Homem caminha na ferrovia

Viajar sozinho � uma experi�ncia de autoconhecimento

Pixabay


Viajar � preciso. Entre muitas outras coisas, a pandemia nos tirou um dos grandes prazeres de viver em um planeta t�o diverso e cheio de novos lugares e culturas para conhecer. Mas o avan�o da vacina��o permitiu que certos sonhos se tornassem realidade. Entre eles, fazer a mala e seguir, muitas vezes, ao encontro de si mesmo.
 
Esse � o caso da dona de casa Maria Arlete Pimentel de Lima, de 55 anos. Foi somente no fim do ano passado que ela conseguiu realizar um de seus antigos desejos: fazer a Romaria para Aparecida, em S�o Paulo. A aventura de Arlete, sua primeira viagem sozinha, sem a companhia de nenhum dos filhos ou do marido, estava programada para acontecer no in�cio de 2020, mas teve que ser adiada em virtude da pandemia.
 
"Sempre tive vontade de fazer essa viagem, mas n�o tinha condi��es. Foi uma pena que, quando finalmente pude ir, tivemos que esperar. Al�m disso, est�vamos todos com medo, sem saber direito o que ia acontecer. Rezei muito", conta Arlete.
 
Gustavo Emmanuel de Castro

Gustavo Emmanuel de Castro sempre teve o h�bito de viajar sozinho e quando terminou a faculdade fez um interc�mbio de um ano que mudou sua vida

Ed Alves/CB/D.A Press - 29/11/21
 
 
N�o foi f�cil para a dona de casa lidar com a frustra��o da viagem, adiada indefinidamente. E, apesar de todo o medo trazido pelo novo coronav�rus, Arlete conta que tudo correu bem em sua fam�lia. Respeitando o isolamento e se vacinando assim que podiam, todos ficaram com sa�de.
 
Com o grupo de amigas da igreja, duplamente vacinada, ela, finalmente, p�de realizar o sonho. Em novembro, embarcou em um �nibus e acrescentou novas b�n��os em suas preces de agradecimento � santa. "Eu queria agradecer � Nossa Senhora pelas b�n��os alcan�adas e, agora, tamb�m posso ser grata por ningu�m da minha fam�lia ter pego essa doen�a horr�vel. Todas estamos felizes, contentes por, finalmente, viver esse momento especial."
 
Al�m de ser a primeira viagem solo de Arlete e a realiza��o de um sonho de juventude, o passeio foi a primeira vez em que ela se afastou da fam�lia desde o in�cio da pandemia. "O sentimento principal � de felicidade e al�vio por, finalmente, viver esse momento."
 

"Eu queria agradecer � Nossa Senhora pelas b�n��os alcan�adas e, agora, posso ser grata por ningu�m da minha fam�lia ter pego essa doen�a horr�vel. Todas estamos felizes, contentes por, finalmente, viver esse momento especial"

Maria Arlete Pimentel de Lima, de 55 anos, dona de casa

 
 
Maria Arlete Pimentel de Lima

Maria Arlete Pimentel de Lima

Arquivo pessoal
 
 
Al�m da igreja e do roteiro religioso, Arlete conta, aos risos, que estava muito ansiosa para conhecer o shopping da cidade. Ficar no �nibus com as amigas e conhecer outras pessoas tamb�m foi importante para a aposentada. O isolamento a fez valorizar ainda mais as novas amizades. "Depois de afastar, acho que a pandemia reuniu as pessoas, fazendo a gente ser mais caridoso e humilde, valorizando o nosso pr�ximo e as rela��es uns com os outros", acredita a dona de casa.

MOMENTOS EM FAM�LIA Diferentemente de Arlete, o consultor pol�tico Gustavo Emmanuel de Castro, de 27, sempre viajou sozinho e at� deixava de embarcar com a fam�lia para viver uma aventura particular. Tudo come�ou em 2017, quando ele fez um interc�mbio para a Irlanda.

Rec�m-formado na faculdade, Gustavo queria aperfei�oar seu conhecimento da l�ngua inglesa para o futuro profissional e descobrir o que queria fazer da vida. "Um amigo sugeriu essa viagem, eu estava bem perdido e curti a ideia. No fim, ele desistiu e eu acabei indo s�", lembra.
 
Ao entrar no avi�o e se deparar com os comiss�rios falando outra l�ngua, assim como os passageiros, o frio na barriga aumentou, e o mix de medo e anima��o tomou conta de Gustavo. Foi a primeira vez que ele saiu de casa e, apesar das dificuldades que surgiram no caminho, o rapaz define a experi�ncia como libertadora. "Tinha que me virar e, por ser uma pessoa muito ansiosa, ser for�ado a viver tudo no presente me ajudou a me conhecer e entender melhor a vida", afirma.
 
Al�m de n�o ter muito tempo para se preocupar com as incertezas do futuro, Gustavo acredita que estar longe de casa e de todos que conhecia permitiu que ele se desligasse tamb�m do passado e pudesse entender melhor quem ele era no presente, sem interfer�ncias.

"Vivi tudo de maneira muito amplificada, foquei no presente, em mim mesmo e acho que pude me entender melhor, o que me permitiu voltar e ser uma pessoa melhor para minha fam�lia e meus amigos tamb�m. Al�m de ter uma no��o do que eu queria da vida", conta.

LIBERDADE ZERO Por�m, pouco tempo depois de voltar para o Brasil, Gustavo se viu trocando a liberdade total pela liberdade zero. O isolamento com os pais e a irm� fez com que a readapta��o de Gustavo � conviv�ncia familiar 24 horas por dia acontecesse intensamente.

Em home office durante todo o ano, depois da vacina��o, surgiu a oportunidade da primeira viagem ap�s o isolamento. Foi a primeira vez, desde a inf�ncia, que Gustavo viajou com a fam�lia. Em Fortaleza, al�m de estar com os pais e a irm�, ele p�de reencontrar toda a fam�lia do pai, que n�o via havia mais de 10 anos.
 
"Sempre fui mais na minha, n�o viajava tanto com eles, mas acho que a pandemia me fez entender o quanto vale a pena a gente valorizar esses momentos com quem amamos. Vale a pena me esfor�ar para estar com eles, em vez de priorizar outra viagem sozinho, por exemplo."
 
Mas a experi�ncia positiva n�o tirou o esp�rito aventureiro de Gustavo. Ele j� se prepara para viver algo novo assim que tirar suas primeiras f�rias com carteira assinada. Sempre pensando para onde vai depois, ele planeja conhecer a Am�rica Latina, e a Patag�nia est� em primeiro lugar na lista. "Vou sozinho e l� reencontro alguns amigos que fiz pelo mundo. As grandes viagens que mudaram a minha vida eu fiz sozinho e estou ansioso e animado para descobrir o que me aguarda", diz.
 
Para Gustavo, a liberdade � um dos grandes atrativos desses passeios. Quando est� acompanhado, ele acha que fica mais cauteloso; sozinho, permite-se um pouco mais. Sem precisar combinar e considerar a vontade de outras pessoas, pode viver experi�ncias �nicas e inesperadas.