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Estado de Minas IND�GENAS

Medo de repres�lia inibia den�ncias sobre crise dos yanomami, diz m�dica

Pediatra esteve nos lugares mais afetados do territ�rio yanomami no final de 2022 e conta como sa�de e modo de vida da popula��o local s�o afetados pelo garimpo


24/01/2023 06:19 - atualizado 26/01/2023 13:01


Médico examina indígena
M�dicos refor�a necessidade de ajuda humanit�ria ap�s sa�da de garimpeiros de terras yanomami (foto: Expedicion�rios da Sa�de)

A pediatra Priscila Tatiana Gon�alves, de Taubat� (SP), realiza atendimentos com ind�genas h� quase uma d�cada.

Ela � uma das volunt�rias da ONG Expedicion�rios da Sa�de (EDS), que desde 2004 planeja expedi��es para realizar consultas, exames e cirurgias em territ�rios ind�genas espalhados pela Amaz�nia.

Em novembro de 2022, a m�dica integrou uma comitiva que realizou uma a��o emergencial de sa�de no territ�rio yanomami.

Ao longo de dez dias, ela integrou uma equipe com outro colega m�dico e dois enfermeiros que visitou cinco unidades de sa�de ind�gena (Casai-Boa Vista, Xitei, Surucucu, Miss�o Catrimani e Demini), fez atendimentos m�dicos e distribuiu insumos e medicamentos b�sicos.

 

Em entrevista � BBC News Brasil, Gon�alves disse que o cen�rio j� era "terr�vel" e "absurdo". Ela tamb�m explicou que a crise s� ganhou uma propor��o maior agora porque h� uma "abertura para di�logo" e menos risco de repres�lias.

"At� recentemente, algumas enfermeiras que atuam nesses locais compartilhavam hist�rias de que sofriam v�rios tipos de repress�o. Alguns profissionais de sa�de que trabalhavam l� h� anos foram demitidos desde que a coordena��o do servi�o foi trocada. E os coordenadores que foram nomeados n�o tinham nenhuma afinidade com o assunto, nunca trabalharam com sa�de ind�gena", relatou.

A pediatra tamb�m destacou alguns casos marcantes que marcaram os dez dias de trabalho — como a morte de uma crian�a ind�gena com mal�ria cerebral que estava numa regi�o remota, sem acesso a qualquer tratamento.

Ela ainda ponderou sobre a necessidade de suporte aos ind�genas assim que os garimpeiros forem expulsos da regi�o.

"Temos que pensar como ficar� a situa��o desses ind�genas a partir de agora. O que vai acontecer se todos os garimpeiros forem retirados dali de uma hora para outra? Muitos jovens est�o envolvidos nesse trabalho. [...] Num primeiro momento, a sa�da dos garimpos ser� ruim para alguns. Porque os ind�genas j� n�o t�m nada e, quando sair esse garimpeiro que d� saco de arroz e espingarda, vai demorar um certo tempo at� eles conseguirem voltar ao modo de vida que tinham antes", aponta.

Confira os principais trechos da entrevista a seguir.

BBC News Brasil - Como a senhora teve contato com os yanomami?

Priscila Tatiana Gon�alves - Eu participo de expedi��es da EDS desde 2014 e 2015. As expedi��es s�o mais voltadas para a �rea cir�rgica, mas tamb�m temos uma parte cl�nica. At� porque n�s vamos para territ�rios onde muitas vezes n�o existem m�dicos fazendo atendimento cl�nico.

Normalmente, as equipes de sa�de nesses lugares s�o formadas por enfermeiros e t�cnicos de enfermagem. Ent�o, funcionamos como um complemento � expedi��o.

Em rela��o aos yanomami especificamente, n�s j� est�vamos vendo a situa��o piorar de forma muito assustadora nos �ltimos anos. Foi por isso que fomos at� l�. Normalmente, n�s sempre ouvimos as lideran�as locais, com quem a EDS tem um contato muito pr�ximo por causa do v�nculo que foi criado ao longo de todos esses anos.

Numa das �ltimas expedi��es, fomos at� a Casa de Sa�de Ind�gena Yanomami, em Boa Vista, e identificamos um cen�rio que j� era terr�vel. Era exatamente o que ver�amos pouco depois, nas den�ncias que ganharam o notici�rio nos �ltimos dias.

