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Estado de Minas EM JUIZ DE FORA

Facada em Bolsonaro completa 5 anos sob politiza��o de direita e esquerda

Faca est� guardada em um envelope lacrado no museu da PF, onde ficam itens de casos c�lebres investigados pela corpora��o


06/09/2023 06:15 - atualizado 06/09/2023 09:25
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Episódio ocorreu em Juiz de Fora (MG), na rua mais tradicional da cidade
Epis�dio ocorreu em Juiz de Fora (MG), na rua mais tradicional da cidade (foto: RAYSA LEITE/AFP)
Passados cinco anos, a facada em Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018 �, sob v�rios aspectos, um assunto inconcluso -e o s�mbolo maior disso � a faca de cozinha que, segundo a Pol�cia Federal, Ad�lio Bispo de Oliveira usou para perfurar o abd�men do ent�o candidato � Presid�ncia.

A pe�a, por decis�o judicial, deveria ser colocada em exposi��o p�blica no Museu Criminal da PF, em Bras�lia, mas a institui��o diz que ainda avalia se e como a l�mina de 30 cm ser� mostrada para os visitantes. Falta a an�lise de um especialista sobre como incorpor�-la � mostra do acervo.

Por enquanto, de acordo com a assessoria do �rg�o, a faca repousa em um envelope lacrado no museu, que guarda itens de casos c�lebres investigados pela corpora��o.

Em um caso politizado desde a origem -e explorado por Bolsonaro, apoiadores e oposicionistas conforme as circunst�ncias--, tamb�m a apura��o sofreu press�es pol�ticas. At� aqui, dois inqu�ritos da PF conclu�ram que Ad�lio agiu sozinho, sem ordem de mandantes ou aux�lio de comparsas.

Meses antes de Bolsonaro (PL) disputar a reelei��o e perder para Lula (PT), a corpora��o reabriu o caso ap�s a Justi�a autorizar uma per�cia em celulares de advogados que atenderam Ad�lio inicialmente. Um dos objetivos era apurar supostos elos com a fac��o criminosa PCC.

Ao entorno de Bolsonaro interessava que o trabalho tivesse desdobramentos durante o per�odo eleitoral e fornecesse elementos para relacionar Lula ao atentado. O ex-presidente estimula a narrativa de que a esquerda mandou mat�-lo, aproveitando-se do fato de que Ad�lio foi filiado ao PSOL.

As novas apura��es citaram um elo entre o PCC e um ex-advogado de Ad�lio, com pagamentos feitos dois anos depois do ataque por um cliente suspeito de ligado com a fac��o, mas a dire��o da PF viu inconsist�ncia na tese e avaliou os ind�cios como fr�geis, conforme revelou a Folha em abril.

A investiga��o corre sob sigilo, mas pessoas familiarizadas com o tema na corpora��o dizem que ela est� perto de ser conclu�da e que a tend�ncia � confirmar a tese do esfaqueador como "lobo solit�rio".

Colocando em xeque o trabalho da PF, Bolsonaro e seu n�cleo insinuaram ao longo do mandato e depois de sua sa�da do cargo que a tentativa de assassinato em Juiz de Fora (MG) foi um exemplo de como seus inimigos desconhecem limites nas a��es para aniquil�-lo pol�tica e juridicamente.

Acad�micos que pesquisam a direita apontam a facada como elemento importante da est�tica bolsonarista, ao emplacar a vitimiza��o --como prenunciou uma foto do candidato na cama do hospital ao receber os primeiros socorros quando estava entre a vida e a morte-- e forjar a imagem de m�rtir.

Para a antrop�loga Isabela Kalil, coordenadora do Observat�rio da Extrema Direita, Bolsonaro misturou conceitos religiosos e morais ao capitalizar o atentado. "A ideia de que se aproximou da morte, mas recebeu de Deus uma segunda chance foi �til sobretudo em 2018, para suavizar o discurso", diz.

