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Estado de Minas GRANDE BH

Cura gay, rachadinha e ass�dio: vereador de Lagoa Santa � alvo de den�ncias

Assessor afastado de gabinete de vereador denunciou homofobia e ass�dios. Parlamentar evang�lico foi acusado de promover esquema de 'rachadinha'


24/07/2023 20:14 - atualizado 24/07/2023 20:14
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Fachada da Câmara Municipal de Lagoa Santa
Esc�ndalos denunciados teriam acontecido dentro de gabinete do vereador (foto: C�mara Municipal Lagoa Santa/ Reprodu��o)
Homofobia, persegui��o religiosa, ass�dio moral e at� rachadinha: s�o essas as den�ncias em que Joaquim Rufino (Republicanos), vereador de Lagoa Santa, na Grande BH, est� envolvido. Quem resolveu denunciar todo o esquema envolvendo o parlamentar � Nicolas Guimar�es Diniz, que trabalhava no gabinete e foi, por meses, segundo ele, alvo da persegui��o no ambiente de trabalho. Atualmente, Diniz est� afastado por problemas m�dicos.

A reportagem do Estado de Minas teve acesso a documentos, extratos banc�rios, conversas e �udios que indicam o suposto esquema de rachadinha dentro do gabinete.

Diniz conta que era perseguido pelo vereador e seus assessores por ser homessexual. Pastor de uma famosa igreja da Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, Rufino falava, de acordo com o servidor, que o assessor precisava “frequentar mais a igreja” e que tinha a “cura” para a “doen�a” dele. Toda essa persegui��o terminou com o funcion�rio do gabinete sendo coagido e assediado a participar de um esquema de rachadinha.

Rachadinha no gabinete

Segundo Diniz, o esquema de rachadinha come�ou em 2021. Ele conta que foi abordado pelo chefe de gabinete, Jo�o Paulo Silva, que tamb�m � filho do presidente da Igreja Assembleia de Deus em Lagoa Santa. De acordo com o ex-assessor, Silva precisava de mais uma pessoa para participar do esquema e dividir os saques mensais de R$ 930, que eram repassados a dois pastores da igreja. No meio tempo, o chefe de gabinete de Rufino mantinha um outro emprego, como funcion�rio de uma empresa de avia��o, o que n�o � permitido pela legisla��o municipal. Durante os �ltimos dois anos, os saques eram feitos e repassados mensalmente. Al�m disso, Diniz era obrigado a repassar valores e at� mesmo pagar contas pessoais do vereador e de seus amigos. 

“Ele me convidou para integrar a equipe como assessor parlamentar, aceitei o sal�rio de R$ 1,6 mil no m�s de junho de 2021. Quando entrei, o vereador me disse que o sal�rio do Jo�o Paulo era de R$ 3,6 mil mensal, mas que esse sal�rio n�o ficava pra ele, que ele tinha dois apoiadores que ele n�o conseguiu colocar na campanha e precisava que eu ajudasse a repassar um valor junto com o Jo�o Paulo para os pastores. Eu no in�cio n�o concordei, mas ele me disse que se eu n�o aceitasse que n�o teria possibilidade de emprego e como tinha contas a pagar aceitei a coa��o e o ass�dio”, afirma o assessor parlamentar.

Os pastores eram Vanderley Matias Ramos e Marcos Justino da Silva. Para a reportagem, Nicolas disse que Joaquim prometeu a eles cargos dentro do gabinete por terem ajudado na campanha eleitoral. Mas, ap�s as elei��es, o vereador contratou para o gabinete v�rios membros de sua igreja, n�o sobrando vaga para os dois. A rachadinha foi um jeito encontrado por ele para compensar a n�o nomea��o.

Diante da possibilidade de den�ncia dos ass�dios sofridos dentro do gabinete, Nicolas Guimar�es Diniz recebeu promo��es consecutivas. Ele recebia um sal�rio base de R$ 1,6 mil no fim de 2021 e, em mar�o do ano seguinte, j� tinha em seu contracheque as cifras de R$ 3,4 mil. Em maio de 2023, o valor subiu para R$ 5,8 mil. Em troca dos aumentos, ele deveria participar de um esquema de ‘rachadinha’ beneficiando dois pastores evang�licos.

O Estado de Minas teve acesso a comprovantes de PIX que mostram as transfer�ncias consecutivas e com valores repetidos entre Diniz e Jo�o Paulo Silva. Entre setembro de 2021 e janeiro de 2022, as transfer�ncias aconteciam sempre no fim do m�s e no valor de R$ 930. H� tamb�m comprovantes de pagamentos feitos pelo assessor diretamente ao seu chefe, o vereador Joaquim Rufino.

