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Estado de Minas Comportamento

Empatia � fio condutor contra a COVID-19

Ajudar sem olhar a quem. Conhe�a hist�rias de quem se disp�s a fazer o que est� ao alcance para o bem do outro e de si pr�prio


26/04/2020 04:00 - atualizado 24/04/2020 14:40

Advogada Cristiana Fortini levou brigadeiros para profissionais do Hospital Metropolitano do Barreiro como forma de gratidão pelo trabalho de combate ao coronavírus
Advogada Cristiana Fortini levou brigadeiros para profissionais do Hospital Metropolitano do Barreiro como forma de gratid�o pelo trabalho de combate ao coronav�rus (foto: Arquivo Pessoal)



O ser humano � ambivalente. Carrega em si valores e poderes contr�rios, contradit�rios ou n�o. Em momentos dif�ceis, de crise e amea�a � vida, ter aflorado o lado solid�rio talvez seja o que h� de mais bonito e louv�vel em sua exist�ncia. Ter na empatia o fio condutor para estender a m�o a quem precisa tende a blind�-lo das amea�as ou encoraj�-lo a seguir em frente. Muitas pessoas em BH est�o se voltando para o outro, mesmo em quarentena. E, quem j� exercia um papel volunt�rio se v� ainda mais engajado. E h� quem tem experimentado, pela primeira vez na vida, o acolhimento do outro e ficado quase sem palavras, tamanha gratid�o.

A diarista J�lia Teodora de Moura, de 34 anos, de Paulista, Vale do Rio Doce, vive h� 15 na capital. Trabalhando de ter�a a s�bado, com cinco clientes fixos, est� em casa h� quase um m�s gra�as, principalmente, a Lucas Werneck e Ros�ngela Colares, que continuam pagando por sua faxina: “No primeiro momento, senti vergonha, n�o sabia como agir. Agrade�o muito. N�o estou acostumada a ganhar nada na vida. Sempre tive de lutar para conseguir as coisas, sempre trabalhei para ter meu dinheiro. De repente, me vejo em casa, parada e recebendo. Eles me fizeram sentir importante na vida deles. Percebi que sou vis�vel”.

J� Ros�ngela, cliente de J�lia h� cinco anos, mais do que empregadora se transformou em uma amiga: “Ela � uma pessoa muito boa. Logo me disse para n�o sair de casa de jeito nenhum e qualquer coisa que precisasse ela me ajudaria. Ficou preocupada com o pagamento das minhas presta��es de um lote que comprei em Paulista e pagava com minha faxina. Foi um al�vio saber que poderei arcar com esta despesa. O sentimento � de gratid�o”.

J�lia conta que, por enquanto, est� dando para equilibrar a vida. Inspirada pelo que tem recebido, ela tamb�m procura fazer o que est� ao seu alcance. Diz que ajuda da forma que pode, seja com uma compra de sacol�o para quem precisa, ou uma doa��o para os Vicentinos da igreja.
 
A diarista Júlia Teodora de Moura continua recebendo o pagamento, mesmo sendo liberada para ficar em casa neste período de isolamento
A diarista J�lia Teodora de Moura continua recebendo o pagamento, mesmo sendo liberada para ficar em casa neste per�odo de isolamento (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)
 


DESAFIOS 


A jornalista e empres�ria Luciana Avelino, de 48 anos, moradora de um condom�nio na Regi�o da Pampulha, participava de dois grupos de volunt�rios em prol de moradores em situa��o de risco. Mas desde o in�cio da quarentena as a��es sociais foram suspensas. Desassossegada, ela tem agido da maneira que pode para continuar contribuindo.

Ajud�-los sem ter de se expor, assim como aos assistidos, em aglomera��es, era o maior desafio. Em ambos os projetos, a intera��o entre as partes � ato corriqueiro. “Tanto no caso do Banho de Amor, que ocorre nas noites de ter�as, nas ruas da capital mineira, onde, quem diria, tive a grata surpresa de conhecer meu namorado, Rony Rezende, como na outra a��o em que travo parceria com ele, tamb�m voltada para os sem-teto, juntamente com um amigo em comum, embaixo do viaduto de Santa Tereza”.

