Crianca

Crian�as com eczema, que causa pele seca, les�es da pele e coceira, s�o particularmente vulner�veis a desenvolver alergia alimentar

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Quando eu tinha 4 anos de idade, tomei meu primeiro copo de leite no hospital com o gotejador intravenoso nas m�os para administrar medica��o de emerg�ncia caso ocorresse uma rea��o al�rgica forte.

Os m�dicos estavam realizando um teste alimentar para ver se eu seria intolerante a leite de vaca.

Desde pequena, fui al�rgica a leite. Primeiro, recebi uma gota de leite na l�ngua, seguida por alguns goles e, por fim, um copo cheio.

Esses testes aconteciam regularmente e, muitas vezes, resultavam em irrita��o e v�mitos. Mas, felizmente, nada de mais s�rio.

 

Cresci e deixei de ser al�rgica a latic�nios aos 7 anos. Mas, at� hoje, n�o consigo tomar um copo de leite de vaca sem sentir n�useas, talvez porque a minha mente ainda associe o sabor a essa sensa��o.

 

 

 

Fui uma crian�a com diversas alergias, a ovos, nozes e latic�nios. Olhando para tr�s, todos os sinais de advert�ncia de que desenvolveria alergias alimentares estavam presentes.

Tinha n�o s� um hist�rico de alergias na fam�lia, mas tamb�m sofri fortes eczemas quando beb�, que os m�dicos hoje em dia dizem ser um sinal de alerta.

Mas tive sorte e nunca sofri anafilaxia, que ocorre quando os al�rgenos fazem com que o sistema imunol�gico entre em estado de choque, causando sintomas severos e potencialmente mortais, que podem incluir problemas respirat�rios, v�mitos e pulso arterial fraco.

Sofria com erup��es na pele, c�licas estomacais e irrita��o na garganta se comesse ovos ou latic�nios. Apenas uma vez, eu comi por acidente uma pequena quantidade de amendoim, que causou c�licas estomacais e v�mitos fortes - mas n�o precisei ser hospitalizada.

Minhas alergias restringiram muito minha alimenta��o na inf�ncia. N�o havia muitas alternativas n�o l�cteas nos anos 1990. Por isso, passei meus oito primeiros anos de vida sem bolo, chocolate e queijo.

Pode parecer um sacrif�cio pequeno - afinal, muitas pessoas abdicam voluntariamente desses prazeres, seja para reduzir a ingest�o de a��car ou para evitar produtos animais.

Mas as alergias alimentares s�o diferentes. Elas exigem que fiquemos em alerta constante para poss�veis amea�as em cada refei��o.

As pessoas que vivem com alergias alimentares provavelmente sabem que elas prejudicam a qualidade de vida e a sa�de mental de crian�as e adolescentes, al�m de suas fam�lias. E, embora as mortes causadas por rea��es al�rgicas a alimentos tenham ca�do no Reino Unido nos �ltimos 20 anos, ainda existem casos fatais de anafilaxia.

Tive sorte, e duas das minhas tr�s alergias (ovos e latic�nios) desapareceram. Hoje, elas n�o prejudicam mais minha vida di�ria. Mas as alergias est�o se tornando uma preocupa��o para um n�mero cada vez maior de pais e filhos, muitas vezes causando estresse e ansiedade.

As orienta��es m�dicas passaram por enormes mudan�as desde que sofri com alergias alimentares quando crian�a. Em vez de respeitar sua rigorosa absten��o, m�dicos est�o incentivando os pais de crian�as com risco de alergias a introduzir amendoins, ovos, leite e outros poss�veis al�rgenos na alimenta��o assim que elas come�am a ingerir alimentos s�lidos.

Ser� que isso pode nos ajudar a evitar o risco das alergias alimentares para as gera��es futuras - e talvez at� reduzir a gravidade dos casos j� existentes?


Crianca cozinhando

As alergias alimentares est�o aumentando em todo o mundo, mas podem ser evitadas

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Onda de alergias

As alergias infantis est�o crescendo em velocidade alarmante, particularmente nos pa�ses industrializados.