Depois disso, come�amos a entrar em contato com as lideran�as, para conseguirmos fazer as entradas nessas regi�es espec�ficas, que estavam sem atendimento. E � muito dif�cil chegar at� l�.

� preciso ir por via a�rea e necessitamos de suporte. Normalmente, as expedi��es da EDS contam com o apoio do Minist�rio da Defesa e da For�a A�rea Brasileira (FAB). Mas nos �ltimos trabalhos precisamos contactar diretamente os representantes de cada regi�o.

Nessa regi�o onde vivem os yanomami, sab�amos que eles n�o estavam recebendo as medica��es. Tamb�m t�nhamos ci�ncia de que entrar ali era um risco para n�s mesmos. Porque est�vamos num local sem acesso a �gua e luz, em que precis�vamos dormir dentro dos centros de sa�de, cercados pelo garimpo.

E � muito dif�cil falar sobre o que vimos l�. A situa��o era absurda. Voltamos j� pensando em um plano de a��o, tentando contato com os M�dicos Sem Fronteiras e a Unicef. O d�ficit nutricional era gritante. Crian�as e idosos estavam muito desnutridos. Praticamente todos estavam nessa condi��o.


Equipe de médicos durante expedição a região yanomami
"Crian�as e idosos estavam muito desnutridos", diz m�dica (foto: Expedicion�rios da Sa�de)

E � curioso, porque h� �reas dentro do territ�rio yanomami onde praticamente n�o h� desnutri��o. Fomos, por exemplo, para uma regi�o chamada Demini e ali as crian�as est�o saud�veis, n�o tem mal�ria, nem garimpo.

Ent�o vimos situa��es completamente diferentes dentro de um mesmo territ�rio, uma mesma popula��o. E n�o h� justificativa para tudo o que est� acontecendo. Falta medicamento, falta assist�ncia de sa�de.

BBC News Brasil - Mas a senhora teve contatos anteriores com os yanomami? A situa��o era diferente em outras situa��es?

Gon�alves - Sim, geralmente a log�stica � um pouco diferente quando vamos para alguma �rea onde os yanomami est�o pr�ximos. N�s vamos at� eles e fazemos uma triagem, at� pelo fato de ser uma comunidade coesa e n�o ter muito contato com outros grupos. N�s fazemos ent�o o atendimento deles, muitas vezes at� antes da expedi��o come�ar.

BBC News Brasil - Mas se o problema com os yanomami j� acontece h� alguns anos, por que ele ganhou essa dimens�o nacional s� agora? A situa��o de fato piorou recentemente ou ela foi sempre ruim?

Gon�alves - A situa��o � completamente diferente nas regi�es de serra, pois os yanomami que habitam esses locais j� t�m uma dificuldade maior de obter alimentos. O que vimos recentemente, e est� muito claro em relat�rios de outras institui��es, como o Instituto Socioambiental, � o avan�o das �reas de garimpo.

N�s descemos nas mesmas pistas usadas pelos garimpeiros e eles estavam o tempo todo com a gente. Outra coisa que observamos foi a contamina��o da �gua. As mulheres yanomami costumam passar o dia coletando pequenos crust�ceos em igarap�s, que s�o uma fonte importante de prote�na. Outras fontes de prote�na s�o a ca�a e a pesca. E dava pra ver que eles simplesmente n�o tinham mais acesso a isso. Ou seja, n�o tinham como obter os tipos de prote�na mais comuns da dieta deles.

Mesmo as frutas estavam diferentes. Eles consomem o jambo, que � uma fruta grande. Nessa �ltima entrada, vimos ind�genas comendo o fruto pequeno, ainda verde, porque n�o tinham outras op��es de alimento.

As crian�as que atendemos estavam muito desnutridas e pareciam estar h� anos sem receber nenhum tipo de medicamento, como os verm�fugos. Algumas eliminavam vermes pela boca. Outras tinham o abd�men muito amplo, um sinal claro de verminose, e as demais partes do corpo muito emagrecidas, num claro sinal de desnutri��o. Numa situa��o dessas, qualquer problema de diarreia ou pneumonia pode levar a �bito em poucos dias.

