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Estado de Minas ESTRESSE

Mulheres est�o ficando mais 'bravas'? O que mostram 10 anos de pesquisa

No Brasil, quase seis em cada 10 mulheres disseram ter se sentido estressadas durante grande parte do dia anterior, em compara��o com pouco menos de quatro em cada 10 homens.


08/12/2022 06:51 - atualizado 08/12/2022 09:39


Manifestantes em Washington
Pesquisa entrevista mais de 120 mil pessoas em mais de 150 pa�ses (foto: Getty Images)

Um levantamento anual do instituto de pesquisa Gallup indica que mulheres em todo o mundo est�o ficando mais bravas nos �ltimos 10 anos. Mas por que isso est� acontecendo?

Dois anos atr�s, Tahsha Renee estava de p� em sua cozinha quando foi tomada por uma sensa��o incontrol�vel de raiva — ela acabou dando um grito a plenos pulm�es.

"A raiva sempre foi uma emo��o f�cil de explorar", diz.

Mas Tahsha nunca havia sentido nada igual.

Foi no meio da pandemia e ela estava farta. Passou os 20 minutos anteriores andando pela casa listando em voz alta tudo o que a deixava com raiva.

Mas depois do grito ela sentiu uma intensa libera��o f�sica.

Tahsha, uma hipnoterapeuta e life coach, desde ent�o tem reunido mulheres de todo o mundo no zoom para falar sobre tudo o que lhes d� raiva e depois extravasar.

De acordo com um levantamento da BBC de 10 anos de dados da Gallup World Poll, as mulheres est�o ficando mais irritadas.

Todos os anos, a pesquisa entrevista mais de 120 mil pessoas em mais de 150 pa�ses, perguntando, entre outras coisas, que emo��es elas sentiram durante grande parte do dia anterior.

Quando se trata de sentimentos negativos em particular — raiva, tristeza, estresse e preocupa��o — as mulheres relatam senti-los com mais frequ�ncia do que os homens.

A an�lise da BBC descobriu que, desde 2012, mais mulheres do que homens v�m relatando sentir tristeza e preocupa��o, embora isso tenha aumentado para ambos os g�neros.

No entanto, quando se trata de raiva e estresse, a diferen�a com os homens est� aumentando. Em 2012, ambos os sexos relataram raiva e estresse em n�veis semelhantes. Nove anos depois, as mulheres est�o mais irritadas — por uma margem de seis pontos percentuais — e tamb�m mais estressadas. E houve uma varia��o particular na �poca da pandemia.

Isso n�o surpreende a terapeuta americana Sarah Harmont. No in�cio de 2021, ela reuniu um grupo de pacientes do sexo feminino para gritarem juntas.

"Sou m�e de dois filhos pequenos e trabalhava em casa. Sentia uma frustra��o intensa e profunda que estava se transformando em raiva total", diz ela.

Um ano depois, ela entrou em campo novamente. "Esse foi o grito que viralizou", diz ela. Foi captado por um jornalista em um dos grupos online de sua m�e participava e, de uma hora para outra, Sarah passou a receber telefones de rep�rteres de todo o mundo.

Ela acredita que tocou em algo que as mulheres de todos os lugares estavam sentindo, uma intensa frustra��o de que o fardo da pandemia estava caindo desproporcionalmente sobre elas.

Uma pesquisa de 2020 com quase 5 mil pais em relacionamentos heterossexuais na Inglaterra descobriu que as m�es assumiram mais responsabilidades dom�sticas durante o lockdown do que os pais. Como resultado, elas reduziram suas horas de trabalho. Isso acontecia mesmo quando elas eram as que mais ganhavam na fam�lia.

Em alguns pa�ses, a diferen�a entre mulheres e homens que dizem ter sentido raiva no dia anterior � muito maior do que a m�dia global.

No Camboja, a diferen�a foi de 17 pontos percentuais em 2021, enquanto na �ndia e no Paquist�o foi de 12.

A psiquiatra Lakshmi Vijayakumar acredita que este � o resultado de tens�es que surgiram � medida que mais mulheres nesses pa�ses se tornaram educadas, empregadas e economicamente independentes.

"Ao mesmo tempo, elas est�o amarrados por sistemas e cultura arcaicos e patriarcais", diz ela. "A disson�ncia entre um sistema patriarcal em casa e uma mulher emancipada fora de casa causa muita raiva."

Todas as sextas-feiras � noite, na hora do rush em Chennai, na �ndia, ela testemunha essa din�mica em a��o.

"Voc� v� os homens relaxando, indo a uma casa de ch�, fumando. E voc� encontra as mulheres correndo para o �nibus ou esta��o de trem. Elas est�o pensando no que cozinhar. Muitas mulheres come�am a cortar legumes no caminho de volta para casa no trem."

No passado, diz Lakshmi, n�o era considerado apropriado que as mulheres dissessem que estavam com raiva, mas isso est� mudando. "Agora h� um pouco mais de capacidade de expressar suas emo��es, ent�o a raiva � maior."

O efeito da pandemia no trabalho das mulheres tamb�m pode estar causando impacto. Antes de 2020, havia um progresso lento na participa��o das mulheres na for�a de trabalho, de acordo com Ginette Azcona, cientista de dados da ONU Mulheres.

Mas em 2020 parou. Este ano, o n�mero de mulheres no trabalho est� projetado para ficar abaixo dos n�veis de 2019 em 169 pa�ses.

