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Estado de Minas SA�DE

Alcoolismo: quando o consumo de bebidas para relaxar se transforma em v�cio

Consumo cr�nico tem forte rela��o com o emocional. Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo conscientiza popula��o dos riscos para a sa�de f�sica e mental


18/02/2021 10:00 - atualizado 18/02/2021 11:36

(foto: Pixabay)

Voc� j� sentiu que deveria diminuir a quantidade de �lcool ingerida? As pessoas j� o irritaram quando o criticaram pelo excesso de consumo alco�lico? J� se sentiu mal ou culpado a respeito desse h�bito? J� tomou bebida alco�lica pela manh� para “aquecer” os nervos ou se livrar de uma ressaca? 

Se a sua resposta � sim para algumas dessas perguntas, � poss�vel que haja alguma rela��o emocional ou f�sica de v�cio ou problemas relacionados ao consumo de �lcool. � o que indica o Minist�rio da Sa�de.

Por�m, segundo a entidade, � muito importante que a assist�ncia m�dica seja procurada imediatamente, a fim de discutir as respostas para essas perguntas e tra�ar um par�metro em torno do diagn�stico de alcoolismo ou n�o.  

S� assim, a melhor estrat�gia de tratamento poder� ser indicada aos que realmente sofrem com a depend�ncia alc�olica, considerada pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) como doen�a.

Para Ros�ngela Teixeira, m�dica cl�nica e hepatologista do Hospital Fel�cio Rocho, o alcoolismo constitui, ainda, um s�rio problema de sa�de p�blica, haja vista a alta incid�ncia de consumo e das taxas de mortalidade em decorr�ncia do v�cio pelo �lcool.  

De acordo com a OMS, em todo o mundo, cerca de 3 milh�es de pessoas morrem por ano em raz�o do uso nocivo de �lcool, representando 5,3% do total de mortes no globo. Na faixa et�ria entre 20 e 39 anos, aproximadamente 13,5% do total de mortes s�o atribu�veis ao �lcool, segundo os dados da entidade. No Brasil, a preval�ncia de depend�ncia alco�lica � de 12,3%, com maior ocorr�ncia em pessoas do sexo masculino. 

“O consumo de bebidas alco�licas � uma pr�tica muito antiga na hist�ria da humanidade, impregnada de m�ltiplos significados e rituais, frequentemente assentado em regras de conveni�ncia social mediadas por disposi��es simb�licas, restritivas e permissivas. J� o termo alcoolismo caracteriza-se pela vontade incontrol�vel de beber, pela perda do controle sobre a quantidade que se bebe, pela incapacidade de parar a ingest�o do �lcool e pela toler�ncia progressiva ao �lcool, o que requer ingest�o progressivamente maior da subst�ncia para se obter seus efeitos”, aponta Ros�ngela Teixeira. 

Al�m disso, ela destaca que o f�cil acesso e o baixo custo tornam o �lcool uma das drogas mais utilizadas e principal causadora de danos �s fam�lias e � sociedade, fazendo com que a preocupa��o em torno do �lcool n�o se resuma apenas a embriaguez, mas tamb�m a demais problemas que podem surgir no �mbito social e pessoal. 

PORTA DE ENTRADA 


Tasso Am�s, psiquiatra da Cl�nica Mangabeiras, pontua que o consumo de �lcool tende a surgir como uma v�lvula de escape em momentos emocionalmente dif�ceis e aos poucos avan�ar para um quadro de depend�ncia.

“Muitas pessoas em sofrimento psicol�gico buscam al�vio no �lcool, o que � potencialmente perigoso mesmo a curto prazo, j� que a subst�ncia provoca descontrole emocional, aflora sentimentos de raiva e tristeza e, como consequ�ncia, potencializa o comportamento autoagressivo”, completa.
 

"Eu bebia porque me sentia mais leve e feliz. Era como uma v�lvula de escape. Eu bebia e sentia que tudo estava bem. Mas, aos poucos, com o afastamento e os danos, comecei a perceber que eu precisava parar, eu precisava de ajuda."

