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Estado de Minas AMIZADES

Teoria de Dunbar: somos mesmo incapazes de ter mais de 150 amigos?

Antrop�logo sustenta que s� conseguimos manter at� 150 conex�es ao mesmo tempo. Mas ser� que essa teoria se aplica � sociedade hiperconectada de hoje?


25/11/2020 08:40 - atualizado 25/11/2020 11:22


A teoria de Dunbar diz que as pessoas só conseguem %u2018administrar%u2019 até 150 relações sociais %u2013 seja nas primeiras sociedades de caçadores-coletores ou na vida moderna
A teoria de Dunbar diz que as pessoas s� conseguem %u2018administrar%u2019 at� 150 rela��es sociais %u2013 seja nas primeiras sociedades de ca�adores-coletores ou na vida moderna (foto: Emmanuel Lafont)

Se voc� j� foi romanticamente preterido por algu�m e ouviu a cl�ssica proposta do “mas podemos ser amigos”, talvez tenha dito ou pensado:

"N�o preciso de mais amigos, j� tenho amigos suficientes."

Mas, pelo visto, essa constata��o n�o � apenas dor de cotovelo.

Ao que parece, h� limites bem definidos para o n�mero de amigos, colegas e conhecidos que uma pessoa comum � capaz de manter.

E, de acordo com uma pesquisa do fim do s�culo 20, este n�mero m�gico � 150.

Mas ser� que esse limite � v�lido para a sociedade hiperconectada de hoje, considerando que muitos perfis nas redes sociais contam com milhares de seguidores?

Por meio de estudos com primatas n�o humanos, o antrop�logo brit�nico Robin Dunbar concluiu que havia uma rela��o entre o tamanho do c�rebro e o tamanho do grupo com o qual nos relacionamos.

O especialista descobriu que o tamanho do neoc�rtex – parte do c�rebro associada � cogni��o e � linguagem – em rela��o ao corpo est� vinculado ao tamanho de um grupo social coeso. E essa rela��o limita o grau de complexidade que um sistema de intera��o social � capaz de administrar.

Dunbar e seus colegas aplicaram esse princ�pio b�sico aos seres humanos, examinando dados hist�ricos, antropol�gicos e psicol�gicos contempor�neos sobre o tamanho dos grupos sociais, incluindo qu�o grandes esses grupos ficam antes de se dividirem ou se desfazerem.

E encontraram uma consist�ncia not�vel em torno do n�mero 150.

Segundo Dunbar e muitos pesquisadores influenciados por ele, essa regra de 150 � v�lida tanto para as sociedades primitivas de ca�adores-coletores, como para uma surpreendente variedade de agrupamentos modernos: escrit�rios, comunas, f�bricas, acampamentos, organiza��es militares, vilas inglesas do s�culo 11 e at� mesmo para a lista de destinat�rios de cart�es de Natal.

E, de acordo com ele, se um grupo exceder 150 pessoas, � improv�vel que dure muito tempo ou seja coeso.

Mas nem tudo gira em torno do n�mero 150. Outros n�meros tamb�m foram concebidos dentro da hip�tese do c�rebro social, como � conhecida a teoria de Dunbar.

Segundo ele, nosso c�rculo social mais pr�ximo � formado por apenas cinco pessoas – entes queridos. E � seguido por camadas sucessivas de 15 (bons amigos), 50 (amigos), 150 (contatos significativos), 500 (conhecidos) e 1500 (pessoas que voc� pode reconhecer).

As pessoas com quem nos relacionamos podem migrar para dentro e para fora dessas camadas, mas a ideia � que � preciso abrir espa�o para novas ades�es.

Evidentemente, todos esses n�meros representam, na verdade, o alcance. Os extrovertidos tendem a ter uma rede mais ampla, com rela��es mais pulverizadas. J� os introvertidos se concentram em um grupo menor de contatos s�lidos.

As mulheres, por sua vez, costumam ter um pouco mais de contatos nos c�rculos mais pr�ximos.


O círculo social mais próximo é formado por apenas cinco entes queridos
O c�rculo social mais pr�ximo � formado por apenas cinco entes queridos (foto: Emmanuel Lafont)

"O que determina essas camadas na vida real, no mundo cara a cara (...), � a frequ�ncia com que voc� v� as pessoas", diz Dunbar.