Progresso para as mulheres?

Para marcar o 10º anivers�rio do BBC 100 Women, a BBC encomendou a Savanta ComRes que pedisse �s mulheres em 15 pa�ses que comparassem o presente com 10 anos atr�s.

  • Pelo menos metade das mulheres entrevistadas em cada pa�s dizem que se sentem mais capazes de tomar suas pr�prias decis�es financeiras do que h� 10 anos
  • Pelo menos metade em cada pa�s, exceto os EUA e o Paquist�o, tamb�m acha que � mais f�cil para as mulheres discutir consentimento com um parceiro rom�ntico
  • Na maioria dos pa�ses, pelo menos dois ter�os das mulheres entrevistadas disseram que a m�dia social teve um impacto positivo em suas vidas — nos EUA e no Reino Unido, por�m, o n�mero ficou abaixo de 50%.
  • Em 12 de 15 pa�ses, 40% ou mais das mulheres entrevistadas dizem que a liberdade de expressar suas opini�es � uma �rea em que sua vida mais progrediu nos �ltimos 10 anos
  • 46% dos entrevistados nos EUA acham que � mais dif�cil para as mulheres acessar o aborto medicamente seguro do que h� 10 anos

"Temos um mercado de trabalho segregado por sexo", diz a autora feminista americana Soraya Chemaly, que escreveu sobre a raiva em seu livro de 2019, Rage Becomes Her (Raiva se torna ela, em tradu��o livre).

Ela v� muito do esgotamento relacionado � pandemia acontecendo em setores dominados por mulheres, como assist�ncia.

"� um trabalho pseudo-maternal e mal pago. Essas pessoas registram n�veis muito altos de raiva reprimida, suprimida e desviada. E tem muito a ver com a expectativa de trabalhar incansavelmente. E sem nenhum tipo de limite leg�timo".

"Din�micas semelhantes s�o frequentemente encontradas no casamento heterossexual", diz ela.

Nos Estados Unidos, muito foi escrito sobre o peso da pandemia sobre as mulheres, mas os resultados da Gallup World Poll n�o indicam que as mulheres s�o mais raivosas do que os homens.

"As mulheres nos Estados Unidos sentem uma vergonha muito profunda pela raiva", pontua Chemaly, e podem ser mais propensas a relatar sua raiva como estresse ou tristeza.

Talvez por isso as mulheres americanas relatem n�veis mais altos de estresse e tristeza do que os homens.

Isso � verdade em outros lugares tamb�m. Muito mais mulheres do que homens disseram estar estressadas no Brasil, Uruguai, Peru, Chipre e Gr�cia.

No Brasil, mais especificamente, quase seis em cada 10 mulheres disseram ter se sentido estressadas durante grande parte do dia anterior, em compara��o com pouco menos de quatro em cada 10 homens.

Bol�via, Peru e Equador tamb�m viram uma grande diferen�a entre os sexos. Na Bol�via e no Equador, quase metade das mulheres disseram ter se sentido tristes durante grande parte do dia anterior — 15 pontos percentuais a mais do que os homens.

A tend�ncia das mulheres relatarem emo��es negativas com mais frequ�ncia do que os homens remonta pelo menos a 2012 nesses pa�ses e em muitos parece estar piorando.

Mas Tahsha Renee acha que muitas mulheres nos Estados Unidos e em outros lugares j� chegaram a um ponto em que podem dizer: "Chega!"

"De uma forma que est� realmente facilitando a mudan�a. E elas est�o usando sua raiva para fazer isso", argumenta.

"Voc� precisa de f�ria e raiva", concorda Ginette Azcona da ONU Mulheres. "�s vezes voc� precisa disso para agitar as coisas e fazer com que as pessoas prestem aten��o e ou�am."

Metodologia

A Gallup faz um levantamento anual com mais de 120 mil pessoas em mais de 150 pa�ses e �reas, representando mais de 98% da popula��o adulta mundial, usando amostras representativas nacionalmente selecionadas aleatoriamente. As entrevistas s�o realizadas presencialmente ou por telefone. A margem de erro para os resultados varia segundo o pa�s e a pergunta. Quando os tamanhos das amostras s�o menores, por exemplo, ao dividir um conjunto de respostas por sexo, a margem de erro ser� maior. Tabelas de dados completas para a pesquisa Gallup de 2021 podem ser baixadas aqui.

Savanta ComRes entrevistou 15.723 mulheres com mais de 18 anos online no Egito (1.067), Qu�nia (1.022), Nig�ria (1.018), M�xico (1.109), EUA (1.042), Brasil (1.008), China (1.025), �ndia (1.107), Indon�sia (1.061), Paquist�o (1.006), Ar�bia Saudita (1.012), R�ssia (1.010), Turquia (1.160), Reino Unido (1.067) e Ucr�nia (1.009) entre 17 de outubro e 16 de novembro de 2022. Os dados foram ponderados para serem representativos de mulheres em cada pa�s por idade e regi�o. A margem de erro para os resultados de cada pa�s � de +/- 3. Tabelas de dados completas podem ser encontradas aqui.

O BBC 100 Women nomeia 100 mulheres inspiradoras e influentes em todo o mundo todos os anos.


BBC 100 Women logo 2022
(foto: BBC)

Jornalismo de dados por Liana Bravo, Christine Jeanavans e Helena Rosiecka. Com reportagem de Valeria Perasso e Georgina Pearce

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63886886


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