Juliana, ent�o, teve a ideia de lan�ar uma campanha pelo grupo de moradores do WhatsApp do seu condom�nio, onde moram cerca de 200 fam�lias, para arrecadar doa��es. “Para n�o envolver dinheiro e assegurar o indicado afastamento social, inseri caixas coletoras com o consentimento dos moradores em algumas casas com varandas e garagens abertas. Sugeri a doa��o de roupas, itens de higiene pessoal, material de limpeza, roupas de cama e alimentos n�o perec�veis. Para minha alegria, a resposta dos vizinhos teve uma reciprocidade incr�vel. Logo na primeira semana, as caixas destinadas para o maior abrigo masculino de BH, o Albergue Municipal Tia Branca, que atende 400 homens no Bairro Floresta, ficaram lotadas. O sucesso da campanha foi t�o grande que, depois dessa institui��o, j� conseguimos prestigiar mais tr�s outras associa��es filantr�picas.”

Na sequ�ncia, Juliana conta que conseguiu doa��es para crian�as do Projeto Pemu (Projeto Evangel�stico Miss�o Urgente), em Ibirit�; para o asilo de idosas Lar da Vov� Nossa Senhora da Piedade, na Pampulha; e para mulheres em situa��o de risco da Rep�blica Maria Maria, que acaba de se mudar da Lagoinha para a Serra. “� medida que eu recolhia as doa��es, postava o resultado no grupo do condom�nio toda empolgada, grata. Expunha meu orgulho pela vizinhan�a ter abra�ado a ideia. Acredito que as pessoas foram ficando felizes em fazer parte de uma corrente do bem. Na verdade, quando temos uma a��o de vibra��o t�o positiva, somos tocados de certa forma. Acabei conhecendo, travando contato com moradores que nunca nem tinha visto antes. Pessoas incr�veis.”

Com o engajamento das pessoas, Juliana foi al�m e postou as doa��es e solicita��es nas suas redes sociais, com o intuito de divulgar as necessidades das institui��es. E n�o � que deu certo? V�rios amigos e conhecidos viram e contribu�ram. “Acho que, hoje em dia, muita gente gostaria de ajudar, mas, �s vezes, n�o sabe como ou n�o tem disponibilidade de levar at� os lugares. Mas, quando v� algu�m conhecido ajudando, sente firmeza, credibilidade, est�mulo.”

Para a jornalista, quando a pessoa se disp�e a doar, mesmo sendo coisas materiais ou o pr�prio tempo, � uma sensa��o �nica: “Somos os maiores beneficiados. E o mais interessante � que, gradativamente, sentimos vontade de fazer da a��o de doar um h�bito de vida. E o que mais tem s�o pessoas precisando, seja em �poca de pandemia ou n�o”.
 
A advogada Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira participa do projeto %u201CUma mão lava a outra%u201D em vários pontos da cidade
A advogada Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira participa do projeto %u201CUma m�o lava a outra%u201D em v�rios pontos da cidade (foto: Arquivo pessoal)
 

MARMITEX CASEIRO 


O engenheiro Andr� Luiz Chaves do Carmo faz trabalho volunt�rio com um grupo de amigos h� 20 anos. Tudo come�ou com a dona Selma e, agora, a fam�lia segue. “Todas as ter�as-feiras entregamos marmitex caseiro, comida saborosa, para os moradores em situa��o de rua, em frente � rodovi�ria. S�o 200 refei��es que terminam em 15 minutos. Tudo organizado, sem confus�o ou aglomera��o. Agora, precisam ainda mais. Vamos de luva e m�scara e alertamos sobre o distanciamento adequado. Todos respeitam. N�o � nada complexo, dif�cil, sai do cora��o de todos n�s. � o que nos deixa satisfeitos, leves, em paz.”

Andr� Luiz destaca que a gratid�o que o grupo recebe por estender a m�o � dif�cil traduzir em palavras: “Entregar um marmitex e ouvir que aquela � a primeira refei��o do dia, que at� ent�o n�o comeu nada – e olha que fazemos a a��o �s 19h, 20h – � um n� na garganta para quem, naquele hor�rio, j� tomou caf� da manh�, almo�ou, lanchou e jantou. S� tenho a agradecer. Precisamos ter f�. Espero que cada um, dentro do poss�vel, possa fazer algo, h� muitas formas, porque tem muitas pessoas passando necessidade”.

