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Estado de Minas SA�DE MENTAL

Crian�as com alucina��es e paranoia t�m m�ltiplas altera��es no genoma

Inimigos imagin�rios fazem parte do repert�rio das crian�as. Por�m, em alguns casos, as vis�es podem ser sintomas da psicose de in�cio precoce


24/08/2022 10:09 - atualizado 24/08/2022 10:11

menina andando e chorando sendo observada por um menino
Setenta por cento dos pacientes come�aram a ter surtos psic�ticos antes dos 13 anos, diz estudo (foto: Lee Murry/Pixabay )
Amigos e inimigos imagin�rios fazem parte do repert�rio das crian�as. Por�m, em alguns casos, as vis�es podem ser sintomas da psicose de in�cio precoce, que afeta pessoas com menos de 18 anos. Nem sempre f�cil de ser reconhecida, a condi��o mental tem bases gen�ticas, segundo um estudo publicado hoje no American Journal of Psychiatry. Os autores, do Hospital Infantil de Boston, afirmam que a descoberta poder� ajudar no diagn�stico e no tratamento do problema.

Os pesquisadores fizeram testes gen�ticos em 137 crian�as e adolescentes com sintomas psic�ticos, atendidos no hospital norte-americano. Setenta por cento dos pacientes come�aram a ter surtos psic�ticos antes dos 13 anos, sendo que 20% do total atenderam todos os crit�rios m�dicos para o diagn�stico de esquizofrenia. Os participantes do estudo foram submetidos a testes sistem�ticos para duplica��es e exclus�es de DNA, chamados de varia��es de n�mero de c�pias (CNVs). Segundo os autores do artigo, essas altera��es est�o "fortemente associadas a dist�rbios psic�ticos e do neurodesenvolvimento".

A an�lise gen�tica identificou 47 locais do DNA previamente associados a dist�rbios psic�ticos, incluindo esquizofrenia em adultos, e do neurodesenvolvimento, como transtorno do espectro autista. Quarenta por cento das crian�as e adolescentes que participaram do estudo apresentavam CNVs nessas regi�es. "Nossas descobertas s�o um forte argumento para a an�lise cromoss�mica de microarray (microarranjo de DNA) em qualquer crian�a ou adolescente diagnosticado com psicose", diz Catherine Brownstein, pesquisadora da Universidade de Montreal que co-liderou o estudo com Elise Douard na Universit� de Montr�al.
A an�lise cromoss�mica de microarray � um teste que permite detectar, simultaneamente, altera��es no n�mero de c�pias em v�rias regi�es do cromossomo. O rastreio � comum em crian�as com suspeita de transtorno do espectro autista, segundo os pesquisadores, e poderia ajudar a diagnosticar melhor os pacientes que apresentem sintomas psic�ticos. "Quanto mais tempo a psicose n�o for tratada, mais dif�cil ser� cuid�-la mais tarde", argumentou, em nota, David Glahn, do Hospital Infantil de Boston, e co-l�der do estudo. "Se pudermos tratar a condi��o mais cedo e adequadamente, a crian�a provavelmente se sair� melhor ao longo da vida."

Diagn�stico

Os especialistas destacam a dificuldade que muitos pacientes enfrentam at� serem diagnosticados e diz que, quando tratados corretamente, as respostas s�o positivas. Entre as crian�as atendidas no hospital norte-americano, um dos pacientes do psiquiatra Joseph Gonzalez-Heydrich, que participou do estudo, foi um menino de 6 anos, que ouvia vozes vindas da parede e do interfone da escola, dizendo que era para ele se machucar e ferir os colegas. As alucina��es pararam com o uso de antipsic�ticos, afirmam os autores.