"Observamos que a incid�ncia e a preval�ncia de alergias alimentares est�o aumentando em todo o mundo", diz Kari Nadeau, professora de Medicina Pedi�trica e diretora do Centro Sean N. Parker de Pesquisa de Asma e Alergia da Universidade Stanford, nos Estados Unidos.

No seu livro, The End of Food Alergy ("O fim da alergia alimentar", em tradu��o livre), ela classifica esse aumento como "epid�mico".

A alergia � o dist�rbio cr�nico mais comum em crian�as no Reino Unido. Afeta 40% - uma das taxas mais altas do mundo. Mas os pesquisadores indicam que a falta de dados precisos sobre a preval�ncia das alergias e a amplia��o do uso desse termo podem dificultar a compara��o direta das taxas em diferentes pa�ses.

Nos Estados Unidos, estudos indicam que 3,9% a 8% das crian�as e adolescentes s�o afetados por alergias alimentares.

Na Austr�lia, pesquisadores conduziram um estudo com 2.848 beb�s de 1 ano de idade, com base nos resultados de testes alimentares - um m�todo que fornece dados considerados particularmente precisos. Eles conclu�ram que mais de 10% tinham alergia alimentar comprovada a um dos alimentos alerg�nicos mais comuns, como ovos crus e amendoins.

A ideia de que as alergias est�o aumentando � confirmada por muitas fontes diferentes, desde pesquisas at� interna��es hospitalares.

Entre 1997 e 2011, a preval�ncia de alergias alimentares em crian�as nos Estados Unidos aumentou em 50%. E, entre 2013 e 2019, a Inglaterra teve um aumento de 72% de interna��es hospitalares causadas por anafilaxia entre crian�as.

"A outra grande mudan�a da epidemiologia � o fato de que cada vez mais pessoas t�m diversas alergias alimentares", afirma Nadeau. "Elas n�o s�o al�rgicas apenas a leite, ovo ou amendoim. Agora, tamb�m t�m alergia a trigo, gergelim ou nozes."

Como as crian�as ficam al�rgicas?

"As crian�as n�o nascem al�rgicas", afirma George Du Toit, professor de Alergia Pedi�trica do King's College de Londres. Mas a gen�tica pode fazer com que um beb� seja mais propenso a desenvolver alergia em algum momento.

Se os dois pais forem al�rgicos, seus filhos t�m 60% a 80% de risco de tamb�m desenvolver alergias, em compara��o com o risco de 5% a 15% entre as crian�as sem pais al�rgicos.

Embora alguns beb�s possam apresentar risco mais alto de desenvolver alergias com mais idade, por causa da caracter�sticas herdadas dos pais, elas n�o se desenvolvem durante a gravidez.

"N�o existe nada que tenhamos observado na gravidez que possa induzir a alergia alimentar", segundo Nadeau.

Ela acredita que � importante que as m�es compreendam essa quest�o. Muitas m�es perguntam "o que eu fiz de errado?", achando que pode haver rela��o com a sua alimenta��o durante a gravidez. Mas Nadeau explica que n�o existem evid�ncias a este respeito.

� durante as primeiras semanas e meses de vida que os beb�s s�o expostos a al�rgenos no seu ambiente e come�am a desenvolver anticorpos. Essa exposi��o acontece atrav�s da pele e n�o do intestino, segundo Nadeau.

"No momento em que um 'objeto estranho' atinge nossa pele, mesmo em n�vel microsc�pico, esses processos al�rgicos come�am a ser introduzidos no sistema e come�amos a ativar linf�citos B e linf�citos T, que formam rea��es de mem�ria para toda a vida", explica ela.

Os linf�citos B e os linf�citos T s�o dois tipos de linf�citos que desempenham um papel muito importante na nossa rea��o imunol�gica. Eles nos permitem reagir � percep��o de uma amea�a e recordar essa rea��o para que ela seja mais r�pida e mais forte na pr�xima vez em que a mesma amea�a aparecer.

Isso significa que uma crian�a pode ser exposta a amendoins contidos na poeira ou res�duos nas m�os dos seus pais, que podem acionar uma rea��o imunol�gica muito antes que ela chegue a ingerir prote�na de amendoim. E, quando comer o alimento pela primeira vez, ela pode j� ser al�rgica.