J.B., 46 anos, pedreiro

 

A partir de ent�o, com a depend�ncia instalada, promovendo o consumo excessivo e cr�nico de bebidas alco�licas, h� uma altera��o dos circuitos cerebrais do dependente, o que pode e tende a persistir mesmo ap�s um per�odo de desintoxica��o. � o que explica os quadros de reca�da e desejo intenso de beber quando existem est�mulos, aponta Tasso Am�s. 

(foto: Luciana Rabelo/Divulga��o)
“O alcoolismo se instala normalmente de maneira insidiosa e tem curso flutuante, com per�odos de instabilidade gerados por abuso importante do �lcool seguidos por fases de maior controle, quando a pessoa abandona ou reduz o consumo. Com o passar dos anos, o desempenho geral do indiv�duo come�a a declinar, algumas atividades importantes s�o deixadas de lado e progressivamente a subst�ncia ocupa espa�o e tempo na vida da pessoa em adoecimento, seja para garantir o consumo ou para se recuperar dos seus efeitos t�xicos.” 

Em alguns casos, o v�cio se torna t�o grande que a ingest�o de bebidas alco�licas � mantida, mesmo havendo risco de morte e consci�ncia a respeito dos danos f�sicos e psicol�gicos causados pelo �lcool. 

Outros fatores capazes de influenciar o alcoolismo, al�m do emocional humano, t�m rela��o com a gen�tica, comportamentos pessoais e sociais e aspectos ambientais – desenvolvimento econ�mico, cultura, disponibilidade de �lcool e abrang�ncia e n�veis de implementa��o e execu��o das pol�ticas sobre �lcool.

N�o � toa, mais de 70% de toda a popula��o brasileira j� fez uso de �lcool ao longo da vida, 54,3% no caso de adolescentes, diz o Minist�rio da Sa�de. 

CORPO E MENTE SOFREM 


A m�dica Ros�ngela Teixeira explica que o �lcool encontrado nas bebidas � o etanol, subst�ncia resultante da fermenta��o de elementos naturais.

“O �lcool da aguardente vem da fermenta��o da cana-de-a��car, e o da cerveja, da fermenta��o da cevada, por exemplo. Quando ingerido, o etanol � digerido no est�mago e absorvido no intestino, caindo na corrente sangu�nea e atingindo demais �rg�os. Portanto, vale ressaltar que o etanol � muito t�xico para diversos �rg�os quando utilizado por tempo prolongado.” 

Justamente por isso, os danos podem ser graves. Segundo a m�dica cl�nica, no sistema nervoso, por exemplo, o etanol contribui para o desenvolvimento de dem�ncia e neuropatias com d�ficits sensitivos e motores. A for�a muscular tamb�m sofre e pode ser reduzida progressivamente, assim como a toxicidade card�aca pode causar miocardite e arritmias. H�, ainda, a ocorr�ncia de quadros de gastrite, �lcera e pancreatite aguda e/ou cr�nica.  
 
Outro potencial risco associado � o aparecimento de tumores e o desenvolvimento de c�nceres, principalmente no trato intestinal, bexiga e pr�stata.

“No f�gado, a toxicidade pelo etanol resulta em graves consequ�ncias. A doen�a hep�tica associada ao �lcool varia desde a esteatose hep�tica, ou ac�mulo de gordura no f�gado, �s formas mais avan�adas, incluindo hepatite alco�lica e a cirrose com suas s�rias complica��es, como o carcinoma hepatocelular.” 

“O alcoolismo, inclusive, � uma das principais causas de doen�a hep�tica em todo o mundo, seja como fator isolado ou cofator na progress�o da hepatite viral cr�nica, doen�a hep�tica gordurosa n�o alco�lica, sobrecarga de ferro e de outras doen�as hep�ticas. A progress�o da hepatopatia para est�gios mais avan�ados depende do uso cont�nuo de �lcool e da associa��o com outros fatores de risco, incluindo sexo feminino, suscetibilidade gen�tica, dieta e outras comorbidades”, completa.
 

