Especialistas apontam as causas e destacam que os homens tamb�m sofrem com o problema. Dist�rbio acomete entre 50 milh�es e 80 milh�es de pessoas no mundo
Homens tamb�m sofrem com a infertilidade (foto: DrKontogianniIVF/Pixabay)
Meses ou anos de tentativas de engravidar sem sucesso podem indicar um quadro indesejado de infertilidade – dificuldade de um casal ter filho em um per�odo de um ano tendo rela��es sexuais sem nenhuma contracep��o. Por�m, apesar da condi��o de infertilidade n�o poder ser revertida, ela n�o significa que o casal inf�rtil � incapaz de ter filhos.
Afinal, ser inf�rtil n�o � sin�nimo de est�ril. “As chances mensais de sucesso � que s�o menores quando comparadas ao casal f�rtil, que tem taxa de fertilidade de 25% ao m�s em pacientes jovens de 30 anos.”
� o que explica o ginecologista Jo�o Pedro Junqueira Caetano, especialista em reprodu��o assistida da Huntington Pr�-Criar. O dist�rbio acomete entre 50 milh�es e 80 milh�es de pessoas em todo o mundo – s� no Brasil, s�o cerca de 8 milh�es –, segundo a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).
E esse n�o � um problema exclusivo da mulher: em 20% dos casos, os fatores dizem respeito ao casal, simultaneamente, 40% est�o relacionados somente ao homem e os outros 40% � mulher. Mas como o casal pode identificar o quadro de infertilidade? E quais sinais o corpo pode dar?
A administradora de empresas Joana Fonseca, de 45 anos, realizou o sonho de ser m�e das g�meas, Antonella e Allana,
depois de passar por um tratamento de fertilidade
(foto: Arquivo pessoal)
“Qualquer casal com mais de um ano de tentativas deve procurar orienta��o m�dica para avalia��o. N�o h� como saber se um casal � inf�rtil ou n�o sem tentar engravidar. Em alguns casos, o paciente j� sabe que ter� dificuldade maior para engravidar por ter alguma doen�a – endometriose, cirurgias ovarianas, ciclos menstruais irregulares, hist�ria de caxumba, hist�ria de altera��o nos test�culos e altera��es gen�ticas – ou ter feito algum procedimento cir�rgico em ov�rios, �tero ou test�culos”, afirma a ginecologista �rica Becker, especialista em reprodu��o assistida da Huntington Pr�-Criar.
Com a ajuda de um m�dico e exames espec�ficos para an�lise do �tero, trompas, reserva ovariana e s�men, a condi��o pode ser reconhecida. Foi assim que a administradora de empresas Joana Fonseca, de 45 anos, recebeu, ap�s anos de tentativas, o diagn�stico de infertilidade sem causa aparente, um obst�culo enorme para seu sonho de ser m�e, bem como tamb�m para o desejo de seu companheiro de ser pai. “Eu me casei aos 32 anos, j� n�o era t�o nova, e n�o tinha pressa para ter filhos. Queria aproveitar a minha vida e viajar. Ent�o, fui levando e aos 35 resolvi, junto com meu marido, tentar ter filhos. Eu simplesmente parei de tomar o anticoncepcional e fui deixando acontecer”, conta.
“Vimos, ent�o, que estava demorando. Come�amos a prestar aten��o nas datas e a namorar no ‘dia certo’. O tempo foi passando e n�o tivemos resultado. Resolvemos, ent�o, buscar ajuda. Fomos ao m�dico, fizemos exames e n�o t�nhamos nada. Fomos indicados a procurar cl�nicas de reprodu��o humana e, l�, fizemos v�rios exames. Recebemos o diagn�stico de infertilidade sem causa aparente.”
Segundo �rica Becker, a idade � fator determinante no sucesso da gravidez e est� atrelada � condi��o de infertilidade em alguns casos. N�o � toa, ela indica que a partir dos 30 anos a mulher planeje uma gesta��o ou avalie congelar o�citos e a partir dos 36 o casal procure assist�ncia especializada em reprodu��o humana ap�s seis meses de rela��es desprotegidas. Para al�m disso, o quadro pode ter causas espec�ficas. “A infertilidade pode ter origem em raz�o de altera��es tub�rias, m�-forma��es uterinas, altera��es ovarianas, altera��es hormonais, endometriose e varicocele.”
Por�m, assim como no caso de Joana Fonseca, existem casais cuja causa n�o consegue ser definida e tem-se o quadro de infertilidade sem causa aparente. “Em casais homoafetivos, apesar de poderem ter dificuldade pelas causas descritas, tamb�m precisaremos recorrer a um banco de gametas para o tratamento, por isso n�o seria necess�rio esperar para procurar assist�ncia m�dica especializada e se submeter a um tratamento de reprodu��o assistida”, pontua a ginecologista.