"Se o corpo for apresentado pela primeira vez e repetidamente a alimentos atrav�s da pele, n�o pela boca e pelo trato gastrointestinal, pode aumentar a probabilidade de forma��o de sensibilidade �quele alimento e poss�veis alergias", explica Jennifer Bufford, vice-presidente de opera��es cl�nicas da organiza��o Food Allergy Research and Education (Pesquisa e Educa��o em Alergia Alimentar, ou FARE, na sigla em ingl�s), nos Estados Unidos.

Crian�as com eczema, uma inflama��o da pele que causa ressecamento, les�es e coceira, s�o particularmente vulner�veis ao desenvolvimento de alergias alimentares. Isso ocorre porque sua pele tem orif�cios microsc�picos, que permitem que as part�culas entrem no corpo, segundo Nadeau.

"Eczemas fortes e precoces, particularmente se forem distribu�dos em �reas expostas, como o rosto, o pesco�o, os bra�os e as pernas, s�o um sinal vermelho e uma fonte real de exposi��o", afirma Du Toit.


Criança sendo examinada em uma clínica de asma em Washington DC, nos Estados Unidos

Crian�a sendo examinada em uma cl�nica de asma em Washington DC, nos Estados Unidos

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Come�a na pele

Beb�s com eczemas s�o 6 vezes mais propensos a ter alergia a ovos e 11 vezes mais propensos a ter alergia a amendoim at� os 12 meses de vida que os beb�s sem eczema, segundo um estudo populacional com crian�as de 1 ano de idade realizado na Austr�lia.

No Reino Unido, uma em cada cinco crian�as com at� 2 anos de idade tem eczema. O n�mero de crian�as com eczema e rinite al�rgica no Reino Unido atualmente � mais que o triplo que nos anos 1960.

A causa exata n�o � conhecida, mas Nadeau acredita que o aumento dos n�veis de polui��o e do uso de detergentes e sab�es agressivos possam ser algumas das raz�es.

Os detergentes que cont�m a enzima protease podem prejudicar a barreira da pele e aumentar a sensibilidade a al�rgenos, segundo ela. "Os detergentes s�o muito concentrados e realmente limpam nossas roupas, mas, infelizmente, tamb�m prejudicam nossa pele."

"Nosso ambiente moderno e industrializado provavelmente aumentou nossa susceptibilidade [a eczemas e alergias]", afirma Bufford. Tamb�m se acredita que o fumo e a polui��o do ar contribuam para o aumento das alergias.

E desastres ambientais, como inc�ndios florestais, podem piorar a situa��o. A exposi��o de curto prazo � fuma�a de inc�ndios florestais foi relacionada ao aumento de eczemas e coceiras em geral, mesmo entre pessoas sem hist�rico de problemas da pele, segundo uma pesquisa da Universidade da Calif�rnia em S�o Francisco, nos Estados Unidos.

Um estudo realizado por Nadeau e seus colegas de Stanford concluiu que a exposi��o de crian�as a esse tipo de fuma�a est� relacionado a concentra��es significativamente mais baixas de linf�citos T auxiliares do tipo 1 (Th1) - que combatem infec��es - e n�veis mais altos de linf�citos T auxiliares do tipo 2 (Th2), que ativam os linf�citos envolvidos em inflama��es al�rgicas.

"O sistema imunol�gico fica em estado de fluxo constante, com diversos tipos de linf�citos aumentando ou diminuindo, dependendo das subst�ncias a que o corpo est� sendo exposto", afirmou Mary Prunicki, principal autora do estudo, na �poca de sua publica��o, em 2019.

"Neste estudo, conclu�mos que havia mais linf�citos [Th2] em crian�as que foram expostas � fuma�a de inc�ndios florestais, que representou maior exposi��o � polui��o, afinal."

Nadeau explica que uma quantidade maior de linf�citos do tipo Th2 aumenta a indu��o de asma e alergias agudas e cr�nicas porque eles ativam linf�citos B espec�ficos de al�rgenos.

O estudo concluiu ainda que a exposi��o � polui��o do ar produzida pelo tr�nsito no primeiro ano de vida aumenta o risco de alergias a alimentos, mofo, pragas e animais dom�sticos.

