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Estado de Minas VIAGEM AOS EUA

Desafio de Lula e Biden � ir al�m da foto de aperto de m�o em primeiro encontro

Em encontro na sexta, governos devem lan�ar ao menos propostas de trabalho conjunto em �reas de democracia e mudan�as clim�ticas. Temas como Venezuela, guerra na Ucr�nia e China podem causar mal-estar.


08/02/2023 06:51 - atualizado 08/02/2023 08:10


Colagem de fotos de Lula e Joe Biden
Governos devem lan�ar ao menos propostas de trabalho conjunto em �reas de democracia e mudan�as clim�ticas (foto: EVARISTO SA,JIM WATSON/AFP via Getty Image)

Um m�s ap�s os ataques � Pra�a dos Tr�s Poderes que ele mesmo classifica como “uma tentativa de golpe” e 20 anos depois de entrar na Casa Branca pela primeira vez, o presidente brasileiro Luiz In�cio Lula da Silva (PT) volta nesta sexta-feira (10/2) � sede da presid�ncia dos Estados Unidos.

A visita � Washington tem grande simbolismo: Lula se encontrar� com seu colega Joe Biden depois que ambos derrotaram nas urnas expoentes mundiais do populismo de direita (Donald Trump e Jair Bolsonaro) e assumiram seus cargos envoltos por den�ncias infundadas de fraude eleitoral que levaram a ataques contra o Capit�lio, em 6 de janeiro de 2021, e contra as sedes do Congresso, Presid�ncia e Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023.

   

A foto do aperto de m�os de ambos no comando de seus pa�ses � vista pelos presidentes como um testemunho de que a vontade popular prevaleceu. O risco, por�m, � que ambos se contentem “apenas” com a pot�ncia da imagem - e deixem de p�r para andar iniciativas mais concretas, dizem diplomatas e analistas brasileiros e americanos ouvidos pela BBC News Brasil.

“H� um risco significativo de que a reuni�o na sexta-feira seja uma boa sess�o de fotos, um belo conjunto de abra�os e apertos de m�o, mas n�o muito mais que isso. Ent�o vejo com um ceticismo inicial (as perspectivas do encontro)”, afirma Ryan Berg, diretor do programa de Am�ricas do Center for Strategy and International Studies (CSIS), baseado em Washington.

'Um reset na rela��o'

Em briefing � imprensa na manh� desta ter�a (7/2), o Itamaraty reconheceu que at� aquele momento n�o havia previs�o para an�ncio de acordos ou coopera��es entre os dois pa�ses. E afirmou que o encontro representava um “reset” em uma rela��o que esteve em “banho-maria” no per�odo em que os presidentes eram Biden e Jair Bolsonaro.

Bolsonaro lan�ou d�vidas sobre a legitimidade da elei��o de Biden, ecoando acusa��es feitas por Trump, e levou semanas para reconhecer a vit�ria do democrata � Casa Branca. O resultado foi um hiato de um ano e meio sem contato direto entre os presidentes de Brasil e EUA.

A chegada de Lula ao poder j� come�ou a alterar o cen�rio. Entre a vit�ria do petista nas urnas, no fim de outubro, e a visita dele � Casa Branca, agora, os dois presidentes j� se falaram por telefone em duas ocasi�es.

“Essa oportunidade de intera��o, engajamento entre o presidente Lula e o presidente Biden na Casa Branca � um aspecto central da visita”, afirmou o embaixador Michel Arslanian Neto, secret�rio de Am�rica Latina e Caribe do Itamaraty.

 

 

 

 

 


Bolsonaro e Joe Biden na Cúpula das Américas em 2022
Bolsonaro colcou em xeque a legitimidade da elei��o de Biden e s� reconheceu a vit�ria do democrata semanas depois (foto: JIM WATSON/AFP via Getty Images)

E seguiu: “h� uma perspectiva de reativa��o e atualiza��o, conforme o caso, da institucionalidade da rela��o. � uma rela��o que conta com muitos foros para avan�ar, o plano comercial, os direitos humanos, o meio ambiente. Ent�o, a ideia tamb�m � estabelecer um cronograma de troca de visitas entre as autoridades para dar um impulso a essa rela��o”.