BRIGADEIRO 


As advogadas Cristiana Fortini e Maria Fernanda Pires de Carvalho Pereira tamb�m foram motivadas a ajudar. Al�m da doa��o de 45 cestas b�sicas para moradores do conjunto Santa Maria e para a Casa de Acolhida Padre Eust�quio (Cape), entidade que recebe crian�as do interior que est�o em BH para tratamento de c�ncer, elas decidiram demonstrar gratid�o com os diversos profissionais que precisam se expor mais frontalmente ao v�rus. Por isso, doaram brigadeiros para o Hospital Metropolitano do Barreiro.

“Eu e a Maria Fernanda sempre tivermos uma preocupa��o social grande e pensamos que olhar o outro, cuidar do outro � agradecer. H� um ciclo energ�tico que nos conecta. O outro � integrante de uma mesma cadeia que nos liga. Somos todos parte de uma mesma corrente. Pensamos no brigadeiro como forma de acarinhar aqueles que precisam trabalhar para curar os doentes. E teve a P�scoa no meio da pandemia, que intensifica o dever de renascer, na gente e no outro”, exp�e Cristiana.

Maria Fernanda tamb�m participa de um grupo de a��o social vinculada � Funda��o Terra, liderada pelo Padre Airton Freire, chamado Instituto Padre Airton (IPA). Percebendo que as pessoas em situa��o de rua nem sequer sabiam o que estava ocorrendo, criaram um projeto voltado a elas. Assim surgiu o “Uma m�o lava a outra”, por meio do qual disponibilizam em v�rios pontos da cidade, com o aux�lio da Pastoral de Rua, recipientes com �gua, sab�o, m�scaras e folhetos explicativos sobre a pandemia e o risco de cont�gio.

“E ningu�m melhor que a pr�pria Pastoral de Rua para saber os locais onde esse projeto ser� melhor destinado. Vamos seguir enquanto for necess�rio. Nos informes, pedimos ajuda dos pr�prios usu�rios para ter parcim�nia no uso e na reposi��o, assim como fazemos m�scaras para doar, j� que s�o muitas as necessidades”, enfatiza Maria Fernanda.
 
 
 
O professor de educação física Josimar Silva Campos, com a mulher, Patrícia, e o filho, João Gabriel, de 2 anos. Na pandemia, passou a tocar da varanda para os vizinhos
O professor de educa��o f�sica Josimar Silva Campos, com a mulher, Patr�cia, e o filho, Jo�o Gabriel, de 2 anos. Na pandemia, passou a tocar da varanda para os vizinhos (foto: Arquivo pessoal)
 

UM POUCO DE LEVEZA 


Quem canta seus males espanta. N�o importa o estilo, � raro encontrar quem n�o seja tocado pela m�sica em momentos de alegria, tristeza, em grupo ou sozinho. O professor de educa��o f�sica Josimar Silva Campos n�o � m�sico profissional, mas domina o viol�o, ama m�sica e toca na igreja e em eventos da fam�lia. Incentivado pela mulher, Patr�cia, e o filho Jo�o Gabriel, de 2 anos, ele decidiu ir para a varanda do apartamento e soltar a voz.

“A princ�pio, fiquei com medo de incomodar, mas a rea��o foi bacana. Todos sa�ram para a varanda, abriram a janela e at� vizinhos das casas do outro lado da rua aplaudiram. Foram receptivos e isso me emocionou. A m�sica traz paz, conforto e foi no que pensamos diante de tanta not�cia ruim e da situa��o dif�cil que enfrentamos”.

Josimar conta que deu t�o certo que pediu licen�a ao s�ndico e, como mora num condom�nio de quatro torres com a quadra justamente no centro, montou um equipamento para alcan�ar mais vizinhos, de outras janelas, e desfilou seu repert�rio gospel: “N�o importa o estilo da m�sica e n�o tem nada a ver com religi�o. � s� m�sica. Fiquei surpreso com a intera��o de todos, at� ganhamos pizza em agradecimento. M�sica transforma, provoca uni�o, traz proximidade, faz bem ao cora��o e � sa�de. Recebi imenso carinho de volta e esta foi a minha forma de dizer que tudo vai passar, que sempre h� uma luz, que � preciso ter esperan�a e encontrar motiva��o para vencer as adversidades”.



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