A prote�na de amendoim, encontrada na poeira dom�stica, tamb�m foi relacionada ao surgimento de alergias alimentares.

Um estudo dos pesquisadores do King's College de Londres encontrou forte rela��o entre � exposi��o no in�cio da vida e alergia a amendoim em crian�as com a muta��o FLG, associada a eczemas.

Uma exposi��o tr�s vezes maior � poeira de amendoim durante a inf�ncia foi associada a um aumento de tr�s vezes da alergia a amendoim na idade escolar.

"As crian�as com essa muta��o s�o muito mais propensas a ter pele seca, e conclu�mos que, se elas tivessem altos n�veis de poeira de amendoim na cama ou na �rea onde elas brincam, haveria risco significativamente maior de desenvolver alergia em idade escolar", diz Helen Brough, a principal autora do estudo e consultora em alergia pedi�trica do Hospital Infantil Evelina, no Reino Unido.

"Minha principal orienta��o seria que todos os pais que aplicam cremes sobre a pele dos seus filhos lavem antes as m�os, pois elas podem ter n�o apenas bact�rias, mas tamb�m amendoim, ovos ou gergelim", afirma Brough.

"Quando comprarem esse tipo de pomada, os pais nunca devem colocar suas m�os dentro [do recipiente] para que elas n�o fiquem contaminadas com bact�rias e alimentos", afirma Brough. Eles devem usar uma esp�tula limpa para colocar o creme na pele do beb� antes de esfreg�-lo com as m�os, segundo ela.


Acredita-se que fornecer ao bebê alimentos diferentes durante o seu primeiro ano de vida ajuda a evitar alergias

Acredita-se que fornecer ao beb� alimentos diferentes durante o seu primeiro ano de vida ajuda a evitar alergias

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Como evitar alergias a amendoim

Um estudo hist�rico no Reino Unido causou uma mudan�a de paradigma sobre o tratamento das alergias alimentares em crian�as. Ele demonstrou que as alergias a amendoim podem ser evitadas, se os pais intervierem cedo.

Em 2015, o estudo intitulado Aprender Cedo sobre a Alergia a Amendoim (LEAP, na sigla em ingl�s) revelou que o n�mero de crian�as que desenvolvem alergia a amendoim pode ser drasticamente reduzido se elas forem alimentadas com amendoim desde pequenas.

Vale salientar neste ponto que os pais interessados no uso deste m�todo devem sempre discuti-lo primeiro com seus m�dicos e garantir que ele seja apropriado e seguro para o seu beb�. As conclus�es relatadas nesta reportagem t�m fins apenas informativos e n�o devem ser tomadas como aconselhamento m�dico.

O estudo incluiu 640 beb�s com 4 a 11 meses de vida, considerados em alto risco de desenvolver alergia a amendoim porque tinham eczema grave, eram al�rgicos a ovos ou sofriam das duas condi��es at� os 5 meses.

As crian�as foram divididas em dois grupos: os que recebiam regularmente alimentos com amendoim em pelo menos tr�s refei��es por semana e os beb�s de fam�lias que evitavam completamente o consumo de amendoins.

O estudo LEAP concluiu que o consumo regular de amendoins reduziu a incid�ncia de alergia a amendoim em 81% aos 5 anos. Nessa idade, apenas 3,2% do grupo de consumo desenvolveram alergia a amendoim, em compara��o com 17,2% no grupo que evitou o alimento.

"A diferen�a entre os dois grupos foi enorme", afirma Du Toit, que � um dos autores do estudo LEAP. Segundo ele, essa descoberta cient�fica "revolucionou" o tratamento das alergias infantis.

"A orienta��o costumava ser 'se voc� n�o chegar perto deste vil�o alerg�nico, voc� n�o criar� um problema", explica Du Toit. "Mas tudo o que voc� faz � chutar a lata rua abaixo e prolongar a oportunidade que a crian�a tem de adquirir a alergia."

Nadeau resumiu esse conhecimento cient�fico em duas frases: "As alergias come�am na pele; na alimenta��o, as alergias podem n�o se manifestar".


