
O encontro do papa Francisco com o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), agendado para quarta-feira (21) no Vaticano, � parte de uma s�rie de passos do l�der cat�lico na tentativa de posicionar a Santa S� como facilitadora de conversas que possam promover tratativas pela paz na Guerra da Ucr�nia.
Depois de enviar o cardeal italiano Matteo Zuppi a Kiev no come�o deste m�s, o papa estaria preparando a replica��o do mesmo movimento na outra ponta, com uma viagem de seu assistente a Moscou.
O brasileiro desembarca nesta ter�a em Roma, onde tamb�m se reunir� com o presidente italiano, Sergio Mattarella, e o prefeito da capital, Roberto Gualtieri, do Partido Democr�tico, de centro-esquerda. N�o est� previsto encontro com a primeira-ministra Giorgia Meloni, do Irm�os da It�lia, de ultradireita.
Al�m de temas ligados a quest�es ambientais e sociais, o principal assunto na pauta de Lula e Francisco dever� ser o conflito no Leste Europeu. Ambos afirmam buscar consenso entre outros pa�ses que levem a negocia��es pela paz, apesar de Volodimir Zelenski ter jogado �gua fria em ambas as iniciativas.
Em entrevista � Folha, o presidente da Ucr�nia comentou, com ironia, as tentativas de Lula de ser "original" em seus planos de criar um "clube da paz". Em maio, ap�s ter sido recebido no Vaticano, disse a um canal de TV italiano que dispensava a media��o do papa. "Com todo o respeito � Sua Santidade, n�o precisamos de mediadores, precisamos de uma paz justa", disse.
Quando esteve em Kiev, nos primeiros dias de junho, o cardeal Zuppi ouviu de Zelenski que o �nico plano de paz poss�vel era o seu, composto por dez pontos, entre eles a restaura��o da integridade territorial da Ucr�nia. O cessar-fogo, como sugere a linha de Francisco, estaria descartado. Segundo relato do cardeal, que � presidente da Confer�ncia Episcopal Italiana, sua ida a Kiev n�o foi uma tentativa de media��o. "Fui manifestar interesse, proximidade, escuta, para que o conflito possa encontrar caminhos de paz", disse.
� nesse contexto que se inserem os encontros do papa com Lula e D�az-Canel. Em abril, os l�deres receberam em seus pa�ses Serguei Lavrov, chanceler russo que convidou o brasileiro para visitar a R�ssia. O convite foi rejeitado semanas depois, em um telefonema direto entre Lula e Putin.
Cinco dias depois, Lula e Francisco se falaram, tamb�m por telefone, e ali combinaram o encontro no Vaticano. Segundo nota do Planalto, na ocasi�o, o brasileiro, que acabara de voltar da c�pula do G7 em Hiroshima, no Jap�o, relatou ao pont�fice suas conversas com outras lideran�as sobre o conflito.
"O papa est� agindo muito claramente para tentar criar condi��es que possam levar a viabilizar a ida de Zuppi a Moscou. Brasil e Cuba s�o dois pa�ses com rela��es n�o tensas com o Kremlin, e � f�cil poder confiar a eles uma mensagem ou um pedido de ajuda", analisa Franca Giansoldati, vaticanista do jornal italiano Il Messaggero.
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Al�m do canal aberto com Putin, o Brasil � considerado pe�a capaz de influenciar os humores da Am�rica Latina e dialogar com �ndia, �frica do Sul e China, que resistem a declarar apoio expl�cito a Kiev e a se juntar aos Estados Unidos e � Europa na condena��o de Moscou.
A viagem de Zuppi a Moscou, ainda que n�o confirmada, � considerada iminente e deve se realizar sem aviso pr�vio, como quando foi a Kiev. Um encontro com Putin � considerado ainda improv�vel, mas estariam na mesa poss�veis reuni�es com Lavrov e com o l�der da Igreja Ortodoxa russa, o patriarca Cirilo, a quem Francisco j� exortou a n�o se comportar como "coroinha de Putin".
No fim de semana, ap�s a alta hospitalar de Francisco, que ficou nove dias internado ap�s cirurgia no abd�men, o chefe de Rela��es Exteriores do Patriarcado de Moscou, Antonij de Volokolamsk, anunciou ter encontrado o papa e integrantes da Comunidade de Santo Eg�dio, grupo crist�o pacifista do qual Zuppi faz parte. A circula��o dele pelo Vaticano refor�ou rumores sobre os preparativos da ida a Moscou.
Ap�s quase 16 meses da invas�o russa � Ucr�nia, a diplomacia do Vaticano, que mistura vias tradicionais com a abordagem pessoal de Francisco, j� passou por diferentes fases. Logo ap�s o in�cio do conflito, o papa tentou se colocar em posi��o equidistante, o que atraiu cr�ticas e gerou curtos-circuitos.
Um desses epis�dios foi quando convidou para o rito da via-cr�cis, na Sexta-Feira Santa de 2022, duas mulheres, uma ucraniana e uma russa, para participarem lado a lado. A ideia foi levada adiante apesar de queixas p�blicas nos dias anteriores � celebra��o, manifestadas tanto pelo embaixador de Kiev junto � Santa S�, quanto pelo arcebispo da Igreja Greco-Cat�lica Ucraniana, que considerou a cena "inoportuna".
O argentino foi deixando de lado a equidist�ncia e engrossou a voz contra Moscou, ainda que deixando uma porta sempre aberta a Putin. "Houve uma progress�o diplom�tica. Ap�s ouvir que era visto mais virado para Moscou que para Kiev, o papa fez uma corre��o de rota. E tamb�m entendeu que n�o daria para agir sozinho, que era preciso construir uma rede internacional e pedir ajuda a pa�ses amigos", diz Giansoldati. O Brasil, na vis�o do Vaticano, est� nessa lista.