
O ca�ula dos tr�s filhos pol�ticos do ex-presidente lan�ou seu primeiro livro em formato digital para, em suas palavras, contar "uma hist�ria de transforma��o e resili�ncia" sobre a presen�a do cl� na internet. Sua vers�o dos acontecimentos edulcora o papel dos Bolsonaro no fortalecimento de um ecossistema de desinforma��o e agressividade, que hipertrofiou a polariza��o ideol�gica no pa�s.
"As pessoas estavam se unindo em torno da ideia de que a positividade e a esperan�a tinham um lugar em meio � agita��o e � adversidade propositalmente criada pela m�dia", escreve Carlos. "Ao reconhecer os desafios e abord�-los de maneira construtiva", ele continua, "era poss�vel catalisar mudan�as significativas fora da bolha ideol�gica proposta pela imprensa tradicional".
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Carlos n�o especifica nomes e fatos, s� generalidades
Em nenhuma das 52 p�ginas da obra, dispon�vel a quem pagar R$ 54,90, o autor especifica nomes e fatos. Pelo contr�rio, a leitura � uma colet�nea de generalidades que exalta como a atua��o virtual da fam�lia mudou a perspectiva brasileira sobre "temas atuais". O leitor pode apenas inferir quais s�o tais t�picos, j� que Carlos n�o os nomeia.
O vereador foi o maestro da bem-sucedida campanha online que ajudou o pai a vencer as elei��es presidenciais de 2018. Jair Bolsonaro era, at� ent�o, um deputado do baixo clero sem nenhuma alian�a partid�ria parruda e com �nfimos oito segundos na propaganda eleitoral de TV e r�dio. Seu traquejo nas redes � atribu�do ao filho, dito portador de suas senhas e piloto de seus perfis.
Carlos conta que a g�nese de tudo foi o blog Fam�lia Bolsonaro, que idealizou em 2009, quando tinha 26 anos e estava com a "mente cheia de inquieta��o".
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O site permaneceu ativo ao longo dos anos. Em agosto de 2018, pipocaram ali links para contrapontos a uma imprensa que, na vers�o que o vereador apresenta em seu livro cinco anos depois, "na maior parte das vezes enfatizava as not�cias negativas, perpetuando uma vis�o distorcida da realidade".
"Entenda o socialismo atual" e "Mulheres: uma imagem bacana vale mais que mil mat�rias distorcidas e falaciosas" s�o alguns dos exemplos de artigos compartilhados no site. Havia direcionamento tamb�m para apari��es do ent�o presidenci�vel Bolsonaro na m�dia tradicional que Carlos pinta de vil�, como entrevistas no Roda Viva, programa da TV Cultura, e na GloboNews.
Postagens mais antigas tra�am uma cronologia da defesa de causas que alicer�am o bolsonarismo. Em 2015, por exemplo, uma entrada no blog celebra: "Carlos Bolsonaro � absolvido em processo movido pelo movimento gay: ('chupa viadada')". Outra, de 2013, chama Luana Piovani de "atriz e usu�ria de drogas" ap�s ela trocar farpas com Carlos.
O primeiro conte�do no ar traz uma foto de Carlos e seus irm�os Eduardo e Fl�vio Bolsonaro, hoje deputado federal e senador. O trio, no retrato, ainda � crian�a e nada no mar de Araruama (RJ).
"Os primeiros posts do blog eram como pequenos raios de sol, rompendo as nuvens escuras das not�cias negativas", define o vereador. "Era como se eu estivesse fazendo parte do plantio de uma semente em meio a um solo saturado de not�cias distorcidas e maldosas para desacreditar ideias que n�o interessavam ao sistema."
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A meta de desbaratar "v�cios tendenciosos" da "narrativa da grande m�dia" eventualmente se espraiou por plataformas ascendentes, como Twitter e Facebook.
Pinta de coach pol�tico
Os argumentos gen�ricos, com pinta de coach pol�tico, se repetem at� o fim do t�tulo. Inexistem quaisquer men��es a amigos ou inimigos da fam�lia ou revela��es sobre os bastidores da opera��o digital que imprimiu a marca bolsonarista na hist�ria da pol�tica brasileira.
Al�m de Jair, Fl�vio, Eduardo e Carlos, citados nominalmente uma �nica vez, h� uma refer�ncia crist� no par�grafo final: "Que Deus e os homens permitam e entendam da nescessidade [sic] desta pluradidade [sic] para exist�ncia democratica [sic] de nosso querido Brasil".
Por vezes apelidado de "Pitbull do pai", o vereador divulgou a obra menos de cinco meses ap�s anunciar que estava desistindo de comandar as contas virtuais do ex-presidente. "Ap�s mais de uma d�cada � frente e ter criado as redes sociais de @jairbolsonaro, informo que muito em breve chegar� o fim deste ciclo de vida voluntariado", postou ent�o no X, ex-Twitter.
Carlos disse � �poca estar certo de que fez um trabalho de valia para as "pessoas boas". Reclamou, contudo, de ficar "sozinho anos" e de receber um tratamento que "nem um rato merecia". Tamb�m daquela vez preferiu omitir nomes.