"Voc� precisa tomar uma decis�o todos os dias sobre como vai investir o tempo dispon�vel na intera��o social, e esse tempo � limitado."

Dunbar n�o sabe ao certo por que essas camadas de n�meros s�o m�ltiplos de cinco, mas diz que "o n�mero cinco parece ser fundamental para macacos e s�mios em geral".

Algumas organiza��es levaram esse conceito a s�rio. A Receita Federal sueca, por exemplo, reestruturou seus escrit�rios para permanecer dentro do limite de 150 funcion�rios.

Questionamentos

Nem todo mundo concorda com a hip�tese do c�rebro social. Alguns s�o c�ticos em rela��o � ideia de obter um n�mero m�gico para as intera��es sociais. Ainda assim, pode ser um exerc�cio �til ao se analisar a evolu��o das comunidades.

"Embora haja muitos fatores que podem limitar o n�mero de relacionamentos que criamos e mantemos, esses estudos nos ajudam a entender melhor (...) e medir a influ�ncia de tais vari�veis", diz Cristina Acedo Carmona, antrop�loga e economista da Universidade de Le�n, na Espanha.


Pesquisas americanas sugerem que as redes sociais se agrupam em torno de 290 pessoas, e não 150
Pesquisas americanas sugerem que as redes sociais se agrupam em torno de 290 pessoas, e n�o 150 (foto: Emmanuel Lafont)

Entre aqueles que acreditam que � poss�vel chegar a um n�mero de rela��es humanas que somos capaz de manter, alguns questionam se seria de fato 150. Pesquisas sobre diversos grupos sociais nos EUA sugerem que suas redes sociais se agrupam em torno de 290 pessoas.

Um argumento � que o n�mero de conex�es sociais n�o obedece a distribui��o normal (tamb�m chamada de distribui��o de Gauss, que prev� uma curva em forma de sino); de maneira que alguns indiv�duos com um grande n�mero de contatos podem estar distorcendo a m�dia.

Por exemplo, se algu�m � rico o suficiente para contratar assistentes para gerenciar parte de suas rela��es sociais, pode estar menos limitado pela quantidade de v�nculos que � capaz de manter confortavelmente. Como em muitos aspectos da vida social, os superconectados s�o os superprivilegiados.

O n�mero de Dunbar tamb�m � criticado por raz�es metodol�gicas. O tamanho do c�rebro dos primatas depende de outros fatores al�m da complexidade social, como da dieta.

E uma equipe anglo-holandesa argumentou que, embora o neoc�rtex seja finito, a capacidade social pode ser ampliada em diferentes contextos culturais – e com o aux�lio de diferentes tecnologias.

Acredita-se que o capital social pode ser especialmente importante para pessoas que n�o t�m outras formas de capital, como sugere uma pesquisa comparativa realizada por Acedo Carmona em Oaxaca, no M�xico, e no norte de Gana.

A alta diversidade biol�gica, os ambientes montanhosos remotos e a influ�ncia do colonialismo espanhol nas identidades �tnicas contribu�ram para os pequenos c�rculos de confian�a de Oaxaca, compostos em grande parte pela fam�lia nuclear.

Por outro lado, os recursos ambientais mais escassos do norte de Gana tornaram a coopera��o inter�tnica e os c�rculos de confian�a maiores fundamentais para a sobreviv�ncia.

Assim, “focar no tamanho do c�rebro e nas limita��es cognitivas pode ser excessivamente simplista”, enfatiza Acedo Carmona.

� poss�vel ent�o que o n�mero de Dunbar seja mais aplic�vel a sociedades pr�-modernas ou a grupos de renda m�dia nas sociedades contempor�neas ocidentais, educadas, industrializadas, ricas e democr�ticas.

Mas mesmo nessas sociedades isso est� se tornado mais complicado, pela forma como a cultura da Internet est� transformando as rela��es sociais.

Presen�a online

O Slack, aplicativo que permite a cria��o e o gerenciamento de grupos de trabalho, pode ser uma boa met�fora.