"O alcoolismo carrega um estigma significativo na sociedade e os transtornos s�o evidentes tanto nas fam�lias quanto nas rela��es sociais. Assim, a pessoa dependente do �lcool, prejudica a sua pr�pria vida e afeta a fam�lia, amigos e colegas de trabalho. Portanto, � tamb�m um s�rio problema social e o tratamento � necess�rio em todos os casos."

Ros�ngela Teixeira, m�dica cl�nica e hepatologista do Hospital Fel�cio Rocho

 

Para al�m dos danos f�sicos, a mente tamb�m sofre, e muito. Isso porque, conforme elucidado pelo psiquiatra Tasso Am�s, o consumo cr�nico do �lcool pode promover ou agravar diversos sintomas neuropsiqui�tricos, como depress�o, ansiedade, ins�nia e preju�zos no racioc�nio e mem�ria. O alcoolista sofre, tamb�m, de exclus�o social, baixa autoestima, baixa autoconfian�a e perda de perspectivas, motiva��es e projetos de vida.  

“Trata-se de um adoecimento altamente desagregador no �mbito familiar e social. Assim, mais que uma doen�a do indiv�duo, � uma doen�a social”, descreve Ros�ngela Teixeira. 

Ainda, a ingest�o excessiva de �lcool tende a provocar danos diretos � sa�de de outras pessoas, sejam elas familiares, conhecidas, amigas ou desconhecidas. E isso porque, al�m da viol�ncia exacerbada resultante do uso excessivo de �lcool, de acordo com o Relat�rio Global sobre �lcool e Sa�de da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), publicado no ano passado, em 2016, o �lcool esteve associado a 36,7% dos acidentes de tr�nsito envolvendo homens e 23% envolvendo mulheres no Brasil. 

O QUE FAZER? 


“O alcoolismo carrega um estigma significativo na sociedade e os transtornos s�o evidentes tanto nas fam�lias quanto nas rela��es sociais. Assim, a pessoa dependente do �lcool prejudica a sua pr�pria vida e afeta a fam�lia, amigos e colegas de trabalho. Portanto, � tamb�m um s�rio problema social e o tratamento � necess�rio em todos os casos”, afirma a m�dica Ros�ngela Teixeira. 

(foto: Fel�cio Rocho/Divulga��o)
Por�m, ela destaca n�o ser f�cil tratar o alcoolista porque, assim como os demais v�cios, a taxa de reca�da � muito alta, em torno de 50% nos primeiros tr�s meses de tratamento. Al�m disso, � frequente o paciente recusar qualquer forma de tratamento por subestimar a depend�ncia ou negar sua posi��o enquanto alcoolista.

“O primeiro passo depende do paciente. Ele precisa se reconhecer alcoolista e querer se tratar. O envolvimento e a compreens�o da fam�lia nesse momento s�o fundamentais.” 

“A partir disso, entra o fundamento terap�utico, que consiste em auxiliar o alcoolista a reconstruir sua vida sem o uso do �lcool, por meio da abstin�ncia, ap�s ser constatado o consumo caracterizado como depend�ncia. Trata-se, portanto, de um processo terap�utico longo e complexo. � importante, tamb�m, vincular o paciente a um servi�o para dependentes de �lcool que disponha de abordagens multidisciplinares coordenadas, com base nas diversas modalidades terap�uticas”, aponta. 

O alcoolista, ent�o, passa por um processo de cura, com a desintoxica��o do �lcool, acompanhamento individual, avalia��o psiqui�trica, terapia cognitivo-comportamental e de avers�o, abordagem de abstin�ncia por meio de escalas espec�ficas, psicoterapia de grupo e orienta��o familiar.