Em 2024, Brasil e EUA completam 200 anos de rela��o e Lula dever� convidar Biden a visitar Bras�lia para marcar esta data.

Mas se querem ter como legado mais do que a vit�ria sobre os incumbentes da direita radical, Lula e Biden compartilham um duplo desafio: ambos precisam convencer sua pr�pria popula��o de que a democracia pode entregar melhora material na qualidade de vida e de que faz sentido (inclusive financeiro) o combate �s mudan�as clim�ticas.

E as circunst�ncias parecem apontar que a tarefa pode ser mais f�cil em parceria do que isoladamente. EUA e Brasil s�o as duas maiores democracias presidenciais do mundo e se agora t�m tido crises semelhantes, h� quem advogue que as solu��es tamb�m podem passar por caminhos comuns.

Os presidentes devem discutir, por exemplo, planos de combate �s informa��es falsas e pol�ticas para as redes sociais. O tema tamb�m deve ser parte da agenda de Lula com uma comiss�o de congressistas americanos liderada pelo senador Bernie Sanders. O fortalecimento da democracia � t�pico anunciado na agenda dos dois lados.

 

 

 


Presidente Lula
Visita de Lula � Casa Branca representa um 'reset' na rela��o com os EUA, de acordo com o Itamaraty (foto: Manuel Cortina/SOPA Images/LightRocket via Getty Images)

Al�m disso, ambos os pa�ses t�m o meio ambiente e as mudan�as clim�ticas como agenda dom�stica priorit�ria. Durante sua campanha presidencial, ainda em 2020, Biden afirmou publicamente que gostaria de lan�ar um fundo internacional para a preserva��o da Amaz�nia.

A negocia��o entre a gest�o Biden e o governo Bolsonaro, no entanto, nunca chegou a produzir um acordo. O governo americano atrelava a libera��o de recursos a n�meros concretos de redu��o de desmatamento - o que Bolsonaro n�o entregou. Lula assumiu a presid�ncia prometendo desmatamento zero no bioma.

“Agora � diferente. A gente entende que o governo ainda mal come�ou, mas j� mostrou suas credenciais ambientais, fez coisas concretas, como as opera��es em Roraima, e isso certamente ser� levado a Biden pelo presidente Lula”, afirmou um embaixador brasileiro que participa da prepara��o da viagem, citando as a��es que revelaram o quadro de crise humanit�ria na reserva ind�gena Yanomami e a atua��o do governo federal para retirar da �rea dezenas de milhares de mineradores ilegais.

Para parte da diplomacia brasileira, as condi��es dos americanos para que o an�ncio de uma coopera��o na Amaz�nia fosse feito j� estariam satisfeitas a ponto de permitir algum an�ncio.

O Enviado Especial Clim�tico de Biden, John Kerry, iria ao Brasil no come�o de fevereiro mas adiou a visita para estar presente no encontro bilateral entre os presidentes.

“N�o seria surpresa para mim se algum tipo de acordo ambiental acabar sendo anunciado”, afirmou � BBC News Brasil Abr�o Neto, CEO da Amcham Brasil, entidade dedicada ao com�rcio entre EUA e Brasil que re�ne cerca de 4 mil empresas, representativas de 1/3 do PIB brasileiro.

 

 

 


Trump segurando uma camisa do Brasil estampada com o nome dele sentado ao lado de Bolsonaro
Encontro acontece depois que Biden e Lula derrotaram nas urnas expoentes mundiais do populismo de direita %u2014 Donald Trump e Jair Bolsonaro (foto: BRENDAN SMIALOWSKI/AFP via Getty Images)

Para Abr�o Neto, ex-secret�rio de com�rcio exterior na gest�o Temer, ainda que sem an�ncios, n�o se pode reduzir o encontro a uma oportunidade de foto.

