sífilis bactéria

A s�filis � uma infec��o sexualmente transmiss�vel (IST) cur�vel e causada pela bact�ria Treponema pallidum

Jomar Junior/Pixabay
A crian�a tinha quatro anos quando morreu, mas era t�o pequena que poderia ser confundida com um beb� de um ano e meio. Enterrada h� quase dez mil�nios numa caverna em Lagoa Santa, no interior de Minas Gerais, ela trazia em seu esqueleto deformidades causadas, muito provavelmente, por um caso cong�nito de s�filis.

 

Trata-se do registro mais antigo da doen�a no continente americano, segundo o quinteto de pesquisadores da USP que analisou os ossos da pequena v�tima. Eles acabam de publicar os resultados do exame dos restos mortais no peri�dico especializado International Journal of Osteoarchaeology.

 

A estimativa dos pesquisadores � que o sepultamento da crian�a no abrigo rochoso conhecido como Lapa do Santo tenha acontecido h� pelo menos 9.500 anos, enquanto o caso de s�filis mais antigo detectado por trabalhos anteriores (num indiv�duo adulto) tem 5.300 anos.

 

As pistas dispon�veis atualmente indicam que a s�filis � a principal exce��o no processo de trocas epidemiol�gicas entre as Am�ricas e o Velho Mundo, que se iniciou a partir da chegada de Crist�v�o Colombo ao Caribe em 1492. Em pouco tempo ap�s o primeiro contato, doen�as infecciosas trazidas por invasores europeus e africanos escravizados - em especial o sarampo, a var�ola e a mal�ria - dizimaram a popula��o ind�gena, que n�o tinha defesas naturais contra tais mol�stias. 

 

Surtos de s�filis na Europa

 

Os primeiros surtos de s�filis na Europa, por�m, tamb�m coincidem com a �poca das viagens de Colombo. Durante s�culos, a doen�a, transmitida sexualmente e causada pela bact�ria Treponema pallidum pallidum, teve efeito devastador sobre popula��es do Velho Mundo, causando les�es genitais e, mais tarde, em reca�das dos indiv�duos infectados, na pele e no sistema nervoso, com efeitos como derrames e paralisia. Al�m disso, a doen�a pode ser transmitida pela m�e gr�vida ao feto.

Leia tamb�m: OMS recomenda reduzir parceiros sexuais para evitar var�ola do macaco. 

Dados arqueol�gicos t�m mostrado que tanto a s�filis quanto outras doen�as causadas por bact�rias do mesmo g�nero, conhecidas coletivamente como treponematoses, j� afetavam ind�genas milhares de anos antes dos primeiros surtos europeus, registrados na virada do s�culo 15 para o s�culo 16. Por isso, a hip�tese mais aceita hoje � que a s�filis teria sido levada pelas primeiras tripula��es europeias para seu continente de origem.

"J� n�o h� mais d�vidas sobre a presen�a muito antiga dessas doen�as nas Am�ricas", pondera o bioantrop�logo Rodrigo Elias de Oliveira, primeiro autor do estudo. "A quest�o � saber se ela surgiu no continente americano ou se a doen�a chegou at� aqui junto com as levas iniciais de povoamento, por volta de 15 mil anos atr�s. No caso dessa segunda possibilidade, ela poderia ter surgido na �sia ou na pr�pria �frica."

Embora doen�as aparentadas provavelmente tamb�m circulassem na popula��o ind�gena pr�-colombiana, n�o h� evid�ncias de que elas possam ser transmitidas de forma cong�nita. Esse fato, somado �s les�es espec�ficas no esqueleto da crian�a da Lapa do Santo, muitas das quais come�aram ainda durante a gesta��o, indicam que a hip�tese mais prov�vel � que se trate de uma v�tima da s�filis.


Efeitos cong�nitos da doen�a 

 


Os efeitos cong�nitos da doen�a podem ser detectados em diversas malforma��es no cr�nio, nos dentes e nos membros. Um dos mais vis�veis � o chamado "nariz em sela", o qual, como o nome sugere, tem uma apar�ncia "afundada". "A doen�a afeta as cartilagens que normalmente uniriam os ossos nasais aos da fronte, dando � parte de cima do nariz uma forma c�ncava", explica Oliveira.

Leia tamb�m: Estudo investiga a rela��o entre rela��es sexuais e crises de asma. 

 

Al�m disso, a crian�a provavelmente tinha dificuldade para caminhar, a julgar por les�es em seu f�mur esquerdo. E, como os ossos de seu cr�nio se fundiram cedo demais, quando ainda era preciso mais espa�o para o c�rebro em desenvolvimento, esse processo deve ter aumentado a press�o dentro da estrutura craniana, o que aumentaria o risco de problemas como um AVC (derrame). Seria uma explica��o para a morte precoce da v�tima.

Segundo Oliveira, embora a s�filis cong�nita seja mais conhecida pelos casos oriundos de cont�gio sexual pela m�e da crian�a, uma transmiss�o por contato, por feridas na pele, tamb�m n�o pode ser descartada.

Tamb�m assinam a pesquisa o arque�logo Andr� Strauss, o antrop�logo Rui Murrieta e dois especialistas do Servi�o de Diagn�stico por Imagem do Hospital Universit�rio da USP, Claudio Castro e Ant�nio Matioli.