As transa��es repetitivas foram interrompidas em fevereiro de 2022. A data coincide com a contrata��o formal dos dois pastores no gabinete de Rufino. Vanderley Ramos foi contratado como ‘Assistente Parlamentar 1- Interno’ e tem um sal�rio-base de R$ 1.350. Os vencimentos se equiparam aos de Marcos Justino Da Silva, que est� lotado como ‘Assistente Parlamentar 1 - Externo’, de acordo com o Portal da Transpar�ncia da C�mara Municipal de Lagoa Santa.

Al�m dos ind�cios de rachadinha e de transfer�ncias diretas ao vereador, Diniz tamb�m usava seu sal�rio para pagar contas pessoais do parlamentar. Segundo o assessor relatou � reportagem, Rufino tinha v�rias contas em atraso e pedia que os funcion�rios arcassem com as d�vidas. Em 23 de janeiro deste ano, o assessor parlamentar pagou cinco contas de �gua no nome do chefe em valores somados que superam os R$ 2 mil.

Diniz tamb�m disse que o vereador mantinha um funcion�rio fantasma. Seu nome � Paulo Cesar Cardoso, que servia como “fazedor de bicos” para Rufino. Sempre que necess�rio, ele ia at� um ponto da cidade, geralmente locais de renda mais baixa, para fazer bicos. Em troca, ele pedia para que as pessoas votassem no vereador. “Ele � uma pessoa muito humilde. Tinha cargo da C�mara com cargo de assessor da ouvidoria, por�m n�o exercia a fun��o, porque o vereador o coagia a fazer servi�os externo um tipo de “marido de aluguel” onde a C�mara pagava o sal�rio dele, mas ele ficava consertando durante o hor�rio de trabalho chuveiros, torneiras, quest�es de casa em geral. Inclusive esse servidor foi utilizado para realizar um gato de luz na casa do vereador”, diz.
 
Comprovante de PIX de denúncia de rachadinha em Lagoa Santa
Um dos comprovantes de PIX enviados � reportagem do EM (foto: Reprodu��o)
 

Homofobia no ambiente de trabalho

Diniz conta que foi perseguido por ser homessexual. Grande parte do ass�dio vinha de membros da Igreja Assembleia de Deus, que eram comissionados no gabinete do vereador Joaquim Rufino. “Os casos de homofobia come�aram a partir de press�o de membros da Igreja Assembleia de Deus. Tudo que o vereador faz � sob o comando da igreja. A igreja, quando descobriu que sou gay, pressionava o Rufino para poder me exonerar, ent�o a� come�aram as tentativas de cura gay, em locais isolados dentro da C�mara Municipal, onde eles praticamente me demonizavam. Queriam fazer um tipo de exorcismo como se eu tivesse um dem�nio ou alguma doen�a”, conta.

Diniz procurou um m�dico psiquiatra. Ele conseguiu uma licen�a de 60 dias e est� afastado do trabalho por causa da press�o e dos ass�dios que sofria no ambiente da C�mara. 

“Me sentia muito assediado e humilhado, os servidores do gabinete n�o falam nada pois tem medo de perder seus empregos, mas, como diretor de gabinete, eu n�o era respeitado pelos servidores, me desqualificar por eu ser gay e o vereador nunca deixou eu tomar decis�es dentro do gabinete, ele sempre dizia que n�o era pra mexer com os irm�os da igreja pois eles que os elegem. Eu era obrigado a trabalhar de atestado m�dico, inclusive operado ap�s uma bari�trica. O vereador chegava a me ligar at� mesmo de madrugada, onde os registros telef�nicos comprovam todos os fatos, eu n�o podia tirar f�rias, eu recebia as f�rias, mas n�o gozava das mesmas. Fiz requerimento para a presid�ncia da C�mara, que disse que jamais ir� me pagar minhas f�rias. Estou passando necessidade, pois estou afastado pelo INSS, e a C�mara vem negando um direito que � meu, mas gastam fortunas com restaurantes de luxo, alugu�is de carros, enfim o dinheiro p�blico indo pelo ralo”, completa o assessor parlamentar de Rufino.

Amea�as

Na �ltima semana, Diniz resolveu externar o caso em um grupo de whatsapp. Desde ent�o, vem recebendo amea�as de morte. “Recebi amea�a de morte de um telefone com n�mero suprimido, fiz o boletim de ocorr�ncia para resguardar minha vida e de minha fam�lia, fiz a den�ncia � presid�ncia da C�mara sobre tudo que estava acontecendo. Por�m, o que me foi respondido era para n�o fazer um espet�culo com essa situa��o. Me sinto moralmente estuprado, violado e injusti�ado, pois a C�mara, atrav�s do presidente, foi totalmente omissa”, denuncia.
 