A alimentação é uma parte importante da vida social e do desenvolvimento das crianças, mas as alergias podem prejudicar esses momentos com estresse e ansiedade

A alimenta��o � uma parte importante da vida social e do desenvolvimento das crian�as, mas as alergias podem prejudicar esses momentos com estresse e ansiedade

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Novas orienta��es

Depois da publica��o do estudo LEAP, a Academia Norte-Americana de Pediatras aprovou a introdu��o precoce do amendoim na alimenta��o dos beb�s com alto risco de alergia.

Em 2017, o Instituto Nacional da Alergia e Doen�as Infecciosas dos Estados Unidos publicou novas orienta��es para a introdu��o de alimentos com amendoim na alimenta��o dos beb�s com 4 a 6 meses de vida que tenham eczemas graves ou alergia a ovos e a partir dos 6 meses para crian�as com eczema suave a moderado.

Anteriormente, as orienta��es recomendavam que os pais atrasassem a introdu��o de certos alimentos de alto risco (como amendoim), o que "pode ter colaborado com o aumento atual de crian�as com alergias alimentares", afirma Bufford.

A Sociedade Brit�nica de Alergia e Imunologia Cl�nica tamb�m publicou novas orienta��es de tratamento de alergias a nozes em 2017, recomendando a introdu��o precoce de amendoins na alimenta��o de beb�s desmamados com alto risco de alergias.

Muitos pais est�o "muito nervosos" com a introdu��o de amendoins e outros alimentos que podem causar alergias na dieta dos seus beb�s, principalmente se houver hist�rico familiar de alergias, segundo Maeve Kelleher, m�dica do Imperial College de Londres e consultora sobre Alergia Pedi�trica do hospital Children's Health, na Irlanda.

Se for este o caso, Kelleher afirma que pode valer a pena fazer primeiro um exame de pele ou introduzir o alimento em um ambiente hospitalar. Em beb�s com menos de 1 ano, a ocorr�ncia de anafilaxia � "muito improv�vel", segundo ela, e os sintomas al�rgicos mais comuns s�o erup��es da pele e, �s vezes, v�mitos.

"Quando a crian�a � mais velha e seu sistema imunol�gico � mais sofisticado, a probabilidade de anafilaxia aumenta", explica Brough.

Du Toit afirma que � importante que os pais saibam que existe uma "janela de oportunidade" para determinar a toler�ncia, que vai de 4 a 11 meses. Ele orienta come�ar o desmame dos seus filhos com o m�ximo poss�vel de alimentos diferentes, especialmente se eles tiverem eczema.

"� raro ser al�rgico a apenas um alimento, quando voc� encontra uma alergia alimentar, normalmente encontra outras", diz Du Toit. "Quando voc� encontra uma, o rel�gio come�a a andar, e a janela de oportunidade come�a a se fechar."

Quando o beb� completa 12 meses de vida, muitas vezes � tarde demais, porque as alergias j� est�o estabelecidas, segundo ele.

"Muitas alergias andam juntas porque elas compartilham prote�nas comuns, especialmente moluscos", afirma Nadeau. "Por isso, se voc� for al�rgico a camar�o, ser� mais propenso a ser al�rgico a outros animais com exoesqueleto, como a lagosta."

Por este motivo, � importante apresentar uma ampla variedade de alimentos aos beb�s no primeiro ano de vida, segundo ela.

'Limpo demais' � realmente um problema?

Um dos temas mais discutidos quando o assunto � alergia � se a limpeza � culpada pelo aumento das alergias.

A hip�tese da higiene, que foi postulada pelo epidemiologista David Strachan em 1989, prop�e que a exposi��o a germes e infec��es na primeira inf�ncia ajuda o sistema imunol�gico a desenvolver-se e protege contra alergias.

Strachan argumentou que o aumento da asma e das alergias no final do s�culo 20 estava relacionado com a menor exposi��o das crian�as a micr�bios, devido � redu��o do tamanho das fam�lias, limitada intera��o com animais e padr�es mais altos de limpeza.

Esta teoria � pol�mica, e muitos cientistas discordam. Eles argumentam que a boa higiene � fundamental para proteger contra doen�as e que n�o h� boas evid�ncias que demonstrem que a limpeza � respons�vel pelo desenvolvimento de alergias.