Qualquer an�lise sobre os fatores que levaram o ex-deputado ao Planalto leva em conta a influ�ncia do acontecimento na vit�ria. O ataque n�o s� rendeu uma visibilidade �mpar para o candidato e inibiu cr�ticas dos rivais, como tamb�m despertou como��o popular e o tirou dos debates de TV.

"A facada contribuiu para a elei��o, mas n�o explica absolutamente tudo", avalia Kalil.

Atropelada pelo fen�meno que derrotou Fernando Haddad (PT), substituto do �quela altura encarcerado Lula, parte da esquerda perpetua a tese n�o comprovada de que se tratou de uma fraude. Para uns, foi uma "fakeada" (facada fake). Para outros, ela existiu, mas embutiu alguma arma��o.

Nada disso aparece nos relat�rios da PF. Os agentes ouviram centenas de testemunhas, inclusive m�dicos que operaram Bolsonaro, e dizem que um conluio de tamanho alcance teria deixado rastros.

O petista Paulo Pimenta, hoje ministro-chefe da Secom (Secretaria de Comunica��o da Presid�ncia), � um dos que espalharam nas redes sociais a hist�ria da "fakeada". O pr�prio Lula, antes da campanha, duvidou da veracidade da facada, falando em "suspeitas" e "d�vidas" para n�o acreditar nela.

Em entrevista � Folha em janeiro, Pimenta relativizou a pol�mica e disse que n�o questiona o ataque. "A 'fakeada' n�o � a facada, � a hist�ria criada em torno do epis�dio", afirmou na ocasi�o. O ministro rebateu, principalmente, a tentativa de vincular PT e PSOL � a��o cometida por Ad�lio.

"Esse assunto � muito controverso, sempre foi elemento da disputa pol�tica", comentou. Apoiadores de Lula disseminam a desconfian�a ainda hoje, enquanto acusam o campo oposto de produzir fake news.

O bolsonarismo � criticado por supostamente usar a facada e suas consequ�ncias para a sa�de de Bolsonaro como subterf�gio para desviar o foco de problemas. Crises que ele enfrentou no governo coincidiram com complica��es atribu�das ao trauma f�sico e sucessivas interna��es.

Semanas atr�s, enquanto era tragado pelo esc�ndalo da venda de joias e presentes dados por autoridades estrangeiras, o ex-presidente foi hospitalizado para exames e anunciou que passar� por tr�s cirurgias (duas delas na barriga). Os procedimentos foram agendados para a semana que vem.

Na ocasi�o, o assessor F�bio Wajngarten, que foi secret�rio de Comunica��o na gest�o do ex-mandat�rio, ressaltou em uma rede social que "todos os sintomas e exames desse momento, por �bvio, decorrem do atentado contra sua vida de 6/9/18, ainda sem resolu��o".

Ao longo dos anos, diversas imagens de Bolsonaro em leitos de hospital e mostrando pontos cir�rgicos e cicatrizes vieram a p�blico, em uma opera��o para fixar o assunto no imagin�rio popular.

Um retrato do ex-presidente sem camisa, feito pelo fot�grafo Jo�o Menna, foi divulgado por Wajngarten no dia em que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declarou o pol�tico ineleg�vel, em junho. A foto tamb�m estampa um calend�rio cuja venda � promovida por Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho e deputado federal.

Na primeira declara��o ap�s a decis�o que o impede de concorrer at� 2030, Bolsonaro fez alus�o ao atentado. "Tentaram me matar em Juiz de Fora h� pouco tempo com uma facada na barriga. E hoje levei uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder pol�tico", afirmou.

Pesquisadora que conduz estudos com bolsonaristas, a soci�loga Esther Solano diz que o atentado perdeu tra��o como elemento mobilizador e se tornou algo lateral na mem�ria simb�lica dos seguidores.

"N�o tenho d�vida de que ela � usada como 'cortina de fuma�a', mas n�o sei se � algo muito eficaz hoje em dia, j� que a facada sofreu um apagamento tanto entre eleitores dele quanto no ecossistema da esquerda", pondera.

 


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