
Mais do que n�meros, o estudo � um alerta para a aten��o b�sica na rede p�blica aos beb�s prematuros, que representam a principal causa de mortalidade no Brasil. De acordo com a ONG Prematuridade.com, o Brasil ocupa a 10ª posi��o no ranking mundial de prematuridade, com cerca de 279 mil beb�s prematuros por ano – 11,7% do total de nascimentos no pa�s, procedimento que resulta na segunda causa de mortes de crian�as com menos de 5 anos, perdendo apenas para a pneumonia. A maioria dos casos decorre de gesta��es na adolesc�ncia ou tardias, pr�-natal deficit�rio e doen�as maternas.
Conforme a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), 15 milh�es de beb�s no mundo nascem todos os anos antes do tempo. O parto � considerado prematuro quando ocorre com menos de 37 semanas completas de gesta��o, ou 259 dias.
O Centro de Apoio e Inclus�o Social (Cais), em Contagem, apresentou os resultados do levantamento sobre aten��o a beb�s prematuros com quadro de debilidade e autismo. A pesquisa tem a chancela do Minist�rio da Sa�de e aponta a��es para otimizar o atendimento imediato, o que resultaria em economia substancial de verbas destinadas � sa�de. Novembro Roxo � a campanha dedicada � conscientiza��o da sociedade sobre o parto prematuro e a prematuridade.
POL�TICAS P�BLICAS
Assinada pelas psicanalistas Cristina Abranches e Simone Hachem, a pesquisa, denominada “Riscos para a defici�ncia intelectual e no transtorno do espectro do autismo e a integra��o a tempo para beb�s prematuros”, alerta para a necessidade urgente de implementa��o de pol�ticas p�blicas voltadas ao atendimento precoce.
Cristina Abranches observa que a entrada de prematuros e de uma quantidade maior de crian�as pequenas e de beb�s egressos de UTI neonatal impactou todo o atendimento do Cais e permitiu algumas constata��es cl�nicas que motivaram a pesquisa. Ela aponta como exemplo a percep��o de que durante os encontros do programa Acompanhamento de Beb�s observou-se que as crian�as atendidas precocemente apresentavam uma evolu��o bem mais favor�vel em rela��o as que chegavam tardiamente.
Abranches estima que quanto mais precoce o atendimento, menor � o tempo necess�rio de acompanhamento. "Antes de atender os beb�s, como fazemos hoje no Cais, t�nhamos em m�dia 12 anos de atendimento por crian�a. Para aqueles que chegam mais cedo, o tempo cai para um ter�o." A quest�o, segundo as pesquisadoras, � que h� manifesta��es patol�gicas entre os 2 e 3 anos de idade e esse acompanhamento estendido, com uma interven��o a tempo, pode impedir que a patologia se instale ou se agrave.
SINAIS NO BEB�
A escuta cl�nica, ainda segundo a psicanalista, foi outro fator de destaque, pois permitiu perceber alguns sinais no beb� que poderiam indicar um quadro ps�quico que estava se desenvolvendo para uma posi��o aut�stica ou mesmo uma posi��o d�bil, mesmo antes de se fechar um diagn�stico. “Muitas vezes, esses quadros ps�quicos estavam associados a alguma intercorr�ncia e a um comprometimento org�nico, mas em outros n�o era evidente”, diz Abranches.
Durante os levantamentos, verificaram-se diferen�as marcantes no estado de sa�de, nas habilidades cognitivas, no desempenho escolar e no comportamento, ao comparar crian�as nascidas prematuramente com aquelas nascidas a termo. “J� em outros estudos percebia-se que as crian�as prematuras teriam maior probabilidade em desenvolver os quadros de defici�ncia intelectual e transtorno do espectro autista. Esses foram os temas e desafios de estudos contemplados nessa pesquisa”, afirma.
Na realiza��o da pesquisa foram avaliadas 384 crian�as. Simone Hachem pontua que na an�lise dos resultados observou-se que a aplica��o de qualquer um dos protocolos por si s� n�o levaria ao encaminhamento do paciente, pois seria preciso a an�lise cl�nica decisiva, um diferencial para decidir qual o melhor encaminhamento e conduta cl�nica, protocolos que serviriam como um roteiro para balizar as observa��es e a an�lise cl�nica.
“Na an�lise do grupo de crian�as que haviam recebido alta percebemos que no programa Acompanhamento de Beb�s, constitu�do por crian�as que chegam mais cedo, houve um maior efeito, com uma percentagem maior de autonomia e inclus�o e taxa menor de crian�as que ainda apresentam demanda para algum tipo de atendimento. Enquanto no Acompanhamento de Beb�s encontramos 75,5% das crian�as com autonomia e inclus�o, no N�cleo de Interven��o Precoce, cujo objetivo principal � promover atendimentos especializados de acordo com a demanda de cada crian�a, foram 66,6%”, observa.
� IMPOSS�VEL PREVENIR A PREMATURIDADE

O diagn�stico precoce da gravidez e o acompanhamento pr�-natal regular e sistem�tico antecipam doen�as e tratamentos, evitando preju�zos para a m�e e para o feto, bem como um nascimento antecipado. Diabetes gestacional, pr�-ecl�mpsia (aumento da press�o arterial na gesta��o), infec��es maternas, tabagismo, gravidez gemelar, descolamento prematuro da placenta s�o algumas das condi��es que causam o parto prematuro.
“Quando o parto prematuro � inevit�vel, � necess�rio acolher esses fr�geis e imaturos rec�m-nascidos em local apropriado, onde s�o esperados por uma equipe multidisciplinar para o cuidado especializado e gentil, baseado no manuseio e invas�o m�nimos, mas com tecnologia. O objetivo � promover crescimento e reduzir a chance de sequelas f�sicas e emocionais”, explica. A coordenadora da UTI Neonatal tamb�m defende a presen�a constante dos pais junto da crian�a. “Permitir que a m�e e o pai tenham livre acesso � crian�a � muito importante para um desenvolvimento mais r�pido do beb�.”
A tatuadora Fernanda Natielly Fraga, de 23 anos, conta que passou por uma gesta��o delicada. Foi necess�rio fazer dois pr�-natais, um de alto risco, em fun��o da asma cr�nica. A pr�-ecl�mpsia, novo diagn�stico de hipertens�o arterial ou de piora de hipertens�o arterial preexistente, fez com que o beb� perdesse muito peso, e Sarah Carolina veio ao mundo na 26ª semana de gesta��o. Depois de permanecer quatro meses no Centro de Terapia Intensiva, a crian�a recebeu alta e foi encaminhada ao Cais.
“Fiquei encantada com o tratamento a n�s dispensado. Aqui encontrei o apoio e a aten��o necess�rios para mim, minha filha, meu pai e minha m�e. N�o teria como bancar tantas especialidades indispens�veis, como acompanhamento neurol�gico, sess�es de fisioterapia e psic�logos. O apoio dessas pessoas tem sido fundamental para toda a fam�lia”, afirma.