsonaro reeleito e ser� outro, reduzido, com a elei��o do Lula.
 
P. - Vai dar trabalho, fazer barulho, provocar?

TA - Vai. Mas estou menos preocupada com isso do que estava antes do segundo turno.

Minha segunda preocupa��o � com o fisiologismo, o n�vel de corrup��o que temos com o or�amento secreto. Tiraram dinheiro da merenda escolar para financiar a reelei��o do Bolsonaro. Dinheiro que dizem que est� indo para a educa��o, na verdade, n�o est�. Essa conta n�o vale a pena. Sou absolutamente contra. N�o se governa com o or�amento secreto. E vou tentar fazer esse convencimento.

P. - Defende ajustes no texto da PEC da Transi��o?

TA - A PEC � necess�ria, e votarei a favor dela. Mas precisamos de uma nova �ncora fiscal, que n�o pode ser t�o r�gida em um pa�s t�o desigual quanto o nosso. N�o tenho apego ao teto de gastos, at� porque ele n�o funcionou, n�o foi respeitado nos �ltimos quatro anos e n�o levou a uma melhor aloca��o de recursos. Nesse papel de modera��o ingrato, vou bater na tecla de que d� para conciliar as duas coisas [responsabilidade fiscal e social].

P. - A sra., que vem falando da necessidade de entender as raz�es do voto em Bolsonaro, j� descobriu algumas?

TA - Com certeza, a corrup��o dos governos anteriores � uma delas. A elei��o do Bolsonaro foi como se a popula��o dissesse que preferia que o sistema fosse implodido, por n�o acreditar mais na pol�tica. A esquerda e a direita precisam entender essa mensagem. Entender a corrup��o como sist�mica � um problema que a gente tem que encarar.
Outra raz�o � uma popula��o que se sente julgada. Tenho um exemplo: cresci em uma comunidade conservadora, sou religiosa, vou � missa todos os domingos. Nas minhas primeiras f�rias de Harvard, quando me entendi progressista, voltei [no estilo] p� na porta. Com qualquer piada, eu reagia: racista, preconceituoso, gordof�bico. At� que um amigo me falou que eu estava passando por uma lavagem cerebral. Aquilo me doeu muito, porque a minha primeira identidade � como uma pessoa perif�rica.

Uma parcela da esquerda age como se fosse moralmente superior, da mesma forma que eu estava agindo naquela ocasi�o. E a� tive que entender que s� estava trilhando um caminho diferente daquelas pessoas, com outras oportunidades, mas n�o era melhor do que elas. E acho que essa arrog�ncia de achar que n�o tem que debater corrup��o, de achar que quem pensa diferente � moralmente inferior, vai ter que ser desmanchada se a gente quiser pelo menos conversar com essas pessoas [bolsonaristas]

P. - Como ser� passar da oposi��o para a base do governo?

TA - Ningu�m nunca me viu indo para o plen�rio atacar algu�m pessoalmente ou fazer uma cr�tica que fosse para lacrar, para receber palminhas nas redes sociais. Com educa��o e respeito, nunca deixei de pontuar o que achava importante. Ent�o, quando houver algo de que eu discorde, eu vou trazer, porque quero o bem do meu pa�s.

Acho que o que muda � que eu vivi quatro anos em que n�o havia nenhum espa�o para dialogar, e a� talvez ficassem mais evidentes as minhas cr�ticas -que eram muito necess�rias a esse governo, diga-se de passagem. O que espero � que, com a abertura que est� sendo dada, eu possa ajudar a construir.

P. - Qual � a sua disposi��o de concorrer � Prefeitura de S�o Paulo em 2024, como se cogita?

TA - Sinceramente, acho um desrespeito com quem votou em mim eu, antes de come�ar o meu segundo mandato, pensar ou falar de uma pr�xima elei��o. O Brasil n�o est� bem neste momento. Disputei um segundo mandato por acreditar que posso ajudar nessa reconstru��o, especialmente na educa��o. Vou primeiro enfrentar 2023 antes de enfrentar 2024.

P. - Que aspectos do governo Tarc�sio de Freitas em S�o Paulo a sra. considera merecerem aten��o?

TA - N�o vou julgar antes que as coisas aconte�am, mas tenho alguns medos. Meu receio � S�o Paulo virar um cabide de emprego para bolsonarista derrotado. O que aconteceu em Bras�lia est� muito longe de ser o que eu quero para o estado. N�o tem nada de bom que possa ser aproveitado. Outra preocupa��o � que, se Tarc�sio foi eleito com apoio de um grupo pol�tico radical, � isso que vai ditar o ritmo daqui para a frente? Estamos precisando acalmar os �nimos. O governo de S�o Paulo n�o conversar com o federal � muito ruim para a popula��o.

RAIO-X

Tabata Claudia Amaral de Pontes, 29, cientista pol�tica e astrof�sica, � formada em Harvard, criou a ONG Mapa Educa��o e � cofundadora do Movimento Acredito, de renova��o pol�tica. Eleita deputada federal por S�o Paulo em 2018, saiu do PDT ap�s votar a favor da reforma da Previd�ncia e migrou para o PSB, partido pelo qual se reelegeu neste ano, com 337.873 votos (sexta mais votada no estado). � presidente municipal do PSB e cotada para concorrer � Prefeitura de S�o Paulo em 2024.


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