
Segundo o Minist�rio da Sa�de, o Brasil conta com o maior programa p�blico de transplante de �rg�os, tecidos e c�lulas do mundo, sendo o Sistema �nico de Sa�de (SUS) respons�vel pelo financiamento de cerca de 95% dos transplantes realizados no pa�s. Apesar disso, dados do mesmo �rg�o do governo federal indicam que nos �ltimos anos mais de 40% das fam�lias recusaram a doa��o de �rg�os de seus familiares ap�s a morte encef�lica comprovada. Com a pandemia, o cen�rio foi ainda mais desafiador, com uma queda de cerca de 20% no n�mero de transplantes, segundo a Associa��o Brasileira de Transplantes de �rg�os (ABTO).
No transplante de c�rnea, os obst�culos n�o s�o diferentes, da� a relev�ncia do Dia Nacional da Doa��o de �rg�os (27), que conscientiza a popula��o sobre a import�ncia de um gesto que pode salvar vidas. Um �nico doador de �rg�os pode beneficiar alguns pacientes, com a doa��o do cora��o, pulm�es, rins, olhos, ossos, pele. "Existe, entretanto, uma vantagem em rela��o � doa��o dos olhos, que pode ser feita mesmo com o cora��o parado, 12 horas ap�s a morte declarada, ao contr�rio dos demais �rg�os, que necessitam do estado de morte encef�lica, mas o corpo ainda funcionante", afirma o oftalmologista Leonardo Gontijo Coelho, diretor cl�nico do Instituto de Olhos Minas Gerais e especialista em c�rnea.
Segundo o especialista, um doador doa seus olhos que s�o avaliados para determinar a qualidade daquele tecido. "Ap�s, isso � ofertado para os primeiros da fila e, dependendo da finalidade do transplante, o colega aceita ou recusa aquele tecido para aquele paciente. Isso � poss�vel porque as cirurgias modernas de transplantes n�o necessariamente requerem toda a c�rnea. Normalmente, utilizamos apenas um segmento da c�rnea para corre��o do problema do paciente. Essas t�cnicas, chamadas de lamelares, s�o mais seguras, induzem menos rejei��o e costumam trazer um melhor resultado visual", explica Leonardo Gontijo.

O m�dico informa que para o transplante de c�rnea existe uma fila de espera regionalizada, ou seja, com regi�es dentro de cada estado por se tratar de um pa�s de tamanho continental. "A log�stica n�o funcionaria se a fila fosse �nica no Brasil todo. Uma c�rnea liberada no Paran�, por exemplo, n�o chegaria com viabilidade em estados do extremo norte do pa�s."
O tempo de espera pode levar meses ou anos, o que foi agravado pela pandemia. "A interrup��o de um ano em Minas Gerais da capta��o de �rg�os, que � um servi�o essencial, enquanto que em outros estados foi de quatro a seis meses, sufocou a fila de espera: em Belo Horizonte a fila se estendeu para cerca de dois a dois anos e meio; j� em outras, que t�m o apoio da iniciativa privada, como � o caso do Cear�, o retorno foi mais r�pido. Por l� a fila est� zerada, em torno de cinco dias ap�s sua inscri��o a c�rnea � liberada. Essa � uma sa�da a �queles que desejam antecipar a cirurgia. � poss�vel viajarmos com o paciente e oper�-lo noutro estado em que a fila seja mais curta. Importante esclarecer que, embora o paciente n�o possa ser inscrito em duas filas diferentes, � poss�vel migr�-lo para outra fila, sem perder o tempo de inscri��o", relata Leonardo Gontijo.
O oftalmologista explica que o transplante � indicado em casos de c�rneas com cicatrizes e opacidade que impedem a passagem de luz; doen�as que fazem com que o formato da c�rnea seja incompat�vel com uma boa vis�o; perfura��es oculares causadas por traumas; ou ainda por motivos est�ticos.
"Os riscos do procedimento e a expectativa de melhora da vis�o ir�o depender de alguns fatores, entre eles, do tipo de transplante realizado - se ser� tradicional ou lamelar (de camadas) - e da situa��o do olho do paciente. Ent�o, � importante frisar que � uma cirurgia individualizada", esclarece.