
A poliomielite foi durante o s�culo 20 uma das doen�as infantis mais temidas. Ela pode atacar o sistema nervoso e, em poucas horas, deixar algu�m paralisado.
Quando paralisa os m�sculos do peito, a pessoa n�o consegue respirar. Assim, o pulm�o de ferro semelhante a um sarc�fago j� foi uma vis�o comum nas enfermarias de p�lio.
Tudo isso parece coisa do passado — e h� boas raz�es para termos essa impress�o. A doen�a quase foi varrida da face da Terra.
No Brasil, o �ltimo caso de poliomielite foi observado na cidade de Sousa, na Para�ba, em 1989. A doen�a � considerada oficialmente eliminada do territ�rio nacional h� 27 anos, desde 1994.
No entanto, os Estados Unidos registraram neste ano seu primeiro caso de p�lio desde 2013, que deixou paralisado um jovem adulto n�o vacinado.
Em Londres, cerca de 1 milh�o de crian�as receber�o uma dose extra da vacina contra a poliomielite, ap�s a descoberta de poliov�rus no esgoto da capital brit�nica.
No Brasil, a taxa de imunizados contra a p�lio caiu consideravelmente de 2015 para c�.
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Desde que foram desenvolvidas, no in�cio da d�cada de 1950, as vacinas contra a p�lio mudaram completamente a trajet�ria da doen�a.
Sem elas, 20 milh�es de pessoas que hoje podem andar estariam paralisadas, estima a OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de).
A doen�a passou de um fen�meno global na d�cada de 1980, para um problema restrito a apenas alguns pa�ses. E isso inclui o not�vel triunfo de a �frica ter sido declarada livre da p�lio em 2020.

Embora o Afeganist�o e o Paquist�o sejam os �nicos pa�ses onde a poliomielite ainda � considerada end�mica, a doen�a continua sendo uma amea�a para o resto do mundo.
Isso porque, primeiramente, a circula��o da doen�a nesses dois pa�ses pode originar surtos em outros lugares.
O primeiro caso de p�lio selvagem na �frica em mais de cinco anos foi relatado em uma menina de 3 anos no Malawi.
Foi a mesma variante encontrada no Paquist�o — embora ningu�m tenha certeza de como ela viajou de um pa�s a outro.
Em fevereiro, o Malawi declarou um surto de poliomielite selvagem.
Em segundo lugar, a vacina usada tanto em pa�ses end�micos quanto para lidar com surtos pode criar um problema — � isso que est� afetando o Reino Unido e outros pa�ses atualmente.

A vacina mais potente contra a poliomielite usa gotas orais de uma forma enfraquecida, mas ainda viva, do poliov�rus.
� uma solu��o barata, f�cil de administrar e que produz uma excelente imunidade, o que a torna ideal para responder a surtos.
No entanto, ela age causando uma infec��o no est�mago — por isso � liberada nas fezes das pessoas vacinadas. Isso pode espalhar o poliov�rus para outras pessoas.
Em alguma medida, isso � vantajoso, pois imuniza indiretamente outras pessoas. Isso � conhecido como p�lio por derivado vacinal.
Mas, ao passar de uma pessoa para outra, o v�rus pode sofrer muta��es e at� causar paralisia novamente.
Esgotos de Londres
A vacina oral teve um enorme sucesso. Mas essa capacidade do poliov�rus de mutar para sua forma mais perigosa � o motivo pelo qual os pa�ses buscam migrar para a inje��o de v�rus inativao (ou seja, morto) assim que erradicam a p�lio.
O Reino Unido usa essas inje��es desde 2004. Assim, o que agora est� aparecendo nos esgotos de Londres � o v�rus que veio do uso da vacina oral em outras partes do mundo.
Algumas das amostras revelam sinais de recupera��o da capacidade de causar paralisia — e a an�lise gen�tica sugere que o v�rus est� se espalhando.
Esse mesmo fen�meno tamb�m est� relacionado a amostras de p�lio encontradas em esgotos nos EUA e em Israel.
Baixas taxas de vacina��o
Para os totalmente vacinados, os riscos s�o insignificantes.
Para os n�o vacinados, no entanto, o risco de paralisia est� entre 1 em 100 e 1 em 1.000, dependendo da idade.

Devido � baixa taxa de vacina��o, o Brasil � um dos oito pa�ses sul-americanos que apresentam alto risco de volta da poliomielite, segundo relat�rio divulgado pela Opas (Organiza��o Pan-Americana de Sa�de) em 2021.
A vacina contra a poliomielite � indicada para todas as crian�as brasileiras num esquema de cinco doses. As tr�s primeiras s�o feitas com o imunizante injet�vel e devem ser aplicadas aos dois, aos quatro e aos seis meses de vida. Depois, os dois refor�os (geralmente feitos com as gotinhas) s�o dados entre os 15 e os 18 meses e aos 5 anos de idade.
Nos �ltimos anos, por�m, a cobertura vacinal tem deixado a desejar. Segundo os dados do pr�prio Minist�rio da Sa�de, a taxa de imunizados contra a p�lio caiu consideravelmente de 2015 para c�.
H� seis anos, 98,2% do p�blico-alvo recebeu as doses. Em 2016, essa taxa caiu para 84,4% e se manteve nesse patamar at� 2019. Em 2021, a imuniza��o contra a doen�a foi de apenas 67,1%.
A faixa de cobertura vacinal recomendada para a poliomielite, de acordo com a Fiocruz, � de 80%.
Progresso amea�ado
A p�lio parece uma doen�a do passado — mas o v�rus encontrado nos esgotos de Londres, o caso de paralisia nos EUA e os baixos �ndices de vacina��o no Brasil s�o um alerta para cada um de n�s e para nossos governos de que n�o podemos ser complacentes com a p�lio.
O progresso que fizemos pode ser desfeito.
Os desenvolvimentos cient�ficos podem fazer a diferen�a — uma nova vers�o mais est�vel da vacina oral tem menos probabilidade de voltar a causar paralisia, por exemplo.
Mas, a p�lio tamb�m precisa ser combatida nos dois pa�ses end�micos restantes — caso contr�rio, a amea�a de surtos sempre estar� presente.
E esse � um desafio que n�o envolve apenas ci�ncia ou dinheiro, mas tamb�m quest�es pol�ticas e sociais.
Os EUA foram criticados por prejudicar os esfor�os para derrotar a p�lio quando usaram um falso programa de vacinas para tentar encontrar o ex-l�der da Al-Qaeda Osama Bin Laden.
Estamos muito perto de erradicar a p�lio — mas estamos nesse ponto h� muito tempo.
A doen�a hoje � uma amea�a contida — mas n�o ser� extinta at� que seja erradicada em todos os lugares.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62514289
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