Ou seja, as crian�as das regi�es de garimpo eram muito diferentes de qualquer ind�gena de outras �reas. A diferen�a � muito gritante. Quando chegamos, olhamos aquilo e ficamos sem saber por onde come�ar. Sab�amos que a situa��o era grave. Sab�amos que as crian�as precisavam sair dali para fazer uma recupera��o nutricional numa cl�nica. Mas isso era imposs�vel, n�o conseguir�amos remover todos aqueles jovens para deix�-los 30 ou 40 dias internados num outro lugar.

Em outros territ�rios ind�genas, at� vemos quadros de desnutri��o. Mas eles s�o agudos, provocados por uma defici�ncia nutricional espec�fica, porque faltou algum alimento temporariamente. Em certas regi�es yanomami, o problema era geral. Vimos desnutri��o, casos de mal�ria sem tratamento, quadros com diarreia e pneumonia. E o pior de tudo � que todas s�o doen�as com tratamento. Dava pra ver que as crian�as estavam tristes, quando o estado normal delas � de alegria, de brincar o tempo todo, de interagir com os outros.

BBC News Brasil - Mas quantas crian�as eram acometidas por esse quadro que a senhora descreveu? Qual a propor��o de afetados em rela��o ao tamanho da popula��o?

Gon�alves - Para voc� ter uma ideia, visitamos regi�es com cerca de 150 ind�genas, dos quais 40 eram crian�as. Dessas, ao redor de 30 se encontravam num estado de desnutri��o grave e as outras 10 estavam em vias de iniciar um quadro desses. Esses n�o s�o n�meros exatos, mas d�o uma ideia do tamanho do problema.

Um dos enfermeiros que estava com a gente relatou que foi para o Haiti em 2010. Naquela cat�strofe, as pessoas andavam pelas ruas sem rumo. E ali, nessa regi�o yanomami, a sensa��o era a mesma. Est�vamos diante da cat�strofe de toda uma popula��o.


INdígena yanomami recebendo atendimento médico
'Para voc� ter uma ideia, visitamos regi�es com cerca de 150 ind�genas, dos quais 40 eram crian�as. Dessas, ao redor de 30 se encontravam num estado de desnutri��o grave', relata m�dica (foto: Expedicion�rios da Sa�de )

A regi�o do Surucucu conta com um centro de sa�de em que h� um m�dico. E comunidades inteiras v�o para l�, ap�s caminharem por quatro, cinco ou seis dias. Eles preferem ficar perto desse posto porque sabem que ali h� a possibilidade de comer e receber tratamento. Eu nunca estive num campo de refugiados de guerra, mas acredito que a situa��o que vimos era similar.

BBC News Brasil - Mas esse � um problema que se acentuou nos �ltimos anos? Ou � algo que j� se arrasta por d�cadas?

Gon�alves - Eu n�o consigo contabilizar exatamente isso, mas o que vimos nesses �ltimos quatro anos foi o fechamento de muitos dos centros de sa�de da regi�o. Alguns deles, inclusive, foram convertidos em �reas de garimpo. Os garimpeiros tomaram conta desses centros, a ponto de os profissionais de sa�de n�o conseguirem mais entrar ali.

Ou seja, a popula��o local deixou de ter acesso �s consultas de rotina e � vacina��o. Fora que, diante de um problema de sa�de grave, voc� n�o consegue transferir a crian�a ou o adulto para um centro mais capacitado.

Outro ponto � que as medica��es n�o chegavam. Na entrada que fizemos no final de 2022, compramos rem�dios contra verminoses. O Minist�rio da Sa�de tem alguns protocolos que determinam a aplica��o desses rem�dios de tempos em tempos. Pelo menos uma vez por ano, voc� oferece esse tratamento para eliminar os vermes daquela popula��o.

Isso � importante para que as crian�as consigam ter um desenvolvimento nutricional adequado. Agora, se ela tem uma verminose importante, esse � mais um motivo para que tenha uma perda de desenvolvimento.

Vimos que todas aquelas crian�as estavam sem receber a medica��o h� anos. Se voc� olhar as listas do Minist�rio da Sa�de, h� informa��o de que o rem�dio foi comprado e entregue. Mas ele nunca chegou at� l�.

BBC News Brasil - Na vis�o da senhora, o que levou a esse cen�rio? Como a situa��o chegou a esse ponto?

