Silhueta de mulher grávida

Silhueta de mulher gr�vida

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S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa realizada pelo IEPS (Instituto de Estudos para Pol�ticas de Sa�de) e pelo Instituto �ar� mostra que mulheres pretas e pardas s�o as que mais sofrem com pr�-ecl�mpsia grave e ecl�mpsia. As mulheres pretas tamb�m s�o as maiores v�timas das principais causas de mortalidade materna no Brasil.

 

 

 

De janeiro de 2014 a dezembro de 2021, a cada 1.000 mulheres em trabalho de parto no pa�s, 28,4 tiveram ecl�mpsia ou pr�-ecl�mpsia. Para as mulheres brancas, essa taxa foi de 24,9, enquanto para as pardas foi de 27,5 e, para as pretas, de 32,8.

 

Em 2014, a taxa dessas duas intercorr�ncias obst�tricas para todas as gestantes foi de 25,2, contra 33,3 em 2021. Para as mulheres pretas, por�m, passou de 30,5 para 41,3.

 

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As duas outras principais intercorr�ncias -hemorragia grave e sepse grave- tamb�m foram analisadas, mas n�o apresentaram diferencia��o t�o expressiva. No caso da hemorragia, a m�dia no per�odo foi de 9,1 para as mulheres pretas, 9,5 para as brancas e 10,6 para as pardas. Em rela��o � sepse, a m�dia foi de 6,6 entre pu�rperas brancas, 7,6 entre pretas e 9,0 considerando as pardas.

 

Pesquisador de economia da sa�de e autor do trabalho ao lado de Gisele Campos, Rony Coelho ressalta que, em grande medida, essas intercorr�ncias s�o evit�veis por meio do pr�-natal adequado e do atendimento de qualidade.

N�o � isso, por�m, que se observa, de acordo com a epidemiologista Emanuelle G�es, autora de um estudo que mostra as disparidades nos cuidados das mulheres.

 

Publicada na revista Ci�ncia & Sa�de Coletiva, a pesquisa de G�es sinaliza que a letalidade por Covid-19 entre gestantes e pu�rperas pretas e pardas foi maior do que a observada entre as brancas. Indica ainda que as gestantes negras tiveram menos acesso � UTI e que a chance de �bito materno no puerp�rio para as mulheres pretas foi 62% maior em compara��o �s brancas.

 

"Temos uma quest�o que precisa ser reconhecida que � o racismo institucional. Ele interfere no processo de cuidado, na tomada de decis�o dos profissionais e at� mesmo das pr�prias mulheres. Elas vivenciam diversas viol�ncias institucionais, seja de forma individual ou coletiva, sabendo que sua m�e, sua irm� e sua vizinha t�m uma hist�ria de viol�ncia para contar, e isso retarda a procura pelo servi�o", analisa .

 

G�es menciona estudos anteriores que apontam, por exemplo, que as mulheres negras s�o menos tocadas por profissionais de sa�de e que sua press�o arterial � aferida com menos frequ�ncia, o que impacta o controle da hipertens�o e a preven��o � pr�-ecl�mpsia. A altura uterina das mulheres negras tamb�m � medida menos vezes, as consultas de pr�-natal s�o mais curtas e o tempo para serem atendidas � maior, segundo a pesquisadora, que integra o grupo tem�tico Racismo e Sa�de da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva.

 

Somado a isso, muitas mulheres negras e ind�genas moram em locais distantes dos servi�os de m�dia e alta complexidade, sem acesso a UTIs. "Temos um conjunto de fatores permeado pelo racismo que leva ao desfecho da mortalidade materna. S�o pessoas negras e ind�genas que vivem nesses locais segregados, sem acesso aos servi�os. O racismo gera essa segrega��o", afirma G�es.

 

O estudo do IEPS e do Instituto �ar�, realizado a partir de dados disponibilizados pelo Minist�rio da Sa�de, indica que as mulheres pretas apresentam os piores indicadores quando consideradas as causas de mortalidade materna mais frequentes no pa�s entre 2014 e 2021.

 

Elas s�o as principais v�timas de complica��es relacionadas ao parto e puerp�rio, assim como de afec��es obst�tricas como doen�as virais, doen�as infecciosas e parasit�rias, anemia, doen�as do sistema nervoso e do aparelho circulat�rio que complicam a gravidez, o parto e o p�s-parto.

 

"A literatura agrega as intercorr�ncias mais graves e as causas de mortalidade, enquanto no nosso trabalho destrinchamos os v�rios tipos", compara Coelho.

"Os estudos tamb�m apontam que existe � uma diferencia��o entre brancas e negras na mortalidade materna, mas n�o esper�vamos que fosse t�o gritante e t�o consistente ao longo do tempo", diz o pesquisador, para quem a persist�ncia da desigualdade reafirma o discurso de ativistas que h� anos alertam para o racismo na sa�de.

 

Para G�es, o enfrentamento ao racismo institucional passa pelo respeito � Pol�tica Nacional de Sa�de Integral da Popula��o Negra, que preconiza a luta contra as altas taxas de mortalidade dessa popula��o. "Precisamos que a pol�tica seja implementada nas tr�s esferas, nacional, estadual e municipal para contemplar desde a aten��o b�sica, onde as mulheres fazem o pr�-natal, at� os hospitais de m�dia e alta complexidade".

 

"Tanto a pol�tica da popula��o negra quanto a Pol�tica Nacional de Aten��o Integral � Sa�de da Mulher s�o fortes, concretas e bem elaboradas. O que precisamos � que sejam implementadas", avalia a cientista.

 

Por outro lado, ela defende ser necess�rio investir no treinamento antirracista do profissional de sa�de, seja ele j� formado ou ainda em in�cio de forma��o.

"As cotas permitem n�o apenas trazer jovens negros para a �rea da sa�de, mas incentivam a reformula��o de refer�ncias bibliogr�ficas, de narrativas. Vivemos muito tempo em um modelo que subjuga os corpos negros, que acha que devem ser usados como cobaias, e agora estamos tentando construir algo diferente. � desse lugar que � preciso construir uma nova medicina, uma nova enfermagem, uma nova forma de lidar com as pessoas na pr�tica, no cuidado e na ci�ncia".