Em 20 de novembro do ano passado, a Folha de S. Paulo revelou a mensagem, enviada por Nardes a um grupo de amigos ligados ao agroneg�cio. Ouvida hoje, soa como pren�ncio de uma tentativa de ruptura institucional semelhante � ocorrida semanas depois, em 8 de janeiro.
"� o pior momento que a na��o vai viver, mas talvez seja importante pra poder recuperar. (...) O que vai acontecer agora? Est� acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que � quest�o de horas, dias, no m�ximo uma semana, duas, ou talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na na��o. Imprevis�veis", afirma Nardes.
"Vamos perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situa��o para o futuro da na��o poder� se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos pr�ximos dias ou nas pr�ximas horas."
Antes de ser ministro do TCU, Nardes atuou na pol�tica: foi vereador, deputado estadual e deputado federal representando o Rio Grande do Sul, sempre por legendas de direita, desde a Arena, partido de sustenta��o da ditadura. No �udio, ele relembra sua atua��o ao longo dos anos para fortalecer o que chama de "sociedade conservadora".
Tamb�m elogia o ent�o presidente Jair Bolsonaro (PL), que rec�m tinha sido derrotado na elei��o presidencial pelo atual presidente, Lula (PT).
"Agora veio o Bolsonaro, que despertou a sociedade conservadora, e hoje todo mundo est� nas ruas fazendo a defesa desses princ�pios. Demoramos, mas felizmente acordamos."
O ministro se vangloriou do papel que ocupava no entorno do poder ap�s a elei��o presidencial do ano passado. "Falei longamente com o time do Bolsonaro essa semana (...), [o presidente,] tem esperan�a de recuperar e melhorar a sua situa��o f�sica, e certamente ter� condi��es de enfrentar o que vai acontecer no pa�s. (...) Eu n�o posso falar muito at� porque..., sim tenho muitas informa��es."
Nardes ent�o conclui: "Os pr�ximos dias ser�o nebulosos e o que vai acontecer de desdobramento n�o se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos pr�ximos dias".
Com a repercuss�o do �udio, o ministro pediu ao tribunal de contas licen�a m�dica, que foi renovada pelo menos duas vezes, conforme foi noticiado em dezembro pelo jornal O Globo. Mais n�o se sabe: o TCU n�o revela.
A reportagem enviou na ter�a-feira (22) ao tribunal as seguintes perguntas: Foi tomada alguma provid�ncia interna para apurar o teor do �udio do ministro? H�/houve algum processo aberto na Corregedoria do TCU ou algo semelhante? Houve alguma advert�ncia, oral ou por escrito, ao ministro Augusto Nardes? O TCU foi demandando por algum �rg�o de investiga��o ou de controle para prestar esclarecimento ou fornecer informa��es sobre o caso? Que informa��es prestou?
O tribunal --que costuma realizar avalia��es sobre o n�vel de transpar�ncia de �rg�os dos tr�s Poderes-- n�o respondeu a nenhuma delas. Limitou-se a afirmar que "as informa��es a respeito de assuntos afetos � Corregedoria n�o s�o de car�ter p�blico, n�o sendo poss�vel o seu compartilhamento".
Augusto Nardes tamb�m � o relator do processo do TCU que apura poss�veis irregularidades na venda ou tentativa de negocia��o de presentes recebidos pelo ex-presidente Bolsonaro em viagens oficiais. Numa primeira medida, em mar�o, ele proibiu Bolsonaro de vender os presentes, mas n�o determinou a sua devolu��o, o que s� ocorreu por decis�o do plen�rio da corte.
A reportagem tamb�m pediu para entrevistar os ministros Augusto Nardes e Bruno Dantas, este presidente do TCU, mas ambos se recusaram a falar. Nardes informou que j� se pronunciou sobre o epis�dio anteriormente, por meio da seguinte nota.
LEIA �NTEGRA DA NOTA DE NARDES
"O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da Uni�o (TCU), esclarece que, contrariamente ao que tem sido veiculado, em momento algum falou em golpe militar ou fez qualquer coment�rio atentat�rio �s institui��es do pa�s ou a qualquer de suas autoridades constitu�das.
Apenas teceu coment�rios e externou reflex�es pessoais sobre a situa��o atual do pa�s, al�m de pondera��es sobre os eventuais desdobramentos poss�veis em um cen�rio de tensionamento da democracia que ainda subsiste em v�rios estados e localidades na na��o.
Reafirma que apenas manifestou a interlocutores de um setor sua preocupa��o como cidad�o com os movimentos que s�o observados nas casernas e que podem resultar em consequ�ncias imprevis�veis."