Gon�alves - Eu n�o sei. Nesses �ltimos quatro anos, a EDS recebeu muitos pedidos de socorro dos yanomami. N�s j� fizemos expedi��es l�, ent�o eles conheciam nosso trabalho e sabiam que chegamos com uma estrutura, com a possibilidade de fazer tratamentos m�dicos e prover alimentos na medida do poss�vel.

Resolvemos ir at� l� com o aux�lio das lideran�as locais, para ver se como estava essa regi�o do Surucucu. Conversamos com agentes de sa�de ind�gena, enfermeiros e t�cnicos de enfermagem que trabalham no local h� 10 ou 15 anos, e eles disseram que nunca viram algo assim.

Outra coisa que chamou nossa aten��o aconteceu na Casai Yanomami, que fica em Boa Vista. Vimos dezenas de fam�lias inteiras que estavam ali abandonadas. Por que esses indiv�duos estavam ali? N�o fazia o menor sentido. Eles chegaram l� para fazer algum atendimento na cidade e receberam a recomenda��o de suporte nutricional. S� que eles estavam l� por um ano, sem nenhuma perspectiva de voltar para a comunidade deles. N�o fazia sentido do ponto de sa�de estarem ali, pois j� deveriam ter recebido alta h� tempos.

BBC News Brasil - A senhora mencionou a falta de autoriza��o e suporte do Governo Federal. Existia algum bloqueio em falar sobre a crise de sa�de dos yanomami? Se sim, isso contribuiu para que o assunto s� ganhasse uma propor��o maior agora, com a transi��o de governos?

Gon�alves - Eu acho que as pr�prias mudan�as recentes nas coordenadorias de sa�de ind�gena e no Minist�rio da Sa�de facilitaram isso, pois abrem o di�logo e tentam fazer uma uni�o. Porque esse � um problema que ningu�m conseguir� resolver sozinho. Precisamos de uma frente.

Essas popula��es conseguem viver muito bem. Basta a gente n�o atrapalhar. Agora, eles est�o nessa situa��o de risco, ent�o � uma obriga��o nossa de pelo menos ajud�-los a sair dessa urg�ncia.

Acho que a gente pode falar agora, porque sabemos que eles n�o v�o sofrer repres�lias. At� recentemente, algumas enfermeiras que atuam nesses locais compartilhavam hist�rias de que sofriam v�rios tipos de repress�o. Alguns profissionais de sa�de que trabalhavam l� h� anos foram demitidos desde que a coordena��o do servi�o foi trocada. E os coordenadores que foram nomeados n�o tinham nenhuma afinidade com o assunto, nunca trabalharam com sa�de ind�gena

BBC News Brasil - Durante a �ltima entrada no territ�rio yanomami, a senhora testemunhou alguma hist�ria que chamou mais a sua aten��o?

Gon�alves - Sim, atendemos uma crian�a com mal�ria cerebral [complica��o da infec��o marcada por febre alta, dor de cabe�a, sonol�ncia, del�rio, confus�o, convuls�es e coma].

Ela provavelmente estava mal�ria e come�ou a ter convuls�es. O problema era que s� t�nhamos o contato pelo r�dio, porque n�o conseguimos chegar aonde ela estava. Passamos a madrugada toda em contato pelo r�dio, falando com o t�cnico de enfermagem que estava l�. Mas ele n�o tinha nenhum rem�dio para convuls�o. Ela tamb�m n�o tinha iniciado o tratamento de mal�ria, porque esse rem�dio tamb�m estava em falta.

Ficamos em contato pelo r�dio, mas a situa��o era prec�ria. A antena n�o funcionava direito. Ent�o ficava uma pessoa segurando a antena, e outra falando pelo aparelho. Passamos a madrugada toda tentando chamar o socorro a�reo, para que ele fosse at� a comunidade para resgatar essa crian�a. No final, a crian�a faleceu.

Outra hist�ria que nos marcou foi a de uma crian�a que estava provavelmente com infec��o respirat�ria. Felizmente, ela conseguiu ser levada at� onde est�vamos. L�, t�nhamos energia el�trica e um pequeno gerador para fazer a oxigena��o. Teve um momento, tamb�m de madrugada, que a luz acabou e ficamos contando as horas para chegar o socorro a�reo. Felizmente conseguimos transferi-la a tempo.