“H� temas convergentes na lista de prioridades dom�sticas dos pa�ses e com interesse real de avan�ar pela primeira vez em muitos anos. Esperar que haja uma lista de resultados concretos n�o � realista, mas n�o se pode subestimar a import�ncia do apoio pol�tico no mais alto n�vel porque � esse comando que faz as m�quinas burocr�ticas girarem”, diz Neto.

Embora qualquer ideia de um tratado de livre com�rcio entre os dois pa�ses esteja descartada, Neto afirma que o bom momento pol�tico e a coopera��o em �reas como o meio ambiente e as mudan�as clim�ticas podem se traduzir muito rapidamente em oportunidade de neg�cios para os dois pa�ses.

Discord�ncias: R�ssia, Venezuela, China, Cuba e brasileiros deportados

Se h� claras prioridades convergentes, tamb�m h� �reas de �bvias discord�ncias. E embora o Itamaraty procure diminuir o peso dos assuntos - dizendo que os mandat�rios se concentrar�o nos pontos em que concordam e mencionando as qualidades de Lula na diplomacia presidencial - algumas quest�es preocupam os americanos.

“O pior cen�rio � se Biden quiser discutir com Lula sobre Ucr�nia e Venezuela”, apontou um experiente embaixador, citando dois temas nos quais os discursos do americano e do brasileiro n�o est�o bem afinados.


Enquanto Biden v� a Guerra na Ucr�nia como uma batalha entre as democracias ocidentais e o imperialismo russo e est� disposto a doar at� tanques ao pa�s de Volodymyr Zelenski, Lula acaba de se recusar a enviar muni��es compradas pelo Brasil para a Ucr�nia ap�s um pedido feito pelo chanceler alem�o Olaf Scholz, em visita recente a Bras�lia. E tem repetido o bord�o de que “quando um n�o quer, dois n�o brigam”, o que iguala a posi��o da Ucr�nia, cujo territ�rio foi invadido, ao da R�ssia, autora da agress�o - uma interpreta��o recusada pelos americanos.

“N�o acredito que o presidente Biden venha me convidar para participar do esfor�o de guerra pela Ucr�nia, porque o Brasil n�o participar�. (...) O chanceler alem�o queria que n�s vend�ssemos para a Alemanha a muni��o que o Brasil tem. Depois ele me disse que essas muni��es seriam entregues � Ucr�nia. Eu disse para ele que o Brasil n�o iria vender as muni��es porque se um russo for morto por uma muni��o que saiu do Brasil, o Brasil estar� participando da guerra, e eu n�o quero que o Brasil participe da guerra porque n�s precisamos de algu�m querendo construir a paz neste mundo", disse Lula em entrevista a ve�culos independentes e influenciadores digitais, como o site Opera Mundi.

Mesmo fornecendo armas para os ucranianos, EUA e aliados da OTAN (Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte) negam que fa�am parte da guerra. R�ssia os acusa de serem parte do conflito.

No ano que vem, o Brasil presidir� o G20 e Lula tem dito que espera usar a posi��o para tentar costurar uma negocia��o de paz entre Ucr�nia e R�ssia. A iniciativa � vista com ceticismo pelos americanos.

O Brasil � grande comprador de fertilizantes russos e aliado de Moscou nos BRICS, bloco composto tamb�m por �ndia, �frica do Sul e China, que Lula pretende fortalecer, o que incomoda os EUA, que preferiam ver o Brasil mais alinhado aos interesses americanos e europeus na arena internacional.

“Os EUA sabem que o que aconteceu no governo Bolsonaro, esse alinhamento autom�tico que houve, foi uma excepcionalidade. Estamos apenas voltando � diplomacia brasileira tradicional, ao papel multilateral que o Brasil tem”, diz um embaixador brasileiro reservadamente.

