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Estado de Minas

'Meu marido era fumante, mas eu que tive c�ncer'

Nalini n�o fuma, mas ao longo dos seus 33 anos de casamento foi exposta ao fumo passivo


03/06/2022 15:57 - atualizado 03/06/2022 16:23


Uma senhora indiana idosa segura um vaso de flores
Nalini hoje respira por um buraco no pesco�o (foto: Arquivo Pessoal)

"N�o consigo respirar pelo nariz. Respiro por um buraco no pesco�o chamado estoma", conta Nalini Satyanarayan, de 75 anos.

Nalini foi diagnosticada com c�ncer em 2010, cinco anos ap�s a morte do marido. Moradora da cidade de Hyderabad, no sul da �ndia, ela n�o fuma, mas ao longo dos seus 33 anos de casamento foi exposta ao fumo passivo.

"Meu marido era um fumante inveterado. Eu n�o sabia que isso me afetaria ou que seria t�o ruim assim", diz ela � BBC. "Eu me preocupava com a sa�de dele, dizia a ele para parar de fumar, mas isso n�o adiantava."

A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) diz que o cigarro mata oito milh�es de pessoas todos os anos. Destes, 1,2 milh�o foram expostos ao fumo passivo do tabaco.

Al�m disso, muitos outros sofrem doen�as limitadoras. A BBC explica os danos causados a n�o-fumantes como Nalini.


Mulher acende um cigarro em frente a uma criança muito pequena de olhos puxados
O fumo passivo pode ser letal para crian�as (foto: Getty Images)

Voz rouca

Nalini percebeu que sua voz estava ficando rouca ao contar hist�rias para sua neta Janani. Em pouco tempo, parou de falar claramente e tamb�m estava ficando sem f�lego.

Sua doen�a foi diagnosticada como c�ncer tor�cico. Os m�dicos removeram suas cordas vocais e sua gl�ndula tireoide.

"Perdi minha capacidade de falar. Foi muito desanimador. Ent�o, os m�dicos me disseram que eu n�o recuperaria minha voz original."

Janani - agora com 15 anos - lembra o que aconteceu de repente com sua av� at� ent�o "muito falante".

"Quando ela foi diagnosticada, n�o ficou em casa por um longo tempo", diz a jovem.

"Quando voltou, eu tinha cerca de quatro anos. Havia tubos em seu est�mago... havia tubos por toda parte. T�nhamos que limpar nossa casa com frequ�ncia e havia uma enfermeira conosco."

Nalini recebeu bons cuidados m�dicos e conseguiu come�ar a falar novamente com a ajuda de um dispositivo eletr�nico.

"Eu tive c�ncer por causa do meu marido", diz Nalini. "Os fumantes exalam as subst�ncias venenosas e os fumantes passivos acabam inalando-as."


Homem fumando com fumaça em frente ao seu rosto
A ind�stria do cigarro luta contra regula��o (foto: Getty Images)

Subst�ncias cancer�genas

A OMS insiste que "todas as formas de tabaco s�o prejudiciais e n�o h� n�vel seguro de exposi��o ao tabaco".

"O fumo passivo cont�m mais de 7 mil produtos qu�micos, dos quais cerca de 70 podem causar c�ncer", diz Angela Ciobanu, da �rea de controle do tabaco no Escrit�rio Europeu da OMS.

A fuma�a do tabaco tamb�m afeta a sa�de de nossos cora��es. "A exposi��o ao fumo passivo por apenas uma hora pode danificar a camada interna das art�rias coron�rias, o que aumenta o risco de ataque card�aco", acrescenta Ciobanu.

Morte de crian�as

O �rg�o de sa�de da ONU estima que o tabagismo passivo causa 65 mil mortes de crian�as a cada ano.

As crian�as expostas ao fumo passivo tamb�m correm maior risco de infec��es de ouvido, que podem levar � perda auditiva e � surdez.

"As crian�as t�m um risco 50 a 100 por cento maior de desenvolver doen�as respirat�rias agudas, bem como um risco aumentado de asma e s�ndrome da morte s�bita infantil", diz Ciobanu.

A OMS tamb�m afirma que h� um forte apoio � proibi��o de fumar em certos ambientes entre fumantes e n�o fumantes.

"Ambientes completamente livres de fumo s�o a �nica maneira eficaz de proteger a sa�de dos n�o-fumantes. N�o permita que ningu�m fume perto de voc� ou de seus filhos. O ar puro � um direito humano b�sico", afirma Ciobanu.

No entanto, reduzir o uso do tabaco n�o � f�cil. A an�lise da Grand View Research avalia que o setor movimentou US$ 850 bilh�es (R$ 4 trilh�es) em 2021.