H� v�rios anos, a designer americana Carly Ayres criou um grupo no Slack para colegas de profiss�o, chamado “100s Under 100”. Atualmente, ele hospeda 84 canais moderados por 14 administradores.

Para Ayres, o n�mero de Dunbar faz sentido, considerando o que ela observa nos grupos.

"Acho que h� alguma verdade na ideia de que realmente h� um limite de quanta informa��o que voc� consegue guardar na cabe�a. Quanto mais voc� sabe sobre algu�m, melhor � esse relacionamento, mas isso provavelmente tamb�m limita o n�mero de relacionamentos que voc� pode ter”, diz ela.


Até mesmo na internet, é mais fácil ter relacionamentos mais sólidos quando você tem menos contatos para administrar
At� mesmo na internet, � mais f�cil ter relacionamentos mais s�lidos quando voc� tem menos contatos para administrar (foto: Emmanuel Lafont)

O grupo “100s Under 100” divide os participantes em c�rculos de conversa menores, para tornar a comunica��o entre os membros mais eficaz.

"Semelhante a uma escola ou universidade, voc� torna o grupo menor por meio de subcomunidades", explica Ayres.

O grupo tamb�m remove membros inativos periodicamente – uma forma mais proativa do que deixar certos relacionamentos morrerem devido � falta de tempo ou de energia para mant�-los.

Enquanto isso, cada vez mais gente est� adotando a premissa do “quanto menor, melhor” quando se trata da vida social online.

At� agora, as pesquisas de Dunbar e seus colegas sobre relacionamentos na internet sugerem que eles s�o semelhantes aos relacionamentos offline em termos de restri��es num�ricas.

“Quando observamos a estrutura do mundo dos games online, elas t�m praticamente as mesmas camadas que todos os outros contextos”, diz ele.

"E parece que s�o as mesmas caracter�sticas de design da mente humana que imp�em restri��es ao n�mero de indiv�duos com quem voc� pode lidar mentalmente a qualquer momento."

Dunbar e seus colegas tamb�m realizaram pesquisas no Facebook, usando par�metros como o n�mero de grupos em comum e mensagens privadas enviadas para mapear o n�mero de rela��es e a intensidade delas.


Há um equilíbrio entre a quantidade de conexões e o nível de intimidade que desenvolvemos com as mesmas
H� um equil�brio entre a quantidade de conex�es e o n�vel de intimidade que desenvolvemos com as mesmas (foto: Emmanuel Lafont)

Quando as pessoas t�m mais de 150 amigos no Facebook ou 150 seguidores no Twitter, diz Dunbar, isso representa as camadas externas do c�rculo social (ou seja, as conex�es mais fr�geis, como os conhecidos). Para a maioria das pessoas, n�o � poss�vel ter intimidade quando h� mais de 150 conex�es.

"As m�dias digitais – incluindo os telefones celulares – est�o, na verdade, apenas fornecendo outros mecanismos para entrar em contato com os amigos", acrescenta.

Mesmo a possibilidade de anonimato online n�o parece ser muito diferente do mundo offline. Dunbar compara intera��es an�nimas na internet com os confession�rios da Igreja Cat�lica. N�o � um relacionamento pr�ximo, mas � um relacionamento que reconhece os benef�cios da confidencialidade entre quase estranhos.

"� extremamente dif�cil chorar em um ombro virtual", lembra Dunbar.

Sob este ponto de vista, os relacionamentos virtuais n�o s�o capazes de desafiar os do "mundo real" de maneira significativa. As rela��es face a face – com todas as informa��es n�o verbais t�o importantes para a comunica��o – permanecem essenciais.

Mas a pr�pria pesquisa de Dunbar sugere diferen�as geracionais neste aspecto. Indiv�duos entre 18 e 24 anos t�m redes sociais na internet muito maiores do que aqueles com 55 anos ou mais.

E a primazia do contato f�sico, dentro da teoria do c�rebro social, pode se aplicar menos aos jovens que nunca conheceram a vida sem internet, para quem as rela��es digitais podem ser t�o significativas quanto as anal�gicas.

No final, faz sentido que haja um n�mero finito de amigos que a maioria das pessoas pode ter. O que n�o est� claro � se essa capacidade est� diminuindo ou aumentando diante da constante muta��o das formas de intera��o social na internet.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.


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