E se a China � hoje a principal antagonista dos EUA - e foi alvo essa semana de acusa��es de que teria enviado um bal�o de espionagem, segundo os EUA, para sobrevoar o territ�rio americano, ela tamb�m � o principal parceiro comercial do Brasil. Xi Jinping deve receber a visita de Lula em Pequim j� em mar�o.

Os diplomatas brasileiros esperam que o tema dos bal�es chineses - um dos quais teria sido visto sobrevoando a Am�rica Central e do Sul - sequer seja tratado entre Biden e Lula.

Nos �ltimos anos, Washington pressionou Bras�lia a barrar a participa��o chinesa no leil�o do 5G e em outras iniciativas de infraestrutura. O governo Lula tem tentado deixar claro que n�o se alienar nem por um lado nem por outro. Perguntado sobre o assunto dos bal�es chinesas por jornalistas nesta ter�a, o embaixador Arslanian Neto n�o deixou espa�o para d�vidas: “esse tema n�o integra a pauta das rela��es com os Estados Unidos”.

Lula, por�m, espera sim falar sobre Venezuela e Cuba com Biden. Cr�tico �s san��es americanas aos regimes cubanos e venezuelanos, ele disse aos jornalistas independentes nesta ter�a j� ter tratado da situa��o da ilha antes com George W. Bush e com Barack Obama. Sob Bolsonaro, o Brasil chegou a aprovar na Organiza��o das Na��es Unidas as medidas contra Cuba. Agora, Lula espera que o tema volte com Biden.

“Imagino que a Venezuela tamb�m estar� na pauta, porque n�s vamos discutir o fortalecimento da Am�rica do Sul, e o Brasil tem muitas responsabilidades aqui na Am�rica do Sul. N�s temos 16 mil quil�metros e meio de fronteiras secas com os pa�ses da Am�rica do Sul. O Brasil tem o interesse de que a Am�rica do Sul esteja em paz. A Am�rica do Sul precisa se desenvolver e crescer economicamente”, disse Lula.

O presidente brasileiro normalizou as rela��es com o pa�s vizinho e voltou a reconhecer o governo de Nicol�s Maduro como leg�timo. Durante o governo Bolsonaro, o Brasil reconhecia Juan Guaid�, l�der da oposi��o venezuelana, como presidente, seguindo o entendimento do governo americano.

Sem aliados confi�veis na regi�o, Biden espera que Lula possa impulsionar Maduro a aceitar a convoca��o de elei��es livres e a mudan�a de regime. Atualmente, os americanos t�m derrubado san��es impostas ao setor petroleiro no pa�s conforme avan�am os di�logos entre oposi��o e situa��o em encontros na Cidade do M�xico. Lula por�m tem defendido interfer�ncia internacional m�nima nos processos pol�ticos dom�sticos. � incerto com que tipo de a��es os dois l�deres poder�o concordar.

Por fim, enquanto Biden vislumbra uma grave crise dom�stica na fronteira, com a enorme quantidade de imigrantes chegando, Lula deve dizer ao presidente americano que o governo brasileiro n�o concorda com o modo como milhares de brasileiros t�m sido sumariamente deportados, em voos fretados nos quais s�o levados algemados.

O Itamaraty registra que at� mesmo menores de idade brasileiros j� foram submetidos a ao menos parte da viagem com algemas nos bra�os e pernas. O governo Bolsonaro, pressionado por Trump, aceitou condi��es menos favor�veis para os migrantes indocumentados do Brasil. O governo Lula estuda reverter essas medidas. Embora fosse cr�tico das pol�ticas migrat�rias de Trump, Biden usou uma s�rie de expedientes criados pelo republicano para lidar com a chegada em massa de migrantes. Os EUA concentram a maior quantidade de migrantes brasileiros no mundo, com uma comunidade de quase dois milh�es de pessoas, entre residentes regulares e irregulares.


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