
Quatro a cada 10 pessoas (38%) se sentem cobradas pelo conte�do que publicam nas redes sociais e t�m medo constante de ser julgadas. Um ter�o delas tamb�m relata muita ansiedade para saber se suas postagens ser�o bem aceitas ou n�o. Os dados s�o de pesquisa Datafolha sobre sa�de mental do brasileiro, encomendada pela Associa��o Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e pela farmac�utica Viatris.
Foram entrevistadas, de forma presencial, 2.098 pessoas a partir de 16 anos, de todas as classes econ�micas, em 130 munic�pios que abrangem as cinco regi�es socioecon�micas do Brasil. A margem de erro � dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Ainda segundo o levantamento, 79% dos entrevistados dizem que as redes sociais podem contribuir para aumentar os problemas de sa�de mental. Para 84%, os haters, pessoas que julgam e propagam �dio nas redes, podem influenciar no aumento dos registros de suic�dio.
Quem nos �ltimos anos passou por essa situa��o foi a cantora Lu�sa Sonza, que admitiu ter sofrido de depress�o, p�nico e ansiedade em decorr�ncia dos v�rios ataques que recebeu nas redes sociais.
Segundo Lu�sa, na �poca, os ataques de haters sempre ocorreram, mas se intensificaram depois que ela se separou do humorista Whindersson Nunes. Um ano depois, quando o filho rec�m-nascido de Whindersson nasceu prematuro e morreu, os haters fizeram uma s�rie de declara��es ofensivas � cantora, que acabou fazendo um v�deo, aos prantos, em que dizia que n�o aguentava mais.
A sua equipe anunciou pouco depois que ela ia dar um tempo das redes sociais para cuidar da sa�de.
AUTENTICIDADE Para a especialista em marketing e branding Helena Lima, embora superar o medo do julgamento alheio seja dif�cil hoje, principalmente no mundo virtual, onde acabamos nos expondo, at� mesmo para desconhecidos, � preciso tentar optar pelo caminho da autenticidade em vez de se fechar pelo temor do que os outros v�o pensar a nosso respeito.
“Os julgamentos v�o existir sempre, independentemente das circunst�ncias. Antes da dissemina��o da comunica��o no mundo on-line, o ato de julgar o pr�ximo j� existia no off-line. A diferen�a � que no ‘on’ a pr�tica � mais acentuada, �s vezes at� com tons de perversidade. Prova disso � a famosa ‘cultura do cancelamento’. Por�m, por mais dif�cil que seja, temos que tentar abstrair e lembrar que o julgamento do outro, na maioria das situa��es, diz mais sobre os problemas e limita��es dele do que sobre voc�.”
Helena acrescenta que � importante dizer que quem se conecta com voc� vai se conectar, sobretudo, com seus valores, opini�es e cren�as. “Ent�o, n�o h� por que ter medo.” Ela tamb�m destaca que as pessoas que se adaptam melhor �s redes sociais, atualmente, s�o majoritariamente aquelas com vontade de mostrar quem realmente s�o, seus ideais, al�m de serem fi�is � sua ess�ncia. “Desde que n�o desrespeitemos ningu�m, � isso que deve ser levado em conta.”
"A vida nas redes sociais, muitas vezes, � um simulacro, ou seja, exp�e uma realidade distorcida, uma representa��"
Helena Lima, especialista em marketing e branding

Mulheres e jovens sentem mais press�o
O levantamento da Abrata e da farmac�utica Viatris mostra ainda que as mulheres (71%) e as pessoas entre 16 e 24 anos (65%) s�o as que mais se sentem pressionadas a encarar as coisas sempre de uma forma muito positiva nas redes sociais, mesmo quando est�o com problemas.
De acordo com o psiquiatra Fernando Fernandes, conselheiro da Abrata, entre os nativos digitais, �s vezes n�o h� o mesmo discernimento dos mais velhos de que existe uma vida dentro das redes sociais e uma outra vida fora.
Para 65% dos entrevistados, o fato de todo mundo parecer feliz, bonito e bem-sucedido nas redes sociais faz com que as pessoas se sintam insatisfeitas com sua vida. As mulheres s�o as que mais relatam esse sentimento (69%, contra 61% dos homens).
“Todos n�s temos a tend�ncia de comparar a nossa realidade com a das outras pessoas, por�m � importante levar em considera��o que a vida nas redes sociais, muitas vezes, � um simulacro, ou seja, exp�e uma realidade distorcida, uma representa��o”, comenta Helena Lima.
“H� quem pose, inclusive, com bolsas grifadas que n�o s�o necessariamente suas, ostente viagens car�ssimas, visitas em lugares paradis�acos, ou seja, vende e mostra uma vida de novela. Com isso, o jovem, por exemplo, que est� na fase de se descobrir, se conhecer, ao ver esse tipo de conte�do acaba achando que seu mundo � inferior e que nada acontece de interessante nele.” Essa compara��o equivocada e injusta, segundo Helena, pode resultar, at� mesmo, em quadros de ansiedade e depress�o.
A especialista, que h� quatro anos deixou o mercado corporativo para capacitar mulheres empreendedoras a fortalecerem suas marcas por meio das redes sociais, ressalta, por�m que elas [as redes sociais] n�o devem ser demonizadas. “O mais importante � haver uma conscientiza��o sobre o bom uso desses dispositivos, que conectam pessoas de diferentes ideologias e abrem nossas janelas para diferentes lugares do mundo.”