Em alguns casos, pode se fazer necess�ria a interven��o farmacol�gica, que tende a variar de acordo com cada paciente e inclui o uso de sedativos, vitaminas e medicamentos. J� quando h� a instala��o de quadros mais graves, a interna��o hospitalar pode ser a melhor op��o. 
 

"O alcoolismo se instala normalmente de maneira insidiosa e tem curso flutuante, com per�odos de instabilidade gerados por abuso importante do �lcool seguidos por fases de maior controle, quando a pessoa abandona ou reduz o consumo. Com o passar dos anos, o desempenho geral do indiv�duo come�a a declinar, algumas atividades importantes s�o deixadas de lado e progressivamente a subst�ncia ocupa espa�o e tempo na vida da pessoa em adoecimento, seja para garantir o consumo ou para se recuperar dos seus efeitos t�xicos."

Tasso Am�s, psiquiatra da Cl�nica Mangabeiras

 

Nesse cen�rio, o psiquiatra Tasso Am�s ressalta a import�ncia do apoio familiar e de pessoas pr�ximas, ou mesmo de quem passa pela mesma situa��o. “Quanto maior o nosso repert�rio de amizades e atividades construtivas – leitura, esportes, desenvolvimento de habilidades em geral –, maior a concorr�ncia para o �lcool e qualquer outra subst�ncia potencialmente aditiva. O nosso instinto � de buscar recompensa o tempo todo, cabe a cada pessoa estruturar roteiros saud�veis para saciar a sua mente, o que evitaria a depend�ncia do �lcool ou seria parte de uma estrat�gia para se livrar dela.” 

“Portanto, quem est� pr�ximo deve oferecer ajuda, j� que o pedido espont�neo costuma demorar ou nem mesmo acontecer. As reca�das s�o a regra, por isso o esfor�o para evit�-las deve ser ininterrupto, provavelmente por muitos anos. N�o critique, n�o condene, isso normalmente afasta o dependente socialmente e do pr�prio tratamento. Grupos terap�uticos tamb�m podem ajudar bastante, pois s�o ambientes para compartilhar experi�ncias, de suporte m�tuo e com potencial motivacional”, diz. 

A DOR DO ALCOOLISMO 


O pedreiro L.B., de 46 anos, que n�o quis se identificar, relata que n�o se recorda ao certo quando se deparou com o alcoolismo. Ele sempre bebeu muito e, mesmo com o alerta de amigos e familiares, n�o se reconhecia como um alcoolista. A frase “quando eu quiser, eu paro” era quase um mantra em resposta aos questionamentos sobre a depend�ncia. Foi, ent�o, que pessoas come�aram a se afastar. O conv�vio social j� n�o era o mesmo. 

O desempenho no trabalho caiu. E sua vida pessoal tamb�m j� dava ind�cios de sofrer com a dor do alcoolismo para al�m dos danos f�sicos. “Eu bebia porque me sentia mais leve e feliz. Era como uma v�lvula de escape. Bebia e sentia que tudo estava bem. Mas, aos poucos, com o afastamento e os danos, comecei a perceber que precisava parar, eu precisava de ajuda”, conta. 

A “gota d’�gua”, segundo L.B., foi quando ele passou mal na rua, ap�s tanto beber, e desmaiou, precisando ser levado ao hospital. “L�, identificaram uma taxa alta de �lcool no meu sangue, a qual n�o me recordo. Comecei, ent�o, a frequentar o AA (Alco�licos An�nimos) e um outro grupo de ex-dependentes qu�micos de uma igreja do meu bairro. Aos poucos, consegui largar a depend�ncia e me reerguer. Hoje, sou um novo homem”, diz o pedreiro. 

O Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo � celebrado nesta quinta-feira (18). A data � comemorada como forma de conscientizar os brasileiros sobre o consumo excessivo de �lcool e os males que a pr�tica pode ocasionar. Caso precise de ajuda, acesse o site oficial dos Alco�licos An�nimos (AA)

*Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram 


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