Uma interpreta��o amplamente sustentada dessa hip�tese � que a susceptibilidade a alergias n�o precisa estar relacionada com o grau de limpeza da sua casa, mas sim se seu intestino foi exposto a diferentes tipos de micro-organismos.

Em um estudo de 2021, pesquisadores do University College e da Escola de Higiene e Medicina Tropical, em Londres, indicam que a exposi��o das crian�as �s vacinas, ao seu ambiente natural e � microbiota ben�fica da m�e fornece todos os micr�bios necess�rios para um sistema imunol�gico saud�vel.

O estudo demonstra que limpar a casa "n�o reduz necessariamente a exposi��o da crian�a � m�e ou � natureza, enquanto a microbiota n�o natural da casa moderna n�o � �til e pode ser t�xica", segundo Graham Rook, professor em�rito de Microbiologia M�dica do UCL e principal autor do estudo.


Crianças amish criadas em fazendas tradicionais sofrem incidência particularmente baixa de alergias

Crian�as amish criadas em fazendas tradicionais sofrem incid�ncia particularmente baixa de alergias

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Embora a limpeza no lar n�o seja mais considerada um fator de risco para alergias, fatores ambientais podem influenciar o desenvolvimento do seu sistema imunol�gico e condi��es al�rgicas.

"Crian�as que nascem em ambientes rurais s�o muito menos propensas a ter asma, eczema e alergias", afirma Brough. "Acredita-se que seja devido, em parte, � sua alimenta��o e, em parte, � sua exposi��o �s bact�rias dos est�bulos."

Um estudo na �frica do Sul concluiu que a exposi��o a animais de cria��o protegeu crian�as com 12 a 36 meses de vida contra condi��es al�rgicas. E pesquisas em crian�as amish criadas em fazendas no Estado de Indiana, nos Estados Unidos, fornecem um quadro ainda mais detalhado.

Os amish s�o uma comunidade rural de descendentes de su��os, que moram tipicamente em fam�lias grandes e seguem um estilo de vida tradicional - evitam o uso de eletricidade, por exemplo, e utilizam carro�as puxadas por cavalos em vez de carros. Os pesquisadores compararam as crian�as amish com crian�as su��as criadas em fazendas e tamb�m com crian�as su��as que n�o viviam em fazendas.

Todas essas crian�as tinham antecedentes gen�ticos similares, mas suas taxas de incid�ncia de asma e alergia eram muito diferentes. As crian�as amish apresentaram as taxas mais baixas de asma e alergia, enquanto as crian�as su��as n�o criadas em fazendas tinham as mais altas, compar�veis com a incid�ncia geral nos Estados Unidos. J� as crian�as su��as criadas em fazendas apresentaram incid�ncia intermedi�ria.

Esses resultados indicam que o estilo de vida, n�o a gen�tica, tem papel decisivo no desenvolvimento de asma e alergia. E, especialmente, que o contato pr�ximo com animais � ben�fico.

A raz�o da diferen�a entre as crian�as su��as e amish criadas em fazendas n�o ficou totalmente clara e pode ter rela��o com o tamanho das fam�lias, segundo o estudo.

"Nesse ambiente rural, a exposi��o aos animais da fazenda � o fator de prote��o mais forte", afirmam os pesquisadores. "Nas comunidades urbanas, onde o contato com animais � raro, os fatores de risco incluem o parto por cesariana e fatores protetores incluem o consumo de produtos de leite fermentado."

O parto e a sa�de intestinal

Pesquisas indicam que existe rela��o entre a forma em que o beb� nasce, suas bact�rias intestinais e sua sensibilidade alimentar quando for mais velho.

Concluiu-se que beb�s que nascem de parto normal e s�o expostos �s bact�rias vaginais e intestinais da m�e durante o processo t�m contagens de bact�rias intestinais mais altas que as que nascem de cesariana.

Um estudo realizado por pesquisadores canadenses determinou que existe rela��o entre as crian�as que nasceram de cesariana e a sensibilidade a amendoim nos beb�s. O estudo observou que essas crian�as apresentaram n�veis constantemente baixos de bacteroides - uma esp�cie de bact�ria fundamental para o desenvolvimento do sistema imunol�gico - no primeiro ano de vida.

