
Em 10 dias, tr�s opera��es da Pol�cia Federal miraram aliados de Jair Bolsonaro , sendo que o pr�prio ex-presidente est� entre os citados em relat�rios policiais enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF). As investiga��es est�o interligadas a uma s�rie de a��es realizadas deste o ano passado, que passa pela acusa��o, sem provas, de fraude no sistema eleitoral, realizadas por Bolsonaro, a decis�o dele de deixar o pa�s, os atentados de 8 de janeiro e as recentes revela��es da venda de presentes para aumentar o patrim�nio de pessoas envolvidas na gest�o do pa�s at� o ano passado .
No dia 2, o alvo das dilig�ncias policiais foi a deputada Carla Zambelli, fiel aliada do ex-presidente at� o dia da elei��o em segundo turno no ano passado. A parlamentar estava sempre em reuni�es no Pal�cio do Planalto, em viagens de Bolsonaro, dialogando com a milit�ncia e at� mesmo participando das articula��es do governo, como no dia em que tentou convencer o ex-ministro da Justi�a Sergio Moro, atual senador, a continuar no cargo em meio a uma crise dele com o ex-presidente em plena pandemia.
No entanto, ao perseguir um homem negro com uma arma em punho, no Centro de S�o Paulo, na v�spera do segundo turno da elei��o, ela levantou a ira de Bolsonaro, que a acusa de ser a respons�vel por faz�-lo ser derrotado nas urnas. Zambelli est� sendo investigada por suposta atua��o junto com o hacker Walter Delgatti Neto para invadir o sistema do Banco Nacional de Mandados de Pris�o (BNMP). O objetivo era inserir uma ordem de pris�o falsa contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes. O magistrado se tornou alvo de bolsonaristas por duras medidas contra quem questionava a integridade das urnas sem evid�ncias.
De acordo com a PF, a opera��o, chamada de 3FA, tem como objetivo, tamb�m, esclarecer a invas�o aos sistemas do Conselho Nacional de Justi�a (CNJ). Foram cumpridos dois mandados de busca e apreens�o e um mandado de pris�o preventiva em S�o Paulo e tr�s mandados de busca e apreens�o no Distrito Federal, al�m de an�lise do material apreendido. Ainda segundo a Pol�cia Federal, os crimes apurados ocorreram entre 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvar�s de soltura de indiv�duos presos por motivos diversos e um mandado de pris�o falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Silvinei
Na quinta-feira, o alvo foi o ex-diretor-geral da Pol�cia Rodovi�ria Federal Silvinei Vasques. Ele � acusado de ter comandado uma s�rie de blitze em cidades do Nordeste no dia da vota��o em segundo turno. O objetivo seria impedir que eleitores do presidente Luiz In�cio Lula da Silva chegassem at� os locais de coleta dos votos, para tentar alterar o resultado das elei��es. A PF encontrou planilhas e documentos que mapearam os votos em Lula no primeiro turno. As evid�ncias apontam que foi criada uma estrat�gia para tentar minar as vota��es em col�gios eleitorais de Lula.
Al�m de Vasques, o ex-ministro da Justi�a Anderson Torres, � citado na investiga��o. Ele teria realizado reuni�es com a c�pula da PRF e ter ficado a par da situa��o, sendo suspeito de comandar as barreiras policiais. Silvinei foi preso na a��o e levado para o Complexo Penitenci�rio da Papuda, em Bras�lia, onde permanece at� o momento, � disposi��o da Justi�a. Thuan Gritz, advogado especialista em direito penal econ�mico, afirma que existem ind�cios de que Anderson Torres e Silvinei Vasques cometeram diversos crimes. "Em um primeiro plano, a decis�o adotada pelo Ministro Alexandre de Moraes, no bojo de pedido de busca e apreens�o (pessoal e domiciliar) e pris�o preventiva, aponta, a partir de elementos da investiga��o, participa��o direta de Silvenei Vasques como ex-diretor-geral da PRF, na situa��o de interfer�ncias nas elei��es, indicando ocorr�ncia de diversos crimes: prevarica��o, viol�ncia pol�tica, abuso de autoridade, e ainda alguns delitos do C�digo Eleitoral", destaca.
Joias e presentes
Na sexta-feira, foi deflagrada a opera��o Lucas 12:2, que faz refer�ncia ao vers�culo b�blico que afirma que "n�o h� nada escondido que n�o venha a ser descoberto". O objetivo � desmontar um grupo que se articulou para usar a estrutura do Estado para desviar bens com a finalidade de incorporar os recursos ao patrim�nio pessoal. No centro das suspeitas est�o Jair Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens dele, Mauro Cid, o general Mauro Lorena Cid, pai de Cid , o ex-advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef e outros aliados do presidente.
Em um dos trechos, a PF aponta di�logos que revelam que Bolsonaro receberia US$ 25 mil dos bens vendidos, entre eles um rel�gio Rolex de alto valor. O objeto chegou a ser vendido, mas foi alvo de uma opera��o dos suspeitos para ser comprado em raz�o do temor de que o Tribunal de Contas da Uni�o (TCU) ordenasse a devolu��o — o que de fato ocorreu logo depois. A venda dos objetos ocorreu nos Estados Unidos, para onde Bolsonaro foi ap�s perder as elei��es.
Na conturbada linha do tempo bolsonarista, em 8 de janeiro, extremistas invadiram as sedes dos Tr�s Poderes. Sem aceitar o resultado das elei��es, vandalizaram pr�dios p�blicos em Bras�lia. O resultado foram opera��es policiais, den�ncias da Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) e abertura de a��o penal que envolvem 1.290 pessoas que ser�o julgadas pelo Supremo nos pr�ximos meses.
O advogado Berlinque Cantelmo, especialista em ci�ncias criminais, destaca que os atentados foram in�ditos no �mbito do direito penal e que se constata a exist�ncia de organiza��o criminosa. "Os atos golpistas do dia 8 de janeiro s�o parte efetiva de um fragmento lament�vel da hist�ria brasileira. Do ponto de vista criminal, algo sem precedentes. � por isso, que certamente, o patrono da a��o penal, a PGR, ir�, de certa forma, buscar que todos sejam condenados de acordo com as penas que lhes cabem de acordo com o concurso de crimes, concurso de pessoas e obviamente todo o arcabou�o de organiza��o criminosa que envolvem n�o s� os atos executados, mas toda estrutura de mobiliza��o, de mentoria individual, certamente ser�o alvos de avalia��o", diz.