
No come�o do governo, ningu�m apostava as fichas em Aras por conta da atua��o, durante o governo Bolsonaro, claramente em favor do ex-presidente. E foi justamente por causa dessa fidelidade, no caso atual voltada na dire��o de Lula, que fez com sa�sse da condi��o de carta fora do baralho para �s do jogo.
Aras come�ou a subir no conceito de Lula, do governo e dos petistas tamb�m por protagonizar um epis�dio inusitado, na abertura do ano do Judici�rio, poucas semanas depois da tentativa de golpe dos bolsonaristas em 8 de janeiro. No Supremo Tribunal Federal, surpreendeu ao lembrar de um poema para saudar a democracia - e, por extens�o, se alinhar ao governo.
"Como dizia o poeta � sua amada, e tinha que repetir todos os dias, 'eu te amo, eu te amo e eu te amo', para n�o se esquecer nunca do seu amor pela amada. N�s, cidad�os do Estado Democr�tico de Direito, precisamos dizer todos os dias: 'Democracia, eu te amo, eu te amo, eu te amo', porque essa democracia conquistada a duras penas exigiu sangue, suor e l�grimas", disse.
Outro ponto a favor de Aras � a posi��o sobre a Opera��o Lava-Jato. Ele a criticou dura a publicamente, em 2021, durante sabatina na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a (CCJ) do Senado. Disse que "no enfrentamento � criminalidade, o modelo de for�as-tarefas (do Minist�rio P�blico Federal) apresentava uma s�rie de defici�ncias".
Perfil discreto
O mandato do PGR termina em setembro. Lula e seus auxiliares mais pr�ximos buscam um nome tamb�m pouco midi�tico. O recado � �bvio: algu�m que seja o extremo oposto de Rodrigo Janot, que deu todo apoio � for�a-tarefa da Lava-Jato, foi um tormento para o governo Dilma e disse, em entrevista � Veja, em 2019, "n�o ter d�vidas" de que o atual presidente fosse "corrupto".
"Aras faz uma esp�cie de blindagem para a classe pol�tica. Uma figura com o estilo dele, e pelo hist�rico nos �ltimos anos, � uma barreira de conten��o de eventuais processos", destaca o cientista pol�tico Andr� C�sar.
O analista pol�tico Melillo Dinis acha que as chances de Aras s�o altas por conta de uma caracter�stica: apoiar o governo de turno. "A prefer�ncia de Augusto Aras pelo adesismo � um padr�o que encanta o presidente Lula. A procura � por um nome com o perfil do atual PGR e em condi��es de impor uma maior presen�a ao corpo dos procuradores da Rep�blica, algo t�o dif�cil quanto ilus�rio", ressalta.
Por outro lado, Fabio de S� e Silva, professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (Estados Unidos), avalia que o presidente n�o deve reconduzir o atual procurador-geral. "Aras deve ter todo interesse em se aproximar de Lula tamb�m para tentar diluir um pouco a imagem de bolsonarista, lavando sua biografia. Para Lula, a equa��o �, ou ao menos deveria ser, inversa: aproximar-se de Aras significa atrair para si o peso da omiss�o e da complac�ncia com os absurdos que marcaram a gest�o do atual PGR. Custa crer que Lula venha a fazer isso e macular sua Presid�ncia", adverte.
Associa��o insiste em lista para novo PGR
Mesmo com a advert�ncia do presidente Luiz In�cio Lula da Silva de que n�o seguir� a lista tr�plice, a Associa��o Nacional dos Procuradores da Rep�blica (ANPR) divulgou, no fim de maio, os tr�s indicados para suceder Augusto Aras na Procuradoria Geral da Rep�blica (PGR). S�o eles: Jos� Adonis, Luiza Frischeisen e Mario Bonsaglia.
A rela��o de nomes n�o est� prevista na Constitui��o, mas � bem vista entre as entidades de classe. Depois de ser escolhido pelo presidente da Rep�blica, o indicado � PGR tamb�m deve passar por uma sabatina, na Comiss�o de Constitui��o e Justi�a do Senado, para ser avalizado pelos parlamentares.
Fora da rela��o divulgada pela ANPR, outros dois nomes se destacam: o dos subprocuradores Carlos Frederico Santos e Nicolao Dino. O primeiro ganhou proje��o por ser o autor das a��es relacionadas aos atos golpistas de 8 de janeiro e, no Minist�rio P�blico Federal (MPF), � considerado moderado e discreto.
No caso do segundo - que vem se movimentando para se viabilizar como candidato � sucess�o de Aras -, h� contra ele a consanguinidade com o ministro da Justi�a e Seguran�a P�blica, Fl�vio Dino. Pesa, ainda, um fator considerado excludente pelo governo: defender a Lava-Jato. Tamb�m � mal vista a possibilidade de, como o irm�o, Nicolao ficar � vontade sob os holofotes - caracter�stica que tem incomodado ministros palacianos.