Os beb�s com baixos n�veis de bacteroides apresentaram tr�s vezes mais risco de desenvolvimento de sensibilidade a amendoim com 3 anos de idade.

"Tudo se resume � flora intestinal", afirma Helen Brough. "Sabemos que crian�as com alergias alimentares possuem microbioma intestinal diferente das outras crian�as."

Muitas m�es que deram � luz por cesariana recebem antibi�ticos ap�s o parto, para evitar que o corte infeccione. Isso � importante para a sa�de e a recupera��o da m�e, mas Brough afirma que pode ter um efeito colateral negativo: "Sabemos que a exposi��o a antibi�ticos nas primeiras duas semanas de vida aumenta o risco de eczema [para o beb�]".

Isso n�o significa que os beb�s que nasceram de cesariana inevitavelmente desenvolver�o alergias. Como demonstra o estudo LEAP, eles podem beneficiar-se de estrat�gias preventivas. Mas � uma indica��o �til sobre as causas das alergias.

Perdendo as alergias com a idade

Felizmente, minhas alergias a leite e ovos desapareceram com o crescimento, mas ainda n�o consigo comer castanhas de nenhum tipo.

Isso parece ser comum. Cerca de 80% das crian�as perdem suas alergias a leite e ovo com a idade, segundo Maeve Kelleher. "Mas, infelizmente, apenas cerca de 20% se recuperam de uma alergia a castanhas."

"As alergias a ovos, leite, trigo e soja muitas vezes se resolvem na inf�ncia, mas as crian�as parecem estar se livrando de algumas dessas alergias mais lentamente do que d�cadas atr�s. Muitas crian�as ainda t�m alergia com mais de 5 anos de idade", afirma Jennifer Bufford.

Ela diz que alergias a amendoim, nozes, peixes e moluscos geralmente duram a vida toda.

Mas, mesmo para essas alergias, est�o surgindo op��es de tratamento. E a imunoterapia, que elimina a sensibilidade do corpo a um al�rgeno, � um tratamento particularmente promissor.

Foram descobertos rem�dios imunoter�picos que induzem a remiss�o da alergia a amendoim. Em um recente estudo cl�nico nos Estados Unidos, a imunoterapia oral para amendoins administrada a crian�as fortemente al�rgicas com 1 a 3 anos de idade - sob rigorosa supervis�o m�dica - eliminou a sensibilidade a amendoim da maioria e induziu a remiss�o da alergia a amendoim de um quinto delas.

Este tipo de imunoterapia � diferente das etapas preventivas para beb�s e � conduzido por especialistas em centros m�dicos especializados, n�o pelos pr�prios pais.

Embora as alergias alimentares estejam crescendo rapidamente em todo o mundo, finalmente estamos come�ando a compreender como trat�-las de forma eficiente e prevenir o seu aparecimento com interven��es precoces.

Sei exatamente como esses desenvolvimentos cient�ficos podem mudar as vidas das pessoas. Eles significam que gera��es futuras de crian�as poder�o divertir-se livremente quando sa�rem para brincar e em festas de anivers�rio, sem o risco de se sentirem incrivelmente mal. E seus pais n�o ser�o atormentados pelo receio constante de poss�veis al�rgenos ocultos.

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62522186

Aten��o: Todo o conte�do desta reportagem � fornecido apenas como informa��o geral e n�o dever� substituir o conselho profissional do seu m�dico ou de outro profissional de assist�ncia m�dica. A BBC n�o � respons�vel por nenhum diagn�stico, nem por a��es tomadas pelos usu�rios com base no conte�do deste site. A BBC n�o � respons�vel pelo conte�do de nenhum site de internet externo mencionado, nem recomenda nenhum servi�o ou produto comercial mencionado ou comercializado em nenhum desses sites. A BBC recomenda a qualquer pessoa interessada em realizar mudan�as alimentares que consulte primeiramente o seu profissional de assist�ncia m�dica. Consulte sempre o seu m�dico em caso de qualquer preocupa��o com a sua sa�de ou com a sa�de dos seus filhos.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

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