
A ingest�o de �lcool vem muito de padr�es culturais. Como mostrou a pesquisa divulgada pela Fiocruz, mais de 100 milh�es de brasileiros consumiram �lcool uma vez na vida, sendo que a idade m�dia do in�cio do consumo foi de 15,7 anos entre os homens e 17,1 anos entre as mulheres. Apesar dos prazeres moment�neos, o �lcool, assim como as demais drogas, atua negativamente no organismo e � um potente propensor, se usado de forma excessiva, para o surgimento de diversas doen�as, como as cardiovasculares, diabetes, obesidade e transtornos psicol�gicos, como a depend�ncia.
Certas caracter�sticas dessa juventude podem potencializar esse fato, como a busca por autonomia, identidade, curiosidade ou necessidade de experimentar novas emo��es, press�o de grupos ou conv�vio familiar. Para Regina Mendon�a, m�dica cl�nica do Hospital Madre Teresa, os principais riscos dessa situa��o com os jovens est�o relacionados com o contato do organismo por tempo prolongado com o �lcool. “Com o in�cio precoce � ingest�o de bebidas alco�licas, a possibilidade de uma ingest�o acima do tolerado � enorme, trazendo consequ�ncias, muitas vezes irrevers�veis, e aumentando o risco de depend�ncia”, pontua.
Segundo os pesquisadores, 119 mil jovens entre 12 e 17 anos t�m algum tipo de v�cio em �lcool e os efeitos da subst�ncia no jovem s�o piores a longo prazo. Outro estudo divulgado em 2018, pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), mostra que 13,5% das mortes de pessoas na faixa dos 20 anos tiveram rela��o com o excesso de bebidas alco�licas. “Como o organismo ingere �lcool por um per�odo mais longo, existe maior risco da ocorr�ncia de depend�ncia e de suas consequ�ncias, como insufici�ncia hep�tica ou cirrose, secund�rias ao �lcool”, frisa a m�dica.
Com o pr�prio corpo e tamb�m personalidade em forma��o, jovens s�o mais suscet�veis aos efeitos do �lcool no organismo. Esse ultrapasse da capacidade permitida pode levar ao coma alco�lico, ao risco de arritmias e insufici�ncia card�aca, em diferentes graus. “Os efeitos no organismo de homens e mulheres � bem parecido, o que muda � a quantidade necess�ria para que esses efeitos ocorram. Em geral, homens necessitam de um consumo maior para que ocorra esses efeitos”, pontua Regina Mendon�a.
EXCESSO
Lucas Lanna, de 22 anos, teve seu primeiro 'porre' aos 12. Segundo ele, estava em uma festa de fam�lia e entrou na onda de sua prima, mais velha que ele, e teve seu primeiro contato. “Passei muito mal nesse dia. Afinal, nunca tinha bebido antes”, comenta. O jovem voltou a beber aos 16, em festas a que ia com seus amigos, mas de forma espor�dica. “Na faculdade, a situa��o come�ou a piorar. Enchia a cara mesmo. Em 2016, foi a pior �poca para mim. Cheguei a apagar na rua e houve situa��es em que meus amigos tiveram que me levar carregado pra casa”, relembra.
Apesar das perdas de controle com a bebida, o jovem conta que isso nunca prejudicou sua vida acad�mica, a carreira profissional e nem deixava de ir nos compromissos. “No fim de 2017, fui diagnosticado com depress�o e procurei ajuda. Com isso, passei a me controlar mais, o que melhorou muito a minha vida. N�o vejo mais a necessidade de fugir da realidade e tenho me controlado”, conta Lucas. “Quando se � novo, n�o temos consci�ncia dos nossos limites e h� aquela falsa sensa��o de bem-estar quando se bebe”, refor�a.
�ngela Mathylde afirma que a juventude, em si, � a fase mais dif�cil do ser humano e, muitas vezes, passamos por essa fase imaturos, tanto nas quest�es sociais quanto neuroqu�micas, cognitivas, psicol�gicas. “A orienta��o � sempre o melhor caminho. � bom mostrar aos jovens que o consumo de �lcool em excesso � prejudicial, que deve ser feito de forma consciente”, explica.
FAM�LIA
Bebidas, sexo e drogas ainda s�o considerados tabu em muitas fam�lias. Al�m disso, h� aquela velha inc�gnita: “Se proibir meu filho, ele vai encontar na rua”. “A proibi��o causa curiosidade e a possibilidade do consumo fora de casa ('escondido') � maior. A fam�lia deve sempre ser um ponto de apoio para a crian�a/adolescente, para que, se ele vier a consumir bebida alco�lica, que esse consumo seja realizado de forma consciente e com responsabilidade”, comenta a m�dica Regina Mendon�a. Em outra realidade, h� fam�lias em que o �lcool � facilmente difundido, seja em fins de semana ou em festas. “A crian�a/adolescente que cresce vendo o consumo de �lcool como um h�bito normal, do cotidiano, pode ter uma tend�ncia maior ao consumo de �lcool”, pondera
�ngela Mathylde salienta que o assunto deve ser trabalhado em todos os �mbitos – na escola, em casa, no social, para trazer informa��o para esse jovem. “A quest�o n�o � proibir, � educar o filho. Ao proibir, muitas vezes, os filhos que t�m dificuldades disruptivas, ou seja, enfrentam leis e regras dos pais, v�o � procura do contr�rio. Se o pai fala ‘sim’ ele fala ‘n�o’, se o pai fala ‘n�o’ ele fala ‘sim’. A quest�o � educar, e educar � conhecimento”, conclui.

Angela Mathylde,
pedagoga e psicanalista
O QUE DIZ O ECA?
Proibida a venda para menores
O Estatuto da Crian�a e do Adolescente (Eca) pro�be expressamente a venda de bebidas alco�licas a crian�a ou ao adolescente menor de 18 anos (artigo 81, inciso II), tendo, inclusive, criminalizado tal conduta, estabelecendo pena de deten��o de dois a quatro anos e multa a quem “vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar de qualquer forma a crian�a ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar depend�ncia f�sica ou ps�quica, ainda que por utiliza��o indevida” (artigo 243). Al�m disso, ele assegura que revistas e publica��es destinadas ao p�blico infantojuvenil n�o poder�o conter ilustra��es, fotografias, legendas, cr�nicas ou an�ncios de bebidas alco�licas. (Fonte: Minist�rio P�blico).
JOVENS E O �LCOOL
Izabele Miranda
de 20 anos
“Comecei a beber com 15/16 anos, na esportiva mesmo, porque todos bebiam. Ent�o, precisava ter um gosto por isso tamb�m. Uma vez bebi muito, tive uma crise de ansiedade e minha glicose foi ao ch�o. Hoje, consumo somente quando tenho vontade.”
Mateus Henrique do Couto
de 21 anos
"N�o acho que o ato de beber
seja escape pra mim, mas encontrar os amigos pra um
bom papo �, sim... E isso acaba levando a beber. Tenho
muitos v�cios, tipo doces ou
Coca-Cola, e, fazendo a compara��o, controlo
demais o �lcool.”
Brisa Soares
de 21 anos

"N�o consigo avaliar, mas �s vezes me pergunto por que bebo. Acho algumas bebidas gostosas, mas n�o sei definir. Depende do humor com que estiver no momento. Se n�o quero beber, n�o bebo. N�o consumo com frequ�ncia, acho que isso me faz ter esse controle.”