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Estado de Minas COMPORTAMENTO

'Estava virando o mach�o que nunca quis ser': o 'disque-machismo' que ajuda homens na Col�mbia

Prefeitura da capital colombiana criou uma linha telef�nica para ajudar homens a lidarem com suas emo��es - uma medida preventiva contra a viol�ncia dom�stica


14/10/2021 13:30 - atualizado 14/10/2021 15:16

Duas fotos de homens sorrindo para a câmera
Mais de 2 mil homens j� procuraram a linha telef�nica Calma, criada pela prefeitura de Bogot� (foto: Alcaldia de Bogota)

"Seja bem-vindo � Calma, uma linha de escuta para os homens", diz ao telefone uma voz masculina, suave e lenta. "Estamos aqui para ouvir e orientar."

Minutos depois, um especialista em psicologia da prefeitura de Bogot� entra na liga��o para prestar atendimento a homens da capital colombiana que possam estar passando por algum tipo de ang�stia.

 

 


Em dez meses de exist�ncia da linha Calma, quase 2 mil homens buscaram atendimento. Cerca de 200 deles passaram por 10 sess�es gratuitas e personalizadas �s quais t�m direito, apenas por estarem dispostos a analisar suas emo��es, pensamentos e atitudes machistas.

"Eu estava me tornando o mach�o que nunca quis ser", diz � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC) o padeiro e artista Alex Rodr�guez, 31 anos, morador de Bogot�.

"Como fiquei preocupado de estar sentindo aquele ci�me t�pico de um homem t�xico, liguei para a linha e a Diana, uma psic�loga, me disse que ci�me � normal, que todos sentimos, e que o importante � saber como process�-lo."


Alex Rodriguez sorrindo para foto em área arborizada
'Eu estava me tornando o mach�o que nunca quis ser', diz Alex Rodr�guez (foto: BBC)

A maioria dos homens que liga para a Calma o faz em meio a uma crise de ci�mes.

"Descobrimos que n�o s� entre os homens, mas tamb�m as mulheres colombianas, o ci�me � algo a que nos ligamos muito", diz Mar�a Fernanda Cepeda, especialista em g�nero da prefeitura de Bogot�.

Subsecret�rio de cultura cidad� na prefeitura, Henry Murrain acrescenta: "Por tr�s do mach�o que tudo pode, que tudo controla, h� um homem profundamente inseguro e atormentado".

"Isso vem n�o s� do ci�me, mas de uma ideia de exclusividade e controle da mulher, a partir da qual as f�rias mais profundas s�o despertadas e podem tornar a pessoa violenta, algo que, na maioria das vezes, eles n�o querem."

Na Argentina, no M�xico e no Peru, entre outros, h� programas de assist�ncia a homens que cometem viol�ncia de g�nero, mas a maioria dessas iniciativas foca em agressores j� condenados ou s�o promovidas por organiza��es civis.

J� a linha Calma investe na preven��o a atitudes sexistas e parte do poder p�blico.

"H� muito esfor�o no empoderamento das mulheres e no trabalho com os agressores, mas nossa abordagem, de natureza antropol�gica, busca prevenir a viol�ncia sexista por meio da compreens�o e da aten��o �s suas causas emocionais", explica Murrain.

Homens 'atormentados' pelo papel de 'provedor e conquistador'

� frente do projeto na prefeitura, Henry Murrain pesquisou o machismo dos colombianos em duas cidades: Barranquilla e Barrancabermeja.

"Por meio de v�rios estudos, constatamos que o colombiano, embora eu ache que esta seja uma faceta bem latino-americana, � atormentado por uma s�rie de fardos impostos por sua condi��o de provedor e conquistador masculino", aponta.

"Eles n�o conseguem processar as emo��es de culpa, raiva e impot�ncia de forma calma e transparente, mas sim com viol�ncia e arrog�ncia."

Pesquisas da prefeitura local mostram que 66% da viol�ncia dom�stica � cometida pelo parceiro, que 55% dos casos s�o atribu�dos ao ci�me e que 76% concordam que os homens n�o sabem controlar suas emo��es.


Henry Murrain fala em evento de máscara, segurando microfone e com telão ao fundo
Henry Murrain j� estudou a cultura patriarcal em cidades colombianas e agora est� � frente do projeto Calma, da prefeitura de Bogot� (foto: Alcaldia de Bogota)

Cepeda acrescenta: "A expectativa sobre os homens � que eles ajam de acordo com a ideia de masculinidade, do homem que prov� e n�o trata do sentimental".

"� uma identidade muito dif�cil de ganhar e muito f�cil de perder, porque eles t�m de mostrar constantemente que s�o homens, que proveem, que conquistam, que n�o choram".

A antrop�loga questiona: "Como podemos esperar que os homens n�o exer�am viol�ncia se lhes pedimos constantemente que estejam sustentando esta hombridade machista?"

Culpa estava 'gerando problemas muito profundos'


Oscar Eduardo López sorrindo na rua, encostado na parede de uma casa com pose relaxada
Oscar Eduardo L�pez superou a infidelidade da namorada com ajuda de especialista do projeto Calma (foto: Oscar Eduardo L�pez)

Oscar Eduardo L�pez, um residente de Bogot� de 24 anos que trabalha com m�sica e jornalismo, n�o estava sabendo lidar com a infidelidade da namorada quando ligou para a linha Calma.

"A culpa por sentir que n�o consegui atender �s vontades da minha parceira estava me gerando problemas muito profundos", conta L�pez. "Quando ia buscar ajuda com amigos e parentes, eu ouvia coisas como: supere isso; a vida � assim mesmo, vire a p�gina."

Ao conversar com um especialista do projeto Calma, o jovem diz ter encontrado um interlocutor neutro e paciente que o fez entender "que o rompimento e a infidelidade n�o foram culpa minha, mas uma decis�o dela que pouco ou nada teve a ver com o que fiz".

Diferente de outras capitais da Am�rica Latina, Bogot� est� nos primeiros lugares em viol�ncia domiciliar na Col�mbia. Apenas Casanare, Arauca e Meta apresentam taxas mais altas deste tipo de viol�ncia.

"Apesar de todo o progresso que Bogot� fez em termos de seguran�a, consci�ncia ambiental e comportamento urbano, h� uma d�vida quando se trata de viol�ncia domiciliar", explica Murrain.

De acordo com dados oficiais, 5 em cada 10 homens em Bogot� cresceram sem o pai como a principal figura masculina.

Cepeda aponta que "quando o pai n�o est� ausente, ele � violento".

"� um problema de sa�de p�blica", acrescenta Murrain. "Sabemos que emo��es como o ci�me s�o indicadores de viol�ncia. Portanto, com um tratamento adequado e profissional dessas emo��es, podemos prevenir a viol�ncia."

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