Na maioria das vezes, essas situa��es s�o evit�veis. O m�nimo que esperamos � ter oxig�nio, �gua e medica��es como analg�sicos e antibi�ticos. Pelo menos, assim conseguimos estabilizar o quadro e aliviar o sofrimento enquanto n�o chega o transporte para um hospital.

Para piorar, muitas dessas situa��es estavam controladas no passado. A mal�ria, por exemplo, estava praticamente eliminada dessa regi�o. N�o t�nhamos quadros de desnutri��o dessa gravidade. E tudo piorou de forma absurda em poucos anos. � algo muito dif�cil de entender e de falar. Eu nunca imaginei que veria uma coisa dessas.

BBC News Brasil - Do ponto de vista t�cnico, como todas essas quest�es engatilhadas a partir do garimpo — como a mal�ria, a desnutri��o e a falta de assist�ncia em sa�de — afetam a sa�de das crian�as?

Gon�alves - A falta de um aporte nutricional adequado faz com que a crian�a sofra com o agravamento de v�rias outras doen�as. Al�m disso, a desnutri��o impede o desenvolvimento do c�rebro e do corpo.

E foi o que vimos nesta �ltima entrada que fizemos. As fam�lias n�o tinham mais ro�as, frutas para consumo, pesca, ca�a ou crust�ceos. Isso porque as comunidades geralmente ficam pr�ximas de uma fonte de �gua, como um rio ou um igarap�. S� que o garimpo se instalou junto das aldeias.

Vimos igarap�s completamente degradados, com �gua amarela, com manchas de contamina��o. Naquela �gua, n�o existem mais condi��es de vida para os peixes.

Para completar, a presen�a do garimpo afasta a ca�a. Os garimpeiros usam helic�pteros e outras m�quinas grandes e barulhentas. Isso assusta os animais, que v�o para outros lugares.

Todas essas mudan�as levam, inclusive, a confrontos entre os ind�genas. Porque h� grupos que s�o mais favor�veis aos garimpeiros, enquanto outros s�o contra. Cheguei a ver crian�as pequenas com espingardas nas m�os. Essas armas eram trocadas por trabalho. Elas ficavam o dia todo recolhendo cassiterita [um tipo de min�rio]. Eram quilos e quilos. Esse material era colocado em sacolas para depois ser recolhido por um helic�ptero. Esse trabalho � pago com sacos de arroz ou pequenas espingardas.

BBC News Brasil - Voc�s sofreram alguma amea�a de garimpeiros enquanto estiveram por l�?

Gon�alves - N�s t�nhamos contato com eles o tempo todo. Durante o dia inteiro, ouv�amos a chegada dos helic�pteros dos garimpeiros. N�o sei quantificar com exatid�o, mas era uma nova aeronave subindo e descendo a cada duas horas mais ou menos. Foi a� que percebemos que est�vamos trabalhando numa situa��o de risco. De vez em quando, ouv�amos alguns tiros. Quando pergunt�vamos para os ind�genas que estavam por perto, eles diziam que era briga.

Tamb�m temos que pensar como ficar� a situa��o desses ind�genas a partir de agora. O que vai acontecer se todos os garimpeiros forem retirados dali de uma hora para outra? Muitos jovens est�o envolvidos nesse trabalho de garimpo, de recolher a cassiterita. Num primeiro momento, a sa�da dos garimpeiros ser� ruim. Porque eles j� n�o t�m nada. Por�m, quando esse garimpeiro, que d� saco de arroz e espingarda, for embora, vai demorar um certo tempo at� conseguirem voltar ao modo de vida deles. At� esse per�odo de adapta��o, eles n�o ter�o o alimento. E j� n�o t�m sa�de.

Muitos ind�genas com quem conversamos sempre falavam que o mais importante de tudo � a sa�de. E eles precisar�o de algum suporte at� que decidam como vai ser a vida depois. Eles t�m essa autonomia e esse direito. Eles sabem exatamente o que querem. Basta n�o atrapalharmos.

Tivemos no passado outras comunidades invadidas pelo garimpo que foram desestruturadas e depois conseguiram restabelecer os modos de vida tradicionais. Mas eles precisar�o de ajuda neste per�odo de transi��o em que passar�o a viver sem os garimpeiros.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64381594


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