
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) no caso da fraude no cart�o de vacina conta com a admiss�o de culpa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens e bra�o-direito do ex-presidente. Aliados do ex-mandat�rio avaliam que Cid n�o ter� alternativa a n�o ser reconhecer ter adulterado certificados de imuniza��o. Ao mesmo tempo, advogados de Bolsonaro buscam desvincul�-lo do epis�dio.
A avalia��o de interlocutores do pr�prio ex-presidente ouvidos pela reportagem � que a investiga��o da Pol�cia Federal trouxe elementos robustos e dif�ceis de serem refutados por Cid. Eles citam, por exemplo, as trocas de mensagens e os acessos do pr�prio celular do militar � conta do ent�o mandat�rio no aplicativo do ConecteSUS.
Em representa��o ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a PF aponta Mauro Cid como principal articulador do esquema para fraudar cart�es de vacina��o da Covid-19, mas considera que Bolsonaro tinha ci�ncia.
O advogado Rodrigo Roca, que faz a defesa de Cid, afirmou que estuda entrar nos pr�ximos dias com um pedido de revoga��o da pris�o. A defesa pretende argumentar que n�o h� risco de reitera��o dos crimes supostamente cometidos, j� que ele n�o ocupa mais o cargo de ajudante de ordens da Presid�ncia.
Tamb�m deve alegar conduta ilibada de Cid e carreira irretoc�vel. Segundo Roca, n�o haver� confiss�o de crimes porque ele n�o cometeu as acusa��es feitas pela PF. "A trama aventada pela Pol�cia Federal n�o se sustenta diante dos fatos e h� de ruir com o desenvolvimento das investiga��es", disse.
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Aliados de Bolsonaro dizem que Cid tem uma rela��o de proximidade e lealdade com Bolsonaro. Por isso, dizem descartar qualquer possibilidade de dela��o por parte do militar. O entorno de Bolsonaro deve tentar desvincular o ex-presidente de qualquer rela��o com o caso, apesar de ele ter sido alvo de uma opera��o de busca e apreens�o em sua casa.
O primeiro argumento usado por seus defensores � que o ent�o presidente n�o esteve no Pal�cio do Planalto nos dias em que o seu cart�o de vacina foi acessado no sistema do SUS por meio de um endere�o IP da Presid�ncia da Rep�blica. As doses da Pfizer registradas como aplicadas em Duque de Caxias (RJ) entraram no sistema do Minist�rio da Sa�de em 21 de dezembro de 2022. No dia seguinte, ocorreu a primeira emiss�o do cart�o digital do ent�o chefe do Executivo.
Nos dois dias, Bolsonaro esteve no Pal�cio da Alvorada, de acordo com a sua agenda oficial. Em 22 de dezembro, ele teve uma reuni�o com o ent�o subchefe para Assuntos Jur�dicos da Secretaria-Geral da Presid�ncia, Renato de Fran�a Lima.
J� a segunda emiss�o do seu cart�o de vacina ocorreu na tarde de 27 de dezembro, no mesmo IP do Planalto. Bolsonaro, naquela data, n�o teve agenda, e pessoas pr�ximas dizem que ele permaneceu no Alvorada. Na noite daquele mesmo dia, foram exclu�das do sistema as duas doses no usu�rio de Bolsonaro.
Aliados do ex-presidente dizem que ele n�o teve conhecimento da fraude, do acesso e da impress�o do cart�o de vacina, apesar dos ind�cios apontados pela PF. O pr�prio Bolsonaro afirmou, no dia da opera��o, que n�o se vacinou.
"N�o tomei a vacina. Nunca me foi pedido cart�o de vacina [para entrar nos EUA]. N�o existe adultera��o da minha parte. N�o tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso. Havia gente que me pressionava para tomar, natural. Mas n�o tomava, porque li a bula da Pfizer", disse o ex-chefe do Executivo.
As vacinas contra a Covid, como a da Pfizer, s�o seguras e tiveram sua efic�cia comprovada em estudos cient�ficos. Foram aplicadas mais de 6 bilh�es de doses em todo o mundo. Bolsonaro foi cr�tico da vacina��o contra o coronav�rus, espalhou mentiras sobre o tema e sempre disse n�o ter se imunizado.
Na esteira da opera��o de quarta, ele afirmou ter reiterado aos pr�prios policiais que nunca se vacinou. O argumento pol�tico de que o pr�prio Bolsonaro seria eleitoralmente prejudicado caso tivesse se imunizado, devido a sua postura antivacina, tamb�m faz parte da defesa do ex-presidente. N�o faria sentido, segundo seus aliados, ele fraudar o cart�o.
Defensores de Bolsonaro tamb�m dizem que sua posi��o contra vacina � amplamente conhecida e que qualquer tentativa de entrar num pa�s estrangeiro com um certificado de imuniza��o geraria no m�nimo estranhamento entre as autoridades alfandeg�rias.
Outro ponto que seus aliados levantam � que ele n�o precisou apresentar comprovante de vacina��o quando entrou nos Estados Unidos, por causa do cargo que ocupava.
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Esse conjunto de argumentos leva aliados de Bolsonaro a considerar ser poss�vel derrubar a tese de que ele teria fraudado os certificados e que tivesse feito uso dos documentos. Uma das hip�teses levantadas pela defesa � que as adultera��es tenham ocorrido como uma forma de agradar Bolsonaro, sem o seu conhecimento. A defesa de Bolsonaro ainda n�o trabalha com uma data para o depoimento do ex-presidente.
O ex-mandat�rio havia sido intimado para depor na pr�pria quarta, quando ocorreu a opera��o de busca e apreens�o em sua resid�ncia. No entanto, foi solicitado oficialmente o adiamento, considerando a falta de acesso a documentos do inqu�rito.