"As fam�lias muitas vezes ficam aliviadas ao saber que os sintomas psic�ticos de seus filhos t�m um componente biol�gico", diz Gonzalez-Heydrich. "A psicose de seus filhos pode ter sido diagnosticada erroneamente, explicada como uma fase normal do desenvolvimento, atribu�da a estresses como sofrer bullying ou mesmo a maus-tratos supostamente cometidos pelos pais. � um paralelo com o que aconteceu com o autismo uma gera��o atr�s."
O m�dico explica que, em algumas crian�as, os sintomas psic�ticos aparecem e desaparecem ao longo da inf�ncia. Os sinais podem surgir sob forte estresse, raiva, depress�o ou mudan�as de humor. Por�m, entre aquelas com esquizofrenia precoce, a condi��o � persistente e extrema. De acordo com Gonzalez-Heydrich, as primeiras manifesta��es da doen�a s�o variadas. Um paciente pode ficar mais retra�do, com queda na funcionalidade. Depois, alucina��es e paranoias costumam atorment�-los. "S�o v�rias vozes criticando-os, assustando-os, mandando-os fazer coisas ruins. Ou sentir que estranhos est�o olhando para eles, planejando prejudic�-los."

Os autores do estudo defendem que, al�m de incentivar o tratamento, encontrar variantes associadas � psicose permite verificar se outras pessoas da fam�lia est�o em risco. Eles destacam que algumas CNVs tamb�m podem causar complica��es m�dicas como convuls�es, doen�as card�acas ou enfraquecimento dos vasos sangu�neos. "Os membros da fam�lia com CNVs identificados tamb�m podem estar em risco de tais problemas m�dicos, mesmo que n�o tenham sintomas comportamentais", destacam.

Tr�s perguntas para...

Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki de Saúde Mental
Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki de Sa�de Mental, diz que dif�cil para os pais diferenciar os sinais de fantasia saud�vel da psicose (foto: Arquivo Pessoal)
Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki de Sa�de Mental


1 - � dif�cil para os pais perceberem que h� algo al�m da imagina��o nas crian�as com psicoses?
Pode ser dif�cil para os pais diferenciar os sinais de fantasia saud�vel da psicose, mas alguns sinais s�o importantes: a crian�a saud�vel prefere estar na presen�a de outras pessoas, apresenta afeto preservado, tem discurso organizado, bom desempenho escolar, seu olhar � expressivo e as fantasias costuma diminuir com o tempo. J� na crian�a com psicose, existe a prefer�ncia pelo isolamento, o discurso � desconexo, o afeto ressoa menos, o desempenho escolar � baixo; o olhar pode passar estranheza ou perplexidade e as fantasias se intensificam com o tempo.

2 - Existe um risco aumentado de esquizofrenia em pessoas que apresentaram sinais de doen�a psic�tica na inf�ncia?
Um epis�dio psic�tico na inf�ncia e adolesc�ncia deve ser monitorado, pois pode se concretizar um diagn�stico de esquizofrenia se outros par�metros do transtorno s�o encontrados com o tempo, mas tamb�m outros diagn�sticos podem ser dados de acordo com a evolu��o dos sintomas, tais como o transtorno afetivo bipolar, condi��es org�nicas (infec��es), uso de drogas e transtorno esquizoafetivo. A preval�ncia de esquizofrenia � de cerca de 1% da popula��o, sendo uma condi��o bastante incomum antes dos 13 anos, afetando cerca de 1 a cada 10 mil crian�as e adolescentes. De toda forma, o tratamento dos sintomas psic�ticos dura, pelo menos, um a dois anos e, se for conclu�do, a crian�a ou adolescente deve ser monitorada por pelo menos mais dois anos.

3 - Os autores do estudo afirmam que os resultados sugerem fortemente o teste de microarranjo cromoss�mico em qualquer crian�a ou adolescente diagnosticado com psicose. Aqui no Brasil, essa seria uma alternativa poss�vel?
A realiza��o de teste de microarray para pacientes com psicose de in�cio precoce poderia trazer alguns benef�cios, como melhor comunica��o dos profissionais com as fam�lia, aconselhamento gen�tico mais eficaz, al�m da cria��o de bancos de dados mais uniformizados, podendo direcionar tratamentos futuros. Tal exame j� est� elencado no rol de procedimentos dispon�veis pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS) e � recomendado pela Academia Norte-Americana de Gen�tica para investiga��o de defici�ncia intelectual, malforma��es cong�nitas e transtorno do espectro autista. O entrave para a testagem no Brasil primeiramente seria a disponibilidade do exame, que est� restrito aos grandes centros e tem valor elevado. Outra dificuldade � a falta de protocolos gen�ticos para pessoas com psicose de in�cio precoce, dificultando sua indica��o para todo esse p�blico. 



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