
Um grupo de empres�rios de S�o Paulo simp�ticos ao ex-presidente montou um plano inicial para custear a estadia do pol�tico no pa�s, para onde ele viajou no dia 30 de dezembro, visando evitar participar da transmiss�o da faixa presidencial para Luiz In�cio Lula da Silva (PT) no dia 1º de janeiro.
Foram acertadas com empres�rios americanos seis palestras sobre pol�tica, cada uma pagando US$ 10 mil (quase R$ 51 mil no c�mbio de hoje). Bolsonaro, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto, se comprometeu a proferir pelo menos uma delas.
A quest�o central, segundo aliados do ex-mandat�rio, � financeira. H� uma opacidade extrema acerca das condi��es da presen�a de Bolsonaro numa casa pertencente ao lutador de MMA Jos� Aldo em Kissimmee, regi�o de Orlando, na Fl�rida.
A Folha n�o conseguiu contato com a equipe do ex-presidente. O decreto que regulou a sa�da de Bolsonaro do pa�s com avi�o da For�a A�rea inclu�a 5 dos 8 funcion�rios a que ele tem direito como ex-presidente na comitiva.
Mas as imagens e relatos de conhecidos mostram que h� muito mais pessoas envolvidas, tanto que uma segunda casa no mesmo condom�nio foi ocupada pelo grupo, com o filho Carlos, vereador pelo Republicanos do Rio, � frente.
Com isso, os custos de uma estadia mais prolongada podem se tornar proibitivos, particularmente se forem expostas as fontes de financiamento. Uma di�ria no im�vel de Aldo custa o equivalente a R$ 2.600. Bolsonaro tem agora um sal�rio de R$ 45 mil como ex-deputado e militar reformado.
Seu partido, o PL, prometeu uma remunera��o equivalente ao teto do funcionalismo (R$ 39,3 mil hoje, R$ 41,6 mil a partir de abril) para complementar a renda de Bolsonaro, mas o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, condicionou isso � presen�a do ex-presidente no pa�s.
Esse grupo aliado recomendou a Bolsonaro abrir uma conta no Banco do Brasil em Orlando, para permitir acesso a seus fundos no Brasil. Essas pessoas afirmam que h� ainda a quest�o dos advogados de defesa, que n�o dever�o ser cobertos pelo PL.
S� no Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro responde a 16 a��es. L�, Bolsonaro e seu companheiro de chapa Walter Braga Netto (PL) podem acabar declarados ineleg�veis, dada a quantidade e provas que produziram contra si na campanha contra o sistema eleitoral brasileiro.
J� uma acusa��o criminal de fomentar um golpe de Estado, ainda que robustecida com a minuta nesse sentido encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres (Justi�a), n�o � de comprova��o t�o f�cil, na avalia��o de ministros do Supremo. Bolsonaro est� sendo investigado por isso tamb�m.
Tudo isso pesa na decis�o do ex-presidente acerca do que fazer, segundo os aliados. Apesar dos riscos legais, membros do PL t�m dito que Bolsonaro precisa voltar logo ao Brasil, sob pena de ver o apoio que lhe deu 49,1% dos votos v�lidos no segundo turno esvair-se ou, pior, migrar.
Os contatos s�o na maioria das vezes indiretos, j� que Bolsonaro isolou-se e trocou o n�mero de celular. Mas a movimenta��o relatada no condom�nio americano � grande. Um n�mero expressivo de pessoas pr�ximas de Bolsonaro est� ou esteve na Fl�rida desde que ele chegou, embora n�o se saiba quem o teria encontrado.
Torres foi um desses turistas, antes de ser exonerado do cargo de secret�rio de Seguran�a do Distrito Federal em pleno domingo do caos em Bras�lia. Ele negou ter se encontrado com o ex-presidente, assim como o ex-vice e senador eleito Hamilton Mour�o (Republicanos) - este, de todo modo, basicamente rompido com Bolsonaro.
O ex-ministro Torres teve a pris�o decretada pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que tamb�m preside o TSE e � o xerife das a��es contra os golpistas, e entregou-se no Brasil no s�bado (14). Outra figura do bolsonarismo no Estado � o foragido Allan dos Santos, influenciador digital com extradi��o pedida pelo Brasil.
A falta de transpar�ncia acerca dos planos de Bolsonaro acompanha o ex-presidente desde que ele saiu do pa�s. Nunca houve uma comunica��o oficial sobre seu itiner�rio, com aliados sugerindo que ele descansaria por tr�s meses nos EUA.
Inicialmente, ele ficaria no resort de Mar-a-Lago, de propriedade do ex-presidente americano Donald Trump, seu aliado e inspirador do ataque ao Capit�lio americano em 6 de janeiro de 2021, que serviu de modelo para os v�ndalos brasileiros. O plano acabou sendo mudado e ele foi para a casa em Kissimme.
No dia 9, sentindo dores abdominais, Bolsonaro internou-se em um hospital, onde recebeu diagn�stico de ader�ncias intestinais, problema que o aflige desde que levou a facada na campanha de 2018. Disse no dia seguinte � CNN Brasil que deveria antecipar sua volta.
"Eu vim para ficar at� o final do m�s, mas pretendo antecipar minha volta. Porque no Brasil os m�dicos j� sabem do meu problema de obstru��o intestinal por causa da facada", afirmou. Ap�s deixar o hospital no mesmo dia, contudo, n�o mais se falou no assunto.
H� tamb�m a quest�o do status legal do pol�tico. Ele viajou como chefe de Estado e seu visto, segundo o governo americano, expira nessa condi��o no fim de janeiro. A forma mais simples de permanecer � pedir um visto de turista, que permite perman�ncias de at� 90 dias, j� que a busca por uma resid�ncia permanente � mais complexa.
O problema nesse caso � que ele teria de sair e voltar aos EUA com essa periodicidade, caso quisesse se manter de forma mais ou menos indeterminada. Isso gera um problema pol�tico para o governo do democrata Joe Biden, cujo partido tem deputados pedindo a revoga��o da licen�a de Bolsonaro para ficar no pa�s.