A infertilidade � considerada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) um problema de sa�de com implica��es psicol�gicas e m�dicas. H� impacto afetivo importante na vida do casal. Portanto, deve ser feito o acompanhamento multidisciplinar com m�dicos e psic�logos. “A infertilidade traz ang�stia, sensa��o de impot�ncia e de frustra��o aos casais, levando em alguns casos at� mesmo � separa��o.”
TRATAMENTO
Segundo Jo�o Pedro Caetano, a infertilidade � uma improbabilidade e n�o uma impossibilidade, portanto, al�m do tratamento, pode ocorrer casos em que os casais engravidam com a reprodu��o humana e, tamb�m, anos depois tem outro filho de forma natural. Mas, ele frisa ser muito importante que a terapia adequada seja procurada, a fim de otimizar e dar um sim para o sonho de serem pais.
“Como a idade da mulher � muito importante para a qualidade do o�cito e consequentemente para as taxas de sucesso dos tratamentos, deixar o casal inf�rtil tentando espontaneamente agrava o quadro cl�nico cada vez mais. No entanto, a concep��o espont�nea, mesmo que com baixa probabilidade, existe na grande maioria dos casais inf�rteis.”
(foto: L�o Horta/Divulga��o)
Qualquer casal com mais de
um ano de tentativas deve procurar orienta��o m�dica para avalia��o. N�o h� como saber se um casal � inf�rtil ou n�o sem tentar engravidar
Jo�o Pedro Caetano, ginecologista especialista em reprodu��o assistida
Ainda, conforme ele, as t�cnicas de reprodu��o assistida evolu�ram muito desde o nascimento do primeiro beb� de proveta, em 1978. Hoje, inclusive, v�rios tratamentos de infertilidade est�o dispon�veis, como indu��o da ovula��o, insemina��o artificial, fertiliza��o in vitro (FIV), ovodoa��o e congelamento de �vulos ou embri�es (criopreserva��o). Al�m disso, tem-se tamb�m o ICSI (inje��o intracitoplasm�tica de espermatozoide, t�cnica em que um �nico espermatozoide, especialmente selecionado, � injetado em cada �vulo dispon�vel).
H� menos de duas d�cadas, as taxas de sucesso de fertiliza��o in vitro, por exemplo, eram de cerca de 20%. Atualmente, as cl�nicas brasileiras trabalham com uma taxa de at� 50% e 60% de �xito nesse tipo de tratamento para pacientes at� 34 anos”, ressalta o especialista.
Joana Fonseca optou pelo tratamento. E, ainda assim, foram muitas tentativas antes das suas g�meas chegarem. Ao todo, foram sete. Os anos tamb�m pesaram na conta: nove anos entre idas e vindas. “O processo � um pouco desgastante, eu fazia algumas tentativas, desanimava, parava e voltava. Foram nove anos assim. No total, fizemos duas insemina��es artificiais e cinco fertiliza��es in vitro. Eu falo que Deus coloca anjos na vida da gente e, na cl�nica, fomos muito bem acolhidos por todos.”
COVID-19
Com os in�meros casos de COVID-19 e o risco de morte, o medo da doen�a � constante. Por�m, muitas d�vidas ainda pairam sobe o v�rus, j� que, pelo tempo em que est� em circula��o, muito ainda se tem para descobrir sobre a sua a��o e infec��o. E as mulheres se perguntam: ele pode causar infertilidade? Essa resposta ainda n�o foi bem esclarecida, mas o que se sabe at� o momento � que o v�rus n�o p�de ser identificado no sistema reprodutor da mulher, assim como na secre��o, l�quido amni�tico ou peritoneal. “Portanto, ainda n�o se pode afirmar que a doen�a pode ser prejudicial para a fertilidade feminina.”
� o que explica Jo�o Pedro Caetano. Por�m, na fertilidade masculina, a realidade � outra. Um artigo realizado por pesquisadores chineses e publicado na revista The Lancet sugeriu que o v�rus pode afetar o processo em que espermatozoides s�o produzidos. Al�m disso, ao comparar o s�men de pacientes com COVID-19 e homens que n�o tinham a doen�a, algumas diferen�as foram detectadas, como menor n�mero de espermatozoides e aumento de c�lulas que indicavam processo infeccioso local, o que pode afetar a produ��o dos espermatozoides e interferir na fertilidade do homem, al�m de causar anomalias no esperma.
“At� o momento, esses impactos s�o incertos. Estudos como esse mostram a import�ncia da realiza��o de mais pesquisas com um n�mero maior de pessoas para que sejam confirmados os resultados”, pondera o especialista, que alerta, ainda, que a COVID-19 aumenta o risco de as gestantes ficarem doentes. “Justamente por isso, n�o � aconselh�vel postergar a investiga��o da infertilidade por causa da pandemia que vivemos na atualidade. Os casos ser�o individualizados”, afirma.
*Estagi�ria sob a supervis�o da editora Teresa Caram
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