Isso � quase o dobro do PIB da na��o mais populosa da �frica, a Nig�ria. O Banco Mundial estima que sua economia teve o valor de US$ 430 bilh�es em 2020.

A entidade Grand View Research diz que o aumento da demanda por tabaco "foi sustentado pelo crescente n�mero de fumantes nas regi�es em desenvolvimento da �sia e da �frica".

Para proteger seus interesses comerciais, grandes empresas de tabaco lutam contra os regulamentos de sa�de e �s vezes conseguem barrar proibi��es.


Foto de close de uma senhora de cabelos pretos e pele morena
Mary Assunta trabalha na luta contra o cigarro (foto: Arquivo Pessoal)

Longa luta

Ainuru Altybaeva estava entre um grupo de parlamentares do Quirguist�o que uniram for�as para aprovar um projeto de lei que pro�be fumar em locais p�blicos em 2018.

Ela argumentou que o tabaco estava causando 6 mil mortes por ano no pa�s e que a proibi��o poderia reduzir o consumo de tabaco em dez por cento.

Mas ela enfrentou grande resist�ncia.

"Devido � liga��o de alguns parlamentares � ind�stria do tabaco, a proposta foi encaminhada a uma comiss�o que pretendia atrasar a aprova��o. Funcion�rios do Minist�rio da Economia tamb�m manifestaram preocupa��o com a redu��o da arrecada��o tribut�ria", lembra Altybaeva. "Algumas pessoas usaram as redes sociais para atacar a mim e � minha fam�lia."

Ela lutou incansavelmente e em 2021 a lei que pro�be fumar em �reas p�blicas entrou em vigor. O trabalho de Altybaeva est� longe de terminar.

Ela est� realizando campanhas de conscientiza��o e est� construindo apoio contra o uso de tabaco entre diferentes comunidades.


Jovem de pele morena e traços indianos sorri ao lado da avó
Nalini com sua neta Janani (foto: Arquivo Pessoal)

Progresso lento

Os esfor�os globais para ajudar a diminuir as mortes por tabaco tomaram forma na Conven��o de 2005 para o Controle do Tabaco. At� agora, 182 pa�ses aderiram.

Ativistas contra o tabaco dizem que os pa�ses precisam ir al�m de impor proibi��es de fumar em p�blico e implementar outras sugest�es contidas na conven��o.

"Uma pol�tica antifumo � respeitar o direito das pessoas ao ar puro", argumenta Mary Assunta, da ONG Centro Global para Boa Governan�a no Controle do Tabaco.

"Para conseguir [impacto com as proibi��es] na redu��o das taxas de mortalidade, essa medida deve ser acompanhada de pol�ticas abrangentes de controle do tabaco - incluindo impostos altos, campanhas de educa��o, advert�ncias ilustradas nos ma�os de tabaco e proibi��es de publicidade e promo��o do tabaco."

Embora o n�mero de fumantes em todo o mundo esteja caindo lentamente, ainda � de 1,3 bilh�o. A OMS diz que um em cada 10 cigarros vem do com�rcio il�cito de tabaco, n�o regido por nenhum regulamento.

Assunta tamb�m pede que as autoridades sejam mais vigilantes. Ela encontrou v�rios casos de an�ncios de produtos de tabaco em aplicativos e jogos populares entre as crian�as.

"� cruel uma ind�stria vender um produto que mata metade de seus clientes prematuramente. Al�m de tudo esse produto � respons�vel pela morte de n�o fumantes. A ind�stria do tabaco deve ser obrigada a pagar pelos danos que causou e continua causando", diz Assunta.

'N�o culpo meu marido'

Nalini continua a respirar pelo buraco na garganta e s� pode comer alimentos macios.

Mas ela aprendeu a viver uma vida muito independente. Aprendeu a tocar clarinete, fez doutorado em bot�nica e � apaixonada por jardinagem.

E se considera uma vencedora, tendo sobrevivido ao c�ncer.

Nalini tamb�m passa mais tempo com os dois netos. Janani, que quer se tornar veterin�ria, procura a av� com frequ�ncia para aulas de ci�ncias.

Nalini vai a escolas, universidades, reuni�es comunit�rias e muitos outros lugares, contando �s pessoas sobre os perigos do tabagismo passivo, destacando sua pr�pria hist�ria.

Apesar de ter perdido a voz e passado por grande sofrimento, Nalini n�o guarda rancor contra seu falecido marido.

"Nunca me senti chateada com meu marido. N�o adianta sentir m�goa, n�o vai resolver nenhum problema. Aceitei a realidade e nunca me senti envergonhada de falar sobre minha doen�a", diz ela.

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