Nicolas Alexandre Diniz, denunciante de verador de Lagoa Santa
Nicolas est� afastado do cargo por quest�es m�dicas (foto: Arquivo pessoal)
 

O que dizem os envolvidos

A reportagem procurou todas as pessoas citadas na mat�ria. Em nota (reproduzida na �ntegra ao fim da mat�ria), o vereador Joaquim Rufino (Republicanos) negou as acusa��es feitas e disse que n�o passam de retalia��es. "Tudo o que foi falado por ele n�o passa de retalia��o pela perda do cargo. Nem o vereador Rufino, ou qualquer servidor do seu gabinete, fez ou tentou fazer qualquer tipo de manifesta��o contr�ria � op��o sexual de Nicolas ou qualquer transa��o financeira ilegal entre eles que caracterizasse 'rachadinha'", disse o parlamentar. 

Citado por Diniz como funcion�rio fantasma do vereador, Paulo negou, mas confirmou as persegui��es sofridas pelo ex-funcion�rio e que tamb�m estranhava o ambiente do gabinete. “Eu era assessor externo, quer�amos ter uma proximidade com as comunidades mais pobres. Chegando no gabinete, de in�cio ele passou a me dar suporte, mas passei a ter problemas com a igreja. Ele era muito ligado � igreja e eu n�o. Eu n�o era funcion�rio fantasma, ia l� e frequentava. O que achava um absurdo � que os evang�licos n�o assinavam ponto e ficavam l� atoa. Eu n�o. Eu tenho que produzir para a popula��o. Pedi pra sair porque aparentemente n�o tinha nada pra eu fazer”, disse.

O pastor Marcos Justino atendeu a reportagem, mas disse que n�o iria se posicionar. J� Jo�o Paulo Silva, citado como a outra pessoa que fazia as rachadinhas, e Vanderley Matias Ramos, que recebia os valores mensalmente, n�o responderam aos contatos. 

A reportagem tamb�m entrou em contato com a Pol�cia Civil para saber sobre as investiga��es das den�ncias de amea�as e aguarda retorno.

Confira a nota do vereador na �ntegra: 

O Vereador Joaquim Rufino de Carvalho repudia toda acusa��o feita pelo ex-servidor da C�mara N�colas Alexandre Diniz. Tudo o que foi falado por ele n�o passa de retalia��o pela perda do cargo. At� o momento, muitas acusa��es caluniosas foram faladas e nada foi provado.

Rufino � um crist�o que preza pela liberdade individual das pessoas, tanto � que deu a
oportunidade para ele fazer parte do seu gabinete no intuito de ter uma assessoria jur�dica para a elabora��o de projetos de lei e tomada de decis�es. Por�m, o ex-servidor N�colas Alexandre Diniz n�o passou de uma farsa. Mesmo se posicionando como advogado, ele NUNCA possuiu OAB e sabe-se l�, se j� se formou, pelo menos, como Bacharel em Direito.
Rufino chegou a ligar para o presidente da subse��o da OAB/Lagoa Santa para confirmar se N�colas realmente n�o tinha registro na Ordem, o que foi prontamente confirmada pelo
presidente. Al�m disso, N�colas � suspeito de ter enganado v�rias outras pessoas em Lagoa Santa se passando por advogado.

Ele tamb�m � suspeito de ter falsificado a assinatura do vereador Rufino para benef�cio pr�prio.

Em apenas um caso j� descoberto, ele teria falsificado a assinatura do vereador para que a
C�mara contratasse seu companheiro como estagi�rio, al�m de v�rios outros atos que ser�o investigados pela C�mara.

Ressaltamos que NUNCA, nem o vereador Rufino, ou qualquer servidor do seu gabinete fez ou tentou fazer qualquer tipo de manifesta��o contr�ria a op��o sexual de Nicolas ou qualquer transa��o financeira ilegal entre eles que caracterizasse “rachadinha”. Por v�rias vezes, os dois viajaram juntos a trabalho e ficaram no mesmo quarto sem qualquer problema, o que descredibiliza ainda mais as falas do ex-servidor.
Sobre a suposta amea�a de morte que Nicolas teria recebido, � totalmente fora da curva achar que o vereador Rufino est� envolvido. Rufino � um homem �ntegro, respeitado na cidade e devidamente eleito para representa os mais de 70 mil moradores de Lagoa Santa.
Rufino segue trabalhando pela cidade e j� apresentou as devidas den�ncias junto a autoridade policial para investiga��o dos supostos crimes praticados por N�colas.

Esperamos que todos os fatos sejam rapidamente esclarecidos.


* Colaborou com a reportagem, Bernardo Estillac


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